4/6/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Tenho-me
esforçado recorrentemente nesse blog tentando explicar as razões prováveis
pelas quais a Rússia ainda não interveio, até agora, na guerra entre o
Banderastão e a Novorosiia. Observo que os que veem sinais de “traição”
e de “vendeu-se” na atitude de Putin sempre falam muito quando acusam, mas
pouco falam se se exigem detalhes objetivos e especificações.
Bem
diferente do excelente artigo que postei recentemente e recomendei como “leitura
obrigatória”, o pessoal que muito se dedica a acusar Putin por traição
detém-se sempre no curtíssimo prazo: quer que Putin mandasse armas, mandasse
tanques, impusesse uma zona aérea de exclusão, atacasse essa ou aquela unidade,
etc.. Ótimo. Mas... e daí? E nossos patriotas de sofá fogem espavoridos quando
ouvem, precisamente, essa pergunta: “E daí?”.
Além da
questão do “e daí?”, a outra questão que aqueles estrategistas de sofá evitam
sempre é “mas e se?” Mas e se os banderistas
pirarem realmente, totalmente, e abrirem fogo com tudo que têm, porque resolvam
que sim, ou para retaliar? E mas e se... eles realmente destroem Kramatorsk,
Slaviansk ou bairros inteiros ao redor de Donetsk? Mas e se de fato não deixam
uma parede, que seja, em pé? E se nesse momento o número de mortos passar de
dezenas ou centenas para muitos milhares?
Os que
suponham, erradamente, que as forças da junta já usaram “ataques massivos de
artilharia” devem revisar o conceito de “огневой вал”, quase sempre traduzido
como “barragem de artilharia”, tradução a qual, embora não incorreta, não basta
para transmitir nem o começo do significado da expressão na doutrina militar
russa. Em vez de só olhar números, olhem as cenas seguintes:
Treinamento
de sistemas russos
A seguir amostra
do treinamento ucraniano
A seguir amostras
de vários sistemas
Minha
questão é a seguinte: os ucranianos têm os sistemas REALMENTE necessários para
pôr no chão uma cidade inteira e são treinados para fazer precisamente isso. E
se fizerem? Nesse caso, então, o que acontece?
Claro, a
Rússia tem os meios para destruir rapidamente as unidades da artilharia
ucraniana no Donbass, mas isso marcaria mais uma escalada no conflito. Nesse
caso, então, o que acontece?
Ou e se os
EUA ordenam que Poroshenko “solicite” a proteção da OTAN? E SE A OTAN faz coisa
realmente idiota como foi o deslocamento inicial da 82ª Aero-embarcada para a
Arábia Saudita como parte de “Escudo do Deserto”? Vídeo a seguir:
Por que
digo que “Escudo do Deserto” foi realmente idiota? Porque – detalhe que a
opinião pública norte-americana ignorava – a 82ª Aero-embarcada foi posta em
situação muito perigosa: essa força de infantaria leve foi usada como uma
espécie “gatilho remoto” [orig. tripwire]:
significa que, se os iraquianos cruzassem para dentro do Reino da Arábia
Saudita, encontrariam ali e seriam obrigados a lutar contra a 82ª
Aero-embarcada, o que implicaria atacar os EUA. Ideia brilhante? Não, longe
disso.
A 82ª
Aero-embarcada é força de infantaria leve, e teria chance zero contra as
grandes formações de tanques iraquianos. A *esperança* (?!) dos EUA era que o
poder aéreo dos EUA bastasse para deter os iraquianos. Mas era só esperança,
nada além de esperança. Anos depois, alguém perguntou, acho que a Dick Cheney,
o que teria acontecido se os EUA não tivessem conseguido deter Saddam e se a
82ª tivesse sido massacrada. E sabem o que Dick Cheney respondeu? “Não teríamos
outra opção, além de usar nossas armas nucleares”. Foi quando afinal a verdade
veio à tona: a Casa Branca esteve pronta a assumir o risco de sacrificar sua
82ª Brigada Aerotransportada e “tinha esperanças” de que os EUA não precisariam
usar bombas atômicas. Não sei de vocês, mas, quanto a mim, tenho calafrios de
medo, ao ver os chefões Imperiais com “esperanças” de não detonar bombas
atômicas.
Assim
sendo, e se Obama (cujo governo tem QI médio inferior no mínimo 20 pontos, ao
de George Bush Pai!) mete ali uma força “gatilho remoto” ao longo do Dnieper? E
se os ucranianos organizam operação de combate ou mesmo ataques militares, que
partam da retaguarda desse “gatilho remoto”? E daí? Nesse caso, então, o que
acontece?
Querem mais
um exemplo? Há muitos!
Não é
irracional suspeitar que talvez 15%-20% dos habitantes da região do Donbass/ Novorossia
não sejam absolutamente pró-Rússia e que apoiem a junta de Kiev. É uma grande
área com, se lembro bem, algo como 7 milhões de habitantes na região
Donetsk-Lugansk; 10% de 7 milhões são 700 mil pessoas que apoiam Kiev. Desses
700 mil, assumamos que 10% são capazes de lutar (70 mil) e assumamos que apenas
¼ deles desejem realmente engajar-se em combate sério. Seriam 17.500 dispostos
a combater, só em duas regiões do sudeste da Ucrânia, que é muito mais extenso.
17.500 combatentes é muito mais combatentes do que o Exército Republicano
Irlandês [Irish Republican Army IRA] jamais teve em suas fileiras. É
número muito maior de combatentes, até, do que o Hezbollah tem hoje!
Por falar
do IRA – lembram-se de como os britânicos atuaram na Irlanda do Norte, oficialmente
para restaurar a paz e a segurança? (Se já esqueceram, deem uma olhada da
Wikipedia, “Operation Banner”,
para refrescar a memória). À época, também pareceu coisa simples. Acabou
por converter-se em longuíssimo pesadelo.
Poderia
listar exemplos ad nauseam, mas vocês já entenderam: diferente de alguns
de nossos supostos estrategistas, Putin e os membros de seu Conselho Russo de
Segurança têm de considerar todo o pleno espectro de possíveis “mas e se...” e
“nesse caso então...” antes de tomar qualquer decisão de intervir. E apresso-me
a acrescentar que intervenção clandestina também é perigosa: se, até aqui, Kiev
ainda não conseguiu pôr as mãos em nenhum “agente” ou “operador” russo, não
significa que não possa acontecer; e, se acontecer, seria desastre político
para a Rússia.
Se você
pensou que os serviços especiais ucranianos, SBU, são incompetentes
demais e incapazes até de pôr as mãos nos próprios agentes deles à luz do dia,
você tem toda a razão... Mas a questão é que, nesse caso, os ucranianos são só
a fachada para ação da CIA/ASN dos EUA, agências as quais, vocês podem ter
certeza, estão usando todos os seus formidavelmente gigantescos meios para
encontrar um único agente russo que esteja em ação clandestina na Ucrânia.
Nem
discutirei os comentários de lunáticos que andam sugerindo a sério que os
russos devem bombardear (bombas nucleares, sim) Londres; e outras estupidezes.
Para
concluir, só digo o seguinte: gostem ou não gostem, há hoje consenso na Rússia,
de que, nesse momento, qualquer intervenção direta seria erro gigantesco. Quanto
a ajuda clandestina, só se pode especular, mas já observei que as Forças de
Defesa da Novorossiia parecem “encontrar”, regularmente, armas
“abandonadas”, sempre armas do tipo de que elas mais precisam.
Aos que
vivem a “exigir” intervenção russa no Donbass digo o seguinte: a menos que
vocês possam apoiar suas “exigências” de intervenção em solução apropriada para
todos os “mas e se...” e “nesse caso então” – nem se deem o trabalho de expor
suas “exigências” neste blog, para não se aparecerem no triste papel de
amadores irresponsáveis. Que ninguém se meta a dizer aos outros quando/como
devem morrer. Os heróis que haja por aqui, que peguem uma arma e alistem-se na
Resistência.
The Saker
"A 82ª Aero-embarcada é força de infantaria leve, e teria chance zero contra as grandes formações de tanques iranianos."
ResponderExcluirTem um confusão aqui. O correto seria
"...formações de tanques IRAQUIANOS"
Grato Fouché
ExcluirJá corrigido.