Publicada em:23/06/2010
O poder da internet, com suas redes sociais, tem se revelado um fenômeno extremamente interessante, que deixa de lado a alienação da informação instantânea e se aproxima da guerrilha semiológica do texto de Umberto Eco no sentido de apropriação de um “instrumento extremamente potente” que interfere na comunicação de massa.
O Brasil, com sua enorme adesão ao uso da internet e às novas tecnologias de informação, está criando situações exemplares de interferência dinâmica na comunicação, com os antigos receptores deixando seu papel passivo para se tornarem produtores ativos de informação.
O tempo real, que transformava a notícia em commodity nas mãos de seus produtores, e mesmo ferramentas como o twitter, que José Saramago ironizou ao comparar seus 140 caracteres como o retorno ao grunhido, ganham nova conotação com a sua apropriação para fins de interferência política em seu sentido mais amplo.
Essa possibilidade de intervenção na realidade, que aconteceu no caso da propaganda dos 45 anos da TV Globo e sua associação (in)direta com a campanha de José Serra e que vem se manifestando numa vigilância permanente do comportamento midiático na atual eleição presidencial, ganhou exposição ainda maior no atual conflito entre a Globo e o técnico da seleção brasileira na Copa do Mundo.
O que era para ter sido um episódio comum, discussão entre técnico e jornalistas, mesmo que com uso de palavrões reprováveis, ganhou outra dimensão, quando a blogosfera identificou na condenação exacerbada da Globo uma vingança da emissora contra Dunga, que vinha eliminando seus privilégios no acesso à seleção.
A origem de toda a controvérsia, por sinal, foi apontada inicialmente na blogosfera. Um dia antes que alguns sites ligados aos meios de comunicação tradicionais dissessem ter identificado a raiz do problema, vários blogs já tinham contado que a Globo tentara conseguir entrevistas coletivas por intermédio do presidente da CBF,
Como o editorial que a Globo fez ser lido em todos os seus veículos foi desmascarado como vingança, Dunga passou a contar com a solidariedade que não teve em nenhum momento de sua trajetória de treinador da seleção. Ninguém saiu em defesa de sua atitude na entrevista coletiva em que murmurou palavras ofensivas contra um jornalista da emissora, mas, sim, foi apontada a campanha orquestrada contra o treinador por causas alheias ao comportamento do time em campo.
A maneira das pessoas externarem sua indignação é imprevisível. A reação começou no twitter com uma mensagem que se tornou recordista no microblog , “cala a boca Tadeu Schmidt”, referência ao jornalista da Globo que primeiro leu a mensagem contra Dunga preparada pela emissora, e se estendeu a um movimento “Dia sem Globo”, que propõe um boicote à transmissão do jogo entre Brasil e Portugal nos canais da rede.
O significado dessa reação é muito revelador no modo de fazer e consumir informação. A mídia está sendo definitivamente mudada. Com as novas tecnologias, ninguém tem mais a exclusividade da opinião. Como escreveu Eco, “a batalha pela sobrevivência do homem como ser responsável na Era da Comunicação não se vence lá de onde a comunicação parte mas lá onde chega.” Parafraseando o escritor e semiólogo italiano, poderíamos dizer que o universo da comunicação tecnológica já está sendo atravessado por guerrilheiros da comunicação com uma dimensão crítica da recepção passiva.
garfado do Direto da Redação