domingo, 22 de julho de 2012

Sayyed Nasrallah: “Depois de atacar o Líbano, Israel atacaria a Síria.”


O Hezbollah deteve Israel, em 2006

18/7/2012, Nour Rida, Moqawama, Líbano
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Sayyed Hassan Nasrallah
Dia 18/7, no 6º aniversário da Divina Vitória da Resistência Islâmica no Líbano, o Hezbollah organizou cerimônia comemorativa em al-Raya, sul de Beirute, cujo lema foi “Não há lugar para fraqueza. Não há lugar para a derrota”. Depois de a multidão ouvir trechos do Santo Corão e cantar os hinos do Líbano e do Hezbollah, o secretário-geral do Partido da Resistência, Sua Eminência Sayyed Hassan Nasrallah, falou por videoconferência.

Sayyed Nasrallah agradeceu a presença e deu boas-vindas a todos. Em seguida, anunciou:

Irmãos e irmãs, há várias questões sobre as quais gostaria de falar, mas desenvolvimentos regionais, especialmente na Síria, e o que houve hoje, obrigam-me a descartar parte do discurso que preparei e a tratar dos desenvolvimentos regionais.

Antes de falar da violência que atinge a Síria, Sayyed Nasrallah fez uma retrospectiva de um dos eventos mais importantes da guerra de julho de 2006, e contextualizou uma das maiores vitórias da Resistência até agora, acrescentando informações até aqui desconhecidas do grande público.

A Operação “Ilusão Qualitativa” de “Israel” [1]

Nesse 6º aniversário da vitória de julho de 2006, os ‘israelenses’, que organizaram seminários e discussões entre seus altos dirigentes políticos e militares, reconheceram a derrota e deram sinais de que ainda estão em choque por causa da derrota que sofreram em 2006 – disse Sua Eminência.

A nós, basta lembrar que o chefe do Mossad ‘israelense’ em 2006 [Meir Dagan] disse ao primeiro-ministro de ‘Israel’ [Ehud Olmert] que a derrota “israelense” em julho foi uma catástrofe nacional, na qual “Israel” sofreu nocaute decisivo – continuou Sayyed Nasrallah, recordando outros altos funcionários de “Israel” que admitiram que a entidade “israelense” foi amplamente derrotada na guerra de agressão que moveu contra o Líbano em 2006.

Sayyed Nasrallah contou que “Israel” estava em manobras, preparando-se para lançar uma importante operação, que recebera o nome de “Operação Peso Qualitativo”, prevista para o dia 14/7/2006.

O gabinete “israelense” reuniu-se para discutir a operação, para a qual propuseram que se recolhessem informações acuradas de inteligência sobre os mísseis do Hezbollah, os lançadores e plataformas lança-mísseis. O ministro da Guerra à época disse que as manobras dos anos anteriores haviam servido para que o exército israelense localizasse aqueles mísseis e plataformas. Disse ao mini-Gabinete que, se a Operação Peso Qualitativo fosse aprovada, o Hezbollah perderia a capacidade de lançar mísseis de médio e longo alcance contra “Israel”.

Uma hora depois de aprovada a Operação Peso Qualitativo, mais de 40 jatos “israelenses” atacaram os alvos que, para “Israel” seriam os locais onde estariam os lançadores Fajr 3 e Fajr 5. Essas localizações foram atacadas. Halutz [ministro da Guerra] telefonou a Olmert [primeiro-ministro de Israel] e disse: “Vencemos. A guerra acabou”.

Dia seguinte, o presidente [Perez], de “Israel”, declarou que “Israel” derrotara o Hezbollah, que o secretário-geral fugira para Damasco. Ouvi a notícia onde estava, aqui, no subúrbio sul de Beirute, de onde nunca saí.

Naquele comunicado, Perez falou também longamente do sucesso da operação da inteligência de “Israel”, que recolhera informações; disse que “Israel” alocara muito dinheiro naquela operação que, para Perez, seria comparável à guerra de 1967, quando aviões “israelenses” destruíram grande parte dos aviões da Força Aérea do Egito. Perez também repetiu o que Halutz lhe dissera: que “Israel” destruíra 60-70% da capacidade do Hezbollah de responder com mísseis a ataques de que fosse alvo.

Sayyed Hassan Nasrallah, no telão, fala aos libaneses
Sua Eminência revelou então o que permanecia em segredo até agora:

A verdade é que a Resistência descobriu os planos do inimigo e a intenção de bombardear os lançadores e plataformas de mísseis. A partir do momento em que nossa inteligência teve conhecimento daqueles planos, optamos por “fazer o jogo” dos “israelenses”; e em alguns casos facilitamos o acesso deles às informações que buscavam.

Haj Imad Moghnieh
No centro dessa operação estava a mente de um estrategista brilhante, Haj Imad Moghnieh, e sua equipe de bravos.

A primeira vitória da inteligência do Hezbollah sobre “Israel” aconteceu quando confirmamos que “Israel” estava convencida de que conhecia a localização das plataformas de lançamento dos nossos mísseis – disse Sayyed Nasrallah, que continuou: 

A segunda vitória da inteligência da Resistência aconteceu quando se completou a operação de mudança da parte principal dos lançadores e plataformas de lançamento dos mísseis, sem que os “israelenses” suspeitassem de coisa alguma. Tudo foi transferido para locais que o inimigo desconhecia.

“Israel”, assim, atacou plataformas e silos vazios. As plataformas estavam relocalizadas e prontas para atacar Telavive.

Por isso, a operação que “Israel” chama de “Operação Peso Quantitativo”, nós sempre a chamamos de “Operação Ilusão Quantitativa. 

Mais de 70-80% da capacidade da Resistência manteve-se intacta até o último dia da guerra de julho – disse Sayyed Nasrallah, que continuou:

No dia seguinte, quando [Israel] deu-se conta de que sua operação falhara, o ministro da Guerra Dan disse ao mini-Gabinete, que tudo levava a crer que “Israel” acabara envolvida numa operação que se estenderia por semanas. Foi quando o presidente “israelense” soube que errara. Errado continua até hoje.

A Resistência sabe que os “israelenses” reúnem informação sobre nós e que se preparam para nos atacar. Sabemos qual será seu primeiro alvo, na próxima guerra.

Israel será outra vez surpreendida, quando deslanchar o próximo primeiro ataque. Prometemos aos “israelenses” outra grande surpresa.

Todos podem confiar que, apesar de toda essa agitação e ruídos, há a Resistência e os combatentes da Resistência que trabalham dia e noite sobre o conflito com “Israel”, e que nada desvia ou distrai desse trabalho, venha a gritaria de onde vier e de quem vier. Vencemos em 2000 e vencemos em 2006, e novas vitórias virão, se fizerem guerra contra nós.

Sabemos de onde virá o primeiro novo ataque, o que atacarão dessa vez. A Resistência tem as capacidades, a confiança e o desejo de resistir, e podemos vencer. Nosso destino não é nem a derrota nem a retirada, como pretendem tantos ditadores no mundo árabe.

Sayyed Nasrallah prosseguiu:

Depois daquele momento, os “israelenses” passaram a analisar, com os EUA, o que acontecera. Porque aquela guerra de julho de 2006 estava planejada para destruir a Resistência no Líbano e, destruída a Resistência no Líbano, destruir todo o eixo da Resistência na região.

A segunda coisa que “Israel” teria feito, se tivesse destruído a Resistência do Hezbollah, seria derrubar do governo o regime do presidente Bashar al-Assad e destruir a Síria, sob o pretexto de que a Síria sempre ajudou a Resistência libanesa.

Mas a vitória do Hezbollah, na guerra de 2006, impediu que esse plano prosseguisse.

Digo-lhes hoje que, se houvesse solidariedade, se não houvesse tantas adagas apontadas para nossas costas no Líbano nesses tempos de guerra de Israel contra nós, já teríamos construído negociações políticas nacionais na Síria [2].

Mas há quem ainda tente ajudar “Israel”, no plano político, a safar-se da crise em que se meteu.”

Multidão assistindo este discurso de Hassan Nasrallah em Beirute
O que dizem oficiais de “Israel”

Nas palavras de Sayyed Nasrallah,
Moshe Ya'alon

O ex-comandante do Exército de “Israel” Moshe Ya'alon disse que é evidente que “o Hezbollah é fenômeno implantado, que não pode ser esmagado mediante operação militar; não há o que possa ser usado como pretexto para operação militar conclusiva contra o Hezbollah. Por isso, disse Yalon, a única ação possível é ação política para desarmar o Hezbollah mediante operação doméstica, dentro do Líbano.

O secretário-geral do Hizbollah acrescentou:

Ya'alon também disse que se deu conta de que não há meios para remover o Partido da Resistência, do coração dos xiitas. Sugeriu então trabalhar por meios políticos e militares para conter o Hezbollah, para alcançar um ponto no qual o Hezbollah seja visto, no Líbano, como ilegítimo.

Sayyed Nasrallah alertou para a evidência de que os “israelenses” apostam em desenvolvimentos domésticos no Líbano, para desorientar o Hezbollah. Conclamou os libaneses a que se mantenham alertas.

Sayyed Nasrallah condena o assassinato de líderes sírios

Para o secretário-geral do Hezbollah, o verdadeiro problema dos americanos e “israelenses” é a Síria, onde veem desenvolvimentos importantes em fase recente. Os militares desses países converteram a Síria em problema militar e a fizeram aparecer como possível ameaça a “Israel”:

A Síria é uma via para a Resistência e ponte de comunicação entre a Resistência e o Irã.

Tenho duas [provas] do papel da Síria [no apoio à Resistência]. Primeiro, que os mais importantes foguetes que atingiram Haifa e o centro de “Israel” foram construídos pelo exército sírio e doados à Resistência. A Síria sempre auxiliou a Resistência. A Síria nos deu as armas que o Hezbollah usou na Guerra de Julho; não só no Líbano, mas também na Faixa de Gaza.

Destacando que “Israel” hoje teme Gaza e teme por Telavive, Sayyed Nasrallah perguntou:

Quem forneceu foguetes aos combatentes que combatem por Gaza? Os sauditas? O regime egípcio? Não. Eram foguetes dados pela Síria e transferidos através da Síria. O governo sírio arriscava a própria sobrevivência e alguns de seus interesses para ajudar a Resistência no Líbano e na Palestina a fortalecer-se e a enfrentar o inimigo de todos. Que regime árabe fez isso? Digam-me um único regime árabe que tenha feito o que fez o governo sírio, pela Resistência.”

Todos os países árabes sabem muito bem o que significa a Síria dar armas ao Hezbollah, ao Hamás e ao movimento Jihad islâmico, num momento em que os governos árabes impediam que dinheiro, e até comida, chegassem a Gaza!

A Síria enviou armas e comida a Gaza e assumiu o risco de fazê-lo. Essa é a Síria, a Síria de Bashar al-Assad, a Síria dos mártires Assef Shawkat, Daoud Rajha e Hassan Turkmani [martirizados nos violentos ataques da 4ª-feira em Damasco]”. 

Hoje, na Síria, há um esquema EUA-“israelenses” que proíbe que haja exércitos fortes na região. Esse esquema impede que qualquer estado regional tenha exército forte: só “Israel” – disse Nazrallah.

O secretário-geral do Hezbollah conclamou o povo, o exército e o governo a defender a Síria. E insistiu que a única via para recompor a paz é o diálogo político.

Devemos isso aos destacados líderes sírios que foram martirizados. Apresentamos ao povo, ao governo e ao exército sírios nossas condolências e condenamos esse ataque que só serve aos interesses do inimigo. Confiamos plenamente que o exército sírio saberá manter-se no controle da situação.

Irã: principal preocupação dos “israelenses”

A única preocupação de Israel nos últimos anos foi o Irã. Dezenas de canais de televisão em farsi existem exclusivamente para incitar os árabes contra o povo e contra o governo iranianos. A ação desses instrumentos de comunicação social e o incitamento da propaganda ininterrupta levaram aos protestos no Irã.

Tudo o que EUA e o ocidente podiam fazer contra o Irã, foi feito. E o Irã hoje é 100 vezes mais forte do que há 30 anos. E será ainda mais forte.

O Exército Nacional Libanês é uma garantia, não uma ameaça

Há quem hoje pague a mídia no Líbano, para que arruíne o país. Todos sabem que o Hezbollah não é fraco. Temos optado pelo silêncio dos fortes. Mas o Hezbollah põe o interesse nacional acima de qualquer outro. Queremos um exército forte.

Mas digo ao governo do Líbano e ao comitê de diálogo nacional que, para que o Líbano tenha exército forte é preciso ter projeto e desejo fortes. Isso significa que não podemos temer o embaixador dos EUA nem os generais norte-americanos.

Há hoje muita retórica sectária e pregadores que contestam essa posição. Se um xiita diz algo que insulta outra seita, nós, os intelectuais xiitas, temos o dever de nos erguer e fazer calar os nossos.

E os intelectuais sunitas, cristãos e drusos têm de fazer o mesmo.

Sayyed Nasrallah disse que sempre haverá quem, dentro do governo libanês, queira desarmar a Resistência e fornecer armas à oposição síria, porque o governo libanês é feito de partidos de diferentes opiniões. Essas diferenças, como todas as diferenças de opinião, só podem ser superadas mediante diálogo político.



Notas dos tradutores
[1] Na versão em inglês, as palavras “Israel” e “israelenses” aparecem sempre entre aspas simples. O Hezbollah não reconhece a existência do estado de Israel e só muito raramente refere-se a ele como “Israel”, optando praticamente sempre pela expressão “entidade sionista”. Nesse caso, pensando talvez na difusão internacional das revelações que fez, o secretário-geral disse “Israel” e “israelenses”; os órgãos de imprensa do Partido da Resistência adotaram a solução gráfica de anotar essas expressões entre aspas simples, que reproduzimos também nessa tradução em aspas normais.
[2] Sobre os contatos entre o Hezbollah e a legítima oposição síria, ver redecastorphoto em: Hassan Nasrallah (Hezbollah), entrevistado por Julian Assange, em português; entrevista transcrita e traduzida de Russia Today em 18/4/2012.  

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