sexta-feira, 6 de julho de 2012

O GOLPE NO PARAGUAI


Laerte Braga

Laerte Braga*

No dia anterior ao golpe branco contra o presidente Fernando Lugo – Paraguai – um outro presidente, o do Irã, Mahamoud Ahmadinejad, em entrevista coletiva que incluiu a mídia alternativa e virtual, num hotel no Rio de Janeiro, diagnosticou com precisão o que ocorre hoje no mundo. A ordem política, econômica e militar imposta pelos EUA, ao sabor das conveniências de Israel e seus aliados e que se estende tanto aos países do Oriente Médio, como aos da África, da Ásia e América Latina, sempre contra a liberdade, os seres humanos e com claro caráter colonizador.

Em 2008 o governo de Álvaro Uribe, a partir de orientação e dados do governo de Washington, determinou o bombardeio de um acampamento no território do Equador, onde estava o chanceler das FARCs-EP (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas – Exército Popular), Raul Reyes. Havia participado de um encontro de forças populares naquele país e se preparava para retornar aos quartéis da guerrilha. Foram assassinados, além de Reyes, dezenas de estudantes de vários países latino-americanos que lá estavam e participaram também do encontro.

A cumplicidade dos militares equatorianos ficou evidente. Se manifestou na passividade com que assistiram ao bombardeio feito pela força aérea colombiana. Evidenciou o caráter da maior parte das forças armadas dos países da América Latina. Não têm compromissos com seus países, mas são subordinadas aos norte-americanos. A esmagadora maioria dos militares brasileiros não é diferente.

Em 2009 o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, foi deposto num golpe “constitucional”, dado pela madrugada e com cumplicidade do congresso e da corte suprema de seu país e, é claro, dos MILICANALHAS, TOTALMENTE organizado pelo senador John McCain, republicano e “entourage” do Partido Republicano dos EUA. Foi o adversário de Obama nas eleições presidenciais de 2008.

Em todos esses momentos, o golpe contra Lugo, o bombardeio colombiano contra o Equador e o golpe contra Zelaya, o governo dos EUA, de imediato, reconheceu e deu “legitimidade” dessas ações.

Em 2002, semelhante tentativa foi feita na Venezuela contra o presidente Hugo Chávez. Preso numa quinta-feira retornou ao poder no domingo diante de milhões de venezuelanos que, nas ruas de Caracas e de todo o país, exigiam a sua volta. Um referendo popular, em agosto daquele ano, legitimou por maioria absoluta o governo de Chávez e Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA e enviado da ONU como observador para o referendo foi obrigado a reconhecer a legitimidade do presidente.

No dia da prisão de Chávez a tevê norte-americana (e a GLOBO aqui, Bonner e Leitão por pouco não tiveram um orgasmo múltiplo no ar) anunciaram que “o povo exigiu a saída de Chávez”. A Miriam Leitão chegou a se regozijar com a “libertação” da Venezuela, numa das maiores “barrigas” jornalísticas que se tem notícia. Rivaliza com o “boimate” do Eurípedes Alcântara na “Veja”.

A Colômbia, hoje, é presidida por Manoel Santos que foi ministro da Defesa de Uribe, ligado ao narcotráfico (como Uribe). A denúncia foi feita pelo Departamento anti-drogas dos EUA. As forças armadas desse país são inteiramente subordinadas aos norte-americanos e seus “conselheiros”. Na prática, a Colômbia é uma colônia, faz parte de um plano de controle da América do Sul denominado Grande Colômbia ou Operação Condor IV. Já integra o antigo projeto SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia - antes restrito ao Brasil e aos EUA, controlado por empresas privadas e forças militares “brasileiras” e norte-americanas. O nível de subordinação aos interesses norte-americanos é total. O alvo é a Amazônia em toda a sua extensão.

As vitórias eleitorais de presidentes considerados hostis pelos EUA deflagraram um processo de retomada da América Latina como quintal daquele país. Se já detinham o controle do México e do Canadá (chamam o Canadá de “México melhorado”) essa ordem neoliberal, globalizada por ações políticas, econômicas e militares, se faz presente em quase todo o mundo.

Os pretextos são sempre os mesmos desde tempos passados. “Democracia”, “direitos humanos”, etc., etc..

Com o desaparecimento da União Soviética os norte-americanos escancararam seus objetivos. A paz anunciada não veio, pelo contrário, a escalada militar ganhou dimensões de barbárie, a guerra foi privatizada por Bush, a violência é a palavra de ordem dos interesses nazissionistas comandados por Israel e com os EUA desintegrados e transformados numa grande corporação terrorista de bancos e grandes empresas, principalmente indústria armamentista e petróleo. Vivemos o terror de Estado, o terror capitalista.

A democracia e os direitos humanos foram para o brejo em situações como as guerras do Iraque (destruído), do Afeganistão, da Líbia (mais de cinco mil ações de bombardeios aéreos resultando em um país esfacelado e, hoje, saqueado por petrolíferas européias e norteamericanas).

Países como o Paquistão se transformando numa espécie de geléia de interesses de generais com instinto primitivo de barbárie e as chamadas potências emergentes, caso do Brasil, em políticas de equilibrismo e alianças complicadas no padrão dá lá e toma cá, ou uma vela a Deus e outra ao diabo.

O precário equilíbrio, por exemplo, de democracias montadas sob a tutela e o temor de ações golpistas de militares comprometidos com os EUA, como aconteceu em 1964.

Essa boçalidade se materializa no uso de armas químicas e urânio empobrecido no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, em todos os cantos onde se faz necessário (muitos veteranos de guerra padecem de doenças provocadas pelo uso de tais armas), nas pressões econômicas, no campo de concentração de Guantánamo, no massacre constante de palestinos, na tentativa de destruir a revolução islâmica no Irã com denúncias falsas como sempre fazem e fizeram, principalmente, no controle das nações da União Européia, outro grande conglomerado de bancos e corporações.

Para países como Paraguai, o Brasil, a Colômbia e outros, se associam a primatas conhecidos como latifundiários, hoje chamado agronegócio, e adestram MILICANALHAS (também chamados de Forças Armadas), jagunçada que garante os donos da terra, e os “interesses” dos países hegemônicos. Além, evidentemente, de adestrarem grande parte do JUDICIÁRIO brasileiro para garantir “segurança jurídica” aos “investimentos latifundiários” alienígenas, principalmente em terras amazônicas, no cerrado e no Pantanal.

O mundo privatizado.

Aqui no Brasil, esse caráter ganhou dimensões plenas no governo do funcionário do Departamento de Estado e da Fundação Ford, Fernando Henrique Cardoso. Uma espécie de “cabo Anselmo”, célebre traidor da luta anti-ditadura que, infiltrado, dedurou todos os companheiros. FHC, tão traidor quanto, nem chegou a sargento. Fulgêncio Batista também era sargento (felizmente muitos sargentos lutam a luta popular dentro e fora das forças armadas).

O golpe contra Fernando Lugo está dentro desse contexto. Uma das acusações contra o presidente foi a de “humilhar as forças armadas”. Lugo ficou ao lado de trabalhadores sem terra vítimas de MILICANALHAS e pistoleiros do latifúndio num conflito agrário, no qual latifundiários brasileiros estão envolvidos (são os donos do Paraguai), junto com empresas como a MONSANTO e a DOW CHEMICAL – o agrotóxico  e os transgênicos nossos de cada dia.

É impossível humilhar o que não existe. Forças armadas paraguaias? Onde? Bando de generais MILICANALHAS controlados à distância pelos senhores do mundo, abertos a qualquer negócio no mundo do contrabando, do tráfico de drogas, de toda a sorte de estupidezes e crimes possíveis em função de interesses, aí, pessoais.

Uma elite medieval. Não difere muito do latifúndio e dos MILICANALHAS brasileiros. Uns grunhem outros nem isso.

O Plano Grande Colômbia, especificamente voltado para a América do Sul tem objetivos imediatos. Derrubar os governos da Venezuela, do Equador e da Bolívia, o controle das reservas de petróleo e gás desses países, isolar o Brasil e impedir que o País consiga avanços efetivos e consolide o processo democrático (mantê-lo sempre na corda esticada, no fio da navalha). Voltar ao curso tucano das “coisas”, mesmo com o caráter de “capitalismo a brasileira” criado por Lula e o domínio de tecnologias essenciais mantidas longe do alcance, do nosso alcance.

Em toda a América Latina, acabar com a revolução cubana, derrubar Daniel Ortega na Nicarágua e impedir que governos considerados hostis aos interesses da corporação terrorista, ISRAEL/EUA TERRORISMO “HUMANITÁRIO” S/A sejam eleitos.

A fórmula encontrada para derrubar Zelaya se manifestou agora no Paraguai.

E ainda, no Brasil, temos um chanceler de sobrenome Patriota, que vem a ser um dos mais terríveis mísseis norte-americanos (Patriot). Não é o caso do chanceler, é apenas um funcionário obediente da corporação terrorista num governo de puro equilibrismo. E nem deve saber direito o que acontece, ou o que é, tamanha sua dimensão anã como diplomata.

Em relação ao golpe paraguaio, só foi possível com a debilidade de nossa política externa atual e a falta de informações precisas e corretas do governo. Se a proposta da presidente Dilma de expulsar o país do MERCOSUL e adotar sanções severas for real, ótimo. Caso contrário, breve circulando pelas ruas da cidade de Eduardo Paes os novos modelos de diligências da Wells Fargo, com espetáculos de clones/drones de Búfalo Bill em todas as paradas.

Como afirma com correção a professora Neuzah Cerveira, é a “Operação Condor IV” em curso.

Há uma guerra total em curso afirma o presidente do Equador, Rafael Corrêa. A resistência não será nos gabinetes fechados, via de regra cúmplices diretos ou por omissão dessa selvageria. Será nas ruas, na organização popular.

Ou, todos aprendendo inglês e treinando para carregar malas dos colonizadores. O velho “bwana” dos tempos de Tarzã.   

*O artigo original enviado por Sílvio de Barros Pinheiro, Nanda Tardin e Laerte Braga (via Facebook) foi ligeiramente alterado pela redecastorphoto.

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