Fim do Império?
Adriano Benayon 2011-08-24
O colapso financeiro recente, cuja primeira grande crise ocorreu em 2007, vai continuar produzindo incalculáveis danos para a humanidade. De fato, apesar de o colapso ser flagrante, os segmentos sociais revoltados por causa das consequências dele, não lograram organizar-se, nem arrebatar o poder dos que o tem causado.
2. No 2º semestre de 2011 estão presentes novamente os fatores explosivos que fizeram detonar a crise de 2007/2008, como derivativos em montante acima de US$ 600 trilhões, contando só os negociados diretamente entre as partes, sem incluir, portanto, os transacionados em Bolsas. A isso se soma agora a perspectiva de inadimplência dos Estados Unidos e de países da União Europeia em suas dívidas públicas.
3. Seis grandes bancos de Wall Street estão expostos em US$ 1,5 trilhão, só nas dívidas da Espanha e da Itália. Outro tanto, ou quase, de créditos a esses dois países está na carteira de bancos alemães e franceses.
4. As economias e as sociedades desses países afundam cada vez mais na depressão, enquanto o FED nos EUA e o Banco Central Europeu emitem moeda e dão créditos de graça aos banqueiros criadores e detentores de títulos podres privados e públicos, além de comprar esses títulos por muitíssimo mais do que valem.
5. O Escritório de Responsabilização (Accountability) do Governo - GAO, vinculado ao Congresso dos EUA, fez auditoria na Reserva Federal (FED) a pedido do senador dissidente Bernie Sanders. O relatório revelou que, de 01/12/2007 a 21.07.2010, o FED concedeu empréstimos secretos a bancos e corporações financeiras, no montante de 16,1 trilhões de dólares, quantia maior que o PIB dos EUA (US$14,5 trilhões).
6. Esse dinheiro não flui para a economia, vai para a especulação, e a perspectiva é de que a depressão se torne ainda mais trágica, por causa dos cortes nas despesas públicas e dos aumentos de impostos “para reduzir os déficits orçamentários”.
7. Observadores apressados animam-se com o fim do império, ao verem a continuada queda de valor do dólar e ao rebaixamento da cotação dos EUA, por parte de uma agência de risco de crédito.
8. Não avaliam que a oligarquia financeira se têm aproveitado do colapso que gerou, para dar imenso salto qualitativo na concentração, demonstrando, ademais, controle total sobre os governos das “democracias representativas”, as quais nada têm de democráticas.
9. Mesmo nos países centrais, os donos das finanças – e do poder – já haviam, desde os anos 80, feito crescer muitíssimo a concentração de riqueza real e financeira, determinando políticas públicas, como a fiscal, as quais os favoreceram cada vez mais. Após a virada do século, acumularam quantidades imensas de lucros mediante a fraudulenta explosão dos derivativos, um dos fatores que levou ao colapso.
10. Como o grosso desses derivativos não tem sustentação real, o prejuízo decorrente foi maior do que aqueles lucros. Entretanto, foi pago pelos Tesouros e bancos centrais.
11. A consequência disso é que, além de grandes bancos estarem de novo perto da falência por terem reincidido na bandalheira dos derivativos, agora também ficaram em situação de pré-inadimplência os Estados “soberanos”, que salvaram os bancos após a crise de 2007-2008.
12. Os Estados imperiais ainda pagam juros muito baixos em suas dívidas públicas demasiado altas (120% do PIB nos EUA), mas esse não é o caso, da periferia européia, na qual as taxas vêm subindo e agravando muito as coisas.
13. No Brasil a dívida pública ainda representa percentual tolerável do PIB, mas o “governo” e o BACEN parecem fazer questão de que o Brasil entre no rol dos falidos, pela composição dos juros às taxas absurdamente altas que decretam em prejuízo do País.
14. Voltando à questão nos EUA e Europa, passada a primeira crise do colapso financeiro, graças à incrível e imoral ajuda pública, a oligarquia fez elevar exponencialmente, através da depressão, o grau de concentração. Durante as depressões, o poder relativo dos concentradores cresce muito, com as perdas das empresas menores e dos assalariados, e aqueles se aproveitam para adquirir ativos a preços de liquidação, sem falar nos ganhos com novas especulações financeiras.
15. Com efeito, eles dominam as economias centrais e ainda mais as periféricas, de cujos recursos naturais se apossam celeremente, colocando a humanidade na rota da escravização total, para não dizer do extermínio.
16. Por enquanto, não é o império nem o capitalismo que está acabando. Quem está com a sobrevivência em perigo são as vítimas do capitalismo. Mais importante: às centenas de milhões de pessoas que já se danaram no processo, outro tanto vai sendo acrescentado ao rol dos destituídos e massacrados.
17. O sistema de concentração financeira e econômica nas mãos de poucos grupos e famílias oligárquicas (essa é a definição de capitalismo) prossegue causando estragos em escala crescente: desemprego, miséria, rebeliões de seu interesse, guerras de grande vulto planejadas pelos diretores do capitalismo, conscientes da desconstrução diabólica que estão realizando, a fim de tornar sua tirania cada vez mais absoluta.
18. Não se pode prever quando isso vai parar. Mas se poderia inferir a única maneira possível de conseguir: retirando das mãos dos donos da concentração e da tirania mundial o poder que eles detêm sobre os governos, os aparatos militares e os serviços secretos que comandam.
19. Embora cada vez mais horrores sociais e econômicos estejam acontecendo e gerando revolta, também cresce a repressão policial e o totalitarismo na desinformação. Esses horrores só acabarão, se as sociedades encontrarem um modo de conquistar o Estado e organizá-lo sob princípios do bem comum, somente viável sem bancos privados com direito a criar dinheiro e se forem quebrados os oligopólios e os cartéis.
* - Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon.df@gmail.com.
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Massacres imperiais
Adriano Benayon 2011-08-25
Em outro artigo em que trato do colapso financeiro, ponho em dúvida que o império esteja no fim, inclusive porque ainda é o poder militar que sustenta o dólar. Nessa linha, a oligarquia financeira perpetrou mais um latrogenocídio, para alijar da Líbia um regime cujo crime, aos olhos imperiais, foi melhorar muito as condições de vida de seu povo.
2. Em 24.08.2011, a NATO (organização composta pelas potências imperiais e satélites), relatou ter, nos últimos cinco meses, realizado 20.121 missões aéreas, incluindo 7.597 bombardeios. Não mencionou quantos mísseis destruidores lançou dos navios sobre alvos na Líbia, nem o número de mortes de civis, inclusive crianças, nem ter destruído a infra-estrutura, escolas, hospitais etc.
3. Essa é a “ação humanitária” alegada pelos sucessores de Goebbels. O atual período faz lembrar os anos 30, e as agressões hitleristas contra uma sucessão de países vitimados. Estavam os países centrais em depressão, ganhavam espaço o fascismo e novas empreitadas colonialistas.
4. Uma diferença é que a Alemanha nazista afetava estar de lado contrário ao dos controladores da City de Londres. Isso não era verdade. Hitler adorava a oligarquia britânica, a qual, de resto, patrocinou a ascensão dele ao poder. Banqueiros ligados à finança mundial complotaram para derrubar o chefe do governo, de menos de dois meses, de Kurt von Schleicher, ex-chefe do Estado-maior, apoiado por setores sociais com excelente plano de recuperação econômica, muito superior às idéias de Keynes.
5. A oligarquia jogou a carta de Hitler, que prometera, e cumpriu, atacar a União Soviética. Hoje, os continuadores do nazismo estão todos do mesmo lado, reunidos na OTAN.
6. Estas são algumas das razões pelas quais a Líbia foi covardemente violentada:
1) ter Gaddafi convertido em ouro dólares das reservas líbias e posto esse ouro a salvo de banqueiros estadunidenses; ademais, propôs que os países africanos passassem a realizar transações internacionais através de moeda própria a ser criada regionalmente;
2) ter a Líbia sido considerada, principalmente antes da agressão, presa fácil do ponto de vista militar. Ademais, as divisões tribais deveriam facilitar o êxito da subversão financiada, superarmada pelas potências hegemônicas e executada por tropas especiais da OTAN e do Catar. Não contaram com a resistência popular, favorável ao regime de Gadafi, incomparavelmente mais democrático que as “democracias” ocidentais. Nestas, o sistema representativo não representa os eleitores, mas, sim, quem os controla. Eleições e o pluripartidarismo não passam de engodos.
3) ter Gaddafi facilitado a tarefa criminosa da OTAN, ao fazer, desde há alguns anos, concessões às potências hegemônicas pensando em aliviar pressões. Isso acentuou a fraqueza da vítima, como aconteceu também no caso do Iraque, país militarmente mais poderoso que a Líbia (antes de ser massacrado). Ainda por cima, os sistemas anti-mísseis do Iraque eram britânicos e foram desativados pelos detentores dos códigos dos chips.
4) o objetivo de praticar o genocídio contra a Líbia, como ponto de partida para guerra mais ampla, estendendo-a à Síria e ao Irã. Setores da oligarquia anglo-americana influenciam o Pentágono no sentido de desencadear guerra de maior porte, até como válvula de escape face a movimentos de cidadãos norte-americanos e britânicos (entre outros) revoltados por estar sendo sugados e enganados pela oligarquia.
5) em conexão com o projeto de guerra, testar a China e a Rússia, passivas desde a capitulação de não ter vetado a resolução do Conselho de Segurança da ONU. Se essas duas potências (?) não assumirem posição mais firme, a escalada colonialista prosseguirá.
6) privilegiar as companhias do cartel anglo-americano e afastar as chinesas, russas e indianas do petróleo líbio; além disso, os predadores ocidentais querem saqueio livre e, não um governo, como o de Gaddafi, que cobrava impostos para investir em seu país e menos suaves que os dos protetorados tipo Arábia Saudita, Coveite, Catar, Emirados etc.
7. Dir-se-á: “por que a França participou tão ativamente, tendo suas FFAA, junto com as britânicas, feito a maior parte do trabalho sujo?” Bem, desde Napoleão, à exceção da era De Gaulle, a França sempre foi manipulada pela oligarquia britânica e depois anglo-americana. Ademais, há as águas do Grande Rio, projeto vitorioso de Gaddafi, que as companhas francesas Suez e outras querem fazer privatizar, como têm feito mundo afora.
8. Sarkozy deve sua carreira política à oligarquia anglo-americana. Esta o ajudou de novo, massacrando Dominique Strauss-Kahn, que seria candidato à presidência da França, embora o objetivo principal fosse forçá-lo a deixar a direção do FMI, pois DSK, entre outras coisas, apontou que não existem as alegadas reservas de ouro dos EUA.
9, De fato, O Estado policial dos EUA e serviços secretos foram acionados para prender DSK, em Nova York, de forma humilhante e injusta. Depois, ele ficou em prisão domiciliar, foi substituído no FMI por uma apaniguada de Sarkozy e, só após mais de três meses, acaba de ser liberado para retornar à França, por não haver provas das infames acusações que determinaram sua prisão, efetuada com arbitrariedade nunca antes vista.
10. É sob o impacto de tantas e tão contundentes demonstrações de indecência, que se aproxima o décimo aniversário, em 11 de setembro, de outra conspiração criminosa: a implosão, planejada pelos oligarcas, das torres gêmeas de Nova York, para, junto com outras mentiras, aterrorizar as pessoas e condicioná-las a ver os “islâmicos” como inimigos e causadores do terror.
*Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras, abenayon.df@gmail.com.
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