sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Brasil e o oceano

Raul Longo

Raul Longo

No Brasil se contorna uma das 3 maiores costas atlânticas do mundo. E o Oceano Atlântico é a principal rota de comércio marítimo do mundo.

Todo país, até mesmo os prejudicados por não possuir saídas marítimas, dependem igualmente deste meio de transporte para suas produções. Mas o Brasil, pela natureza de seus principais produtos de exportação, é particularmente dependente da marinha mercante. E isso ainda mais se ressalta quando lembramos que fazemos fronteira com o país mais ao sul do mundo: a Argentina, e ao mesmo tempo 7% do território nacional está no Hemisfério Norte. Longitudinalmente nossa principal via de comunicação conosco mesmo é o mar.

Considerando ainda que a matéria prima básica de uma infinidade de produtos e principal fonte energética ainda empregada pela humanidade, até que se descubra outra, no Brasil é encontrada principalmente em águas oceânicas profundas; talvez sejamos entre todos os países onde a indústria naval se torna de maior importância.

Muito difícil definir onde o governo do PSDB foi mais inepto e irresponsável. Mas se não o maior, um dos maiores crimes praticados por aquele governo contra o Brasil foi a paralisação e desmonte da indústria naval brasileira. E, proporcionalmente, um dos maiores benefícios do governo Lula ao Brasil, foi a promoção de seu ressurgimento.

Em palestra ao Sindicato da Indústria de Construção Naval, enquanto ainda presidente, Lula lembrou que já tivemos a segunda mais importante industria naval do mundo, ultrapassada apenas pela do Japão. No entanto, a retração no setor que empregava 40 mil brasileiros, chegou a registrar em 2002 menos de 2 mil trabalhadores.

Somente em 2010, esse descalabro promovido ao longo do governo FHC custou ao país o déficit de U$ 6,4 bilhões em pagamentos de fretes internacionais.

Conforme informa Fernando Brito em O que existe agora, sobre indústria naval, só pode merecer o nome de Renascimento, somente a restauração e transformação pelo estaleiro Inhaúma de material sucateado e deteriorado pelo abandono, manterá no país mais de U$ 1 bilhão que se enviaria ao exterior para importação de embarcações e plataformas.

Desconsiderar o significado dessas importâncias e realidades é um claro sintoma de estupidez ou alienação. No entanto, apesar do governo Dilma se demonstrar tão sensível às questões sociais e ambientais quanto o anterior e nenhum outro antes deles, na questão da retomada da indústria naval têm dado mostras de imprevidência, como foi percebido aqui em Biguaçu no ano passado e neste ano em Porto Açu, no município de São João da Barra, no norte fluminense. E através do mesmo empresário que se orgulha de ser o homem mais rico do Brasil e se anuncia pretendente ao mesmo posto em âmbito mundial: Eike Batista.

No ano passado, às vésperas do pleito eleitoral, Eike Batista anunciou a instalação de um mega estaleiro no município de Biguaçu, através da dragagem de parte do estreito canal que separa a Ilha de Santa Catarina do continente, criando com isso enorme comoção entre moradores, pescadores e a comunidade científica da grande Florianópolis. Oceanógrafos das três principais universidades do estado, a Federal inclusive, provaram que o levantamento de impacto ambiental encomendado pela OSX, era uma fraude. Responderam com intimidações, mandando fotografar manifestações públicas, enviando olheiros às reuniões comunitárias e desconhecidos para seguir as lideranças pelas ruas. Toda uma série de procedimentos ridículos que provocou muitas comparações entre os remanescentes e sobreviventes do período da ditadura militar.

O Instituto Chico Mendes, órgão do Ministério do Meio Ambiente, desaprovou a instalação do projeto e isso provocou a mais descabida coalizão suprapartidária da história política do estado, além de pronunciamentos absurdos do então Ministro da Pesca sobre a inexistência da atividade da qual sobrevivem cerca de cinco mil trabalhadores direta ou indiretamente ligados a pesca e maricultura.

Engajado nos ideais de defesa das classes populares e dos trabalhadores brasileiros, tão quanto a então candidata à presidência ou o então presidente em exercício, distribuí diversos alertas pela rede de comunicação eletrônica, utilizando-me inclusive daqueles de apoio à campanha de Dilma Rousseff. Tive de fazê-lo até porque se me evidenciava que com o envolvimento de seus candidatos locais, aqui no estado o Partido dos Trabalhadores estava provocando um péssimo desempenho nas urnas para minha então candidata nacional.

De fato, a Presidenta teve poucos votos na região, o que felizmente não afetou sua vitória. Quantos aos candidatos do PT local, deu-se o esperado e imaginável, apesar de eu ter sido repreendido por diversos correspondentes, listeiros e blogueiros petistas de outros estados.

Voto no PT pelos seus candidatos e voto em candidatos com capacidade de reconhecer onde eventualmente tenham se enganado ou concluído mal. E sei que isso ocorre com todos os políticos ou qualquer ser humano. Mas somente os realmente inteligentes e honestos são capazes de reconhecer os naturais erros de avaliação ou enganos a que todos estamos sujeitos.

Somente os estúpidos é que não reconhecem quando erram e por isso mesmo são os que mais erram. Este é um dos motivos por nunca ter votado nos partidos e candidatos de outros partidos, inclusive dos que usam discurso da direita tentando se passar por esquerda.

As críticas que recebi à minha postura em relação a aliança do PT local às pretensões de Eike Batista, vieram de todos os estados, inclusive do Rio de Janeiro. Pois é a esses companheiros do meu saudoso Rio de Janeiro que peço que assistam às imagens deste link e assumam a defesa desses trabalhadores das terras desse estado , como junto com outros assumi a dos trabalhadores do mar da Ilha de Santa Catarina:


Estou certo de que serão capazes de entender que não estou aqui tentando demonstrar quanto estava certo, ou quanto estiveram errados. Até porque apenas aproveitei a oportunidade, pois o que realmente quero expor aqui é a falta de uma providência preliminar à tão desejável e necessária retomada da indústria naval brasileira.

Uma providência simples e que vai plenamente ao encontro dos anseios da Presidenta Dilma, tal qual brilhantemente expos da abertura do congresso das Nações Unidas. Urge, antes que Eike Batista promova em outros lugares a mesma comoção que está promovendo em São João da Barra e já o fez aqui na grande Florianópolis, que se desenvolva um levantamento de áreas litorâneas a serem exploradas pela indústria naval.

É fácil! Cada governo deve ter e os que não tiverem que providenciem um mapeamento ambiental, social e econômico da área litorânea de seus estados. Certamente os Ministérios do Meio Ambiente, da Pesca, da Marinha e das Ciências e Tecnologia, terão parâmetros para análise desse levantamento, de forma a produzir indicações neste imenso litoral brasileiro, ideais para a instalação de estaleiros e todas as atividades correlatas à indústria naval.

E pronto! Quer ser um empresário do setor é aqui. Não quer aqui, vai aplicar em outra coisa. Procure ser o mais rico do mundo com outra coisa.

O que não pode é se repetir o que já aconteceu aqui em nenhum outro estado brasileiro! O Promotor do Ministério Público de Santa Catarina questionou a diretoria da OSX sobre os motivos de não apresentarem justificativas para recusar localizações muito mais indicadas para o tipo de empreendimento, ao invés de insistirem justo na área de maior impacto sócio ambiental do litoral do estado.

Não responderam! Apenas: “Se não deixar fazer aqui, vamos pro Rio de Janeiro” – por diversas vezes Eike fez essa declaração em tom de ameaça. Resta saber a quem estava ameaçando: se catarinenses ou fluminenses?

Então como é que é? Voltamos ao tempo em que Rony Cord entrava na Rua Augusta a 120 por hora só para espantar Johnny e Alfredo?

Qual o medo da gang de Eike Batista?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.