domingo, 17 de outubro de 2010

SIMILITUDES

Antonio DELFIM NETTO, Carta Capital, ano XVI, n. 618, 20/10/2010, p. 45.
Enviado pelo pessoal da
Vila Vudu



Qualquer semelhança entre a agressão da mídia no Brasil aos programas de Lula e as reações da mídia nos EUA ao New Deal, nos anos 30, não e só coincidência.


Em abril de 2008, escrevi um comentário comparando o PAC e o Fome Zero do governo Lula aos programas de obras públicas e de combate ao desemprego sob o guarda-chuva do New Deal de FD Roosevelt, o presidente que conseguiu tirar a economia americana da Grande Depressão produzida a partir da quebra da Bolsa de NY, em outubro de 1929 [1]. Três quartos de século separam essas experiências: na primeira metade da década 1930-1940, os EUA e o mundo mergulharam numa crise sem precedentes.

Quando Roosevelt tomou posse, em 1933, para seu primeiro mandato, o PIB americano havia sido reduzido a praticamente a metade (56,4 bilhões de dólares) do que era em 1929 (103 bilhões de dólares).

Apesar da tragédia do desemprego, que chegava a 30% da força de trabalho, os EUA eram uma nação próspera. Havia muita riqueza e uma boa parte da sociedade afluente aceitava o desemprego como contingência natural numa economia de mercado. A melhor coisa que os governos deviam fazer era ficar fora disso.

Roosevelt surpreendeu, já no discurso de posse, anunciando o fim da era da indiferença: “Temos 15 milhões de sujeitos passando fome e nós vamos dar de comer a eles. O governo entende que é sua obrigação providenciar trabalho para que eles mesmos voltem a sustentar suas famílias.”

Para escândalo de muitos, seu governo pos em marcha dois enormes programas, nunca antes tentados naquele país, de amparo ao trabalho e combate à miséria, com investimentos públicos em obras, cuja principal prioridade era absorver mão de obra (uma espécie de PAC). O empreendimento-símbolo foi a criação da TVA (Tennessee Valley Authority), que construiu barragens para a produção de energia e gerenciou os projetos de irrigação para a produção de alimentos.

Esses programas sofreram pesado bombardeio da oposição conservadora, que, a título de defender a livre iniciativa, esconjurava a intervenção estatal no setor privado, porque interferia na oferta e procura de mão de obra, desvirtuando o funcionamento do mercado de trabalho... Um dado interessante é que os ataques da mídia republicana evitavam agredir o presidente (e seus altos níveis de popularidade), concentrando toda a fúria contra a figura de Harry Hopkins, principal mentor dos programas de amparo ao trabalhador e gerente de obras públicas, qualificado de “perigoso socialista”. Qualquer semelhança com as agressões midiáticas recentes aos programas Fome Zero, Luz para Todos e ao PAC não é simples coincidência...

Hoje, ninguém duvida que o New Deal foi decisivo para a reconstrução da confiança dos americanos nos fundamentos do regime de economia de mercado. Suas ações ajudaram a salvar o capitalismo, na medida em que os milhões de trabalhadores que recuperaram os empregos voltaram “a acreditar na vontade e na capacidade do governo de intervir na economia para proporcionar uma igualdade mais substancial de oportunidades” (FDR numa de suas falas no rádio, Conversa ao Pé do Fogo).

O fato é que o PIB americano cresceu durante o primeiro e segundo mandatos e, em 1940, havia recuperado o nível que perdera desde o início da grande crise, medindo 101,4 bilhões de dólares. Roosevelt completou um terceiro mandato presidencial e ainda foi eleito (no fim da Segunda Guerra Mundial), para um quarto mandato, mas faleceu antes de exercê-lo.

Quando Lula assumiu o primeiro mandato, em 2002, a economia brasileira não estava na situação desesperadora da americana em 1933, mas contabilizava algo como 12% de desemprego da população economicamente ativa e vinha de um período de 20 anos de medíocre crescimento, com a renda per capita praticamente estagnada. Seu governo pôs em prática os programas de combate à fome que prometera no prólogo de sua Carta aos Brasileiros e posteriormente o PAC, que soma o investimento público e obras privadas, com foco na recuperação da desgastada infraestrutura de transportes, da matriz energética e na indústria da habitação. Setores de grande demanda de mão de obra e de promoção do desenvolvimento.

Oito anos depois (e 15 milhões de empregos a mais), os resultados são visíveis: queda acentuada das taxas do desemprego (para menos de 7% da população economicamente ativa), crescimento da renda e dos níveis de consumo da população, recuperação da autoestima do trabalhador e uma sociedade que adquiriu condições de oferecer substancial melhora na distribuição de oportunidades. Isso, tendo atravessado a segunda pior crise da economia mundial dos últimos 80 anos, com o PIB crescendo em 2010 acima de 7%.

NOTA
[1] O artigo é “Lula salvou o capitalismo”, 13/4/2008, revista PODER. Pode ser lido em “Blog de um sem-mídia– blogueiro que, no blog, apresenta-se: “Carlos Augusto de A. Dória, economista, aposentado, socialista desde criancinha, filiado ao PT. Resolveu criar este blog, porque não aguenta mais o partidarismo da grande imprensa, que, nas cartas dos leitores, só publica opiniões contra o Lula e o PT. Não escrevo agredindo ninguém e só exponho minhas idéias. Nada do que eu tento publicar é publicado.” 

Comentário da Vila Vudu
O PT é o pior partido do mundo. Mas tem alguns muito bravos velhos militantes! Quantos, tão diferentes, resistimos juntos, há quanto tempo! VENCEREMOS! DILMA É MUITOS! 


Comentário



Pois diria eu que o PAC tem sido mais efetivo que os projetos do New Deal, que não foi assim tão bem sucedido. Outro dia mesmo, Oscar Niemeyer, que esteve em Nova York há 71 anos com Dr Lúcio (co-autores do Pavilhão do Brasil na Feira Mundial), me disse que o que logo o impressionou foram as passeatas de desempregados, aos brados de We are hungry! 

O que deveras diminuiria as taxas de desemprego foi a entrada dos EUA na guerra, a partir de dezembro de 1941. Mesmo assim, Howard Zinn, que nos deixou há nove meses, atesta que outras inúmeras greves ocorreriam até 1945.

O PAC diminuiu o desemprego e o Brasil não precisou de um esforço nacional de guerra, para superar grandes obstáculos que nos açoitavam havia quase quatro décadas.

Arncar