sábado, 7 de maio de 2011

Nos EUA, “jornalismo” para demonstrar que a tortura funciona?


Peter Hart

6/5/2011, Peter Hart, FAIR – Fairness and Accuracy in Reporting
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

A revista Time que está nas bancas (não há link para o texto) publica a seguinte estranha explicação de como a tortura foi útil para encontrar Osama bin Laden:

O planejador do 11/9 Khalid Sheik Mohammed foi interrogado para obter detalhes sobre o mensageiro [de Bin Laden]. Quando ele disse que não sabia, os interrogadores perceberam que seguiam trilha promissora. Al-Libbi, alto comandante da Al-Qaeda que foi preso em 2005, também fingiu nada saber. Os dois foram submetidos às chamadas técnicas avançadas de interrogatório, inclusive, no caso de Mohammed, ao quase-afogamento.

No máximo, pode-se inferir daí que não obtiveram informação que prestasse sobre o mensageiro da Al-Qaeda, apesar de muito torturarem esses dois prisioneiros –, dado que até semana passada não tinham a informação de que mais precisavam. O fato de muito terem torturado esses dois prisioneiros só prova, de fato, que a tortura não é útil para produzir informação relevante.

O artigo prossegue: “Relatos de que Mohammed e al-Libbi mostraram-se mais dispostos a cooperar depois do tratamento avançado asseguram que a discussão [sobre a eficácia da tortura] continuará.” Ora, mas... que sentido faz esse comentário? A resposta que logo vem à mente é que a revista Times está reunindo argumentos para demonstrar que, como dizem, nos EUA, os defensores da tortura de prisioneiros, pode-se recorrer a qualquer recurso, de qualquer tipo, quando se trate de vingar o ataque que os EUA sofreram.

Na excelente cobertura dessa discussão no blog FireDogLake, Marcy Wheeler parece ir mais diretamente ao ponto:

Mas há dois pontos que parecem ser chaves para analisar a questão da tortura. Primeiro, os dois prisioneiros, KSM e al-Libi tinham informação crucial, que não entregaram sob tortura. KSM sabia do papel que cabia a Abu Ahmed, como mensageiro e conhecia seu verdadeiro nome; al-Libi sabia que Abu Ahmed era homem de confiança de bin Laden com função de mensageiro e muito provavelmente sabia o que se passava na casa que abrigava bin Laden em: KSM Was Lying about OBL’s Location While Hiding the Courier Who Could Locate Him.

E nem um nem outro revelaram o que sabiam, à CIA.

Khalid Sheik Mohammed foi submetido 183 vezes à tortura do quase-afogamento em um mês, e jamais sequer lhe perguntaram sobre mensageiros que cercavam bin Laden, ou lhe perguntaram e nada obtiveram. Se Khalid Sheik Mohammed tivesse revelado a identidade ou, que fosse, apenas a existência de mensageiros, Bush teria encontrado bin Laden há oito anos.

Outra consideração – que vem de Matthew Alexander de CounterSpin – é que o codinome do mensageiro, que Khalid Sheik Mohammed teria revelado, de nada serviu. Isso, precisamente, é o que se lê em artigo do Los Angeles Times (5/5/11), baseado em entrevistas com vários funcionários do governo:

[os entrevistados] destacaram que nenhuma das três informações cruciais – o nome do mensageiro, a área do Paquistão na qual bin Laden operava e a localização da casa onde estava foi obtida de prisioneiros torturados.

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