Paul Krugman |
26/7/2011, Paul Krugman, The New York Times/ Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Dos “Comentários”, na página de Commondreams:
A “abordagem equilibrada” dos jornais significa que os trabalhadores devem dar mais e os bilionários explorar mais.
É equilíbrio, sim, pela lógica das empresas. Um quarto das crianças dos EUA e uma legião de aposentados vivem de bônus-alimentação.
Os ricos estão convertendo os trabalhadores em combustível para seus iates.
Uma luta de classes pareceria suave, ante o massacre de classe que sofremos hoje.
Só me consola saber que já temos um socialista no Senado.
Precisamos de 100 lá, 500 na Câmara, milhões nas ruas e Bernie Sanders na Casa Branca”
[assina: Jim Bains, 26/7/2011, 17h49]
Vendo o sistema nos EUA em plena crise do teto de endividamento – crise completamente autoinflingida, mas que ainda assim poderá ter consequências desastrosas –, é cada dia mais óbvio que vemos aí a influência destrutiva de um culto que já envenenou o sistema político norte-americano.
E, não, não falo do fanatismo de direita. OK, sim, isso também. Mas minha opinião sobre aquela gente é que são o que são; também se pode denunciar os lobos por preferirem carne vermelha. São doidos. É o que são. E fazem doideiras.
Não. O novo culto que, para mim, é evidência de completo fracasso moral é o culto do equilíbrio, do “centrismo”.
Vejam o que está acontecendo agora. Estamos no meio de uma crise na qual a direita faz exigências insanas, a Democratas e ao presidente que se curvam o mais que podem para acomodar “as coisas” – apresentando planos que só falam de cortar gastos e nada de impostos, planos que os põem, todos, muito mais à direita que a opinião pública.
Nesse quadro, o que dizem praticamente todos os jornais e noticiários? Pintam uma situação na qual os dois lados seriam igualmente “partidários” e igualmente intransigentes – porque a imprensa não sabe fazer outra coisa. E jornais e jornalistas influentes já clamam por um novo partido de centro, por presidente de centro, que nos salvem das mazelas do partidarismo.
A realidade é que os EUA já temos presidente de centro – de fato, presidente conservador moderado. Mais uma vez, a reforma da saúde – a única grande mudança que víramos até aqui, das que o presidente prometeu – foi modelada pelos Republicanos (o plano saiu da Heritage Foundation). E todo o resto – inclusive a ênfase desatinada na “austeridade”, em momento de desemprego altíssimo – segue a cartilha conservadora.
O que isso significa é que ninguém está preocupado com extremismo algum. Os eleitores, que recolhem informação dos jornais, não de fontes confiáveis, e que não podem estudar as coisas a fundo para entender o que realmente está acontecendo, ficam sem saída, presos numa armadilha.
É preciso perguntar o que se tem de fazer para que jornais e jornalistas esqueçam para sempre a convenção segundo a qual os dois partidos erraram erros equivalentes. Não conheço situação mais perigosamente próxima de uma guerra civil. Se a imprensa dos EUA não conseguir produzir uma guerra civil nos EUA, estamos salvos: nada e ninguém jamais conseguirá.
Ah, sim! Para mim, essa é uma questão moral. Os jornais e jornalistas do “os dois lados erraram” têm de se esforçar mais e falar mais e melhor. Se se recusarem, será por alguma mistura de medo e culto do ego, porque não lhe interessa arriscar a pose de quem finge que paira acima do mundo.
É horrível de assistir. Os EUA pagaremos por isso.
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