22/7/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Localização do aeroporto Ben Gurion |
O Hamás acaba
de alcançar grande vitória. As empresas norte-americanas de aviação Delta, USAir e United Airlines
suspenderam por tempo indeterminado os voos de e para Israel. Isso, depois que
um foguete lançado de Gaza explodir perto do aeroporto Ben Gurion em Telavive.
Depois que o
MH-17 foi derrubado na Ucrânia, a sensibilidade a possíveis problemas em voos
aumentou dramaticamente. Nenhuma empresa quer ser a próxima a perder uma
aeronave por causa de um ou mais mísseis errantes pelo céu.
Na prática, é
como se o único aeroporto internacional de Israel estivesse fechado, o que
aumenta ainda mais a pressão para que Israel aceite algumas das condições do
Hamás para um cessar-fogo.
Ainda
demorará algum tempo e o massacre, por hora, prosseguirá. Nem
o Hamás e a população de Gaza, nem o governo
de Netanyahu e o povo em Israel parecem, até aqui,
interessados em fazer concessões. Dos dois lados o povo empurra os respectivos
governos a continuar a briga.
Míssil atingiu proximidades do aeroporto Ben Gurion em Telavive |
E ainda não
há real pressão internacional para um cessar-fogo. Kerry e seu clown-clone
na ONU, Ban Ki Moon, estão na região tentando encontrar solução que favoreça
Israel. Mas não há solução, sem que se aceitem as condições que o Hamás está
impondo. Terão sorte se conseguirem algum ímpeto entre os árabes na direção de
concessões, ou para pressionarem o Hamás. Os únicos que poderiam negociar em
nome do Hamás e apoiando o Hamás são o Qatar e a Turquia. Mas Erdogan, que em
breve já estará convertido em novo
ditador turco, já não
conversa com Obama e tem outros problemas. As galinhas já estão
correndo de volta ao poleiro, agora que “contrabandistas” do Estado Islâmico já
começaram a matar
soldados turcos na fronteira entre Turquia e Síria. O Qatar não é bem
quisto pelos demais estados árabes do Golfo, e é especialmente detestado pelo
Egito, pelo apoio que tem dado à Fraternidade Muçulmana.
Mas o Egito é
o país vizinho, ao lado de Israel e EUA, que terá de fazer concessões ao Hamás.
A abertura da passagem de Rafah na fronteira, indispensável para levantar o
sítio contra Gaza, só poderá ser conseguida com plena aprovação pelo Egito.
Kerry gostaria de ter conseguido isso, mas quando chegaram para a reunião com o
ditador Sisi do Egito, o próprio Kerry e toda a comitiva que o acompanhava
foram submetidos a detalhada revista pelos órgãos de segurança, antes de
receberem autorização para entrar no palácio no Cairo. Foi um muito
significativo tranco de chega-prá-lá; e mais trancos viriam durante as
conversações.
Passagem de Rafah - Fronteira Gaza-Egito |
Os EUA
simplesmente já não estão em posição da qual possam efetivamente criar soluções
políticas no Oriente Médio. Como Chas
Freeman analisa, o governo Obama conseguiu, ao longo dos anos, tornar o
Oriente Médio ainda mais confuso e desesperado do que sempre foi e é. O vício
que torna os EUA dependentes de Israel (e uma hipocrisia abissal) arruinou a
própria posição dos EUA:
Desde o início, Israel usou o “processo de paz”
como fator de distração, enquanto ia criando “fatos em campo”, sob a forma de
colônias ilegais. O expansionismo israelense e políticas a ele relacionadas acabaram
por tornar a coexistência entre Israel e os palestinos – e, portanto, também
com todos os demais vizinhos árabes de Israel – impossível.
Chas Freeman |
Os EUA criaram o “risco moral” [1] que
levou Israel a pôr-se nessa atual posição, absolutamente insustentável. 40 anos
de diplomacia norte-americana enviesada e tendenciosa, orientada exclusivamente
para obter aceitação regional e internacional para Israel, geraram, como agora
se vê, perversamente, o exato oposto do que queriam: só fizeram aumentar o
isolamento e o opróbrio que desceram sobre o “Estado Judeu”.
Agora, teremos de “cobrir a retaguarda” de
Israel na ONU, por causa dos maus tratos que Israel infligiu a uma população inteira
de árabes que são mantidos cativos; os recentes atos de Israel completaram a
sua própria deslegitimação e determinaram o seu próprio ostracismo.
Os EUA pagaremos pesado preço político por essa
posição, globalmente, no Oriente Médio e muito provavelmente também na escalada
de terrorismo contra norte-americanos no exterior e em casa. Talvez satisfaça
algum senso de honra por aqui. Mas parece muito mais técnica de suicídio
assistido, que estratégia para a sobrevivência de Israel e da própria posição dos
EUA no Oriente Médio.
Com o
aeroporto Ben Gurion fechado, Netanyahu terá de achar meio para pôr fim à
guerra que ele iniciou – com apoio dos EUA – e sem motivo razoável. A posição
de Netanyahu enfraquecerá cada vez mais dentro de Israel e, depois dele, gente
ainda mais doida que ele chegará ao poder. Com isso, o poder político dos EUA
será cada vez mais reduzido e a região, afinal, deixada entregue a ela mesma,
talvez consiga encontrar um novo balanço que a própria região possa manter.
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Nota dos tradutores
[1] Orig. Moral hazard
[“expressão cunhada por Kenneth Arrow, pode ser traduzida por “risco moral”].
Significa um excesso de confiança, pelos agentes econômicos, de que alguém os
socorrerá, se alguma coisa der errado em suas operações. Num exemplo concreto:
o Banco Central providenciará uma rede de proteção, se ocorrerem grandes perdas
decorrentes de uma avaliação errônea dos riscos apresentados por determinado
mercado (quase sempre o mercado financeiro).
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[*] “Moon of Alabama”
é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky
Bar” ou Moon over Alabama”)
dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de
Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A
Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece
cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a
ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês.
Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e
The Doors (1967). A seguir podemos ouvir versão em performance de Tim van
Broekhuizen.
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