[*] Adriano Benayon − 24.11.2014
Texto enviado pelo autor
Ilustrações catadas na internet pela redecastorphoto
A imprensa-empresa SEMPRE golpista e CANALHA |
1. O Brasil vive momento grave, com a grande mídia, pedindo golpe de
Estado para derrubar a presidenta recém-reeleita.
2. Os golpes em
nosso País são recorrentes, e já houve muitos além dos mais
conhecidos, que são os de caráter predominantemente militar: 1937, 1945, 1954,
1961 e 1964.
3. O jornalista Luiz Adolfo Pinheiro intitulou seu bom livro, “A
República dos Golpes”, publicado em 1993, que abrange somente os anos
de Jânio Quadros a Sarney.
4. Não só no Brasil historicamente, mas cada vez mais no mundo atual, os
instrumentos principais dos golpes inspirados pelas potências imperiais têm
sido instituições civis, como o legislativo e o judiciário.
5. Foi no âmbito da polícia civil que se articulou a conspiração
concluída na área militar, que depôs o presidente Vargas em
1954.
6. A famigerada, desde o Estado Novo, Delegacia de
Ordem Política e Social – DOPS, chefiada pelo simpatizante nazista, Cecil
Borer, foi que armou o atentado da rua
Tonelero, envolvendo a guarda pessoal do presidente e a ela atribuindo
o crime.
7. O alvo era o próprio major
Vaz, para acender a revolta Aeronáutica e na opinião pública, e não,
Carlos Lacerda, o encarniçado adversário de Vargas, com o simulado e
inexistente tiro em seu pé.
8. Por que o DOPS? No auge da Guerra Fria, os nazistas e simpatizantes
foram recrutados em massa pelos serviços secretos das potências
angloamericanas, para reprimir os “comunistas”, rótulo ao qual buscavam
associar todos os que, como os nacionalistas, desagradassem àquelas potências.
9. Voltemos a 2014: no período eleitoral, delegados da polícia federal,
a que se atribui serem simpáticos ao PSDB, vazaram informações do inquérito
(operação Lavajato), em que investigam irregularidades em contratos entre a
Petrobrás e grandes empreiteiras de obras de infra-estrutura.
10. Há poucos dias, acabam de prender executivos dessas
empreiteiras, as quais, além de atingidas pelo escândalo, com repercussões
sobre futuras contratações, serão provavelmente condenadas ao pagamento de
pesadas multas.
11. Desavisados moralistas exultam com essa suposta demonstração de que as
instituições do País estejam combatendo eficientemente a corrupção. O PT louva
a presidenta por ter sancionado nova lei, que permite agir também contra os
corruptores.
12. O povo ilude-se e acredita que seja isso mesmo que está em causa. Desconhece
a natureza do jogo prevalecente nas altas esferas do poder, notadamente as do
poder mundial. Para isso concorre o tsunami de ignorância gerado pelos
investimentos que nela faz a oligarquia concentradora transnacional, há um
século.
13. A mega-corrupção exercida por essa oligarquia coopta
colaboradores em todas as estruturas econômicas e institucionais e,
ironicamente, usa, a seu serviço, a corrupção derivada, a de menor porte,
aumentada inclusive em decorrência do investimento na anticultura e na
destruição dos valores éticos.
14. É essa, a derivada, a que aparece, quando sua exposição serve aos
objetivos da estratégia imperial, produzindo grande comoção em amplos segmentos
da população e desviando o foco dos reais problemas e de suas fontes geradoras.
15. Sem acesso às informações sobre como a oligarquia financeira envolve
os poderes constituídos do Estado, infiltrados por seus interesses, o povo
concentra seu ódio sobre os corruptos expostos pela corruptíssima grande mídia.
Deveria desconfiar de que, se são expostos, é porque são os que estão causando
menor dano ao País.
16. Por que as grandes empreiteiras estão sob o fogo da repressão? Elas
constituem o principal núcleo de poder econômico no País que ainda não foi
controlado pelo capital estrangeiro. São exportadoras de serviços, ocupam
pessoal qualificado e se tornaram conglomerados que investem até mesmo em
tecnologia de uso militar.
17. Ademais, o escândalo que domina as atenções envolve também a
principal estatal do País, ou seja, uma das poucas empresas gigantes sob
controle nacional, apesar de infiltrada por quadros ligados às transnacionais
do setor e a bancos da oligarquia financeira angloamericana.
18. Para fechar, convém ter presente a penetração de ideias e a cooptação
por parte de entidades estrangeiras na Polícia Federal, notória desde que a
Delegacia Antitóxicos recebe ajuda de sua congênere norte-americana.
19. Não se deveria tampouco ignorar a política das numerosas agências de
inteligência dos EUA de atrair as simpatias de quadros das instituições-chave
do País, como a Polícia Federal.
20. O foco na corrupção, ignorando a fonte da mega-corrupção, é
instrumento do poder oligárquico mundial. Em geral, estão alinhados com este,
os que mais gritam contra a corrupção.
21. Um dos fatos fundamentais obliterados é que, no âmbito dos carteis
financeiros e econômicos, a ética pode ser tema de discurso, mas não faz parte
do objetivo central, o poder, nem do objetivo imediato, o lucro, independentemente
de como seja obtido.
Corrupção INSTITUCIONAL |
22. Expor as reais razões do escândalo das relações entre grandes
empreiteiras e a Petrobrás não é dizer que nelas houve corrupção. Isso, porém,
está sendo usado para favorecer grupos transnacionais, tradicionais comitentes
de n tipos de corrupção.
23. Entre eles, os permitidos pelas leis e políticas impostas aos países,
tais como tolerar as práticas monopolistas e demais formas de abuso do poder
econômico.
24. Não menos danoso para o Brasil é ferir de morte as empresas privadas
e públicas em que se mantém os últimos bastiões de autonomia tecnológica no
País, alvo que é do “apartheid tecnológico”, decorrente de os carteis
transnacionais dominarem o mercado, reforçado por acordos internacionais, como
o TRIPS no âmbito da OMC.
25. Os promotores da desestabilização da presidenta da República e do
golpe em curso são de dois tipos:
a) os colaboradores do sistema imperial, que nos
impõe, desde 1954, o modelo de dependência financeira e tecnológica, e utilizam
hipocritamente o pretexto da moralidade para desnacionalizar e
desindustrializar ainda mais a economia;
b) os enganados pelo alienado discurso moralista e
são arregimentados para solidarizar-se com a repressão destinada a eliminar as
empreiteiras e acabar de desnacionalizar a Petrobrás.
Nos tempos do antipátria FHC... |
26. Isso não significa que não se deva expurgar a estatal de seus quadros
corruptos. Se isso for feito, como se deve, vai-se notar que a maior parte
deles é ligada a grupos e a interesses das transnacionais estrangeiras, lá
colocados.
27. Isso ocorreu principalmente no governo antipátria de FHC, e a maior
parte dos corruptos permaneceu na Petrobrás e na ANP, nos governos petistas,
conciliadores em relação àqueles grupos. Esse é o caso, inclusive, do pivô do
escândalo, o delator premiado.
28. Enquanto a operação Lavajato ocupa o centro das atenções, e avança em
direção favorável ao objetivo de enfraquecer o já fragilizado poder econômico
nacional, são esquecidas as causas fundamentais dessa fraqueza.
29. Estas se situam no binômio modelo pró-imperial-envidamento público. A
propósito, o Brasil está com déficit recorde no balanço de transações correntes
com o exterior: US$ 85 bilhões por ano.
30. Essa sempre foi a causa do crescimento da dívida externa, desde que
JK (1956-1960) aplicou a política entreguista do golpe udenista-militar de
1954, que cumulou de favores os carteis transnacionais para monopolizarem os
mercados industriais do País.
31. A dívida externa ascendeu a US$ 541,42 bilhões, em
agosto último (R$ 1,4 trilhões ao câmbio atual). A dívida pública interna, a R$
3,067 trilhões.
32. O serviço da dívida (juros e amortizações) consome 42% das despesas
da União, e realimenta-se com as taxas de juros absurdamente altas e que, por
isso, não podem ser pagas só com recursos dos tributos.
Dívida Pública - Causa da pobreza |
33. A parte do serviço da dívida que o Tesouro paga com
as receitas corresponde ao “superávit primário”. Elaborei uma tabela, no
programa Excel, lançando o montante da dívida pública interna em 1994, e taxa
de juros de 3% aa..
34. Por que 3% aa.? Essa taxa supera a de muitos países, e não há base
para a ideia, sempre impingida ao público, de que se têm de combater a inflação
com juros elevados.
35. No Brasil, os preços são altíssimos, porque os carteis impõem os que
desejam, mais ainda que em outros países. Fosse outra a política, a inflação
seria moderada, e não ficaria ao sabor de farsas, como a do Plano Real.
36. Além dos juros 3% aa., inseri na tabela os montantes do primário, para resgatar dívida, implicando que
não haveria novas emissões de títulos para isso.
37. Resultado: mesmo sem superávit primário de 1995 a 1997, pois ele só
ocorreu em 1994 e de 1998 a
2001, a
União já teria eliminado a dívida interna, e sobrariam R$ 22 bilhões, em 2001.
38. Ora, com as absurdas taxas de juros comandadas pelo cartel dos bancos
e cumpridas pelo BACEN e, apesar de superávits primários totalizando, de 2002 a 2013 em valores
correntes, R$ 1,082 trilhões, a
dívida interna cresceu para quase R$ 3
trilhões.
[*] Adriano Benayon: Consultor
em finanças e em
biomassa. Doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo,
Bacharel em Direito, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Diplomado no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, Itamaraty. Diplomata
de carreira, postos na Holanda, Paraguai, Bulgária, Alemanha, Estados Unidos e
México. Delegado do Brasil em reuniões multilaterais nas áreas econômica e
tecnológica. Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
na área de economia. Professor da Universidade de Brasília (Empresas
Multinacionais; Sistema Financeiro Internacional; Estado e Desenvolvimento no
Brasil). Autor de Globalização versus Desenvolvimento, 2ª
ed. Editora Escrituras, São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.