Publicado em 31/08/2011 por Mair Pena Neto
Veja colocou a pá de cal em sua decadente trajetória com a matéria publicada na última edição, na qual se valeu de todos os métodos, inclusive criminosos, para corroborar uma de suas teses, desta vez a de que o ex-ministro José Dirceu conspira contra o governo de Dilma Rousseff.
A matéria não se sustenta jornalisticamente, com uma série de ilações e conclusões frágeis, porém o mais grave foi o seu método de apuração, com recurso à espionagem, invasão de privacidade e outros delitos, o que levou seu repórter a ser denunciado pelo hotel em que José Dirceu estava hospedado por tentativa de violação de domicílio. Para quem não leu a matéria ou o que já foi escrito sobre ela, o repórter da Veja hospedou-se no mesmo hotel de Dirceu, em Brasília, e tentou por duas vezes entrar no quarto do ex-ministro, primeiro passando-se por hóspede do apartamento que tinha esquecido as chaves, e, depois, por assessor da prefeitura de Varginha que fazia questão de deixar no quarto "documentos relevantes".
O que pretendia o repórter caso fosse bem sucedido em sua empreitada? Fuçar papéis e documentos do investigado? Roubá-los caso encontrasse algo que fosse ao encontro da tese da reportagem? Quem o orientou a agir dessa maneira? Seu chefe imediato, os editores da revista, o dono da editora que a publica? As perguntas são muitas e todas complicam ainda mais a situação de Veja e sua forma de fazer jornalismo.
A revista foi além e publicou imagens gravadas no corredor do andar do hotel em que Dirceu se encontrava, que mostram o ex-ministro com outras figuras da política brasileira. Veja não esclarece como obteve as imagens, mas parece pouco provável que as tenha conseguido com o próprio hotel, o que reforça as suspeitas de que tenha instalado algum equipamento por conta própria, o que aumenta a gravidade do delito. Trata-se, primeiro, de um caso de polícia. Depois, de grave atentado à ética jornalística.
A desfaçatez de Veja impressiona ainda mais, pois ocorre pouco após o escândalo do comportamento criminoso e, consequentemente, desprovido de ética do tablóide News of the World, do império midiático de Rupert Murdoch, que espionava personagens da vida pública inglesa como procedimento editorial assumido. O caso do jornal londrino não só está fresco em nossa memória, como ainda ocupa os tribunais ingleses, com jornalistas presos e respondendo a processos.
Há um bom tempo, Veja perdeu credibilidade perante boa parte dos leitores com capacidade crítica e de observadores do comportamento midiático. A recente reportagem pode ter sido o passo final para sua sentença de morte. A revista semanal não deve ser extinta, como o News of the World, mas tende a se tornar cada vez mais leitura ligeira de sala de espera de consultórios médicos, sem o prestígio outrora desfrutado.
A matéria de Veja colocou jornalistas e toda a imprensa perante a necessidade de responder à sociedade sobre que tipo de ofício praticamos. Somos todos imprensa marrom? Não temos limites nas nossas apurações? Vale tudo na busca de uma informação? Compactuamos com este tipo de jornalismo? Creio que jornalistas, empresas jornalísticas, sindicatos e associações precisam se manifestar claramente, repudiando o procedimento da revista. Do contrário, nos locupletamos.
Veja colocou a pá de cal em sua decadente trajetória com a matéria publicada na última edição, na qual se valeu de todos os métodos, inclusive criminosos, para corroborar uma de suas teses, desta vez a de que o ex-ministro José Dirceu conspira contra o governo de Dilma Rousseff.
A matéria não se sustenta jornalisticamente, com uma série de ilações e conclusões frágeis, porém o mais grave foi o seu método de apuração, com recurso à espionagem, invasão de privacidade e outros delitos, o que levou seu repórter a ser denunciado pelo hotel em que José Dirceu estava hospedado por tentativa de violação de domicílio. Para quem não leu a matéria ou o que já foi escrito sobre ela, o repórter da Veja hospedou-se no mesmo hotel de Dirceu, em Brasília, e tentou por duas vezes entrar no quarto do ex-ministro, primeiro passando-se por hóspede do apartamento que tinha esquecido as chaves, e, depois, por assessor da prefeitura de Varginha que fazia questão de deixar no quarto "documentos relevantes".
O que pretendia o repórter caso fosse bem sucedido em sua empreitada? Fuçar papéis e documentos do investigado? Roubá-los caso encontrasse algo que fosse ao encontro da tese da reportagem? Quem o orientou a agir dessa maneira? Seu chefe imediato, os editores da revista, o dono da editora que a publica? As perguntas são muitas e todas complicam ainda mais a situação de Veja e sua forma de fazer jornalismo.
A revista foi além e publicou imagens gravadas no corredor do andar do hotel em que Dirceu se encontrava, que mostram o ex-ministro com outras figuras da política brasileira. Veja não esclarece como obteve as imagens, mas parece pouco provável que as tenha conseguido com o próprio hotel, o que reforça as suspeitas de que tenha instalado algum equipamento por conta própria, o que aumenta a gravidade do delito. Trata-se, primeiro, de um caso de polícia. Depois, de grave atentado à ética jornalística.
A desfaçatez de Veja impressiona ainda mais, pois ocorre pouco após o escândalo do comportamento criminoso e, consequentemente, desprovido de ética do tablóide News of the World, do império midiático de Rupert Murdoch, que espionava personagens da vida pública inglesa como procedimento editorial assumido. O caso do jornal londrino não só está fresco em nossa memória, como ainda ocupa os tribunais ingleses, com jornalistas presos e respondendo a processos.
Há um bom tempo, Veja perdeu credibilidade perante boa parte dos leitores com capacidade crítica e de observadores do comportamento midiático. A recente reportagem pode ter sido o passo final para sua sentença de morte. A revista semanal não deve ser extinta, como o News of the World, mas tende a se tornar cada vez mais leitura ligeira de sala de espera de consultórios médicos, sem o prestígio outrora desfrutado.
A matéria de Veja colocou jornalistas e toda a imprensa perante a necessidade de responder à sociedade sobre que tipo de ofício praticamos. Somos todos imprensa marrom? Não temos limites nas nossas apurações? Vale tudo na busca de uma informação? Compactuamos com este tipo de jornalismo? Creio que jornalistas, empresas jornalísticas, sindicatos e associações precisam se manifestar claramente, repudiando o procedimento da revista. Do contrário, nos locupletamos.
Enviado por Direto da Redação
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