6/8/2014, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Flynt Leverett e Hillary Mann Leverett |
Há alguns dias os Leveretts analisaram os efeitos de sanções financeiras dos EUA e vários outros modos pelos quais os EUA irritam grandes países. Para aqueles professores, o caminho atual da política exterior dos EUA consumirá a hegemonia do dólar norte-americano e levará à destruição do “privilégio extraordinário” (de Gaulle) de que os EUA gozaram com a competência para imprimir a moeda de reserva do planeta. O desgaste político do dólar será sentido nos mercados de commodities e especialmente nos negócios de energia o que, por sua vez, gerará efeitos nas relações internacionais [Cresce o Petroyuan (e a lenta erosão da hegemonia do dólar norte-americano) redecastorphoto, traduzido]:
Olhando à frente, o uso do renminbi para pagar por compras internacionais de petróleo e gás com certeza aumentará, o que fará declinar mais rapidamente a influência dos EUA em regiões chaves da produção de energia. Marginalmente, o mesmo processo irá tornando mais difícil para Washington financiar o que China e outras potências emergentes veem como políticas abertamente intervencionistas – perspectiva que a classe política nos EUA ainda sequer começou a ponderar com seriedade.
Infelizmente, poucos ouvirão o que dizem os Leveretts. Mas agora Bloomberg aparece com o mesmo tema (Russia Sanctions Accelerate Risk to Dollar Dominance)
Embora ninguém esteja sugerindo que o dólar perderá seu status de principal moeda de comercial a qualquer instante, o seu status dominante já periclita. A fatia de dólares nas reservas globais já encolheu para menos de 61%, bem abaixo dos mais de 72% em 2001. Os sinais tornaram-se mais audíveis depois da crise financeira em 2008, evento que começou quando explodiu a bolha dos empréstimos podres para hipotecas de residências, e grandes nações dentre os mercados emergentes, inclusive a Rússia, passaram a conduzir mais negócios em suas próprias moedas.
“A crise levou a repensar o mundo denominado em dólar em que vivemos” – disse Joseph Quinlan, chefe estrategista de mercado do Fundo EUA do Bank of America, que administra cerca de $380 bilhões. “Esse desagradável evento entre a Rússia e o ocidente por causa de sanções, pode ser um acelerador na direção de um mundo multi-moedas”.
Yuan e o dólar norte-americano |
Há uns cinco anos, nós já observávamos esse declínio do dólar norte-americano como moeda de reserva e seus efeitos:
Por muito tempo os EUA puderam tomar emprestado barato e pagar ainda menos em valor real, que o empréstimo original. Aquele privilégio agora está acabando. Os trilhões de que os EUA atualmente têm de tomar emprestados no exterior terão de ser integralmente pagos. Essa é mudança muito grande no status de potência global dos EUA, e fará reduzir seriamente a influência dos EUA em questões políticas internacionais.
A União Europeia, que tão estupidamente acrescentou sanções suas às sanções norte-americanas contra a Rússia, também está se autoagredindo:
Interdependência financeira é poderosa oportunidade para diplomacia coerciva.
Mas a mensagem não planejada que os líderes europeus enviam é que a interdependência financeira é fonte de vulnerabilidade, que países como a Rússia, mas também China, Irã e outros, bem farão se evitarem.
...
As sanções financeiras da Europa contra a Rússia também acrescentam incentivos para que os países cuidem de criar arranjos que reduzam a interdependência financeira.
Sobretudo, aqueles incentivos só aumentarão, se as sanções forem bem-sucedidas. Ainda que a Europa encoraje o governo russo a mudar sua política para a Ucrânia, o governo russo responderá, no longo prazo, sempre procurando arranjos financeiros que o deixem menos exposto a tal coerção.
Será? |
Decorrerão anos até que o dólar perca seu status de moeda de reserva, mas o declínio já é visível. Mais e mais negócios estão sendo feitos em condições de bilateralidade entre parceiros e nas respectivas moedas, e pagos por fora dos canais financeiros que os EUA tentam sancionar, bloquear, espionar ou criminalizar.
A política externa dos EUA – que só sabe depender de sanções, pressões e guerras – está serrando o galho (alto) no qual os EUA estão pousados.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). A seguir podemos ouvir versão em performance de David Johansen.
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