Discurso do dia da Ashura, do martírio do Imã Hussein, em 27/10/2014
31/10/2014, vídeo (em árabe), transcrito para francês em The French Saker
Excerto traduzido do francês pelo pessoal da Vila Vudu
“O que vivemos atualmente no mundo islâmico e em particular na nossa região, à luz dos desenvolvimentos dos últimos anos, e do crescimento em poder, na expansão e na área que controlam, de uma das correntes que chamamos “takfiri”, com territórios já muito extensos em alguns países árabes e islâmicos, e com suas práticas horrendas, bárbaras, ultrajantes, às quais assistimos e das quais ouvimos falar dia e noite, tudo isso nos convoca para que tomemos posição com coragem, e, também, para que definamos claramente a natureza do perigo que aí está, com a tomada do controle por corrente takfiri de um ou de outro país árabe ou muçulmano, ou, mesmo, de vários países.
Meus irmãos e irmãs! Com toda a franqueza – e meu objetivo será simples e claro; e também serão simples e clara as provas que lhes exporei – e, como é hábito meu, evitarei qualquer terminologia erudita ou complexa. Assim, com plena franqueza, sem exagerar coisa alguma, sim, se pode dizer que os perigos que hoje ameaçam o Islã são comparáveis àqueles que enfrentamos nos anos 60-61 da Hégira [martírio do Imã Hussein, num momento no qual o Islã esteve ameaçado de extinção].
Primeiro, há a ameaça que aquela corrente impõe sobre o Islã, como religião, como mensagem, como valores e princípios. Como? Vou-lhes demonstrar que, sim, há perigo real.
Para começar, essa corrente reivindica o Islã, no discurso; reclamam para eles o Corão, e como preveem algumas profecias, para a nossa época, esses indivíduos conhecem de cor o Corão. Decoram o Corão e o invocam à guisa de prova, recitam versículos no discurso público deles. E, isso, mesmo quando invadem, degolam, matam ou consumam uma daquelas atrocidades deles, que retransmitem pela televisão ou pela internet, invocam Deus em tudo que dizem: “Deus Todo-Poderoso disse, etc”.
Evidentemente, compreendem mal os versículos corânicos e baseiam-se em simulacros. Cometem erros graves na compreensão e na interpretação do Corão – mas essa é pesquisa exegética à parte, que não cabem aqui e agora.
O que é preciso ter em mente é que para cada um de seus atos, eles invocam a autoridade de versículos corânicos ou de hadiths falsificados e falsamente atribuídos ao Profeta (Que a Paz Esteja com Ele). Inventam que o Profeta teria dito uma coisa ou outra.
Implica dizer que não justificam seus crimes por atribuí-los a um pensador, a um professor, ao xeique, ao mestre ou ao movimento do qual são adeptos, e cujas pegadas e voz eles seguem com os atos deles. Mas procuram atribuir aqueles crimes diretamente ao Livro de Deus o Todo Poderoso e ao Seu Profeta – paz e bênçãos de Deus sobre ele e sua família.
Evidentemente, esse é procedimento muito perigoso. O que querem obter com isso? Trata-se de implantar no espírito das pessoas, caso após caso, dia após dia, ano a ano, que isso seria o Islã! Querem divulgar a ideia de que o Islã é aquilo que eles fazem, não que o que eles fazem é ação de alguma seita desviante ou rejeitada pelo Islã, e que nada tem com o Islã, não. Querem fazer crer que o Islã é o que eles fazem!
Por isso é que começamos a ouvir, em alguns pontos do Ocidente, mas também em nossa região, gente que diz que não é que estejamos diante de interpretação diferente do Islã – porque há escolas diferentes e divergentes no Islã, correntes diferentes de pensamento –, mas sim, que o Islã é, mesmo, o que aqueles takfiri dizem que o Islã seria! “A religião de vocês é isso! O Corão de vocês é esse! Esse é o Profeta em que vocês creem!” Evidentemente, aí está algo muito, muito perigoso.
Com o tempo, essa ideia se enraizará nos espíritos e essa compreensão errada, falsa, infame do Islã, do Livro do Islã, o Corão, e do Profeta do Islã, paz e bênçãos de Deus sobre ele e sua família.
Não tenho dúvidas ao afirmar que o que estamos vendo hoje é a maior distorção do Islã, em toda a história. E digo-o com toda a convicção.
Em primeiro lugar, a natureza dos eventos que se desenrolam hoje têm poucos exemplos na história, embora haja precedentes e, sim, se encontrem um ou outro exemplo assemelhado, aqui e ali.
Mas o mais grave é a segunda razão que lhes exponho agora, a saber: vivemos hoje uma época em que há muitos e muitos meios de comunicação, a mídia, que distribui vídeos, imagens, sons, ideias, palavras e falas, para dentro de cada casa e de cada orelha, pelo mundo todo.
No passado, atrocidades semelhantes podiam até acontecer, mas não eram tão insistentemente divulgadas, não eram convertidas em imagens e som, em alta definição e detalhadamente. Antes, atrocidades semelhantes só foram reveladas bem depois de terem sido cometidas.
Mas hoje tudo se faz online. Hoje se degola online. Massacres em grande escala são transmitidos ao vivo. Há profusão de sons e imagens para cada crime que se comete pelo mundo.
E todos sabemos que imagens e sons são muito mais marcantes para espíritos, corações e sentimentos, que a fala ou a palavra escrita.
Por isso é que o que se passa hoje é a maior ameaça que o Islã jamais enfrentou, no que tenha a ver com degradar valores, ensinamentos, o pensamento e a reputação do Islã.
Consequência disso tudo, é, em primeiro lugar, que os não muçulmanos afastam-se do Islã.
Hoje, em muitos países do mundo, há quem não seguia religião alguma, seja por que lhes faltasse algo no plano do pensamento, do dogma, da espiritualidade, da moral. E muitos, quando começam a saber mais sobre o Islã, convertem-se a ele.
Há adoradores de ídolos no mundo. Há muitos princípios e dogmas variados. Muitos, em dado momento da vida aceitam o Islã, acolhem o Islã, e em muitas partes do mundo.
O que porém está acontecendo hoje? Aquelas pessoas estão sendo expostas a algo que se faz passar pelo Islã e, ainda mais grave, fazem-se passar pelo único Islã autêntico, pelo Islã verídico – porque aquela gente insiste sempre muito nessa terminologia: “autêntico”, “verídico”, “certo”, “reto”, etc..
Claro que quem veja aqueles crimes pergunta-se “Mas é isso o Islã? Então, não quero nem ouvir falar nisso!” Recusar-se-ão até a discutir qualquer coisa, a aproximar-se, a pesquisar, a perguntar.
A segunda consequência é que tudo isso distancia os não muçulmanos, dos muçulmanos. Porque isso apresenta os muçulmanos como um bando de bárbaros, de criminosos sedentos de sangue, que não podem coexistir com absolutamente nenhum ser humano. Naturalmente, isso expõe as comunidades muçulmanas, os grupos e os povos em todo mundo, aos perigos do isolamento, da animosidade e a sentimentos de hostilidade.
A terceira consequência, que é igualmente muito perigosa, é que tudo isso distancia os próprios muçulmanos, do Islã. Há muitos muçulmanos que pouco sabem sobre o Islã. E se a mídia põe-se a repetir “Veja aqui o que é o Islã, os xeiques do Islã, os professores do Islã, os jihadistas do Islã, os degoladores do Islã”... muitos daqueles muçulmanos dirão: “Para mim, basta! Nada tenho a ver com essa religião nem com o Islã”. » Essa é a razão pela qual assistimos hoje ao começo – não quero ampliar os fatos, mas em mais de um país árabe, até na Arábia Saudita, no Egito, noutros pontos, já começam a crescer os números do ateísmo, ou já se começa a falar de uma onda de ateísmo.
Por que tudo isso é importante? Por que nos preocupar com isso? Porque, no passo seguinte, acontecerá de muitos porem em dúvida o Corão, a profecia de Maomé (Que a Paz Esteja com Ele), de duvidarem de que seja ou não um Profeta, até porem em dúvida a própria existência de Deus.
Como diz a expressão popular: “viraram muçulmanos sem fé”, é precisamente o que acontecerá. Já se veem sinais disso em vários locais. Não digo que seja movimento significativo, de grandes proporções, mas falo como medida de precaução, porque já há evidências, já se veem começos, e começos perigosos.
Tudo isso toca até os crentes mais firmes e fervorosos do Islã. Chega um momento no qual, por causa da repetição insistente, por meses, anos, por exemplo: “Terroristas explodem prédios? Explodem e, ao mesmo tempo gritam Allahu Akbar!” [Deus é o maior]. “Terroristas degolam? Degolam e, ao mesmo tempo, gritam Allahu Akbar!” Seja qual for a barbaridade que alguém cometa, ouvem-se gritos de Allahu Akbar!, como a mídia não se cansa de repetir e repetir. Forçosamente, chegará um momento em que, se se ouvir alguém dizer Allahu Akbar!, todos pôr-se-ão a esperar por uma explosão, um assassinato, um degolamento, uma catástrofe horrível qualquer, sempre acontecida em países árabes e muçulmanos, entre povos árabes e muçulmanos.
Daí se chega rapidamente à desmoralização de todo o pensamento islâmico, dos hábitos, da cultura, dos símbolos, das tradições islâmicas. O hijab (véu), a abaya (vestido longo) tornam-se manifestação chocante, etc.. A barba torna-se sinal de perigo. A palavra “jihad” vira sinal de perigo. A palavra “mártir” vira palavra infame.
Não é claro que há aí perigo grave para todo o Islã? O que, afinal, é o Islã? O Islã é seus conceitos, seus ensinamentos, seus valores, seus hábitos, suas tradições.
Aí está o primeiro ponto, no que concerne à ameaça que pesa sobre o Islã.
Em seguida, tem-se de considerar também a ameaça contra a estrutura geral da Nação (islâmica), porque de fato esse Estado Islâmico ameaça nossa Comunidade inteira: esfacela essa Comunidade, a divide, torna lícito o assalto ao sangue, aos bens, à honra, aos santuários, às mesquitas, às igrejas que constituem uma outra parte dessa Comunidade, a todos os monumentos e relíquias históricas, a tudo que se relacione à história, todos os túmulos, etc., nada mais pode existir, tudo está ameaçado.
A cena geral que o Estado Islâmico oferece é cenário de esfacelamento, de destruição, de guerra sangrenta. Observem a região: por toda a parte veem-se conflitos sangrentos, aqui, ali, por toda a parte.
Por quê? Por que chegamos a isso?
A ponto de que as pessoas já não podem mais falar umas com as outras, nem dialogar, nem encontrar uma via política, sequer encontrar um modo de se entender umas com as outras. Qual é a causa disso tudo?
Claro que há várias causas e várias razões, mas uma das principais e primeiras é que se implantaram em nossa região forças e movimentos que não se dispõem ao diálogo, nem ao debate, que acreditam que possuiriam a verdade absoluta, que veem todos que sejam diferentes deles sempre como coisa negativa, radical, intransigente e odiosa, da qual falarei adiante. Essa é a causa principal. Voltaremos a esse assunto, depois dessa primeira parte. E permitam-se concluir essa primeira parte com o seguinte: sim o que se passa atualmente em nossa região e no mundo é grave ameaça contra o Islã, como religião; e também é grave ameaça contra a Comunidade e as sociedades islâmicas, como entidades [fim do excerto transcrito].
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