domingo, 10 de outubro de 2010

Tempo de comparações

Publicado em 10/10/2010 por Mário Augusto Jakobskind
E agora as expectativas se voltam para o segundo turno no último domingo de outubro (31). Uma onda conservadora, da pior espécie, fez com que a eleição presidencial fosse para o segundo turno. Mas isso já é história, o que importa agora é a discussão de dois projetos em jogo: o de Dilma Rousseff e José Serra, embora alguns jornais tenham colocado a questão do aborto como tema principal da campanha e os próprios candidatos acabaram entrando no jogo..
O candidato da aliança PSDB-DEM-PPS, segundo seus correligionários e O Globo (o que nesta altura é redundância), vai assumir o que foi feito no governo Fernando Henrique Cardoso, o que tentou de todas as formas esconder na fase anterior da campanha. 
Dilma Rousseff continuará mostrando as conquistas nestes quase oito anos da gestão Luis Inácio Lula da Silva, que a oposição de direita procurou de todas as formas impedir. Estarão em confronto os governos FHC e Lula.
O povo brasileiro terá maiores informações, por exemplo, sobre as tentativas de Cardoso em privatizar a Petrobras e a abertura do capital da empresa para investidores estrangeiros, sobretudo estadunidenses. E agora Serra diz hipocritamente que defenderá a Petrobras, o que já fez em outras ocasiões. FHC também já disse o mesmo por ter participado da campanha do Petróleo é Nosso e ao chegar ao governo fez o fez com a estatal petrolífera.
Serra é cínico e esqueceu o que disse para a revista Veja em 3 de maio de l995: “estamos fazendo todo o possível para privatizar em alta velocidade”.
Como se tudo isso não bastasse, quem tem como assessor na área energética o ex-genro de FHC, David Zylberstejn, não precisa de mais nada. Quadro do PSDB, ao se reunir com representantes dos gigantes petrolíferos deu o seguinte recado, referindo-se ao petróleo brasileiro: “o petróleo é vosso”. Isso foi manchete do jornal Tribuna da Imprensa. E o que fez Serra? Quem cala consente. E agora cinicamente diz que vai defender a Petrobras. Não vai, quem tem Zylberstajn como conselheiro vai querer entregar tudo. É do DNA esta gente.  
Ficará mais claro ainda o fato de no governo em que Serra ocupou os Ministérios do Planejamento e Saúde a indústria naval ter ido por água abaixo porque as encomendas para o setor eram feitas no exterior. E aí, o que dirão os serristas e cardosistas ou serrocardosistas?
No governo Lula, a indústria naval foi recuperada possibilitando empregos para trabalhadores brasileiros. As plataformas da Petrobras passaram a ser feitas no Brasil e não mais no exterior como na época do governo do PSDB. O negócio de Cardoso e de Serra, embora evitem explicitar, é tornar o Estado mínimo. Foram assim os oito anos de Cardoso, que só não conseguiu fazer mais coisas negativas para o Brasil porque houve pressão do movimento social. E as entregas de estatais a preço de banana? Ficou tudo por isso mesmo. 
O caso da área petrolífera serve para ilustrar o que foi dito acima. Os petroleiros fizeram prolongadas greves sob cerco do governo FHC, para não apenas cuidar dos seus interesses específicos, como também evitar a privatização da Petrobras. Cardoso e sua gente não conseguiram por isso ir até as últimas consequências. Mesmo assim fizeram estragos permitindo a entrada de acionistas estrangeiros, que o governo Lula de alguma forma procurou sanar, inclusive recentemente com a capitalização da Petrobras, um avanço, sem dúvida, mas que poderia até ser maior se fossem suspensos os leilões de reservas petrolíferas.
 A mídia conservadora diariamente informa erradamente que há déficit no setor da Previdência. Mentira. Fazem o cálculo deliberadamente errado ignorando, por exemplo, que as aposentadorias no setor rural são pagas por outra fonte – Tesouro - que não a Previdência, segundo especialistas do setor não comprometidos com o conservadorismo sequioso em permitir o fortalecimento de empresas privadas para nadar em berço esplendido. Ou seja, o cálculo desses gastos sociais não pode ser colocado como sendo da Previdência. E muito mais pode ser explicado aos trabalhadores e mesmo aos candidatos que no primeiro turno tocaram nesta tecla, repetindo o que diz a mídia de mercado, muito interessada na privatização da previdência.
A política externa, tema muito pouco abordado nos debates do primeiro turno e quase ignorado pelos candidatos, precisa ser melhor discutido agora. Comparar como o Brasil era visto internacionalmente durante a gestão FHC e agora. Não se pode fugir de uma realidade: Cardoso até hoje faz questão de ressaltar os estreitos vínculos com Bill Clinton, mas silencia diante das críticas sobre a subserviência, sobretudo aos Estados Unidos, que caracterizaram a sua gestão.  
Chegou ao ponto de o Ministro do Exterior, Celso Lafer ter aceito sem pestanejar ser submetido a uma vexaminosa verificação na alfândega estadunidense. Permitiu, vergonhosamente, que funcionários de décimo escalão o obrigassem a tirar os sapatos. Que Ministro de qualquer país aceita isso? Só mesmo os subservientes e que imaginam que o incidente passaria despercebido, contando com a cumplicidade silenciosa da mídia hegemônica.
Serra terá de se explicar o posicionamento contrário ao MERCOSUL e se aceitaria chamar de novo Celso Lafer para ocupar o Itamaraty. Terá de se explicar, se for cobrado, porque na prática se posiciona contra a integração sul americana. Isso ficou evidente quando se indispôs com o governo boliviano de Evo Morales acusando equivocadamente o país vizinho de “frouxidão” no combate ao narcotráfico.
Na gestão Lula o Brasil teve avanços na região, fato inegável, mas que a direita midiática e parlamentar não se conformam e procuram desqualificar de todas as formas. Esses setores, agora capitaneados por Serra, querem que o país volte aos tempos da subserviência de Cardoso. O povo brasileiro dará a resposta.
Extraído do Direto da Redação