terça-feira, 2 de agosto de 2011

Parem a matança!

1/8/2011, Alla Korusun, New Eastern Outlook
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Muammar Gaddafi resiste
Temos de reconhecer que nem todos os governantes africanos são covardes. O coronel Gaddafi, da Líbia, não se assustou com ameaças de EUA e OTAN. Não abandonou o país em busca de lugar sossegado onde se esconder e esconder a família.

O mais ignorante dos africanos já aprendeu, hoje, que ao tentar impor alguma ‘democracia’ na África, os EUA só fazem impor o próprio domínio para, em seguida, cuidar de resolver seus problemas de energia; e, também, porque interessa aos EUA bloquear a expansão econômica dos chineses que lançam olhos para o continente africano.

Ninguém pode não ver que, diferente de muitos outros governantes em todo mundo, Gaddafi nunca esqueceu as promessas que fez aos líbios. Gaddafi fez mais pela integração dos países africanos que toda a ONU. Sempre trabalhou para fazer da África interlocutor capaz de conversar em pés de igualdade com o ocidente colonizador e branco. Seu esforço foi limitado pelos interesses paroquiais e excessos de corrupção de vários de seus assessores; e pela falta de visão política de outros. Mas hoje, quanto mais cresce a violência da agressão estrangeira à Líbia, mais os cidadãos africanos vão abrindo os olhos. 

Hoje constroem barricadas na própria terra, mas amanhã, quando os lacaios de Tio Sam lhes derem as costas – porque quem ande à caça de dinheiro fácil solidariza-se, com a mesma facilidade com que dá as costas e trai –  e forem deixados sozinhos, entregues às suas misérias econômicas, sociais e políticas, os povos africanos, embora tarde e por mais tarde que seja, com certeza se levantarão contra os “patrões” europeus e norte-americanos. E outra vez o mundo estará às voltas com mais guerras.

O problema será deixado aqui às nossas portas, para que a África resolva. E o Tio Sam esconder-se-á, fugindo da terrível ameaça para o outro lado do Oceano Atlântico, de onde continuará a enviar mercenários, armas, aviões e explosivos para sua cabeça-de-praia afroeuropeia.

Mais cedo ou mais tarde – tarde demais, como sempre – os EUA e seus satélites sairão da África, como sempre saem, como saíram do Vietnã, de Angola e do Afeganistão, sem dar ouvidos à condenação da comunidade internacional. E deixarão a Europa e a África a lamber as próprias feridas. E longe, bem longe, os EUA já se estarão preparando para recolher os lucros de mais uma (nova) guerra.

O neocolonialismo não acontecerá! Os países africanos não podem ser controlados ou pressionados! Os cidadãos africanos nunca o admitirão. E, não, não desejo para a África, que viu tantos homens e mulheres partir escravizados pelos oceanos, ter de relembrar aquele passado!

Não mencionei deliberadamente as várias fés religiosas, que já lutam ou em breve estarão lutando entre elas. Não são fator determinante, mas só até que os regimes que hoje governam os países africanos sejam obrigados a realinhar-se, a fazer algum “reset”, por artificial ou falso ou forçado que seja. O pretexto só superficialmente válido – a democracia – é “a pior forma de governo, exceto todas as demais que se tentaram” (Winston Churchill). Nesse caso, armas de precisão e bombas teleguiadas por GPS e laser são usadas como ferramentas de democratização.

Mas como já se vê, até as “bombas” mais confiáveis “erram” e matam civis inocentes. Se Muammar Gaddafi for morto, resolver-se-á talvez a questão de democratizar a Líbia e a África?

Mais dia menos dia, conheceremos a verdade dos novos pactos secretos de repartição do mundo. Haverá mais segredos revelados por atores como WikiLeaks, e não tenho dúvida de que haverá revelações sensacionais.

Europeus e todos os demais têm de entender que sua ‘democracia’ está pisando nos calos de muitos povos. Esses povos jamais esquecerão. Os povos têm memória muito mais longa que seus governantes. Relembrem o passado, cavalheiros. Considerem o futuro e parem imediatamente a matança! 

Pode-se pôr fim à guerra com uma bandeira branca. E o primeiro a levantá-la pode ainda entrar para a história como verdadeiro pacificador e legítimo herói da democracia.

Um comentário:

  1. (comentário enviado por e-mail e postado por Castor)


    Que besteira é essa de "O neocolonialismo não acontecerá!", se foi inaugurado e institucionalizado em meados dos anos-50, na Tunísia, Marrocos(*) e Líbia, com repercussões em outros países africanos, man mano que conseguiam suas independências, sob estado de dependência? Não esqueçamos que lideranças africanas promotoras de autonomias soberanas foram impiedosamente sacrificadas no nascedouro de seus países, como Patrice Lumumba (Congo) e Kuame Nkrumah (Ghana). No caso do "Elefante" Seku Turrê (Guiné-Conacri), o seu "Non!" à proposta gaullista de União Francesa valeu-lhe isolamento e maior empobrecimento do seu país. O exemplo de Robert Mugabe, no Zimbábue, tem as mesmas dimensões.

    Abraços do
    ArnaC

    (*) O Protetorado marroquino atingiu sua soberania, mediante um Tratado com a França, firmado em La Celle-St Cloud em 1956, pelo qual Rabat teve de aceitar mecanismos de "cooperação privilegiada" com Paris.

    ResponderExcluir

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.