segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Obama, o estado palestino e a esquizofrenia sionista

16/2/2011, Gilad Atzmon 

 (distribuído pelo autor, para a Rede Tlaxcala de Tradutores)
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu

Lembrança dos tradutores: 
para ler ao som de “Liberating the american people


Os que monitoram a imprensa israelense e conhecem o Estado Judeu talvez sintam-se intrigados ao ver que, enquanto a imprensa em hebraico dá pouca, quase nenhuma atenção ao movimento dos palestinos para verem reconhecido o seu estado independente, os veículos que publicam em inglês, em Israel, estão cheios de notícias sobre a possibilidade de a Assembleia Geral da ONU manifestar-se a favor dos palestinos, na próxima semana.

Quem queira entender essa clara discrepância entre a imprensa judaica em hebraico e em inglês, deve saber que lidamos aqui com uma clara cisão na psiquê coletiva dos judeus.

É possível que alguns ainda se surpreendam ao descobrir que Israel e muitos israelenses realmente desejam que a iniciativa dos palestinos vá adiante e tenha sucesso. Querem um Estado Palestino, porque é a única solução que talvez salve o “único estado dos judeus” de uma catástrofe demográfica.

Pesquisas recentes em Israel provam que a maioria dos israelenses mostra-se entusiasmada com a “Solução dos Dois Estados”. Os israelenses não só não se sentem ameaçados pela ideia de um Estado Palestino como, mais que isso, gostam da ideia, que resolverá a situação em que vivem, em quadro de normalidade ante a lei internacional. É preciso ter em mente também que o Partido Kadima, que venceu as duas últimas eleições em Israel, sempre foi a favor de um “desengajamento”, quer dizer, de haver completa separação entre “judeus” [aspas no original] e palestinos, com retirada unilateral dos israelenses. Em outras palavras, a declaração de um estado palestino visa exatamente ao mesmo objetivo: tira dos israelenses qualquer responsabilidade sobre os territórios palestinos que Israel ocupou e destruiu. 

É óbvio que alguns elementos em Israel opõem-se à iniciativa dos palestinos na ONU: creio que o ministro de Negócios Exteriores Avigdor Lieberman não anda muito feliz. Os que vivem em colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia também não estão felizes, mas, sabe-se lá por que, andam relativamente calmos nos últimos dias.

E, claro, o Lobby Judeu [orig. Jewish Lobby] em todo o mundo opõe-se total e completamente ao reconhecimento, pela ONU, de um Estado Palestino: o lobby, agarrado, sempre, a uma imagem muito simplória de um Estado Judeu expansionista, “do rio ao mar”. E nada sugere que, em futuro próximo, o lobby desista de seu sonho.

O que se vê aqui, na prática, é evidente crise de identidade, ou, mesmo, contra fluxo esquizofrênico: de um lado os israelenses; de outro, a diáspora sionista. Os israelenses estão rapidamente voltando à atitude do velho Gueto Judeu [orig. reverting to the old Jewish Ghetto attitude], preferem encolher, manter-se juntos e cercar-se com altos e impenetráveis muros de concreto. E a narrativa da Diáspora Sionista é confrontacional, beligerante, militantemente linha-dura e expansionista. Querem tudo, com ou sem palestinos.

Mais uma vez, vê-se que Israel e o sionismo evoluíram para dois discursos opostos e separados. Enquanto Israel busca manter a identidade racialmente orientada, com políticas de segregação, o discurso da Diáspora Sionista ainda insiste em resolver a Questão Judaica [orig. the Jewish Question] mediante conflito sem fim.

Mas consideremos, por um momento, os EUA: tentemos entender como a expressão “única superpotência” está lidando com o aparelho esquizofrênico judeucêntrico. 

O presidente Obama e sua administração estão evidentemente muito confusos. Por um lado, estão sujeitos à incansável pressão que sobre eles faz o lobby judeu. O lobby não deixa muito espaço de manobra para o governo dos EUA. Mas, por outro lado, os dois governos, de Israel e dos EUA, percebem que, no que tenha a ver com Israel e sua “segurança”, a iniciativa dos palestinos na ONU não é ideia, afinal, tão má. De fato, é o máximo que Israel pode rezar para que aconteça.

É claro, hoje, que o presidente Obama não será salvo por qualquer dos chamados “melhores amigos dos EUA”. Para o AIPAC [America-Israel Public Affairs Committee] e o Lobby Judeu, Obama é um instrumento. Hoje, o Lobby já está acostumado a ver os políticos dos EUA como fantoches subservientes. E Israel, por outro lado, tampouco salvará os EUA. Israel desconfia muito do governo Obama. Israel está basicamente farta do atual governo Obama. Israel gostará muito que Obama seja derrotado.

Consequentemente, o governo dos EUA anda célere rumo a uma humilhação inevitável na ONU. Será obrigado a vetar decisão aprovada por muito aliados dos EUA. É clara catástrofe para Obama. Mas há quem ainda possa salvar os EUA desse destino catastrófico: ninguém menos que o presidente palestino Mahmoud Abbas. Só Abbas e a Autoridade Palestina podem salvar os EUA da forca.

Examinem-se as coisas por seja qual lado for, tudo é muito embaraçoso. Significa que o presidente Abbas (figura relativamente fraca na política palestina e na diplomacia internacional) é a única figura em todo o mundo que pode salvar “a única superpotência” de nosso mundo de um fracasso diplomático.  

Ainda não sei dizer se tudo isso é triste ou cômico – mas não há dúvida de que a situação é volátil. A hora é agora, sem dúvida alguma, para que EUA, Grã-Bretanha e o Ocidente encontrem a coragem necessária para resistir ao Lobby Sionista e ao poder de Jerusalém.

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