Scott Taylor |
15/8/2011, Scott Taylor, The Chronicle Herald, Halifax, Canadá
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu
A rebelião na Líbia sempre foi mais criação da mídia que confronto armado em grande escala. Sim, nos primeiros dias, os rebeldes tomaram alguns tanques e armas das tropas do governo. Por isso, houve escaramuças entre rebeldes e soldados do exército líbio ao longo da rodovia que acompanha o litoral.
Entre 15 de fevereiro, quando começou o levante, e 19 de março, quando o Conselho de Segurança da ONU autorizou intervenção internacional, a vasta maioria dos trabalhadores estrangeiros que viviam na Líbia abandonaram o país.
Naqueles dias de caos, o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha noticiou que o presidente Mummar Gaddafi havia fugido para a Venezuela. Parecia que os rebeldes teriam vitória fácil e rápida. Mas Gaddafi nem viajou nem viajaria; em pouco tempo seus seguidores se recompuseram e, então sim, começaram uma efetiva luta de resistência contra os rebeldes.
Os rebeldes, que não são tropa profissional, logo iniciaram movimento de retirada de volta para o único ponto que realmente controlam no território, na cidade de Ben-ghazi.
Para impedir que Gaddafi impusesse qualquer tipo de retaliação contra os rebeldes, a ONU autorizou a OTAN a implantar uma zona aérea de exclusão sobre a Líbia, para impedir que civis desarmados fossem atacados.
Muito estranhamente, a resolução da ONU nada dizia sobre não atacar civis desarmados que vivem nos setores controlados por Gaddafi. Ante essa estranha omissão, a coalizão OTAN-EUA-Canadá iniciou imediatamente os ataques contra alvos do governo líbio.
Já há mais de cinco meses, os aviões da OTAN apoiam os rebeldes, e navios de guerra da OTAN implantaram um embargo de armas unilateral contra o exército de Gaddafi. Todos os fundos financeiros líbios foram congelados, o que tornou virtualmente impossível para a Líbia comprar material bélico nem, sequer, prover as necessidades básicas do país, por exemplo, em termos de combustível.
Apesar de todas essas medidas, as unidades esparsas, sem qualquer coesão ou ordem que compõem as milícias rebeldes, não conseguiram impor qualquer derrota taticamente significativa às forças leais a Gaddafi – muito menos, é claro, conseguiram derrubar o ditador.
Em viagem que fiz a Trípoli, semana passada, para levantar fatos, vi que Gaddafi consolidou seu controle sobre a capital e praticamente toda a parte oeste da Líbia. Diplomatas que continuam em Trípoli confirmaram que, desde que começou o bombardeio pela OTAN, o apoio da população e a aprovação ao governo Gadaffi subiram à estratosfera e estão hoje em torno de 85%.
Das 2.335 tribos que há na Líbia, mais de 2.000 mantêm-se fiel ao presidente atacado pela OTAN. Hoje, as principais dificuldades que os líbios enfrentam são relacionadas ao racionamento de combustível e à falta de energia elétrica, resultado das bombas da OTAN que são causa das mais terríveis dificuldades que os líbios enfrentam nos setores controlados por Gaddafi.
A população, evidentemente, culpa a OTAN – não Gaddafi – pelos racionamentos. Em esforço para combater esse sentimento popular e estimular a população a levantar-se contra Gaddafi, os aviões da OTAN têm lançado latas contendo panfletos sobre Trípoli.
Infelizmente para os planejadores da OTAN, as latas são pesadas demais e têm causado ferimentos e quebrado telhados pela cidade, lançadas, como são, de grande altura.
Quanto ao texto das mensagens, algumas já são piada entre os líbios, que riem das traduções às vezes ininteligíveis, às vezes cômicas. Num dos panfletos, por exemplo, no qual quem escreveu supunha que tivesse escrito que os civis devem “unir-se” aos rebeldes, está escrito, de fato, que os civis líbios devem “copular” com os rebeldes.
Outra das missivas da OTAN aconselha que os que vivam em áreas controladas por Gaddafi façam as malas e mudem-se para o território ocupado pelos rebeldes. Aí se lê que os cidadãos devem mudar-se imediatamente para o setor “dos possuídos” (como “possuídos pelo diabo”) da Líbia.
É possível que o embargo, a falta de combustível e a destruição dos prédios públicos e de serviços da Líbia acabem por criar uma crise humanitária muito grave na Líbia de Gaddafi, tão grave que não reste outra alternativa aos líbios além de unir-se em torno do líder que conhecem há mais de 40 anos, para tentarem sobreviver.
Então, afinal, se se chegar a esse ponto, o ocidente dificilmente convencerá alguém de que uma segunda intervenção militar tornou-se necessária, para salvar os líbios da desgraça criada pela primeira intervenção militar... e pelos mesmos interventores.
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