Publicado em 02/01/2011 – por Mário Augusto Jakobskind
E chegamos à segunda década do Terceiro Milênio com muitos fatos novos que foram relegados a segundo plano em função não apenas das festas de fim de ano, como também por um certo desinteresse jornalístico dos jornalões e telejornalões. As redações preferem enfatizar o que faz todos os anos neste período a correr atrás de notícias relevantes.
O Globo, por exemplo, manipula até documentos liberados pelo site WikiLeaks, como aconteceu nestes dias com a “informação”, entre aspas mesmo, segundo a qual o MST tem “espiões no INCRA” e que haveria uma suposta prática dos assentados de “alugar a terra de novo ao agronegócio”.
Clifford Andrew Welch |
“Nunca falei e jamais falaria algo assim. No primeiro lugar, a palavra ‘espião’ é invenção do Globo, porque não aparece nos relatos diplomáticos disponibilizados pelos jornais”, denuncia Welch.
Sobre o aluguel de áreas de assentados ao agronegócio, Welch destaca que a coordenação nacional do MST é declaradamente contra essa prática e que a declaração aparece sem contextualização. Welch também era coordenador adjunto do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em 2009, quando recebeu a visita do Vice Consul Benjamin A. LeRoy do Consulado Geral dos EUA, em São Paulo.
E para o professor, o despacho diplomático que apareceu em O Globo sobre aluguel de lotes foi apresentado totalmente fora de contexto e parece, de fato, “cínico e irônico”. Entende o professor de História que “o relatório não contempla a pressão das usinas nos assentados, com oferta de dinheiro fácil para o plantio da cana de açúcar, que tem causado muitos problemas aos assentados, como demonstram várias pesquisas realizadas pela UNESP”.
A denúncia de Welch é extremamente grave e demonstra concretamente o comportamento de uma empresa jornalística que têm altos interesses no agronegócio e pauta suas matérias de acordo com o que melhor lhe convier. Isso, portanto, não é jornalismo, está muito mais para mercantilismo, leia-se grana mesmo, do que outra coisa.
Ainda em relação aos segredos revelados pelo WikiLeaks, a diplomacia estadunidense por aqui considerou num primeiro momento que o governo Lula adotou uma prática passiva em relação ao Presidente Evo Morales na questão do acordo sobre o gás.
Curiosamente, o mesmo tipo de posição dos diplomatas-espiões estadunidenses foi adotado pela direita brasileira. Na ocasião, editoriais da mídia de mercado, políticos do gênero pilantra só faltavam pedir a intervenção das Forças Armadas na fronteira do Brasil com a Bolívia. Teria sido mera coincidência esse tipo de posicionamento?
É claro que toda a informação do WikiLeaks que está sendo divulgado por O Globo, Folha de S. Paulo e de quebra os demais, devem ser vistos com um pé atrás, porque podem estar sendo objeto de manipulação grosseira, como aconteceu nas informações sobre o MST.
Fernando Henrique Cardoso |
Cardoso é um cínico falastrão, sem dúvida. Se ele tivesse sido governante em país com maior rigor de leis para os de colarinho branco, o ex-Presidente teria, isto sim, que estar respondendo na Justiça por uma série de denúncias que caem sobre o seu governo, sobretudo em relação às privatizações a preço de banana de estatais.
Já que o príncipe-sociólogo se julga tão bam-bam-bam e rei da cocada preta, porque será que até os seus próprios correligionários do PSDB o esconderam durante a campanha presidencial? É que o temor de que Cardoso tirasse votos era tão grande que foi preferível para a direita o manter no ostracismo.
Na antevéspera do fim do mandato de Lula, Cardoso volta de forma ainda mais ridícula a ocupar as páginas dos jornais. Seria o caso de perguntar: porque se reuniu com representantes de multinacionais do petróleo prometendo mundos e fundos caso Serra fosse eleito? Ele garantia, isso na calada da noite*, que se Serra fosse eleito, o petróleo voltaria a “ser vosso”, como já tinha dito o ex-genro, o entreguista David Zilbestayn.
Felizmente, os eleitores brasileiros deram a resposta.
Lula - popularidade |
Ah, sim: Lula, segundo a última pesquisa CNT-Sensus deixa a Presidência com 87% de popularidade, recorde mundial do gênero, superando até a figura histórica de Nelson Mandela. E se fizessem uma pesquisa sobre FHC certamente se confirmaria que o povo brasileiro tem repulsa a ele. Ou será que ainda há dúvidas a esse respeito?
A decisão de Lula em não conceder a extradição de Cesare Battisti para a Itália vai render. O premier Silvio Berlusconi, um aprendiz de Mussolini, usou linguagem de latrina, como é de seu feitio, com ameaças ao Brasil, imaginando que aqui fosse uma colônia ocupada. Está enganado. O país é soberano e o governo toma decisões baseado em fatos. No caso Battisti, a volta dele à Itália, segundo a Advocacia Geral da União, na palavra do Ministro Luís Inácio Lucena Adams, acarretaria risco de vida ao acusado que foi julgado à revelia e sem comprovação das denúncias formuladas por outro acusado que se valeu do artifício de ajudar a Promotoria para ser solto (delação premiada).
Dá-lhe Dilma, Presidente na segunda década do Milênio.
(*) O fato só veio à tona porque foi testemunhado por um jornalista que botou a boca no trombone deixando FHC e os seus de saia justa.
Enviado por Direto da Redação
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