terça-feira, 17 de julho de 2012

Pepe Escobar: “Sangue na trilha* (da Bain & Co., de Romney)”


16/7/2012, Pepe EscobarAsia Times OnlineThe Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Pepe Escobar
Era o momento que todos esperavam, da abertura da campanha presidencial pela televisão, nos EUA 2012: as primeiras pegadas marcadas com sangue fresco na trilha.

Pense cada um o que pensar sobre o laureado Prêmio Nobel da Paz e megafazedor de guerras, presidente Barack Obama dos EUA, o que se vê em: Barack Obamadotcom é obra-prima, super obra-prima total, em termos técnicos, de propaganda eleitoral por televisão. Vejam e ouçam. Merece o Oscar, para começar, de trilha sonora e edição de som:


Pode haver algum exagero – porque o spot foi concebido para funcionar como um míssil Hellfire compactado e gerar o impacto máximo; mas tudo o que o spot propagandeia é fundamentalmente correto. O candidato dos Republicanos e cyborg peso-pesado da grande finança, Mitt Romney, fez a vida na prática de exportar empregos e, claro, contribuiu muito fortemente para fazer aumentar as taxas de desemprego no país. Não há tema mais sensível em ano eleitoral, nos EUA.

Em resposta frenética, Romney só faz repetir que jamais foi responsável por coisa alguma, porque já deixara a presidência de sua empresa Bain & abutres do capital (foi um dos cofundadores), no momento em que “aquilo” aconteceu.

Não. Não é verdade. Páginas independentes na internet, como Mother Jones e Talking Points Memo seguiram a história – e até a grande mídia-empresa noticiou sem reservas. Aqui, os principais excertos do que o Boston Globe publicou:

Documentos oficiais, preenchidos por Mitt Romney e pela empresa Bain Capital, comprovam que Romney permanecia como presidente e principal executivo, três anos depois da data em que Romney disse que teria deixado os cargos na empresa; e que, inclusive, criou cinco novas parcerias de investimentos durante o período “extra”.

Romney disse que deixara a Bain em 1999, para presidir os Jogos Olímpicos de Inverno em Salt Lake City, quando se teria separado completamente da empresa. Mas documentos da Comissão de Derivativos e Câmbio, apresentados depois daquela data pela empresa Bain Capital, comprovam que Romney continuava a ser “único acionista, presidente do Conselho, presidente e principal executivo da empresa”.

Além disso, um formulário financeiro que Romney preencheu em Massachusetts em 2003 também comprova que, em 2002, ele continuava a ser proprietário de 100% do capital da Bain Capital. E a declaração de bens de Romney mostra que, em 2001 e 2002, ele ainda recebia pelo menos $100 mil dólares/ano, como “executivo” da empresa Bain, além dos dividendos dos investimentos.

O momento em que Romney desligou-se da empresa Bain é importante, porque o próprio Romney declarou que, a partir de fevereiro de 1999, quando se teria desligado das empresas, teria deixado de ser responsável por empresas do conglomerado que falissem ou demitissem. [1]

Tradução (caso alguém precise): o candidato Republicano, que aspira a ser o próximo presidente dos EUA, mentiu.

Não sou vigarista (retroativamente considerado)

Frenético, sem rumo – à moda galinha-sem-cabeça – a campanha de Romney saiu-se com uma resposta que já se tornou o mais recente sucesso pop do piadismo universal: Romney “aposentou-se retrativamente”; a aposentadoria “retroagiu” a 1999, nas palavras do porta-voz Ed Gillespie.

Mas não há qualquer sinal de que Romney tenha devolvido “retroativamente” os salário de $100 mil dólares/ano que continuou a receber depois de já “aposentado”.

Do ponto de vista da lei, o presidente da empresa é o responsável. Não importa que seja gerente de meio-período, de tempo integral ou, mesmo, gerente aposentado.

Eis o que um dos sócios de Romney na Bain Capital – de 1993 a 2007 – tinha a dizer sobre tudo isso:

O nome de Mitt aparecia nos documetnos como presidente executivo e único proprietário da empresa”. Perguntado, outra vez, se Romney era presidente da empresa Bain Capital de 1999 a 2002, o mesmo sócio respondeu: “Legalmente, nos documentos, sim, acho que sim”.

Também nas palavras de seu sócio, Romney permaneceu como no cargo de presidente executivo, enquanto negociava os termos de uma saída gorda: “Os sócios tínhamos de negociar com Mitt, porque ele era dono da empresa”.

Temos aí, pois, um membro certificado do 1%, que fez fortuna colossal com alavancagem de resgates que acabaram por detonar o valor de mercado de várias empresas; que custaram número colossal de empregos e que, afinal, corroeram a base da economia dos EUA – enquanto Romney arrancava sumarentas comissões em cada um desses negócios; agora, lá está ele, candidato, em campanha contra (palavras de Romney) “a economia-Obama”, causa de todas as desgraças, ao mesmo tempo em que se autopromove como empresário esperto, capaz de criar empregos nos EUA.

Mas e como, de cara limpa, Mitt Romney pode(ria) garantir que não seria responsável por nada do que aconteceu em sua empresa-abutre depois de 1999, ao mesmo tempo em que insiste que tudo o que houve depois de janeiro de 2009, quando Obama assumiu a presidência do absoluto desastre econômico e financeiro da era-Bush-era, seria culpa de Obama?

E como, de cara limpa, Romney pode(ria) jurar e rejurar que não foi responsável pelo que aconteceu em sua própria empresa, da qual continuava a ser presidente executivo? Que diabo de presidente seria ele, em que diabo de empresa?

Em seguida, ao ser apanhado na mentira, o melhor que conseguiu foi repetição do nixoniano momento “não sou vigarista”, sob a forma de blitzkrieg contra todas as redes de televisão e de televisão a cabo nos EUA e à vista.

Para grandes porções de eleitores nos EUA, Mitt-sonegador virou denúncia gravada em pedra.

Legiões de especialistas concordam que a única maneira de remediar a catástrofe seria Romney publicar todas as suas declarações de rendas dos últimos 12 anos. Não há qualquer sinal de que planeje fazer isso, porque, muito provavelmente, só confirmará o que diz o spot de campanha de Obama.

De fato, esse míssil Hellfire político atinge bem mais que Mitt e sua empresa Bain. Mitt Romney o cyborg sonegador e obscuro não poderia ser mais perfeita expressão gráfica dos Masters of the Universe – os engenheiros-chefes da destruição da economia e da classe média dos EUA, com os ricos sempre bem protegidos, preguiçosamente, a salvo de qualquer tempestade.

Bem-vindos a essa terra de não-livres, lar de vigaristas inalcançáveis e impuníveis. 



Nota dos tradutores:
*Orig. Blood on the tracks. É título de álbum de Bob Dylan (1975). Ouve-se alguma coisa a seguir:

Nota de rodapé
[1] 12/7/2012, Boston Globe, Mitt Romney stayed at Bain 3 years longer than he stated [Mitt Romney continuou a dirigir sua empresa Bain por três anos além da data que informou]  

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