19/7/2014, [*] Pepe Escobar, RT – Russia Today
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Destroços do MH17 - Malaysia Airlines |
Eis o
veredicto da boataria de guerra: a mais recente tragédia da Malaysia Airlines (a
segunda em quatro meses) é “terrorismo” perpetrado por “separatistas pró-Rússia” armados pela
Rússia, e Putin é o principal culpado. Acabou-se a história. Quem tenha ideia
diferente dessa, que cale a boca.
Por quê?
Porque sim. Porque a CIA disse. Porque a Hilária “Nós viemos, nós vimos, ele
morreu” Clinton disse. Porque
a doida Samantha ‘'Responsabilidade
de Bombardear para Proteger'’ Power disse –
trovejando na ONU, tudo
devidamente impresso pelo Washington Post infestado de neoconservadores.
Porque a
empresa-imprensa anglo-americana – da CNN à Fox (que tentou comprar a Time Warner, que pertence à CNN) – disse. Porque o Presidente dos EUA (PEUA) disse. E
principalmente, sobretudo, porque Kiev vociferou, em primeiro lugar.
E lá estavam
todos eles, em fila – as resmas de invariavelmente histéricos “especialistas”
da “comunidade de inteligência dos EUA” literalmente espumando pela boca contra
a maléfica Rússia, o ainda mais maléfico Putin; os “especialistas” de
inteligência, aqueles, que não viram um comboio de coruscantes picapes Toyota
brancas atravessando o deserto iraquiano para tomar Mosul. Esses, aliás, já sentenciaram: ninguém mais precisa
examinar prova alguma. Nada e nada. O mistério do voo MH17 está resolvido.
Boeing 777-200 - Malaysia Airlines |
Pouco importa
que o presidente Putin tenha dito que a tragédia do MH17 ainda tem de ser investigada objetivamente. E “objetivamente”, é claro, não inclui aquela
“comunidade internacional” ficcional que Washington concebeu – aquela congregação de vassalos/sabujos
curváveis.
E sobre Carlos?!
Pesquisa
rápida já mostra que o voo MH17 estava deslocado, 200km para o norte, distante da rota
habitual da Malaysian Airlines nos dias
anteriores – dirigido bem para o centro de uma zona de guerra. Por quê? Que tipo de
comunicação o MH17 recebeu da torre
de controle aéreo de Kiev?
Kiev não disse uma palavra sobre isso. Mas a resposta seria
simples, se Kiev tivesse
distribuído as gravações dos contatos entre a torre e o vôo MH17; aMalaysia distribuiu
exatamente essas gravações, depois que o vôo MH370 desapareceu para sempre.
Essas
gravações nunca aparecerão. O serviço secreto da Ucrânia (SBU) confiscou essas gravações. Sem elas, não há
como saber por que o vôo MH17estava fora
da rota e o que os pilotos disseram antes da explosão.
Buk 9K37 do exército da Ucrânia |
O ministro da
Defesa da Rússia, por sua vez, confirmou que havia uma bateria Buk antiaérea
controlada por Kiev e operacional, próxima da área onde caiu o MH17. Kiev havia distribuído vários sistemas de
mísseis Buk terra-ar, com
pelo menos 27 lançadores; todos perfeitamente capazes de derrubar jatos a 33
mil pés (10.000 m
aprox.) de altura.
Militares
russos detectaram radiação de um
radar Kupol, como parte de uma bateria Buk-M1 perto de Styla [vila ao sul, a cerca de 30 km de Donetsk].Segundo o ministério, o radar poderia estar
transmitindo informações de rastreamento para outra bateria que estava a
distância de tiro da rota do vooMH17.
O radar de um
sistema Buk rastreia um máximo de 80km. O MH17 voava à
velocidade de 500 mph. Assim,
assumindo-se que os “rebeldes” teriam um Buk operacional e o usaram, não
teriam mais de cinco minutos para rastrear todo o céu acima deles, todas as
altitudes possíveis, e fazer a mira. Naquele momento, saberiam que nenhum
cargueiro poderia voar naquela altitude.
Em FINAL
– Part II: Evidence Continues to Emerge #MH17 Is a False Flag Operation encontram-se
muitas evidências que apoiam a hipótese de que tenha sido atentado forjado sob
falsa bandeira.
E há também a
história, mais estranha a cada minuto que passa, de Carlos, espanhol, controlador de tráfego aéreo de serviço na torre
de Kiev, que estava acompanhando o vôo MH17 em tempo real. Para muitos, Carlos é personagem real e autêntico, não é forjado; para outros,
nunca nem trabalhou na Ucrânia. Fato é que tuitou feito doido. Sua conta na
empresa Tweeter foi apagada – não por
acaso –, e ele sumiu. Seus amigos estão agora desesperadamente à sua procura. Ainda consegui ler todos os tuítos dele, em
espanhol, enquanto a conta ainda estava ativa. Agora, já se encontram cópias das mensagens que distribuiu
e traduções para o inglês.
Presidente Vladimir Putin
(Foto: Alexei Nikolsky)
|
Aqui,
reproduzo alguns dos tuítos mais importantes:
“O B777 estava
escoltado por dois jatos ucranianos de combate minutos antes de desaparecer do
radar (5.48pm)”
“Se as autoridades em Kiev querem admitir a verdade, dois jatos de
combate voavam muito perto minutos antes do incidente, mas não derrubaram a
aeronave (5.54)”
“Imediatamente depois de o B777 da Malaysia Airlines desaparecer,
autoridades militares de Kiev nos
informaram sobre o avião derrubado. Como sabiam? (6.00)”
"Tudo foi gravado no radar. Para os que
não acreditem: foi derrubado por Kiev; nós sabemos aqui [na torre de controle] e
o controle militar do tráfego aéreo também sabe (7.14)”
“O Ministério do Interior sabia que havia aviões
de combate na área, mas o Ministério da Defesa não (7.15)”
“Os militares confirmaram que foi a Ucrânia, mas
não se sabe de onde veio a ordem (7.31)”
A avaliação
de Carlos (lê-se compilação parcial de seus tuítos em: FINAL
– Spanish Air Controller @ Kiev Borispol Airport: Ukraine Military Shot Down
Boeing #MH17) é bem clara: o míssil foi
lançado por militares ucranianos por ordem do ministério do Interior – NÃO do
Ministério da Defesa. Assuntos de
segurança, no ministério do Interior estão sob comando de Andrey Paruby, que trabalhava bem perto dos neoconservadores
dos EUA e dos neonazistas do Banderastão na Praça Maidan.
Assumindo-se
que Carlos exista e seja
quem diz ser, sua avaliação faz perfeito sentido.Os militares ucranianos estão divididos entre o rei do chocolate
[presidente Petro] Poroshenko – que quer uma détente
com a Rússia, essencialmente para promover os interesses sombrios dos próprios
negócios – e Santa Yulia Tymoshenko, que é bem
conhecida por pregar o genocício dos russos étnicos no leste da Ucrânia.
Neoconservadores
e “conselheiros militares” dos EUA em campo na Ucrânia, como já se sabe, estão
subindo as apostas, apoiando simultaneamente os grupos de Poroshenko e de Tymoshenko.
Yulia Timoshenko Petro Poroshenko |
Assim
sendo... a
quem interessa?
A questão
chave permanece, é claro: cui bono? Só descerebrados terminais acreditariam que
derrubar um avião de passageiros beneficiaria os federalistas no leste da
Ucrânia, para nem pensar no Kremlin, que absolutamente nada teria a ganhar.
Quanto a Kiev, teriam os meios, o motivo e a janela de
oportunidade – especialmente depois que os neofascistas de Kiev foram efetivamente derrotados e já estavam em
retirada no Donbass. E isso depois
que Kiev insistiu em bombardear a população do leste da Ucrânia, mesmo de longe
e de cima. Não surpreende que os federalistas
tivessem de se defender.
E há também o
timing, muito muito suspeito. A tragédia do MH17 acontece dois dias depois de os BRICS anunciarem o antídoto
contra o FMI e o Banco Mundial, deixando ao largo, longe, o dólar norte-americano. E exatamente quando Israel avança “cautelosamente” em sua nova invasão/limpeza étnica
em câmera lenta, em Gaza. A Malásia,
por falar nisso, é sede da Comissão de Crimes de Guerra Kuala Lumpur – comissão que condenou Israel por crimes
contra a humanidade.
Washington, é claro, sim, se beneficia. O que o Império do
Caos consegue, nesse caso, é um cessar-fogo (e as gangues neonazistas de Kiev,
que estão sendo fragorosamente derrotadas, poderão ser reabastecidas); ganham novo alento para a campanha de demonizar
os ucranianos do leste como “m terroristas” (como Kiev, ao estilo Dick Cheney, sempre quis); e passam a lançar quantidades ilimitadas de lama sobre a
Rússia e, especialmente, sobre Putin, até se acabar o mundo. Não é pouco ganho, para servicinho de minutos.
Quanto à OTAN... É Natal em julho.
Daqui em
diante, tudo depende da inteligência russa. Já estavam vigiando e rastreando
tudo que acontecia na Ucrânia, 24 horas por dia, sete dias por semana. Nas próximas 72 horas, depois de examinar os
muitos dados de rastreamento, com telemetria, radar e rastreamento por
satélite, os russos saberão exatamente que tipo de míssil foi lançado, de onde,
e terão também as comunicações da bateria que lançou o míssil. E terão acesso a
todas as provas recolhidas na cena do crime.
WTC - 11/9/2001 |
Diferente de Washington – que sempre já sabe tudo antes,
mesmo sem investigar nada (lembram-se do 11/9?) – Moscou precisa de tempo para obter os fatos jornalísticos
básicos (o quê, onde, quem?) e começar a trabalhar para provar a verdade e/ou
desmentir a boataria distribuída por Washington.
Os registros
históricos mostram que Washington simplesmente
ocultará todas as informações, se comprovarem que seus vassalos em Kiev
lançaram um míssil contra avião de passageiros. Os dados de realidade podem apontar para bomba plantada no MH17, ou falha mecânica – embora pareça hoje
explicação improvável. Se foi erro
terrível cometido pelos rebeldes da Novorrússia, Moscou terá de admitir,
relutantemente, que seja. Se foi Kiev,
Moscou divulgará e comprovará imediatamente. Aconteça o que acontecer, só há, de garantida, a resposta
ocidental histérica de sempre. Foi a Rússia. A culpa é da Rússia.
Putin está mais que certo ao dizer que essa tragédia não teria
acontecido se Poroshenko tivesse
aceito uma extensão do cessar-fogo, como Merkel, Hollande e Putin tentaram convencê-lo a aceitar, no final de
junho. No mínimo, para começar, Kiev já é culpada
pelas mortes, porque o governo de Kiev é responsável pela segurança dos voos no
espaço aéreo sob seu (teórico, que seja) controle.
Mas tudo se
vai esquecendo nas brumas da guerra, tragédia e boataria. Sobre as declarações histéricas de Washington, e sua autoproclamada credibilidade, deixo aqui apenas um
número: Iran Air 655. [1]
Nota dos tradutores
[1] 2/7/2012,
Samy Adghirni, Folha de S.Paulo em: “Iran
Air 655. O dia em que os EUA
mataram 290 civis inocentes”:
Um dos mais polêmicos ataques americanos contra civis inocentes ocorreu há
exatos 24 anos, no calor da guerra entre o Irã do então aiatolá Khomeini e o
Iraque do ditador Saddam Hussein, aliado de Washington. Na manhã de 3/7/1988,
um navio de guerra dos EUA disparou dois mísseis contra um Airbus A300 da Iran
Air, matando na hora as 290 pessoas a bordo, incluindo 66 crianças. Entre as
vítimas havia cidadãos de Irã, Índia e Itália, dentre outros países (...)
Iran Air 655 (clique na imagem para aumentar) |
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista,
brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em
inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom
Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire,
Counterpunch e outros; é correspondente/ articulista das
redesRussia Today,The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo
de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan:
How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red
Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
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