sábado, 23 de agosto de 2014

O que significa a decisão dos russos, de introduzir o comboio humanitário em território da Novorússia

22/8/2014, The SakerThe Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
Parece que os russos cansaram-se de esperar. Sugiro que todos leiam atentamente a “Declaração sobre Entrega de Ajuda Humanitária no Sul da Ucrânia, do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, que postei hoje cedo. É documento interessante, porque, além de explicar a decisão russa de pôr a caminho o comboio, é também defesa potencial, para efeitos legais, de ato que a Rússia jamais empreendera antes: violar abertamente a soberania da Ucrânia. Explico-me.

Primeiro, porque o caso da Crimeia foi também “caso especial”. Os russos tinham presença legal na Crimeia e, pela lógica dos russos, a única coisa que os “Homens Armados Vestidos de Verde e Bem Educados” fizeram foi proteger a população local e assegurar que pudessem manifestar a própria vontade, sem coação. Só depois de aquela vontade estar bem expressa, a Rússia aceitou formalmente reincorporar a Crimeia à Federação Russa. Assim, do ponto de vista da lei russa, nenhuma das ações russas na Crimeia incluíram qualquer tipo de violação da soberania ucraniana. Sei perfeitamente que muitos analistas ocidentais não concordarão, mas essa é a posição oficial dos russos. E posições oficiais são importantes, porque dão embasamento legal para argumentar em juízo, legalmente.

Segundo, a ajuda que a Rússia estava dando à Novorússia foi sempre, até agora, exclusivamente clandestina. E operações clandestinas, não importa a magnitude delas, não dão embasamento legar para argumentar em juízo, legalmente. A posição oficial de Moscou sempre foi de que não apenas não houve absolutamente nenhuma ajuda militar à Novorússia; nem quando bombas da artilharia Ukie caíram dentro da Rússia, o Kremlin autorizou qualquer retaliação – e mais uma vez em respeito (oficial) à soberania da Ucrânia.

Comboio com ajuda humanitária da Rússia chega à fronteira do Banderastão
Mas agora não há dúvidas de que os russos escolheram – pensadamente e oficialmente – ignorar Kiev e seguir adiante. Claro que, de fato, na realidade, essa é a coisa logicamente, politicamente e moralmente certa, que tinha de ser feita. Mas em termos legais, não há dúvidas de que é violação da soberania da Ucrânia. De um ponto de vista legal, os Ukies têm direito de deter o comboio na fronteira por mais 10 mil anos, se quiserem; e a Rússia não tem nenhum direito legal de entrar no país. O que me parece que aconteceu hoje foi que os funcionários Ukies nem se deram o trabalho de aparecer no posto de fronteira; o Kremlin, então, simplesmente decidiu “esqueçam os Ukies”; e ordenou que os caminhões avançassem.

Não apenas os russos avançaram, como avançaram sem a Cruz Vermelha, cujo pessoal recusou-se a acompanhar o comboio por conta da falta das garantias que Kiev não deu. A resposta dos russos à ausência das garantias de segurança foi: (a) ordenar que o comboio desarmado avançasse; e (b) declarar explicitamente em documento oficial do Ministério de Relações Exteriores:

Alertamos contra quaisquer tentativas para desvirtuar essa missão puramente humanitária, que exigiu muito tempo para ser preparada em condições de completa transparência e cooperação com o lado ucraniano e a Cruz Vermelha. Os que só se interessam por continuar a sacrificar vidas humanas às suas próprias ambições e objetivos geopolíticos e que estão agredindo violentamente as normas e princípios da lei humanitária internacional que assumam total responsabilidade pelas consequências de opor tais e tantas provocações contra o comboio de ajuda humanitária.

Os "ukies"
Mais uma vez, de um ponto de vista lógico, político e moral, é tudo bem autoevidente, óbvio; mas de um ponto de vista legal, é declaração de que se usará força para defender o comboio ([quem atacar o comboio] que assuma total responsabilidade pelas consequências de opor tais e tantas provocações contra o comboio de ajuda humanitária) dentro do território suposto soberano da Ucrânia.

O principal agente dos EUA em Kiev, Nalivaichenko, entendeu imediatamente e corretamente a declaração dos russos: não só o comboio leva ajuda humanitária muito necessária para Lugansk, como, além disso, deu excelente cobertura legal e política para futuras ações russas dentro da Novorússia. E quando falo de “ações” não me refiro exclusivamente a ações militares, embora essas também sejam agora clara e oficialmente possíveis. Falo também de ações legais como reconhecer a Novorússia.

Do ponto de vista deles, Obama, Poroshenko, Nalivaichenko têm absoluta razão para estarem enfurecidos. Por que aposto que o timing, o contexto e o modo como a Rússia moveu-se para dentro da Novorrússia não resultarão em mais sanções ou em consequências políticas. A Rússia declarou agora oficialmente que a soberania nacional Ukie “já era”; e a União Europeia dificilmente tomará alguma medida e muito provavelmente não tomará medida alguma significativa contra a declaração dos russos.

A ajuda humanitária russa viaja dia e noite para Lugansk
Só isso já é, em si, pesadelo que chegue para o Tio Sam.

Mas, além disso, espero que os russos ajam com extrema, total compostura. Seria estupidez se dissessem “OK, agora que já violamos a integridade territorial da Ucrânia e atropelamos a soberania do país, podemos bombardear as forças da Junta e trazer nossos exércitos para cá”. Tenho confiança de que não farão isso. Por hora. Quanto aos russos, a melhor coisa a fazer agora é esperar.

·       Primeiro, porque o comboio é contribuição realmente vital e ajudará muito.
·       Segundo, o comboio virará uma dor de cabeça para os Ukies (bombardear um comboio branco, de ajuda humanitária, não é ação recomendável e não “pegará bem”).
·       Terceiro, o comboio ganhará tempo, enquanto a situação vai-se tornando mais clara. E aqui falo, precisamente, do quê?

Neonazistas "ukies" diante do parlamento de Kiev
O plano dos Ukies era apresentar alguma grande “vitória” no domingo, dia 24/8/2014, quando planejam um desfile da vitória Kiev para celebrar o dia da independência (é, o Banderastão controlado pelos EUA e gerido pelos nazistas celebrará sua “independência”, o que é ao mesmo tempo triste e cômico). Em vez da grande “vitória” só têm a exibir derrotas vergonhosas durante os últimos 5-6 dias. Segundo todos os relatos, os Ukies estão sendo esquartejados e, pela primeira vez, já tiveram de retroceder (ainda que só em nível tático). Aquele comboio em Lugansk acrescentará um simbólico “fodam-se!” dirigido à Junta de Kiev. Também exacerbará as tensões dentro da claque que está no poder, com o Setor Direita e Dmitri Iarosh e o crescente movimento de protesto no oeste da Ucrânia.

Resumo da história: sem dúvida é movimento arriscado, acionado pela consciência de que, com Lugansk já sem água para beber, Putin tinha de agir. Ainda assim é movimento brilhante, brilhante, absolutamente brilhante, que gerará horrível dor de cabeça para os EUA e seus nazi-fantoches em Kiev.

The Saker

PS: Ouvi ontem à noite que a Holanda declarou oficialmente que não divulgará a íntegra dos dados de voo e gravadores de vozes do MH17. Assim, a Holanda torna-se cúmplice confessa do encobrimento da operação de "falsa bandeira" comandada pelos EUA e do assassinato dos passageiros do MH17. É horrível, absolutamente inadmissível, e espero que o governo da Malásia não permita que essa ação prossiga. Quanto a Kiev, está também sentada sobre as gravações das comunicações entre a torre de comando em Kiev e o voo MH17. Quanto aos EUA, já sabem de todas as informações, obtidas pela própria inteligência norte-americana. Nas atuais circunstâncias, será que alguém ainda tem alguma dúvida sobre “quem é o criminoso?”.

Um comentário:

  1. Um verdadeiro jogo de xadrez, com um xeque-mate por parte dos Russos. O mundo está mudando em todos os aspectos. Não há como deter o inevitável fluxo de mudança inclusive nos podres poderes políticos.

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