sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Gilad Atzmon: “Tragédia Americana”


22/9/2011, Gilad Atzmon, em seu blog
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Para ler ao som de Gilad Atzmon e Nizaral-Issa,
 “Culturas da Resistência”, 2007

O repórter Yitzhak Ben-Horin de Ynet, em Washington, produziu ontem leitura clara e sucinta do recente discurso de Obama à Assembléia Geral da ONU: 

“Um Likudnic [1] na Casa Branca.” / “Netanyahu não teria escrito melhor.” / “Obama hoje, está alinhado com o partido Likud.” / “Obama é presidente pró-Israel (...) Desde janeiro de 2009, ofereceu a Israel tudo de que Israel precisou no campo diplomático e em termos de segurança”. [2]

Obama vai mal nas pesquisas. Claramente precisa ter o lobby Judeu ao seu lado. Ontem, o presidente dos EUA “entregou”; e o lobby reagiu rapidamente – “Israel não tem melhor amigo no mundo, hoje [que Obama]”, escreveu o presidente do Conselho Nacional dos Judeus Democratas [ing. National Council of Jewish Democrats], David Harris.

Segundo Ynet, horas antes do discurso à Assembleia Geral da ONU Obama tomou providências para que eleitores judeus prestassem atenção ao que diria lá.

“Três assessores de Obama organizaram reunião com apoiadores do presidente e líderes da comunidade judaica. Os assessores, todos judeus, pediram aos apoiadores que “divulgassem a palavra” de que Obama faria discurso pró-Israel, que “manifesta suas posições mais sinceras e genuínas” e “implorou que todos prestassem muita atenção ao discurso do presidente.”

Os três assessores judeus “destacaram que os Republicanos distorceram intencionalmente as palavras de Obama, para mostrá-lo como presidente anti-Israel, sem, de fato, qualquer argumento que confirme as palavras dos Republicanos.”

Se ainda havia alguém idiota o bastante para crer que os EUA poderiam algum dia ajudar a construir alguma paz no Oriente Médio, a verdade, agora, apareceu, à vista, inegável. O mundo político nos EUA está evidentemente sequestrado por um lobby estrangeiro, que representa interesses estrangeiros. Os EUA não conseguirão salvar-se, sozinhos, desse sequestro. O que vemos hoje, frente aos nossos olhos, é, basicamente, uma tragédia.

A tragédia grega sempre mostra a queda de um herói nobre, que cai, quase sempre, por uma combinação de húbris, destino e a vontade dos deuses. A tragédia dos EUA contém os mesmos elementos. Os EUA sempre se viram eles mesmos como ‘herói nobre’ desde a fundação da nação, e a húbris não é estranha à cultura norte-americana. O destino dos EUA está escrito na parede já há algum tempo. E, sobre deuses, alguém adivinha de que deuses se trata? Acho que Obama e seu partido acreditam que conheçam muito bem os que tentavam acalmar, ontem à noite. Acham que conhecem muito bem os deuses deles, porque vergonhosamente se misturam, o presidente e aquelas pessoas, uma vez por ano, na reunião anual do AIPAC [American-Israel Public Affairs Comittee].

Mas é possível que Obama e seus “assessores” estejam errados, nesse ponto. Os “deuses” deles não são absolutamente estúpidos, e já entenderam o que Obama está tentando arquitetar, como escreveu Ben Horin ontem. Eles sabem o que “segundo mandato de Obama” significa para Israel, em termos de política. Lembram, por exemplo, que na campanha eleitoral em 2000, George Bush prometeu transferir a embaixada dos EUA, de Telavive para Jerusalém; mas, quando foi reeleito, pressionou Sharon a retirar-se da Faixa de Gaza. Lembram também que o mesmo George Bush foi o presidente que apareceu ao lado de Mahamoud Abbas (Abu Mazen) e declarou que as negociações com os palestinos deveriam considerar a fronteira do armistício de 49.

Obama ilude-se, se supõe que tenha conseguido seduzir os “deuses”, e que eles agora estariam ao seu lado.

Ontem Obama cometeu grave erro pessoal. Mas pelo qual pagarão os norte-americanos, os israelenses e os palestinos. O que se vê aí é uma tragédia clássica, porque os EUA não têm poder político para salvarem-se, eles mesmos, dessa sua própria tragédia.

A única questão que talvez ainda interesse, nesse ponto da história, é quanto tempo os EUA demorarão para conseguir emancipar-se desses “deuses. 




Notas dos tradutores
[1] Do partido Likud (“União”, em hebraico), israelense, da direita conservadora; é uma coligação liderada pelo partido Herut dos sionistas conservadores. O Likud lidera o governo hoje em Israel, tendo como primeiro-ministro Benjamin Netanyahu; o partido tem 27 cadeiras no Parlamento, numa coligação que conta com 66 votos. 
[2] 19/9/2011, em: “Obama is the best thing Israel has going for it

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