E agora?
Que dizer, Bin Laden morreu, o Senhor do Mal foi punido, Al Qaeda decapitada. O que vem por ai?
É só sentar-se e reflectir, pois temos muitos elementos para saber quais as próximas consequências. Não todos os elementos, mas alguns sim.
Os EUA estão em crise, uma crise grave e provavelmente irreversível. Mas não podem admiti-lo nem aceita-lo; e, mesmo que feridos, ainda são a primeira (e única) super-potência mundial.
Um animal ferido desencadeia golpes de forma descontrolada, ou assim parece, em todos os sentidos. Mas nestas condições é fácil cometer erros. Daí a grande confusão que temos: contradições, caos, informações incompletas, etc.
A África e "os outros"
Washington observa a própria influência declinar, em favor de novos Países.
A China, em primeiro lugar, que super-potência ainda não é mas que um dia, talvez, poderá alcançar este status.
Depois temos a Rússia que, apesar dos problemas, está a construir o próprio futuro devagar.
O Brasil, com Lula, entrou no restrito círculo dos "Países que contam"; e com Dilma? Tenho dúvidas, mas em qualquer caso é questão de tempo, Lula provavelmente voltará.
A Turquia está também a reclamar um papel emergente, enquanto a Índia é já uma realidade: por enquanto ligada a Israel, mas apenas por enquanto.
Num panorama como este, fazem sentido as "revoltas" da África do Norte. Não podemos esquecer que a China está também presente em África. Claro, duma forma menos "explosiva", mas muito mais funcional: com empréstimos e investimentos, a melhor maneira para segurar um País pelo pescoço.
Podem os Estados Unidos deixar que Pequim ocupe a África? Não, não podem, pois o continente tem uma excepcional importância em termos estratégicos (sobretudo em proiecção futura) e de recursos: petróleo e tráfico de droga agora, gás e lítio a médio prazo, água a longo prazo.
Nesta óptica, as "revoluções" dos Países africanos da zona mediterrânica fazem sentido, tal como afirmado: acabou o tempo dos velhos regimes, a era de internet e da comunicação instantânea requer povos convencidos de auto-gerir-se.
Os ataques contra a Europa estão a resultar. Com os trajes dos especuladores e com a ajuda das Mentes Pensantes de Bruxelas, os grandes bancos principalmente americanos conseguiram tornar três Países do Velho Continente autênticos protectorados, sem uma real autonomia política ou económica.
Espanha próxima vítima? Talvez, mas já não é preciso: a Europa está suficientemente dividida, enfraquecida e controlada.
Os campos de petróleo do Iraque já estão nas mãos ocidentais, por isso não representam um problema.
Inimigo procura-se
A questão iraniana por agora foi descuidada, mas é questão de tempo: e para satisfazer o "aliado-patrão" Israel, e por questões de recursos tal como estratégicas (não podemos aqui esquecer os oleodutos e os gasodutos), o "problema Irão" voltará em força.
E nem podemos afastar a hipótese de que a morte de Bin Laden seja um novo degrau na escalada contra Teheran: com o Afeganistão ocupado, com o Paquistão "controlado", com Al Qaeda decapitada, donde virão agora os terroristas?
Porque haverá terroristas, disso temos a certeza. Os mesmos Estados Unidos já deixaram claro que novos atentados são prováveis, como forma de retaliação.
E os Estados Unidos precisam dum inimigo. Precisam desesperadamente.
Se decidiram pôr um ponto final na saga de Bin Laden, é porque já há quem possa substitui-lo.
O Irão? Nesta altura parece ser o melhor candidato, mas não o único.
O novo estilo
Uma nova ordem mundial no horizonte? Não, por enquanto não há sinais disso.
Reparem: tudo o que se está a acontecer é um problema ocidental que em alguns casos tem Países asiáticos apenas como fundo das operações.
Os EUA em crise, que tentam alterar um destino que já parece escrito, uma Europa em coma profundo, uma crise (a começada em 2008) que teima em não acabar.
Estamos perante um novo "estilo" dos Estado Unidos. Um estilo que, contrariamente aos anteriores, parece não o fruto duma planificação de longo prazo, mas uma resposta aos estímulos, uma espécie de reacção.
Isso não significa que não haja uma projectação, longe disso. Significa, todavia, que os Estados Unidos estão a percorrer uma estrada que, em condições normais, evitariam percorrer com esta atitude.
Porquê?
A resposta não é difícil: Washington tem enormes problemas internos, e estes problemas têm um nome também: economia.
A "morte" de Bin Laden é, ao mesmo tempo, um passo em frente e um passo atrás.
Em frente porque provavelmente consentirá a entrada em campo dum novo "inimigo" e de novas estratégias.
Atrás, porque permite aos Americanos retirar as tropas e diminuir os custos abismais sem que os objectivos estratégicos estejam totalmente alcançados: o Afeganistão está bem longe de ser um território controlado e neste aspecto a situação é bem pior daquela deixada atrás no Iraque.
Ao mesmo tempo, os problemas orçamentais impediram aos Estados Unidos de empenhar-se abertamente num conflicto fundamental para o controlo dos recursos, a guerra da Líbia. Obama foi obrigado a mandar em frente a Nato, isso é, os Países europeus. Com os resultados que todos podemos ver.
O exemplo da Síria e a próxima tempestade
Também a situação na Síria merece ser comentada: outra "revolta espontânea", mas atitude diferente. Sarkozy bem tentou apontar o País do Médio Oriente qual próximo alvo, mas ninguém recolheu o convite.
E quem poderia ter feito isso? Uma Europa em pedaços? Uma América à beira do colapso económico?
A operação síria mais pareceu (até agora) uma tentativa do género "vamos mexer as águas para ver o que acontece", com Israel que aplaude.
Mas até agora não aconteceu nada, o governo da Síria bem sabe isso e nem ligou às promessas-ameaças de Hilary Clinton ("A revolta irá acabar no dia em que a Siria assinar um tratado de paz com Israel e acabar de apoiar o Irão e os Hezbollah").
E porquê a Síria deveria ceder? Qual o perigo imediato?
Nestes dias circenses há um silêncio ensurdecedor: o silêncio da China. Que, com os outros Países, está na ponte e olha o rio, à espera de ver passar o cadáver do inimigo.
Não será preciso esperar muito: o tempo está a mudar, a tempestade aproxima-se.
Será uma tempestade infernal.
"Contra" os Estados Unidos?
Uma última nota.
Ainda uma vez gostaria de esclarecer um ponto e sublinhar que Informação Incorrecta nada tem contra os Estados Unidos. O futuro pouco alegre que aqui é prospectado não representa um voto, mas uma leitura que tem por base a análise dos factos.
Ser "contra" os Estados Unidos (uma atitude bem presente em internet) é simplesmente estúpido, por, no mínimo, duas razões.
Em primeiro lugar: se hoje no Mundo Ocidental não somos obrigados a chamar de "camarada" o nosso vizinho, é bom lembrar que isso deve-se à intervenção dos Estados Unidos ao longo da Segunda Guerra Mundial e ao papel deles ao longo da Guerra Fria. E qualquer leitura histórica diferente pertence ao mundo do delírio.
Segundo: os Estados Unidos são compostos por pessoas como nós, aliás, bem mais azaradas do que nós. São cidadãos cujas faculdades mentais são continuamente postas em causa pelos ataques dum sistema de persuasão mediática que aí encontra a máxima expressão.
O que pode ser feito é assumir o fim do papel histórico dos Estados Unidos.
O que podem ser criticadas são as escolhas do Governo e dos bancos (que depois é a mesma coisa), não um povo ao qual é contado que tudo está bem, que ainda são os melhores e que representam o berço da liberdade (sic).
E se alguém tem dúvida, tente responder à seguinte pergunta: a má gestão do vosso País é culpa vossa?
(Resposta: em parte sim, pois quem é que vota? Mas este é outro discurso...)
Ipse dixit.
Magnificamente escrito por Max no Informação Incorrecta
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