sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Ucrânia: Relatório de Situação (SITREP), 29/8/2014, 15h35 UTC/Hora ZULU

29/8/2014, The SakerThe Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

The Saker
A guerra civil na Ucrânia alcançou um ponto de virada, e vários eventos separados sinalizam para essa conclusão:

Situação militar em solo

Os Ukies estão perdendo a guerra. Todos os relatos de fontes novorussas coincidem nisso: as forças Ukies estão ou cercadas ou em plena retirada. Mas também fontes Ukies dizem a mesma coisa. Em Kiev, comícios de nacionalistas furiosos acusam o alto comando militar de minimizar o número reais de mortos; de ter abandonado as forças que ainda lutam no Donbass. Até Oleg Liashko disse que as forças Ukies foram “traídas”.

Houve manifestações em frente do quartel-general dos Ukies nas quais muitos manifestantes do Setor Direita exigem a criação de um “batalhão geral” que seria formado só de generais e seria mandado combater pessoalmente (IDEIA MAGNÍFICA que apoio integralmente!).

Outros exigem a renúncia do ministro da Defesa Ukie. Mulheres ucranianas têm feito parar comboios militares nas estradas, seguidamente deitando-se na estrada, ou de pé em frente dos caminhos, para impedir que seus homens sejam mandados para morrer. Batalhões Ukies inteiros têm desertado do front e Forças Especiais são mandadas no encalço deles. Aparentemente, a polícia Ukie tem medo de prender soldados por deserção por causa do grande número.

A cidade de Mariupol está cercada e as elites políticas locais e o pessoal dos serviços secretos da Ucrânia (SBU) fugiram da cidade. Poroshenko cancelou viagem que faria à Turquia e reuniu seu Conselho de Segurança. Kolomoiski, que controla o sudoeste da Ucrânia, fez o mesmo com seu próprio Conselho de Segurança (sim, porque, dado que ele tem seu próprio exército, tem também seu próprio Conselho de Segurança!). Tymoshenko quer que se imponha lei marcial plena, no país. A população masculina de idade superior a 60 anos agora está sendo também convocada para o alistamento obrigatório (mas, que eu saiba, ainda não foram mandados combater).

Yatseniuk e Poroshenko, ambos, pediram que a OTAN intervenha e aceite a Ucrânia como uma espécie de aliado especial. Em outras palavras: todos os sinais indicam pânico absoluto, total, em Kiev.

Situação política

Rússia: Putin reuniu-se com Poroshenko e líderes da União Europeia e disse-lhes só uma coisa, bem clara:

Não falem conosco. Não temos nada a ver com a guerra de vocês e não somos parte desse conflito. Vocês têm de falar com os novorussos.

Putin reunido com os líderes da UE e... Poroshenko
Aliás, o Kremlin agora já emprega livremente a palavra “novorussos” como substantivo (“os novorussos”) e como adjetivo (“as forças novorussas”). Além disso, os russos estão oficialmente enviando seu segundo comboio de ajuda humanitária e já anunciaram que não será o último.

Vitaly Churkin
No Conselho de Segurança da ONU, o embaixador russo, Vitaly Churkin, desafiou o representante dos Ukies a explicar onde foram parar as gravações feitas das conversas entre a Torre de Controle Aéreo de Kiev e os pilotos do voo MH17; quer saber por que foram escondidas e por quê.

Com o outono que chega rapidamente, a União Europeia empurrou Kiev a recomeçar negociações de gás que os russos declararam “interrompidas”.  Tudo sugere fortemente que o “Voentorg” (contração em russo que significa “Comércio Militar”, e dava nome ao prédio, da era soviética, onde se podia comprar/vender equipamento militar) entre Rússia e Novorússia aumentou ainda mais, e que os novorussos estão agora recebendo mais homens, inclusive especialistas, e mais equipamento.

Ao contrário do que previam os difamadores-de-Putin, a substituição de Strelkov por Zakharchenko não foi acompanhada de nenhuma “queima-total” da Novorússia. Bem o contrário: tão logo Zakharchenko assumiu o poder, os novorussos entraram em ofensiva geral. Quanto a Strelkov, goza aparentemente de boa saúde e é esperado num evento público na Crimeia, hoje. Quer dizer: toda aquela conversa sobre Putin apunhalar a Novorússia pelas costas, porque teria alguma espécie de “acordo” com Obama; de Strelkov ter sido eliminado pelos Spetsnazes de Putin e todo o resto da propaganda distribuída pelos odiadores-de-Putin, já se sabe agora com certeza, foi, sempre, mentira.

Alexander Zakharchenko
Bem visivelmente, alguns difamadores-de-Putin são pagos por oligarcas russos; outros simplesmente são incapazes de compreender a sofisticada política que o Kremlin desenvolve na Ucrânia. Seja qual for o caso, toda essa conversa já está completamente desacreditada pelos fatos e obrigada a sair de cena sob vaia.

O mais recente movimento de Putin é brilhante, nada menos que isso. Pensem: mães e esposas de soldados Ukies pedem que seus homens possam voltar para casa; Kiev ignora o pedido das mulheres; e Putin avança, concorda com as mulheres e pede que os novorussos abram corredores humanitários pelos quais os soldados Ukies que abandonem os combates possam deixar as tropas e voltar em segurança para casa. Assim, mostra mais preocupação pelo povo Ukie que os governantes Ukies; estimula a deserção de soldados Ukies; reduz o número de mortos dos dois lados; e acerta mais um direto no plexo do moral dos Ukies. Ainda melhor, faz tudo isso numa única declaração por escrito, de tal modo que ninguém, por mais que tente, poderá acusá-lo de coisa alguma.

Quanto aos novorussos, Zakharchenko já concordou, mas sob a condição de que os Ukies que usem os corredores humanitários para desertar deixem para trás todo o armamento pesado e munição. Perfeito. Desnecessário dizer, o alto-comando Ukie rejeitou a oferta e ordenou que as unidades cercadas abrissem caminho a tiro e fogo. Imaginem o que sentem, ao saber dessa ordem, as famílias dos soldados ucranianos cercados nos vários “caldeirões”!

A União Europeia (UE): A UE está “ferrada”, totalmente “ferrada”. Aparentemente, o caos no Banderastão combinado com as sanções contra a Rússia, e a crise do gás começando a produzir efeito, gradualmente, nos cérebros preguiçosos dos euroburocratas, eles vão aos poucos percebendo que foram, no mínimo, tão estúpidos quanto os Ukies; e que os EUA os usaram para buscar seus próprios objetivos imperiais. “Foda-se a UE”, meeeesmo. Foderam-se, sim.

Putin e Poroshenko cumprimentam-se ante alguns euroburocratas
O melhor que esses burocratas desgraçados podem fazer é ir a Minsk e aceitar negociar com a Rússia os termos sob os quais a Ucrânia ratificará o acordo com a UE. Exatamente o que a Rússia recomenda que seja feito, desde o primeiro dia; exatamente o que a UE sempre rejeitou arrogantemente, com resposta do tipo “os russos que não se metam nisso”.

Agora, Ashton e uns poucos outros terão de vestir as sandálias da humildade e pedir, que, por favor, os russos aceitem conversar com eles.

Os EUA: Pobre Tio Sam, está com cara patética, de bobo, de atrapalhado. O melhor que os EUA podem fazer é acusar a Rússia de invadir a Ucrânia, e só ameaçar mais sanções, uma vez que Obama já admitiu que os EUA não têm opção militar na Ucrânia.

Herbert E. Meyer
Para aferir o grau de desarranjo que reina entre os neoconservadores nos EUA, cito um artigo recentemente publicado, de Herbert E. Meyer, ex-assistente especial do Diretor da CIA e vice-presidente do Conselho Nacional de Inteligência da CIA durante o governo Reagan, em American Thinker, e que leva o título, modesto, de Como resolver o problema Putin.Eis a ideia do gênio-aí:

Dado que sutilezas não funcionam com russos, o presidente [dos EUA] e seus contrapartes europeus devem tornar absolutamente claro que não temos nenhum interesse, de nenhum tipo, em como aquela gente (os oligarcas russos)resolvem o problema Putin deles. Se conseguirem conversar o velho bom Vladimir e convencê-lo a deixar o Kremlin com honras militares e salva de 21 tiros de canhão – por nós, estará ótimo. Se Putin for cabeça-dura demais e não reconhecer que sua carreira está acabada, o único modo de arrancá-lo do Kremlin é na horizontal e com um buraco de bala na nuca – o que, por nós, também estará muito bem.

Não objetaríamos, sequer, a uma gota de justiça poética (...) Por exemplo, se da próxima vez que Putin voar de volta a Moscou, depois de mais uma visitinha aos seus bons amigos em Cuba, ou na Venezuela, ou no Irã, o avião dele for derrubado dos céus por algum grupo paramilitar sinistro que, ninguém sabe como, pôs as mãos num míssil terra-ar.

Não sei se esse Mr. Meyer acha que Mrs. Nuland entregando bolinhos na Praça Maidan é o tipo da “sutileza” que russos nem entendem nem gostam, ou se esse artigo é, ele mesmo, expressão da “sutileza” da CIA, mas não há dúvida de que Meyer teve aí seu “momento Pat Robertson” (pregador religioso de religião de TV, que pregou que os EUA assassinassem Hugo Chávez). É a prova de que os anglo-sionistas não conhecem diplomacia, e que esse tipo de “invocação mágica” é recurso que lhes resta quando a falta de diplomacia se torna óbvia.

E depois disso? Acontecerá o quê?

Oleg Tsarev
Difícil saber. Acho que Oleg Tsarev tem razão quando diz que tão logo o regime dos Ukies comece a entrar em colapso, o ocidente, de repente, “exigirá” negociações. Em sua entrevista à imprensa, crucialmente importante, divulgada ontem, Zakharchenko deixou bem claro que alternativas como federalização ou descentralização não serão consideradas, e que só a total independência do Donbass os satisfará. Pode ser que sim. Pode ser que não. Há muitos exemplos históricos que mostram que movimentos separatistas na maioria dos casos dão-se por satisfeitos, e inteligentemente, com bem menos. Mas nesse caso estamos lidando com vários problemas interligados:

a) Geográficos: a Ucrânia é país criado artificialmente;
b) Políticos: internamente, o regime em Kiev é nazista;
c) Geoestratégicos: externamente, o regime em Kiev é um fantoche russofóbico, dos EUA;
d) Econômicos: a Ucrânia está economicamente morta.

Todos esses fatores claramente apontam para a mesma conclusão: a Ucrânia tem de ser fracionada. Pode acontecer catastroficamente – o leste vira Novorússia; o sul, fica com Kolomoiski; o centro, com Poroshenko; e o oeste separa-se completamente. Há alguns sinais de que isso está gradualmente acontecendo.

Além do mais, tudo isso piora muito por causa do fato inegável de que a Ucrânia já é um estado falhado, e que considerável minoria da população ucraniana é constituída, sim, dos mais doentios nacionalistas. Assim, no atual momento, as coisas não parecem promissoras para qualquer tipo de solução negociada. A Novorússia tem provavelmente potencial para reconstruir-se e tornar-se local mais ou menos habitável e estável: a maior parte das indústrias locais estão em ruínas, mas há bom “capital humano”, o povo dali é gente brilhante, trabalhadora e há ali gente claramente capaz de atuar como líderes políticos competentes.

Mas, exceto se acontecer um milagre, o resto da Ucrânia se converterá exatamente no mesmo tipo de miséria e desgraça que os EUA são tão eficazes ao gerar e deixar para trás em locais como a Líbia ou o Iraque. Mas... talvez não. Talvez os europeus arranjem alguma espinha dorsal, e digam aos EUA que não ponham a mão no continente, que os europeus tentarão resolver com a Rússia toda essa horrível confusão. Não tenho esperança alguma, não, pelo menos, enquanto a atual casta dirigente anglo-sionista permanecer no poder na UE.

Ucrânia: eventual federalização
(clique na imagem para aumentar)
Uma coisa pode alterar essa espiral descendente: uma mudança de regime em Kiev. Não falo de trocar Poroshenko por Liashko ou Yarosh; falo de uma insurreição antinazista, ou de golpe. Mas, em total franqueza com vocês, devo dizer que, com o tipo de terror que os SBU e os oligarcas são capazes de impor contra o povo em geral, essa via é bem pouco provável. Mas quem sabe o que pode acontecer numa onda gigante de descontentamento popular? Se os atuais doidos-totais puderem ser derrubados por gente seminormal, e iniciar-se um processo de desnazificação... Quem sabe ainda se salva alguma coisa? Outra vez, não tenho esperança alguma. Por hora, cuidemos de acompanhar os eventos em curso.

Situação atual

Diria que as coisas parecem, no momento, melhores que nunca. As coisas estão longe, longe, muito longe, de acabadas e muita coisa ainda pode dar errado, mas, pelo menos nesse momento, as coisas parecem bastante boas. Exceto por algum evento totalmente inesperado, as cidades de Lugansk e Donetsk estarão livres da maior parte dos bombardeios dentro de 10-14 dias. Atualmente, os novorussos controlam toda a fronteira entre Rússia e Novorússia – o que torna o Voentorg muito mais fácil.

Zakharchenko e seus homens parecem estar fazendo excelente trabalho e dizem os boatos que, em breve, Strelkov estará de volta, em posto especial. A liderança novorussa e o Kremlin estão claramente no mesmo comprimento de onda, e não há motivos para considerar a possibilidade de intervenção militar russa. Estou certo de que a Frota do Mar Negro fará o que tiver de ser feito para manter a costa novorussa protegida; e Mariupol cairá provavelmente em pouco tempo, atacada pelo norte. Há crescentes relatos de movimentos partisans em Zaporozhie; a ser verdade, é interessante e pode vir a afetar outras áreas e cidades, como Carcóvia e Dnepropetrovsk. Ainda não vejo tanques novorussos a caminhos de Kiev, mas parece que há um sucesso operacional em produção nesse exato momento.

Sou, por caráter, educação e experiência, pessoa muito cautelosa, mas hoje estou cautelosamente otimista, pelo menos pela Novorússia.

The Saker

Post Scriptum: (Acabo de receber de um bom amigo):

República Popular de Donetsk

– Volnovakha foi tomada pelas Forças Armadas da Novorússia (FAN) [orig.Novorossiya Armed Forces (NAF)]; o caldeirão sudoeste está fechado.

– Ialta (perto de Mariupol), tomada; FAN agora a 12 km de distância de Mariupol.

– Estrada Mariupol-Zaporozhye (Berdyansk) fechada pelas FAN. Virtualmente todos os vilarejos em torno de Mariupol parecem já tomados pelas FAN. O caldeirão de Mariupol está fechado.

– Combates atravessaram a fronteira para Zaporozhye. Grupos de Sabotagem-Reconhecimento (GSR) [orig. Saboteur-Reconnaissance Groups (SRG)] e guerrilheiros ativos dentro dos limites de Zaporozhye.

– Forças punitivas ucranianas rendem-se em vários caldeirões; a taxa de rendições aumenta rapidamente.

– FAN forçando avante na direção de Yasinovataya, Maryinka, Karlovka, Krasnogorovka (oeste de Donetsk).

– E A MAIOR (embora ainda não totalmente confirmada) NOTÍCIA DO DIA: o Aeroporto de Donetsk foi tomado pelas Forças Armadas da Novorússia hoje.

República Popular de Lugansk (RPL)

– Lutugino parcialmente controlada pela Milícia, combate urbano muito pesado, mas Rodakovo foi perdida (planos para retomá-la em breve);

– Lyashko parece estar ainda detido em Severodonetsk, que está sitiada pela Brigada de Mozgovoi (não tenho informações já há alguns dias).

– RPL cercou Shchastye e Metallist e está avançando sobre posições ucraniana ali, assim como na direção nordeste (Stanitsa Luganskaya, ainda em disputa).

– FAN continuam a avançar sobre Deblatsevo, tomando postos de controle nos arredores da cidade.

– RPL planeja alguns grandes avanços para os próximos dias, esperemos que para limpar os caldeirões que restam.

As regiões verde e lilás são a Novorússia 
(clique na imagem para aumentar)
Post-post Scriptum: Essa, agora, é de Russia Today:

A Polônia recusou autorização para que o avião que transportava o Ministro da Defesa da Rússia, Sergey Shoigu sobrevoasse território polonês (Shoigu voltava da Eslováquia), como noticiou o correspondente de RIA Novosti. O avião pousou em Bratislava.

Sergey Shoigu e Vladimir Putin
O ministro voltava das celebrações do 70º aniversário do levante nacional eslovaco, realizadas na cidade de Banská Bystrica.

A Polônia proibiu que o Tu-154 que transportava o ministro russo entrasse em seu espaço aéreo – como informa o correspondente de RIA Novosti que estava a bordo, citando um membro da tripulação.

O avião teve de dar meia volta e pousou em Bratislava uma hora mais tarde. Nesse momento estão em andamento negociações sobre o caso. Todos os passageiros permanecem dentro do avião.

Comentário: Idiota e infantil o comportamento dos poloneses, na minha avaliação. Não se entende o que os poloneses supõem que alcançariam com esse tipo de “servicinho”, de limpeza duvidosa, mais um, que prestam ao Tio Sam (os que acompanhem a política polonesa sabem do que estou falando).

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