sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A TURMA DA “LIBERDADE DE EXPRESSÃO”


Laerte Braga


Março de 2002. Líderes de oposição ao presidente Hugo Chávez fecham com a CIA, o Departamento de Estado e aval do presidente George Bush, um golpe para derrubar o líder bolivariano. Um dos pontos principais foi incluir a mídia privada no processo, parte decisiva, em duas pontas.

A primeira delas, a venezuelana, fabricando notícias falsas e a latino-americana, demonizando Chávez e transformando-o em “ditador sanguinário”. A preparação da opinião pública com um objetivo muito simples. O que foi uma tentativa fracassada de golpe pretendia ser uma “retomada da democracia”.

Lá, esqueceu-se de combinar com o povo e milhões de pessoas recolocaram Chávez no governo três dias após o golpe.

Aqui, um mês antes, a GLOBO, parte do esquema, enviou Miriam Leitão à Venezuela para uma série de reportagens exibidas no JORNAL NACIONAL mostrando a “insatisfação popular” contra o governo Chávez e na última delas, o arremate da jornalista – “a Venezuela e os venezuelanos não agüentam mais Chávez”.

Estava feita a cama para o golpe. Evitar que a opinião pública fosse “contaminada” pela idéia que elites militares, políticas e econômicas rechaçadas nas urnas fossem as autoras de um golpe de estado.

Vender a “democracia”.

Derrubaram e prenderam Chávez na quinta, no sábado e no domingo milhões de civis desarmados ocuparam as ruas das principais cidades do país, militares legalistas se levantaram e no domingo à noite Chávez retornou ao palácio Miraflores.

Agosto de 2002. Como não suportaram o revés sofrido no golpe fracassado, os adversários de Chávez, com apoio norte-americano, se valeram de um dispositivo constitucional criado no processo bolivariano, que permite uma espécie de recall do presidente da república e de todos os que detêm mandatos eletivos.

Um referendo para determinar se Chávez deveria ou não continuar presidente. Uma infinidade de organizações internacionais monta bases na Venezuela para “fiscalizar” a votação e impedir “fraudes”. Dentre as entidades e figuras de peso internacional, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter.

Chávez toma uma atitude inusitada até então. Para assegurar a transparência no processo de votação, nos locais onde os eleitores votam em urnas eletrônicas brasileiras, determina que haja também o voto impresso. Ou seja, se alguma suspeita surgir, é só contar o voto impresso. O processo eleitoral não se resume a um amontoado de disquetes.

Chávez vence o referendo com mais de 50% dos votos e Jimmy Carter declara aos jornalistas que cobriam o acontecimento – “os venezuelanos mostraram que desejam o presidente Chávez como seu governante, espero que ele tenha juízo”. O morde e assopra.

Não conseguiram derrubar Chávez num golpe montado pela mídia e generais caquéticos subordinados a Washington, nem num referendo popular.

Chávez é reeleito e a oposição, nas eleições parlamentares anteriores, decide não concorrer.

A mídia privada continua a chamar o presidente da Venezuela, eleito, reeleito, confirmado pelo voto popular, de “ditador”. Miriam Leitão, lógico, não apareceu para explicar porque a “Venezuela e venezuelanos não agüentam mais Chávez”. Isso não é problema dela, como “profissional”, foi lá, falou o que o patrão mandou, recebeu e pronto.

E continua fazendo tudo igual, mesmo depois que Requião, ex-governador do Paraná, chamou-a publicamente de “mentirosa” e a moça teve que engolir em seco, ela e Pedro Bial, o tal dos “meus heróis”. Mentiram, não tinham como negar, mentem sempre.

No governo do presidente brasileiro João Goulart não existia ainda o Ministério das Comunicações. O setor era objeto de competência de vários ministérios e a Casa Civil era a última palavra sobre o assunto.

Jango, através de Darcy Ribeiro, entendeu que era hora de ampliar os canais de participação popular no processo político como um todo. Nada melhor, àquela época, que emissoras de rádio para sindicatos, associação de moradores, entidades da chamada sociedade civil organizada, enfim, voz para todos os segmentos sociais no Brasil.

A mídia privada reagiu de forma insana. Onde já se viu uma rádio para bancários discutirem questões pertinentes à categoria? Ou o cidadão do bairro X em todos os bairros ou comunidades do Brasil expor pubicamente os problemas de sua comunidade e cobrar providências desde consertar uma rua a questões como saúde, educação, lazer, transportes públicos, etc.? Saber onde estava indo o dinheiro do imposto?

Um professor, uma professora, através de uma emissora de rádio, poder criticar desde a falta de condições mínimas nas escolas públicas estaduais e municipais até o salário de fome, ou o aposentado debater critérios e leis que dissessem respeito à sua sobrevivência?

Como é que ia ficar o deputado tal, o vereador xis, vai por aí afora, expostos e vulneráveis à opinião pública que não fosse aquela veiculada pela mídia privada?

Como é que iam vender sabão que tira todas as manchas se de repente um cidadão, uma cidadã poderia mostrar uma camisa que teimava em ficar manchada?

Danaria tudo.

Liberdade de expressão para a mídia privada é simples. Tocar a opinião pública como gado.

O maior grupo privado de comunicação no Brasil, GLOBO, constituiu-se fora da lei, a partir de capitais estrangeiros, fato denunciado até por Carlos Lacerda, golpista de carteirinha, dentro do processo que montou o golpe militar de 1964. E pelo roubo, via documentos falsos, do Canal 5 de São Paulo.

Quando, em 2006, no dia da eleição presidencial (foram eleitos também governadores, senadores, deputados federais e estaduais), logo que conhecidos os resultados, o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião, disse diante de jornalistas que Miriam Leitão era “mentirosa”, Pedro Bial idem e que a mídia privada de seu estado ibidem, um boy chamado de jornalista de um jornal daquele estado levantou-se e tentou defender o “patrão”. Requião foi curto e grosso. “Assenta aí puxa-saco”. O cara assentou.

Na Argentina de Perón se costumava dizer que o argentino podia votar em quem quisesse desde que fosse em Mariazinha. Eram dois os principais jornais de circulação nacional àquela época. LA DEMOCRACIA e LA NÁCION. Os argentinos gostavam de dizer que Perón pregava a democracia e vendia a nação.

Os norte-americanos perceberam a importância da comunicação de massas via grandes conglomerados privados a partir da derrota militar no Vietnã. Ou por outra, sabiam do papel da comunicação, mas foi a partir daquele conflito que aceleraram o controle sobre a mídia como um todo em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Com o fim da chamada guerra fria estenderam seus tentáculos a todos os cantos do mundo.

No Brasil detêm o controle de grupos como GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO, VEJA, etc. Não necessariamente o controle acionário, mas sustentam essas empresas. De forma direta ou indireta através de empresas que aqui se encastelam no esquema FIESP/DASLU (contrabando, sonegação, entreguismo e corrupção).

Quando a Polícia Federal prendeu uma das donas da DASLU o senador Antônio Carlos Magalhães considerou um “ultraje” que aquela senhora elegante, dona de uma das lojas mais refinadas do País sofresse o mesmo tratamento que qualquer “bandido comum”.

Quando, neste ano, em Santa Catarina, o filho de um dos diretores da RBS, amiga, afiliada, com dois amigos estuprou uma jovem, silêncio, total absoluto. Coisa de garoto devem ter pensado.

A mídia privada só se estendeu no noticiário dos fatos envolvendo a DASLU quando a Polícia Federal exibiu as provas incontestáveis da pilantragem (a filhsr de Alckmin fazia parte do esquema).

Funciona mais ou menos assim, todo mundo sabe. Se é negro, p.. e pobre, cadeia. Foi o que ACM quis dizer. Mas se é dona da DASLU, luvas de pelica.

Daniel Dantas silenciou a mídia privada no episódio de sua prisão pelo delegado Protógenes Queiroz e deve ter pago uma nota, pois a GLOBO estava meio que de nariz torcido com o banqueiro e as coisas se ajeitaram. Questão de preço.

O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo foi protagonista de um evento a favor da liberdade de imprensa. Uma resposta à reação da mídia privada quando pega no contrapé da mentira costumeira, diária e em berros histéricos pela “democracia”. A tal que pregam, enquanto entopem o cidadão comum de anestesia para que a Nação possa ser vendida por pilantras como Arruda Serra, assim como o foi por “doutores” como FHC.

Há um dado novo, um elemento como qual não contavam – os bandidos – no processo eleitoral deste ano. Não basta contratar marginais e montar dossiês como o fizeram em 2006, ou antes, em 2002, na necessidade de arranjar 250 milhões de dólares para não ir à falência (GLOBO).

A INTERNET, a BLOGSFERA.

Sai uma pesquisa montada como a do DATAFOLHA (DATAFALHA) e em menos de meia hora os dados falsos estão desmontados.

À noite, o VOX POPULI mostra outra que retrata a realidade do momento, o papel da pesquisa, em termos de intenção de votos.

Arruda Serra, cada dia mais Maluf, vociferou contra a quebra do sigilo fiscal de sua filha Verônica Serra, sócia de Verônica Dantas (irmã de Daniel Dantas), até quando percebeu que tudo não passava de “precaução” do ex-governador de Minas, Aécio Neves, seu colega de partido, em meio ao tiroteio que precedeu a indicação do candidato tucano à presidência.

Aí, diante de um grupo de jornalistas, deu um chilique, disse que não responderia a perguntas sobre o assunto, levantou-se e só não foi embora por conta de um acordo, tá, vamos perguntar sobre programa de governo. Mas, antes, só queria denunciar a tal quebra de sigilo. E no final exigiu a fita com a gravação de seu ataque histérico. Mas ficou o som gravado...

Maluf pelo menos sorri e diz que o Paulo Maluf de Jersey, com CPF idêntico, é “homônimo”. Arruda Serra ainda não atingiu esse estágio de cara-de-pau, mas chega lá.

A proposta de um Código Nacional de Telecomunicações é do governo do general Geisel, ditadura militar. A GLOBO mantém deputados e senadores debaixo do tacão da chantagem, nas negociatas políticas, para que a matéria não seja apreciada.

Nos EUA, país que financia e sustenta – direta ou indiretamente – essa mídia venal, a legislação proíbe que grupos proprietários de tevê tenham jornais e rádios e vice versa, para evitar a concentração, o monopólio. E olhe que lá tem FOX e CNN.

Ou seja, proíbe grandes conglomerados como aqui, monopólio.

Monopólio funciona mais ou menos assim. Você está experimentando uma roupa dentro de uma cabine numa loja qualquer e descobre um trem no seu dente. Olha no espelho e vai com o dedo para tirar. Sem mais nem menos entra um batalhão de cinegrafistas, locutor, etc, para dizer a você que colgate tem um produto mágico que deixa os dentes brilhando e pronto. À saída, de esguelha, a locutora, vestida como dentista, ainda dá um leve olhar, rápido, fugaz, para você infeliz que ainda não sabia que colgate resolve doze problemas bucais.

Com uma conquista fundamental, você pode tomar água gelada sem problema.

Daí a um boy chamado de jornalista como William Bonner chamar o telespectador comum de idiota na forma de Homer Simpson, é um passo. Não que o telespectador seja um idiota (claro que os há), mas é a forma como é considerado.

É a liberdade de expressão da mídia privada.

A verdade única e absoluta. A revelação divina vinda de Washington, Wall Street, seja como sabão que limpa e tira todas as manchas, seja no creme dental, seja na pesquisa falsa, ou nas denúncias montadas e orquestradas ao final da campanha eleitoral, por um motivo simples.

Como não há tempo hábil para que seja apurada a calúnia deliberada, calculada, é uma tentativa de ludibriar e enganar.

É claro que esse tipo de gente tem direito a opinião. Mas isso é outra coisa. Não é mentira. Nem notícias distorcidas, denúncias e dossiês montados.

A ira desses grupos neste momento passa pela perspectiva que a internet e a blogosfera abriram para desmontar toda essa sujeirada de VEJA, GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO e os delírios de seus boys.

São dois problemas. A derrota eleitoral e o medo de perder o bridão, o freio, com que tentam manipular a opinião pública.

O medo do debate, da participação popular. Do cidadão comum poder dizer que a GLOBO mente. Que VEJA é uma porcaria. Ter pena do ESTADO DE SÃO PAULO, os caras ainda acreditam que D. Pedro II governa o Brasil.

Liberdade de expressão na cabeça dessa gente, da mídia privada, é aquele negócio que a gente vê em filme, em fotografias, um monte de cidadãos em fila, marchando em passo de ganso para o matadouro e gritando Heil Hitler.

E os sacos de dinheiro continuam enchendo todo o esquema DASLU sem nota fiscal, ou sem a quinta via, como se dizia no tempo de Adhemar de Barros, professor honoris causa da Universidade Paulo Maluf, onde Arruda Serra já tomou o lugar de reitor.

E haja DATAFOLHA. Haja IBOPE.

Se alguém der o azar de encontrar com Miriam Leitão e suas previsões catastróficas numa encruzilhada, não se assuste. Basta carregar um dente de alho no bolso e mostrar, foge correndo. Já William Bonner é mais complicado. Dente de alho, cruz e estaca.

É tal de liberdade de expressão, a deles. O resto? Querem que sejamos mudos.