sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Na Itália, a comunicação é estratégica!

29/10/2013, [*] Manlio Dinucci, Il Manifesto, It., L’arte della guerra
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Mario Mauro e o "lobby" dos F-35
Quem suporia que o professor Mario Mauro, graduado em Letras e Filosofia pela Universidade Católica do Sagrado Coração em Milão e, além do mais, com experiência militar de sargento, ter-se-ia convertido em expert em estratégia? Nomeado Ministro da Defesa, ele imediatamente expediu sua “Diretiva para a comunicação estratégica”.

O presidente Napolitano – explica-se na introdução – declarou que é preciso reagir contra a desinformação e as polêmicas que conspurcam o aparelho militar, posto no espírito da Constituição e ao presidir a participação italiana nas missões de estabilização e de paz.

Informar sobre o que faz a Defesa para cumprir seu dever institucional, não é, portanto, apenas um dever, mas uma necessidade, para impedir a difusão de informações erradas. Como aquela – atenção! – que nós, do jornal Il Manifesto, distribuímos em 2011, na qual denunciamos a guerra da Líbia e as verdadeiras razões ocultadas naquela guerra, enquanto o presidente Napolitano garantia que “não entramos em guerra; estamos empenhados numa ação autorizada pelo Conselho de Segurança”.

Giorgio Napolitano
A opinião pública e os meios de comunicação em massa, destaca a “Diretiva”, devem ser postos em condições de compreender e respeitar a necessidade de que haja um instrumento militar capaz, flexível e ágil.

As novas ameaças à segurança impõem que o empenho da Defesa estenda-se até bem além dos limites nacionais, para antecipar e impedir os ataques. Resposta errada ou distorcida à comunidade internacional (leia-se: à OTAN sob comando dos EUA) compromete não só a imagem da Itália, mas também põe em risco os seus interesses estratégicos e econômicos. É preciso aumentar no público a consciência de que as operações militares contribuem para o crescimento do país e de que a Itália deve assumir papéis e funções de responsabilidade cada vez maior.

Um desses papéis-funções é, por exemplo, como Mauro confirmou em recente reunião dos ministros de Defesa dos países da OTAN, participar com contingente de mais 20 mil soldados do exército que permanecerão no Afeganistão depois de 2014, ação que custará 4 bilhões de dólares por ano, para fortalecer o governo afegão (um dos mais corruptos do mundo).

Nas operações militares, como ensina a “Diretiva”, a comunicação estratégica deve ser considerada a base das demais funções operativas. Em outras palavras, quando se empenham forças militares nas guerras, é preciso, simultaneamente, convencer os cidadãos sobre a necessidade de fazê-lo. Essa função específica de convencimento, também ensina a “Diretiva”, deve ser cumprida no contato com as comunidades que vivam em áreas próximas das instalações militares (convencendo, por exemplo, a população de Niscemi a aceitar as antenas-monstrengos do Mobile User Objective System, MUOS [1] dos EUA); e os demais cidadãos, a aceitarem os programas militares de investimento (quer dizer: convencendo todo mundo de que é excelente consumir 15 bilhões de euros para comprar caças F-35).

Sistema MUOS de comunicação
A comunicação estratégica é dirigida em geral aos meios de comunicação, ao mundo da escola, às universidades, às associações culturais. Deve ao mesmo tempo visar aos “atores culturais” (jornalistas, diretores de programas de televisão, blogueiros e outros, para que esses convençam a opinião pública a defender as forças armadas e suas operações) e aos “decisores políticos” (deputados e senadores, porque votam leis que reforçam o setor militar).

Não se trata só de informar os destinatários preferenciais da Defesa, esclarece a “Diretiva”, mas também outros que estejam envolvidos no bom êxito das decisões tomadas pela Defesa. Em outras palavras: a campanha que o Ministério da Defesa da Itália está pondo em marcha não é apenas uma colossal campanha de desinformação, concebida e posta em ação por pessoal escolhido e especialmente formado para a função de desinformar. Ela é também um verdadeiro e amplo plano para militarizar todas as mentes.



Nota dos tradutores
[1] O sistema MUOS (Mobile User Objective System) é sistema de última geração de comunicações militares por satélite, previsto para melhorar significativamente a comunicação em solo para as forças dos EUA que estejam em deslocamento, e para facilitar o emprego dos “usuários combatentes transportadores de unidades celulares de comunicação” (especialmente os drones) por todo o planeta. O sistema MUOS oferece simultaneamente capacidade para voz, vídeo e armazenamento de dados, e usa a tecnologia 3G de comunicação de telefonia celular. O MUOS oferece capacidade dez vezes maior de comunicação que os sistemas atuais. As naves MUOS são o primeiro modelo de um sistema de comunicação por satélite que substituirá o sistema Ultra High Frequency Follow-On (mais, em 27/8/2013, Sicily Against War: Resisting the Niscemi US Military Base [Sicília contra a guerra: resistência contra a base militar dos EUA em Niscemi]. Sobre o sistema MUOS, ver em: Mobile User Objective System-2 Satellite Launch.

População de Niscemi -Sicilia, It. é contra a instalação do MUOS
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[*] Manlio Dinucci é geógrafo e geopolíticólogo italiano. Últimas publicações: Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli 2010; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.

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