quinta-feira, 16 de abril de 2015

Ucrânia: A verdade

Está se tornando aparente

14/5/2015, [*] Gary LeuppCounterpunch
It's Becoming Apparent - Ukraine: The Truth
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


·        Manchete da Reuters, 9/4/2015: “Ucrânia decidida a associar-se à OTAN”.
·        Manchete da Radio Free Europe/Radio Liberty, 9/4/2015: “Líder da extrema direita nomeado conselheiro militar ucraniano”.


Há mais bases navais no estado da Califórnia, que em toda a Federação Russa. (...) E, com os doidos que comandam o Departamento de Estado nos EUA sempre empenhados em promover mentiras e mais mentiras sobre o que realmente aconteceu na Ucrânia ao longo dos últimos dois anos  narrativa que uma mídia-empresa imbecilizada repete sem parar  pode bem acontecer que, um dia, se encontrem soldados norte-americanos e os nazistas do Batalhão Azov, lado a lado, combatendo contra o povo das Repúblicas Populares de Lugansk e de Donetsk.



Poroshenko e Rasmussen na REUNIÃO da OTAN (4/9/2014)
A linha oficial de Moscou sobre a Ucrânia – e não se a deve descartar só porque é o que é – é que os EUA gastaram cerca de US$ 5 bilhões apoiando uma “mudança de regime” naquele país triste e falido, o que resultou num golpe de estado (ou putsch) em Kiev em fevereiro de 2014, no qual grupos neofascistas tiveram papel chave. O golpe aconteceu porque o Departamento de Estado dos EUA e o Pentágono tinham esperança de substituir o governo eleito que lá estava, por outro que empurraria a Ucrânia para dentro da OTAN, uma aliança militar desenhada, desde que foi concebida, em 1949, para desafiar a Rússia. O objetivo máximo do golpe era expulsar a Frota Russa no Mar Negro, das bases que mantém na Península da Crimeia há mais de 230 anos.

Pessoalmente, creio que é interpretação basicamente correta e qualquer ser racional logo perceberá que sim, que é verdadeira. Victoria Nuland, a bandida neoconservadora que serve como secretária-assistente de Estado para Assuntos Europeus e Eurasiáticos e é a mais alta funcionária do governo dos EUA na modelagem da política para a Ucrânia, admitiu abertamente a uma conferência internacional comercial sobre a Ucrânia, em dezembro de 2013 que:

Washington “já investiu mais de 5 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia a alcançar [o desenvolvimento de instituições democráticas] e outras metas”.

Ela repetiu essas palavras numa entrevista à CNN e também a ex-secretária de Estado Madeleine Albright também repetiu a mesma coisa, com orgulho em outros noticiários. O objetivo nunca enunciado era tornar a Ucrânia membro da OTAN.

Imaginem o que aconteceria se um alto oficial do Ministério de Relações Exteriores da Rússia se pusesse a vangloriar-se de a Rússia ter investido US$ 5 bilhões para acabar com o governo eleito no México ou no Canadá, com vistas a incorporar qualquer desses países numa aliança militar liderada pelo Kremlin e em expansão. John McCain e Fox News pôr-se-iam a exigir imediato ataque atômico para aniquilar Moscou.

A Rússia, como todos sabem, tem relativamente poucas bases navais, consideradas as dimensões do país. As que têm estão de frente para os mares de Barents e Báltico ao norte, em torno da Escandinávia. Em 1904, quando as forças russas foram atacadas pela marinha japonesa em Port Arthur, na Manchúria, a Rússia teve de mandar para aquela região a frota do Báltico, numa viagem de seis meses (e que terminou na desastrosa Batalha de Tsushima). A geografia russa impõe obstáculos a que o país mantenha grandes forças navais.

Há uma base naval russa em Astrakhan, no Mar Cáspio (que, de fato, é um grande lago, pelo qual se pode velejar para o Cazaquistão, Turcomenistão, Irã ou Azerbaijão, e só, nada além disso). E há várias bases em ou perto de Vladivostok na costa do Pacífico siberiano, que permanece congelado parte do ano, além das bases na Península Kamchatka, ao norte do Japão. A Rússia mantém uma modesta base naval em Tartus no litoral sírio, e uma base logística na Baía Cam Rahn, no Vietnã. Mas as únicas bases com rápido acesso ao Mediterrâneo e portanto aos oceanos Atlântico e Índico são as localizadas em e em torno de Sebastopol na Península da Crimeia no Mar Negro.

Diáspora russa nos países fronteiriços
(clique na legenda para aumentar)
Compare aos EUA, com suas mais de 30 bases navais gigantes nas costas leste e oeste e no Hawaii, e outras – algumas delas também gigantes – no Japão, na Itália, em Cuba, Bahrain, Diego Garcia e por todos os cantos! Há mais bases navais no estado da Califórnia, que em toda a Federação Russa.

Os EUA mantém pessoal militar estacionado em cerca de 130 países pelo mundo – em dois terços dos países-membros da ONU. A Rússia, por sua vez, tem forças militantes estacionadas em, pelas minhas contas, 10 países estrangeiros, oito dos quais são fronteiriços. E mesmo assim a mídia-empresa e os políticos norte-americanos apresentam a Rússia e especificamente o presidente Vladimir Putin como monstro ameaçador.

Exatamente como já fizeram com Saddam Hussein, aquela infeliz criatura manca demonizada como se fosse “um novo Hitler” – como os doidos por guerra sempre dizem, antes de atacar e bombardear qualquer um.

Qualquer aluno de universidade nos EUA, inscrito em programa interdisciplinar de “relações internacionais” (e educado, como é norma, por cientistas políticos da escola “realista”) concluirá que – deixando-se de lado a personalidade demonizada e vilanizada de Putin – qualquer líder russo sempre insistirá em defender e preservar seus ativos militares na Criméia. Qualquer um! Defender e reter aquela propriedade histórica não é nenhuma novidade. Quem delire com tirar os russos de lá (o que inclui os falcões chefes do Partido Republicano dos EUA) é irrealista, se não estiver em morte cerebral.

Como, algum dia, algum líder russo diria à truculenta Victoria Nuland “Ótimo, isso mesmo, vá em frente e ocupe a Crimeia”, entregando assim essa região da Rússia étnica – lócus da Guerra da Crimeia de 1853-56 e de algumas das mais sangrentas batalhas contra os nazistas na IIª Guerra Mundial? Que líder russo entregaria a Crimeia – lócus também do histórico encontro de Yalta, entre Stálin, Roosevelt e Churchill, em fevereiro de 1945, a forças abertamente hostis à Rússia? A forças que – para piorar tudo – estão prontas a associar-se a fascistas que, na IIª Guerra Mundial, colaboraram com os nazistas – inclusive cercando judeus para serem massacrados?


Conferência de Yalta (fev. 1945)
O artigo da Reuters acima citado confirma a intenção do regime que os EUA instalaram no poder em Kiev de apresentar seu pedido de integração formal à OTAN. Cita Oleksander Turchynov, presidente do conselho de segurança nacional do regime de Kiev, que afirmou ao Parlamento que a integração à OTAN seria “a única garantia externa confiável” para a “soberania e integridade territorial da Ucrânia”.

Como se a Rússia, que mantinha relacionamento cordial com o presidente deposto, Viktor Yanukovich, o qual – nunca será demasiado repetir – foi eleito em eleições reconhecidas como legítimas e democráticas em 2010, tivesse algum dia ameaçado a “integridade territorial” da Ucrânia ou de qualquer outro país!

Assim se comprova a validade da principal alegação dos russos, que insistem que toda a guerra dos EUA na Ucrânia tem a ver, só, com a OTAN – a mesma OTAN que, depois da promessa que George H. W. Bush fez a Mikhail Gorbachev em 1989, de que a aliança não avançaria “uma polegada” na direção das fronteiras russas, não faz outra coisa, desde 1999, que não seja avançar para cercar a Rússia europeia. OTAN que já inclui Estônia, Latvia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, Croácia e Albânia – países os quais, todos esses, pelas regras da associação, tem de pagar 2% dos respectivos PIBs, ao esforço de “mútua defesa”.

Se a OTAN não inclui os outros vizinhos da Rússia, Bielorrússia, Moldávia e Geórgia, não é por falta de tentar. A Dotação Nacional para a Democracia [orig. National Endowment for Democracy (NED)] (“organização privada, sem finalidades de lucro” que o Departamento de Estado usa para financiar operações de ‘mudança de regime’ pelo mundo) já fez muito, tentando arrastar também esses países para dentro da OTAN. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, para todos os povos que vivem em país que têm fronteiras com a Rússia, sonhar com unir-se a uma aliança militar anti-Rússia!

Os “itens para divulgação” de Nuland, para consumo popular sobre a Ucrânia incluem a ideia segundo a qual os EUA “apoiam as aspirações europeias do povo ucraniano”. Nuland ignora o fato de que o país é fundamente dividido entre leste e oeste, e que no leste o “povo ucraniano” tem substanciais “aspirações russas”, não “europeias”, aspirações com fundas raízes históricas, que ela não compreende, nem, de fato, faz qualquer esforço para compreender. Nuland também oculta o fato de que o apoio dos EUA a “mudança de regime” na Ucrânia, que levou ao golpe de 22/2/ 2014, não se baseou, de fato, no apoio à entrada da Ucrânia na União Europeia.

A União Europeia é bloco comercial que desafia os EUA e o NAFTA. Num mundo de competição imperialista por mercados e recursos, a União Europeia e os EUA estão com muita frequência em campos opostos. Washington não está nada satisfeita com estados-membros da EU, Grã-Bretanha, França, Itália, Espanha e Luxemburgo já tenham, todos eles, se integrado ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) [orig. Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)] liderado pela China, sobretudo porque se cria alta probabilidade de que a moeda chinesa se fortaleça e apresse o declínio do dólar como moeda internacional de reserva. O Congresso fumega de fúria, porque a UE proibiu importações dos produtos alimentícios geneticamente modificados da Monsanto. O Departamento de Estado dos EUA não está no ramo de promover a União Europeia, nem quer que países se alinhem àquele bloco econômico. Na Ucrânia absolutamente não se trata de nada disso.

H. Clinton e Yanukovich selam acordo em 4/2/12
Em 2013, o Departamento de Estado de Hillary Clinton teve de enfrentar a decisão, tomada pelo presidente (derrubado) da Ucrânia, Viktor Yanukovich, de recuar de um acordo que ele havia aceitado inicialmente, para integrar a Ucrânia à União Europeia. Os conselheiros disseram a Yanukovich que o regime de arrocho [orig. austerity] que a UE imporia à Ucrânia seria inaceitável; e que a Rússia oferecia generoso pacote de ajuda ao país, que incluía manter a oferta de gás a preços baixos.

A decisão de Yanukovich, de preferir a oferta dos russos foi baseada em lógica econômica e perfeitamente defensável em termos econômicos. Mas, imediatamente, os EUA puseram a soprar sobre as chamas de um movimento que mostraria a decisão de Yanukovich como traição à Ucrânia e aos ucranianos, e declaração de fidelidade à Rússia. Por isso Nuland tem de repetir tantas e tantas vezes a mentira sobre as “aspirações europeias”. Como se a Ucrânia algum dia tivesse deixado de ser parte da Europa! Como se “Europa” fosse alguma estrela radiosa e os horrendos atos de terror contra a República Socialista da Ucrânia, por fascistas europeus durante os anos 1940s, fossem irrelevantes. E como se a submissão a um governo de arrocho, de estilo grego e inspirado na “austeridade” europeia, fosse algum tipo de solução para os sofrimentos dos pobres ucranianos.

Verdade é que o que Nuland realmente pensa sobre “aspirações europeias” foram bem resumidos na conversa que teve, por telefone, com o embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt, pouco depois do putsch no início de fevereiro de 2014. Muito provavelmente vazado pela inteligência russa, e jamais desmentido pelo Departamento de Estado, a gravação comprova que Nuland “selecionou” para o cargo o atual primeiro-ministro, Arseniy Yatsenyuk, descartando rivais dele, Oleh Tyanybok (líder do partido neonazista Svoboda, que publicamente atacara “a máfia Moscou-judeus que governa a Ucrânia”, e que sempre se refere a “moscovitas” e judeus como “escória”) e Vitali Klitschko, ex-lutador de boxe e ativista ocasional anticorrupção.

No telefonema, Pyatt diz a Nuland que “acho que estamos no jogo (tradução: o golpe está pronto). “A peça Klitschko é obviamente o elétron complicado, sobretudo o serviço de anunciá-lo como primeiro-ministro (...) Estou contente que você mais ou menos o pôs sob foco, no lugar que lhe cabe nesse cenário.” Parece que Pyatt já informara a Klitschko de que, apesar de algum apoio da UE, ele não seria candidato que os EUA aprovariam. (No telefonema, Nuland diz que [Klitschko] “precisa de mais tempo para fazer a lição de casa”).

Nuland quis marginalizar Klitschko, que, depois do golpe, como prêmio de consolação, foi nomeado prefeito de Kiev; quis ter certeza de que o ex-ministro da Economia, Yatsenyuk, que pregava severas medidas de arrocho e propusera a incorporação da Ucrânia à OTAN, sucederia Yanukovich.


telefonema acima (CC em inglês) não deixa dúvidas de que Nuland recrutara funcionários da ONU para que apoiassem a “mudança de regime”.

Já próximo ao fim da conversa, Nuland diz a Pyatt “OK” – sinalizando que os dois estavam de acordo quanto à estratégia geral. Na sequência, alude à bem-vinda cumplicidade de vários outros agentes ativos: Jeff Feltman, Robert Serry, e Ban Ki-moon.

Informa que Jeff Feltman “agora já conseguiu que os dois, Serry e Ban Ki-moon, concordassem que Serry pode vir na 2ª ou 3ª-feira” – para ajudar a por em andamento o golpe e validá-lo logo depois.

Quem é essa gente? Geoffrey Feltman, diplomata de carreira, era naquele momento subsecretário da ONU para Assuntos Políticos. Mas talvez seja mais conhecido pelos serviços que prestou como embaixador no Líbano entre 2004 e 2008, quando mandava tanto, que o Hezbollah – e vários outros partidos – referiam-se ao governo de Fouad Siniora como “o governo Feltman”.

Robert Serry é diplomata holandês; serviu na ONU como secretário-geral assistente para Gerenciamento de Crises no Exterior e Operações entre 2003 e 2005 e também fora embaixador da Holanda na Ucrânia. Empenhado advogado da participação da Holanda numa Guerra do Iraque construída sobre mentiras, sempre foi confiável aliado dos EUA.

Ban Ki-moon, claro, é o Secretário-Geral da ONU que, como Ministro de Relações Exteriores da Coreia do Sul, muito se empenhou para conseguir que a Coreia do Sul enviasse soldados para aquela mesma Guerra do Iraque baseada em mentiras. Sabemos, de Wikileaks, que, sob ordens dos EUA, Ban Ki-moon forçou o Conselho de Segurança da ONU a ignorar o relatório da Comissão de Inquérito da ONU sobre o bombardeio de Israel contra Gaza em 2008-2009, para não criar dificuldades para EUA e Israel. Não erra quem o declarar confiável fantoche dos EUA.

Já próximo ao final do telefonema interceptado, Nuland se despede: “Então, vai ser ótimo, acho, ajudar a colar a coisa toda e ter a ONU ajudando a colar também e, sacomé, foda-se a União Europeia”. Fodam-se, claro, se o que pensam sobre a Ucrânia difere do que nós pensamos.

Aí está o muito que essa gente respeita “aspirações europeias” de seja quem for.

No mesmo telefonema, Nuland observa que Yatsenyev “vai precisar de Klitschko e Tyahnybok do lado de fora, ele tem de falar com os dois quatro vezes por semana”. E eu pergunto o que é mais repugnante:

(a) o fato de o Departamento de Estado dos EUA tanto se empenhar em micromanobrar um golpe de mudança de regime contra estado soberano; ou

(b) ouvir essa neoconservadora Nuland, representando o governo dos EUA, ordenar que o fantoche do governo dos EUA mantenha ativa a rede de comunicação com um neofascista que fala de judeus como “essa escória”?!

Aí está essa mulher, deixando que o empenho na causa da OTAN derrote completamente a resistência contra o antissemitismo. Nuland deveria envergonhar-se dela mesma.

Victoria Nuland e os EUA apoiam neonazistas
Quando, em maio/2014, numa audiência na Câmara de Deputados, a Deputada Dana Rohrabacher mostrou-lhe fotos que comprovavam o envolvimento de neonazistas nos eventos da Praça Maidan, Nuland admitiu que “havia muitas cores envolvidas na Ucrânia, inclusive cores muito feias”. Não se referia às fotos em que ela própria aparece com Tyahnybok, toda sorrisos; nem às ordens que deu a “Yats” para que falasse quatro vezes por semana com os nazistas antissemitas.

O artigo da Radio Free Europe referenciado acima, começa assim:

O controverso líder do grupo paramilitar e ultranacionalista ucraniano Setor Direita foi nomeado conselheiro do exército. O porta-voz das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksey Mazepa, anunciou dia 6/4/2015, que Dmytro Yarosh atuaria como “um elo entre os batalhões de voluntários e o Comando Militar”. As milícias do Setor Direita de Yarosh dizem contar com cerca de 10 mil membros, mas até agora não há qualquer registro desses milicianos como associados ao governo, como outras forças paramilitares já fizeram. A milícia do Setor Direita está combatendo ao lado de soldados do governo ucraniano contra separatistas pró-Rússia, na região leste do país.

O partido neofascista Setor Direita (Pravy Sektor) foi formado em 2013 durante os protestos de Maidan em Kiev, reunindo vários grupos alinhados com o partido. Com vários daqueles partidos tentando conquistar respeitabilidade internacional, inclusive em reuniões noticiados de seus líderes com Nuland e John McCain, dentre outros, o Setor Direita operava como o contingente ativista mais violento. Com certeza quase total, esses neofascistas estiveram envolvidos nos ataques de atiradores ocultos contra a multidão reunida na praça, que foram atribuídos ao governo e usados para justificar o golpe.

Agora, o líder daqueles neonazistas é premiado com um cargo no governo, para coordenar as ações das milícias de extrema direita (a mais conhecida das quais é o Batalhão Azov, que exibe nos uniformes insígnias dos nazistas alemães e atacou vários alvos civis no leste da Ucrânia). Não são evidências mais do que suficientes para comprovar a veracidade da acusação que os russos fizeram, de que há forte componente fascista no governo que os EUA construíram para Kiev?

A situação é complicada. As tropas neofascistas de choque usadas para desencadear o putsch são contrárias à incorporação do país à União Europeia. Não querem saber da tolerância europeia com a diversidade e nas leis para a imigração. São ativos militantes do Poder Branco, que se manifesta em seus vários símbolos, que incluem bandeiras dos confederados norte-americanos, algumas cruzes celtas e suásticas. Talvez não aprovem nem a incorporação do país à OTAN. Mas, como indica o artigo da Radio Free Europe, o apoio deles é muito valorizado e considerado muito necessários pelo regime. Assista vídeo (em inglês) a seguir sobre o apoio dos EUA aos NAZISTAS da Ucrânia:


Pouco importa que Dmytro Yarosh seja procurado pela Interpol for “incitamento público a atividades terroristas”, quando ameaçou destruir os gasodutos russos na Ucrânia. Yarosh é elemento inafastável da equipe, e Washington apoia a equipe. E a mídia-empresa que o Departamento de Estado confiscou jamais deixa transparecer nem suspeitas de que haja fascistas incorporados ao grupo “de Nuland”, ou algum esforço clandestino para cercar a Rússia. A coisa é só a “liberdade” ucraniana, apoiada pelo bom coração congênito de Nuland & seu grupo, gente que, em tempos recentes, já promoveu as inesquecíveis “libertações” do Afeganistão, Iraque e Líbia.

Há em Kiev um governo com tendências fascistas. Foi posto lá pelo Departamento de Estado dos EUA. Quer ser incorporado à OTAN e enfraquecer a Rússia – se possível restabelecendo o controle sobre a Crimeia e expulsando de lá a frota russa. A Alemanha opôs-se à admissão dos nazifascistas na aliança, e não é provável que aconteça no curto prazo.

Mas com os doidos que hoje comandam o Departamento de Estado nos EUA, sempre empenhados em promover mentiras e mais mentiras sobre o que realmente aconteceu na Ucrânia ao longo dos últimos dois anos – narrativa que uma mídia-empresa desnorteada e incompetente repete sem parar – pode bem acontecer que um dia se encontrem soldados norte-americanos e nazistas do Batalhão Azov, lado a lado, combatendo contra o povo das Repúblicas Populares de Luhansk e de Donetsk.

Nada disso terá a ver com “liberdade”, como tampouco as últimas guerras nas quais os EUA estiveram envolvidos tiveram qualquer coisa a ver com “liberdade”. Trata-se aí, sempre, de expansão imperial, a qual, por mais que possa interessar ao 0,01% que governa os EUA, absolutamente não interessa nem a você nem a mim.
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[*] Gary Leupp é professor de História na Universidade Tufts, e dá aulas também no Departamento de Religião. É autor de Servants, Shophands and Laborers in the Cities of Tokugawa JapanMale Colors: The Construction of Homosexuality in Tokugawa Japan; e Interracial Intimacy in Japan: Western Men and Japanese Women, 1543-1900É autor de um dos ensaios recolhidos em Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press).
Recebe e-mails em gleupp@tufts.edu

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