segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A ofensiva do próximo verão: al-Qaeda no Swat

ISLAMABAD – United States President Barack Obama has pledged to begin withdrawing troops from Afghanistan in July 2011, and as a part of the initial outlines of this exit strategy...

7/12/2010, Syed Saleem Shahzad, Asia Times Online 
 Syed Saleem Shahzad é editor-chefe de Asia Times Online no Paquistão
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MALAKAND. Fontes de Asia Times Online (AToL) informam que líderes da al-Qaeda alocaram 2 bilhões de rúpias (US$23,25 milhões) e criaram novo programa de treinamento para 400 militantes na Agência [província] Khyber, para iniciar ações de plena guerrilha no próximo verão, na área do Swat na província de Khyber Pakhtoonkhwa e na divisão de Malakand. 

Na ocasião em que o presidente dos EUA Barack Obama, em visita surpresa ao Afeganistão na 6ª-feira, dizia aos soldados norte-americanos da base aérea de Bagram, nos arredores de Cabul, que se preparem para tempos difíceis, os militantes Talibãs [“estudantes”, pl.] que falaram a Asia Times Online informavam que a al-Qaeda concebeu um plano para militantes que enfrentarão o exército paquistanês no Swat. 

O plano visa a reduzir a capacidade dos militares para dar andamento aos projetos dos EUA na região, evitando, sobretudo, que consigam lançar ofensiva massiva contra a área tribal no Waziristão Norte, importante reduto dos guerrilheiros e posto de comando da guerrilha comandada pelos Talibãs no Afeganistão. 

A al-Qaeda ao leme

Eu estava em Malakand, para uma palestra na universidade, e recebi uma mensagem em meu telefone celular, com instruções para encontrar alguém num hotel próximo. Esperava-me um jovem, que se apresentou como Shamim Hussain (não é seu nome verdadeiro) e convidou-me a passar a noite numa vila próxima, para ouvir as ideias dos guerrilheiros do Swat, onde, ano passado, o exército paquistanês conduziu grande ofensiva contra os militantes, região que, um dia, foi um vale tranquilo. 

A operação no Swat começou em meados de 2009 e mudou a vida do país, depois que o exército usou força total e, na prática, venceu o combate. A nação assistiu ao maior deslocamento interno de toda a história, quando mais de 2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas. O vale do Swat foi como vale fantasma durante os três meses em que o exército lá permaneceu, fazendo o que lá estava para fazer, sem piedade. 

“Todas as manhãs encontrávamos pelo menos três cadáveres de Talibãs, mas os militares jamais permitiram que fossem sepultados. Queriam que fossem comidos pelos corvos, águias, urubus” – contou a AToL um Talib [“estudante”], Abdul Rahman. 

Depois de concluída a operação, apareceram relatórios e um vídeo comprovando graves violações de direitos humanos, em tal quantidade e de tal violência, que os EUA ameaçaram suspender qualquer ajuda ao Paquistão, e o comandante do Exército instaurou uma comissão para investigar o que os vídeos mostravam. 

Hussain estacionou o carro em frente a uma casa próxima de um campo plantado com cana de açúcar e conduziu-me até uma sala. 

“O que estão fazendo?” – perguntei. “O exército tem dito que o Talibã do Paquistão foi varrido do mapa”. 

“Não há dúvida de que sofremos duras baixas, mas não fomos varridos do mapa. Revisamos completamente nossas estratégias. No próximo verão, voltaremos muito mais fortes” – disse Hussain. 

E continuou. “Vocês ouviram notícias do assassinato de nazims [prefeitos eleitos] locais, de advogados e de membros do Partido Nacional Awami? Foi campanha altamente secreta, conduzida pelos Talibãs para assassinar adversários. Nos próximos meses, essa campanha será ampliada e, no próximo verão, os militantes já estarão novale para enfrentar o exército” – disse Hussain. 

Lembro-me, de fato, de assassinatos de homens ilustres, dentre os quais Dr. Farooq Khan, clérigo e psiquiatra que dava apoio a ações do exército, com escolas religiosas para militantes que desejassem abandonar a guerrilha. 

O Talibã adotou abordagem semelhante na Agência Khyber, onde, em 2007, havia poucos querrilheiros, e a maioria da população seguia a seita Brelvi – ramo do sufismo. 

Pir Noorul Haq Qadri, deputado e ministro federal, nascido na Agência Khyber, contou ao nosso jornal Atol há alguns meses que os Talibãs haviam listado cerca de 3.000 pessoas a serem assassinadas e que, em 2008, já não havia ninguém na Agência Khyber que ainda desafiasse os Talibãs. Os Talibãs arregimentaram quadros em várias regiões; atualmente, sua principal fortaleza está na Agência Khyber. 

A al-Qaeda também já lançou os olhos para a Agência Khyber, porque quase 75% de todos os suprimentos para a OTAN no Afeganistão passam por aquela região. Esse ano, o número de ataques a comboios de suprimentos foi o mais alto de toda a guerra. 

Hussain confirmou que a al-Qaeda também está atenta ao vale do Swat. 

“A al-Qaeda assumiu diretamente as questões do Swat. O grupo do Mullah Fazlullah, chefe do “Talibã no Paquistão” [Tehrik-e-Taliban no Paquistão, TTP] ativo no Swat passou a ser subordinado ao Waziristão Norte, para que a al-Qaeda possa dirigir todas as ações através deles. O principal comandante de operações, Ibn-e-Amin [oi Bin Iamín], estabeleceu-se em Mohmand [Agência, próxima de Malakand], de modo que possa dirigir operações no Vale do Swat; e há muitos combatentes em treinamento no Vale Terah, na Agência Khyber.” 

Hussain começa a gostar da própria narrativa. “Inicialmente, os militantes foram instruídos a abandonar completamente as atividades no Swat e recuar, e todos foram instruídos para deslocar-se para o Vale Terah na Agência Khyber. Até as atividades de sequestro para obter resgates foram suspensas no Swat, quando operações essenciais relacionadas ao vale e a Malakand passaram ao encargo de outros grupos de militantes. 

“O vice-reitor da Universidade de Peshawar [parente próximo do chefe dos ministros da província de Khyber Pakhtoonkhwa] Ajmal Khan foi sequestrado pelo grupo de Tariq Afridi de Darra Adam Khel, e trocado por ‘Muçulmano’ Khan, importante porta-voz dos Talibãs na região do Swat. Mas os militantes do Swat, durante esse tempo, foram impedidos de participar de ações de mais vulto, até que adquirissem melhor treinamento. 

“A al-Qaeda alocou dois bilhões de rúpias nesse plano para o Swat e indicou seus mais competentes instrutores árabes, paquistaneses e turcos para treinar os militantes do Swat e capacitá-los para operações que exijam mais alto grau de sofisticação”, disse Hussain. Acrescentou que, quando os militantes estiverem treinados, começarão os assassinatos predefinidos [ing. target killings] no Swat. 

É estratégia semelhante à que foi introduzida no Afeganistão pelo paquistanês Ilyas Kashmiri, veterano combatente nascido na Caxemira que se alistou à al-Qaeda. Suspendeu a guerra de guerrilhas tradicional – espécie de jogo de esconde-esconde nas montanhas, que fracassou sob o fogo dos aviões-robôs não tripulados e a artilharia aérea sofisticada dos EUA – e passou a treinar os militantes para operações especiais sofisticadas (entre as quais o ataque a instalações do Hotel Serena em Kabul, em janeiro de 2008, do qual resultaram seis mortos e seis feridos). 

No Paquistão, militantes do Laskhar-e-Jhangvi também já dão sinais de começar a envolver-se em ataques mais sofisticados, mais bem planejados – entre os quais o ataque à equipe de críquete do Sri Lanka em maio de 2009 e um assalto a quartel militar em Rawalpindi.

“Esse plano da al-Qaeda é simplesmente uma resposta à próxima ‘avançada’ planejada para toda a região pelo exército paquistanês, que está sendo empurrado [pelos EUA] para que invada o Waziristão Norte e quebre o comando dos Talibãs, para controlar a região. Os militantes obrigarão a operação militar a dividir-se em duas frentes, desafiando o exército também no Swat” – disse Hussain. 

Tudo isso considerado e dada a probabilidade mínima de que Afeganistão ou Paquistão negociem qualquer espécie de trégua com os militantes, o próximo ano será particularmente sangrento, com o vale do Swat outra vez transformado em campo de guerra. 

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