sexta-feira, 6 de julho de 2012

A falácia de que os “drones” são tiros que saem pela culatra


“Ataques no Iêmen não aumentam o apoio à Al Qaeda”

1/7/2012, Christopher Swift, Foreign Affairs (excerto)
Traduzido e comentado pelo pessoal da Vila Vudu 

Entreouvido na Vila Vudu: Sempre que Foreign Affairs, revista de propaganda de guerra do Conselho de Relações Exteriores e do complexo industrial-bélico-jornalístico dos EUA, responde a alguma crítica, pode-se ver onde esses atores pró-guerra infinita estão-se sentindo ameaçados.

Hoje, FA dedica-se a defender e promover – é pura propaganda – os ataques com aviões-robôs, drones, e os assassinatos premeditados (quando o alvo é uma determinada pessoa, o assassinato é dito signature strike [aprox. “ataque assinado”]; a vítima é determinada pessoalmente pelo presidente Obama, selecionada de uma kill list [aprox. “lista de matar”] que lhe é apresentada pela CIA).

Não há dúvida de que, sim, os drones já estão sendo vistos, até nos EUA, como inimigos, primeiros, dos próprios EUA. 

Então... FA, hoje, defende os drones.

Em artigo intitulado “A falácia de que os drones são tiros que saem pela culatra”, FA promove a ideia de que o problema dos drones é que andam matando muito civis; que esses erros ocorrem por culpa da CIA... E que tudo melhorará se o comando dos drones for passado aos militares.

Desnecessário dizer que o “argumento” de propaganda dos militares dos EUA – conhecidíssimos em todo o mundo por sua empenhada e atenta dedicação ao bem-estar dos pobres do mundo – é que “a miséria, não os drones, empurra o povo do Iêmen para os braços da Al-Qaeda”. Só rindo, se fosse engraçado.

Traduzimos alguns parágrafos do artigo, para mostrar que a propaganda de guerra, conduzida pelas empresas-imprensa de repetição, a chamada “mídia” em todo o mundo, não pode, de modo algum, ser subestimada: é discurso argumentativo muito consistente, tornado ainda mais eficaz pela infinita repetição.

É discurso capaz de ensinar a desejar guerras.

Ensina, até, a desejar ter muitos drones sobre a própria cabeça. Acredite quem souber.

Christopher Swift
Desde que assumiu a presidência, o governo Obama aumentou muito o número e a acuidade dos ataques com drones norte-americanos contra terroristas, no Paquistão. Mas, a menos que o programa torne-se mais transparente e seja transferido, da CIA para controle dos militares, os drones pouco ajudarão os EUA a vencer a grande guerra.

Revelações recentes, de que a Casa Branca mantém uma lista de matar [orig. kill list], que usa para selecionar líderes da al-Qaeda, disparou o debate sobre os drones usados como arma de guerra.

Especialistas progressistas criticam o governo Obama por expandir o poder do braço de execução de seu governo. Senadores Republicanos, por sua vez, exigem que se indique um conselho especial que investigue prováveis vazamentos de informação secreta que teriam levado à divulgação da lista de matar para o público externo. E enquanto o drama político se desenrola em Washington, os EUA intensificam a campanha dos drones nas áridas montanhas e altiplanos remotos do Iêmen.

Drone Predator
Com o centro de gravidade da al-Qaeda sendo transferido do Paquistão para o Iêmen, a CIA buscou autorização para desfechar “ataques assinados” [orig. signature strikes], nos quais os pilotos dos drones selecionam alvos a partir de perfis comportamentais, nos casos em que não haja identificação positiva. O movimento marca significativo aumento na extensão e na intensidade da campanha dos drones – nos seis primeiros meses de 2012, o governo Obama ordenou aproximadamente 43 ataques de drones no Iêmen, aproximadamente o dobro do total dos três anos anteriores.

Críticos argumentam que os ataques dos drones produzem mais inimigos e facilitam a operação de recrutamento da al-Qaeda, como escreveu o jovem ativista iemenita Ibrahim Mothana em artigo publicado recentemente no New York Times (...). O Washington Post concorda. (...)

Mês passado, viajei ao Iêmen para estudar o modo como opera a Al-Qaeda na Península Arábica (AQAP) e para saber se há, realmente, alguma verdade na opinião que se está generalizando nos EUA, de que os drones facilitariam o recrutamento de jovens para a al-Qaeda. (...) [As fontes, cujos nomes omito por questões de segurança, lideranças tribais iemenitas] discordam da hipótese de que os drones facilitem as operações de recrutamento da al-Qaeda. Para eles, os fatores que arrastam os jovens para a guerrilha são, sobretudo, econômicos. (...)

Figuras religiosas que entrevistei reforçam esse entendimento. (...)

Mapa do Iêmen com indicação de ocorrências e influências
Os islamistas e salafistas que entrevistei discordam da ideia de que os drones expliquem o crescimento nos números de jovens recrutados para a al-Qaeda. “A razão principal é o desenvolvimento” – disse-me um deputado islamista da província de Hadramout. “Em alguns distritos, a probreza é de tal ordem que a al-Qaeda é a melhor de várias alternativas ruins” (criminalidade, migração e morrer de fome). Um intelectual salafista, que trabalha na negociação com a AQAP para libertar reféns, concorda: “Os que lutam são movidos pela injustiça no país” – explicou. “No norte, uns poucos lutam por ideologia. Mas no sul, a questão é sempre a miséria e a corrupção”. (...)

Em 2009, as coisas estavam muito difíceis” – disse-me um comandante de milícia tribal na província de Abyan – “mas agora vemos os drones como nossos aliados”. Explicou que os iemenitas podem “aceitar [os drones], desde que não morram mais civis”.

Membro islamista do movimento separatista al-Harak com quem estive ofereceu avaliação semelhante: “As pessoas mais simples tornaram-se muito pragmáticas sobre os drones” – disse ele. “Se os EUA mirarem só os líderes, e não morrerem mais civis, os drones matarão mais terroristas do que ajudarão a al-Qaeda”. [pano rápido]

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