domingo, 31 de julho de 2011

Muçulmanos são “terroristas”; ocidentais são “homens maus”


A imprensa grande ocidental acha-se a braços com uma dificuldade de oceânica dimensão. Primeiro, as “barrigas” de imprensa ao redor do mundo, ao dar voz a autoridades dos EUA e Europa que apontaram dedos para “muçulmanos” como autores dos atentados terroristas de Oslo e ilha de Utoya. A “barriga” mais célebre foi a do Wall Street Journal, da rede News do gângster de extrema-direita Rupert Murdoch, que reapontou a autoria de muçulmanos em editorial, mesmo após a polícia ter identificado o autor norueguês.

Após as barrigas iniciais, acham-se agora em andamento os malabarismos para apresentar o autor como “homem mau”, “louco”, etc. A imprensa não sabe o que fazer com a realidade, e tenta escamotear as verdades que vêm à tona com os atentados.

O autor de 32 anos, Anders Breivik, filho de ex-diplomata norueguês e fazendeiro, é velho participante de grupos de extrema-direita islamófobos de seu país; foi, por exemplo, membro do neofascista Partido do Progresso norueguês. Suas extensas ligações vêm sendo levantadas pelos inquéritos, mas omitidas pela imprensa, que insiste em apresentá-lo como agente que operou “sozinho”, em atendimento a suas convicções. Antes, Breivik havia postado na rede um calhamaço de 1.500 páginas, em que desenvolveu suas teorias sobre a necessidade de salvar o Ocidente e seus valores ameaçados pela maré muçulmana, com alertas contra o “marxismo cultural” e o “multiculturalismo”.

O discurso é o mesmo da neofascista italiana Liga Norte, que oferece apoio a outro gângster gordo, o indigno e putanheiro Silvio Berlusconi, e da mais fascista ainda Frente Nacional francesa, em que avulta a filha do antigo líder, Marine Le Pen, com 25% das intenções de voto para presidente. Dezenas de movimentos neofascistas (afinal, neo apenas porque são mais recentes, mas a matriz permanece a mesma) espalham-se pela Europa, sob o influxo de duas forças básicas: o agravamento da situação econômico-financeira e social e a presença maciça de imigrantes muçulmanos em muitos países, alvo fácil para acusações de toda ordem. Não por acaso, esses movimentos são alinhados com Israel e com as políticas israelenses para seus “inimigos” muçulmanos, como palestinos e iranianos. Breivik escreve isso com letras fortes.

Os governos de direita estabelecidos, por exemplo, na Itália e na França vêm aplicando medidas de contenção contra muçulmanos, como a proibição do uso público de véus e de práticas religiosas e a imposição de barreiras à imigração. Os dois países estão na linha de frente dos derrotados por Gaddafi na invasão líbia, e agora se vêem na incômoda posição de ter de negociar com o demônio. A imprensa grande, ao magnificar o caráter “isolado” dos atos terroristas de Breivik, omite suas relações com diversos grupos europeus e até mesmo a existência de uma rede de apoios tão vasta quanto as oficiais como a da OTAN.

Mas aos poucos as faces reais vão aflorando. Dois destacados membros da direção da Frente Nacional francesa, Jacques Coutela e Lauren Ozon, defenderam Breivik e justificaram os atentados em blogs. Para Coutela, Breivik é um “combatente resistente”, o “primeiro defensor do Ocidente” e o “Carlos Martelo II” (rei franco que conteve a invasão muçulmana via Espanha em 732, na batalha de Poitiers). Disse mais: que Breivik “não é um ícone, mas simplesmente um visionário contra a crescente islamização da Europa, com cumplicidade dos governantes e [autoridades da União Européia] em Bruxelas”. Pregou a expulsão dos “que querem impor o alimento hallal, mesquitas, pedofilia e ocupação de nossas ruas”.

Ozon também deu suporte ao terrorista Breivik, e afirmou que a explicação do ocorrido em Oslo deve levar em conta “a explosão da imigração”, que cresceu seis vezes do patamar de 1970 até hoje. Na Itália, o líder fascista Francesco Speroni registrou que “as idéias de Breivik vão na direção da defesa da civilização ocidental”. A Frente Nacional, dirigida por parâmetros de marketing político em face das futuras eleições, “afastou” Coutela (Ozon, não) e afirmou que a Frente nada tem a ver com o atentado, “trabalho de uma pessoa desequilibrada solitária”.

A ascensão de forças fascistas são fenômeno que costuma fortalecer-se em crises e momentos em que as regras do jogo sociopolítico entram em tensão. Nos EUA, o pusilânime BHObama vem sendo anulado pelos republicanos, e, para não soçobrar, acabou cedendo, não a contragosto, sem dúvida, a suas plataformas anti-povo de manutenção de cortes de impostos para ricos e aumento de cortes de recursos de programas sociais essenciais. Isso, num cenário de progressivo empobrecimento dos trabalhadores e das camadas de baixo da sociedade. As políticas de “austeridade”, tanto na Europa quanto nos EUA, são orquestradas para que o povo pague a conta e os governos possam permitir aos bancos “manter suas posições”.

A imprensa grande enfrenta ainda ondas altas no oceano de contorcionismos em que se enreda. O “solitário” Breivik abrigava seis pessoas em seu apartamento por ocasião dos atentados. A polícia, logo após os deter, liberou todos sob alegação de que eram inocentes. Como se chegou a essa conclusão em tão pouco tempo, na mesma manhã dos atentados, isso a polícia não explicou. Breivik mantinha estoques de explosivos em sua fazenda, mas a imprensa (a polícia?) não divulga sua dimensão ou quantidade. A Scotland Yard descobriu ligações entre Breivik e a extrema-direita britânica, mas as operações vêm sendo feitas “sob sigilo”, conforme se divulga.

Após as explosões no centro, Breivik chegou rapidamente à ilha em que matou mais de 70 jovens do partido do governo. A polícia, avisada por aflitos telefonemas de celulares, levou 60 minutos para chegar. Também não há explicações, além de uma vaga afirmação de “helicóptero quebrado”. As políticas dos EUA de “guerra ao terror” implicam a militarização das polícias, que se armam e se reorientam para enfrentar os “terroristas”.

Ou o governo norueguês, membro da OTAN com tropas presentes no Afeganistão, não segue as recomendações de Washington, ou sua polícia abriga membros suspeitos de colaboração com seus alvos. Ou os dois, já que a fictícia “guerra ao terror” não merece mais crédito.

Resta o que se vê: bombardeios de civis no Afeganistão, Paquistão, Yêmen e Somália; destruição da infra-estrutura civil de vida na Líbia; apoio aos sucessores de ditaduras no Egito e adjacências; alinhamento suicida com a genocida Israel; atentados terroristas, que só prometem aumentar, dentro do coração da Europa.

Não há dúvida entre os círculos de analistas de que os atentados terroristas partidos de forças internas estarão inscritos no futuro da Europa. Até que mesmo governos tergiversantes, como o do patético Sarkozy, sejam jogados em terra, sucedidos por novos pequenos ditadores que cortarão mais impostos dos ricos, agravarão as precárias condições de vida das camadas que trabalham e mantêm o Estado.

Em suma, uma Europa cada vez mais igual aos EUA. Futuros comuns. Com certeza, indesejáveis.


Publicado em 29/07/2011  por Chico Villela
Extraído do sítio NovaEra

Um comentário:

  1. Quem comanda o sistema financeiro e midiático é uma super elite transnacional, sem compromisso com quaisquer nações,exceto uma, aquela cujo mapa se parece com um punhal, cravado no coração da humanidade...
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    O sionismo tem todo o interesse em promover e estimular movimentos fascistas, desta vez, não contra os judeus é claro, más contra os seus inimigos figadais, os muçulmanos!
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    Em meio a uma crise econômica que pode fazer secar os recursos ocidentais, dos quais se serve o sionismo em sua guerra contra o Islã, torna-se altamente interessante estimular o pavor e o medo em torno de uma "ameaça muçulmana", de forma a garantir a continuidade do fluxo destes recursos para esta guerra.
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    Se os partidos fascistas anti muçulmanos ganharem o poder na Europa, mesmo com crise financeira a guerra do sionismo contra o Islã é reforçada, dai se compreende a conexão entre este neofascismo e o sionismo...

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