John Nichols, 13/9/2010, The Nation – Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
As páginas de editorial dos jornais, cuja energia já está minada por décadas de obediência corporativa aos patrões, tornaram-se ainda mais tediosas nos últimos anos.
Com algumas notáveis exceções – o consistente conservadorismo do Wall Street Journal, o liberalismo razoavelmente palatável do St. Louis Post Dispatch –, a vitalidade dos jornais, que se exauriu em infinitos editoriais ocos, já não existe e já não toca as almas; perdeu, até, qualquer potencial para contribuir para o processo democrático, como sonharam (Lá nos EUA! Não no Brasil!) os fundadores.
Na maioria, os jornais diários nas grandes cidades só fazem defender o mais tedioso status quo, temerosos de desafiar as expectativas mais medíocres e os saberes mais convencionais. Assim aconteceu de a maioria dos jornais nos EUA terem apoiado a guerra no Iraque – quando tinham o dever de opor-se –, assim como a maioria dos jornais, hoje, continua a apoiar a ocupação do Afeganistão. A maioria apóia acordos de ‘livre-mercado’ que roubam empregos nas comunidades. A maioria apóia o ‘resgate’ dos grandes bancos que assalta os contribuintes para sustentar especuladores. E a maioria apóia candidatos à reeleição dos partidos com os quais cada jornal mantém associação de décadas.
Mas esse ano, o Boston Globe quebrou essa escrita, e passou a apoiar empenhadamente a candidatura de Mac D’Alessandro, sindicalista e militante de causas de interesse público, cuja candidatura faz oposição a um congressista-figurão do Partido Democrático que muito desapontou seus eleitores.
Lynch não é o pior Democrata do Congresso. Votou contra, por exemplo, o ‘resgate’ dos grandes bancos, que recebeu apoio de outros Democratas.
Mas posicionou-se do lado errado em inúmeras outras votações. Por exemplo, apoiou a invasão e a ocupação do Iraque, quando todos os demais deputados e senadores de Massachusetts – liderados pelo falecido senador Edward Kennedy – defendiam mais discussão sobre o assunto, antes de qualquer decisão.
Em outra questão cara ao coração de Kennedy – dar remédio que devolvesse à vida o quebrado sistema público de saúde – Lynch resistiu mais contra uma reforma real que qualquer outro representante do estado, e mais que muitos outros Democratas no Congresso.
Tudo isso abriu espaço para que Lynch fosse desafiado, nas primárias dos Democratas, por D’Alessandro, ex-diretor político da unidade, em Massachussets, da Internacional Sindical de Funcionários Públicos.
E, semana passada, o Globe declarou apoio a D’Alessandro, sob o argumento de que “o candidato é defensor articulado dos trabalhadores, aproximado do ex-representante do distrito de Boston, o grande Joe Moakley”.
O Globe explica que “D’Alessandro tem bases na região. Formado na Faculdade de Direito de Boston, dedicou-se ao trabalho de organizar comunidades, primeiro através do [sindicato] Greater Boston Legal Services, aonde chegou ao cargo de diretor legislativo e trabalhou pela implantação de programas de treinamento, e, mais recentemente, como diretor político da unidade, em Massachussets, da Internacional Sindical de Funcionários Públicos. Parece evidente que a timidez de Lynch na luta pela aprovação da reforma da saúde, abriu espaço para o desafio de D’Alessandro. Mas a disputa contra Lynch também tem a ver com energia e estilo pessoal. D’Alessandro diz que “esse distrito precisa de defensor e representante mais firme, alguém que defina prioridades com clareza e trabalhe para produzir resultados mensuráveis.”
É movimento inteligente, do jornal. E não é movimento fácil. A reeleição é campanha sempre mais fácil e Lynch conta com o empenhado apoio do [jornal conservador] Boston Herald, além do apoio de várias lideranças trabalhistas e do Partido Democrata, numa cidade onde é figura pública há décadas.
Mas a decisão de The Globe, de se posicionar contra a tendência geral dos grandes jornais, honra esse jornal. É um raríssimo sinal de vida inteligente na chamada “grande mídia”, já moribunda, entregue a tediosa ‘discussão’ de tendências econômicas e à competição comercial pura e simples.
O artigo original, em inglês, pode ser lido em: The “Boston Globe” Backs a Challenge to Politics as Usual
[No Brasil, além dessas tediosas ‘discussões’ e competição ‘comercial’ marketosa metida a ‘sociológica’ e metida a besta – que, sim, é só o que se vê no ‘jornalismo’ paulista –, não se deve esquecer o MUITO tedioso e salafrário moralismo tosco, repugnante, ignorante, burrificante de neo-senhoras-de-Santana no cio, como D. Dora Kramer, D. Danuza Leão, D. Lucia Hippólito (para citar só três, de uma coorte de desatinadas que desgraçam o jornalismo que desgraça o Brasil-2010), além, claro, da imbecilidade caluniosa, leviana, tola, imbecilizante, metida a ‘ética’ e ‘inteligente’ do tal de Sêo Fernando (de barro) (e Silva [“nenhum presta. Nem o Duque de Caxias escapa”] da Folha de S.Paulo) já comentada no Editorial de hoje - logo abaixo.