[*] Raul Longo
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Ilustrações
catadas na internet pela redecastorphoto
Vista da Ponta do Sambaqui da janela do Pouso da Poesia |
Chega!
Cansei desse negócio de defender minorias. E maiorias também!
Que
adianta ser negro se segundo o censo o sujeito é maioria? E mulher? Aí é como
dizia o Mário Reis: que parte mais fraca é essa, se juntas são uma fortaleza
contra qualquer homem? Coitados de nós se cada vizinha defender a outra! Já
imaginou?! Não dá nem para tomar umas sossegado e chegar em casa dando esporro,
porque no que virou a esquina trançando as pernas o camarada já toma uma
camaçada de pau ou de panela da mulherada da vizinhança toda, só por prevenção!
Tem jeito isso?
Não
defendo mais ninguém, não! Muito menos pobres e oprimidos! Pobre aonde? Segundo
a Danuza Leão que sabe bem dessas coisas, pra encontrar pobre hoje em dia só em
fila de check-in de voo
internacional!
A
última oprimida que vi por aí foi àquela paulistana em passeata da Av.
Paulista, histericamente pedindo intervenção militar e a volta da ditadura
militar porque sente falta de liberdade de expressão. Com claros sintomas escleróticos
a jovem xingou a Dilma e o Lula de tudo quanto é nome.
E
com toda a razão!
Afinal
que país é esse em que não se pode nem expressar livremente e se é obrigado a
reconhecer que nunca o povo brasileiro viveu tão bem? Como é que posso falar ao
contrário se o governo rouba minha liberdade de expressão melhorando
continuamente o cotidiano da vida do povo brasileiro?
Isso
é uma puta censura! Muito pior do que a ditadura! Na ditadura não se podia
falar mal, mas se podia manter o senso e a sobriedade. Agora, para falar mal
tem de se perder o senso e cair no ridículo como aconteceu com a coitada da
garota! Não é horrível?
Localização do Pouso da Poesia na Ponta do Sambaqui, Florianópolis |
Daí
resolvi aderir e também vou sair por aí distribuindo bofetada nos mais fracos e
oprimidos, em toda essa gentinha fedida e diferenciada! E assim, sob a
orientação do ex-sociólogo soborbanno
(não confundir com suburbano pra não causar revolta nas periferias) resolvi
aderir ao movimento e já comecei a segregar como demonstro nessa reprodução de
conversa telefônica ocorrida recentemente:
-
Oi Raul! É a fulana.
-
Fulana?...
-
É... A Fulana de São Paulo!
-
São Paulo?!!!... Um momentinho.... (voltando): – Difa aí Fulanha.
-
Ué!... É a ligação ou você ficou fanho de repente.
-
Fão!... É refite!
-
Rinite?! Ih rapaz, nem me fale! Com essa poluição de São Paulo isso vive me
atacando! Na falta de água a coisa piorou muito porque não dá pra tomar banho e
a gente é obrigada a dormir com a poluição grudada no corpo.
-
Pra faver xexo deve fer uma nofeira!
-
Nem me fale! Atrito de fuligens!
-
Imafino!
-
Então Raul, por isso mesmo é que estou te ligando. Aí na tua pousada tem água,
né?
-
Fabe como é? Lugar turísfico sempre falta na tempofada, mas tenho reserfatório
de 10 mil fitos e minha Cantafeira nunca seca porque a noite o fornecimento da
fágua regurafiza.
-
Que bom! Parece sonho!
-
É!... Estamos na mesma estiafem, mas apefar de também inoferante em muita coisa
o gofernador de Santa Catafina até que não é tão fuim como o daí, e por enfanto
não tefe problema no abastefimento!
-
Êêê Raul!... Você sempre dando suas alfinetas políticas! Então vamos mudar de
assunto que não quero discutir sobre isso. Você tem vaga aí por umas semanas?
-
Pra fando?
-
O mais urgente possível. Eu e o Nando, meu namorado que você vai conhecer, não
aguentamos mais! Mais de mês sem fazer sexo por causa da fuligem, imagine! A
última vez foi quando fomos pra Natal. Nordestino pra todo lado, mas ao menos
água tinha.
-
Fei! E querem fir pra cá para tomar fanho, né?
-
Fanho tá é você! Mas a gente quer isso mesmo! Banho de mar também, mas importante
mesmo é o de chuveiro. Quanto tá a diária?
-
Pra paufista é 400 dófares!
-
400 dólares!
-
Por paufista! Focê e seu namorado: oitofentos.
-
Ficou maluco Raul! Isso é diária de hotel de Miami!
-
Num fei! Perfunta pro Joafim Barfosa!
-
Pera lá Raul! Isso não é possível! Que história é essa de preço em dólar? E por
que pra paulista? Quanto é pra carioca, mineiro, nordestino?
-
Oifenta reais.
-
Porra Raul! Por que essa especulação? Já sei!... Paulista é burguês, tem
dinheiro! Mas acontece que a gente trabalha, viu? Somos a locomotiva do Brasil!
-
Então manda o gofernador infestir em trem elétrico pra Maria Fumaça não enfer
de fuligem o feu xexo com o namorado.
-
Olha aqui Raul! Isso é a prova de que vocês eleitores de Lula e Dilma não
passam de um bando de nazistas cheios de preconceitos. Fascistas! Racistas
preconceituosos! Ignorantes, insuportáveis! O Brasil ficaria muito melhor se
fossem todos pra Cuba!
-
Paulistinha, a culpa não é minha se pela terceira vez vocês elegem o Robin sem
Batman que se não conseguiu nem conter o PCC dentro de presídio estadual de
segurança máxima, quanto mais o nível dos reservatórios de água!
-
Ué... Acabou a renite?
-
Renite nada! Tapei o nariz para não sentir o fedor de fuligem de paulista pelo
telefone.
-
Vai tomar banho!
E
bateu o telefone na minha cara antes de confirmar se interessava ou não a
hospedagem com banho e tudo por apenas 400 dólares ao dia, na promoção especial
para paulistas.
Fazer
o quê? Fui tomar banho, mas ela não. Se tenho olfato sensível, não é pra
segregar?
Eu, logo depois do banho... |
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[*] Raul Longo - Nascido
em 1951 na cidade de São Paulo, atuou como redator publicitário e jornalista
nas seguintes capitais brasileiras: São Paulo, Salvador, Recife, Campo Grande e
Rio de Janeiro, também realizando eventos culturais e sociais como a “Mostra de
Arte Sulmatogrossense”, (Circulo Cultural Miguel de Cervantes/SP), “Mostra de
Arte Latinoamericana” (Centro Cultural Vergueiro/SP) e o Seminário Indigenista
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/CG). Premiado em concursos
literários nacionais promovidos pelo Unibanco, Rede Globo e Editora Abril; pelo
Circulo Cultural Miguel de Cervantes; e pelo governo do Estado do Paraná.
Publicou Filhos de Olorum – Contos e cantos de candomblé pela Cooeditora de Curitiba, e poemas
escritos durante estada no Chile: A cabeça de Pinochet, pela Editora
Metrópolis de São Paulo. Obteve montagem de duas obras teatrais:Samba/Jazz of Gafifa, no teatro Glauce
Rocha da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande; e Graças
& glórias nacionais, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo.
Atualmente reside em
Florianópolis, Santa Catarina.
Oi, Raul, adorei....Minha filha e eu vamos para a sua pousada qualquer hora dessas. Vivemos em Juiz de Fora.....e somos nordestinas....
ResponderExcluirOI, Raul. Adorei o texto. E a pousada também. Assim que der, minha filha e eu iremos ai. Vivemos em Juiz de Fora e somos nordestinas com orgulho.
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