A hora é já!
“Não se pode acreditar no que se vê em nenhum jornal.
A própria verdade torna-se suspeita, se é colocada nesse veículo poluído.”
Thomas Jefferson, carta a John Norvell, 1807.
A carta em que Thomas Jefferson escreveu o que aí isso é absolutamente existente e verdadeira. Foi escrita quando Jefferson já era presidente dos EUA e depois de a experiência da vida pública ter enterrado, há anos, as esperanças iluministas do mesmo Jefferson, e que o haviam levado a supor, antes, que melhor seria imprensa sem governo que governo sem imprensa.
Se é verdade que a inexperiência da juventude levou Jefferson a dizer que melhor imprensa sem governo que governo sem imprensa, a maturidade e a experiência da velhice ensinaram-lhe exatamente o contrário: melhor nenhum jornal, que jornal tendencioso, mentiroso, partidarizado e fascistizante.
Só o autismo pervertido dos próprios jornalistas mantém viva a frase da inexperiência iludida da juventude e oculta aplicadamente a frase da experiência realista da maturidade. E aí fica, o pobre Jefferson, sempre usado como álibi para todos os crimes da ‘mídia’ e dos jornalistas criminosos, corruptos, venais ou – que também os há – dos jornalistas que são sincera e convictamente fascistas e fascistizantes, ativos desdemocratizadores da opinião pública.
Sem falar, é claro, em jornalista de jornalão paulista vendido como jornal sério, e que, pela manhã editou o Estadão e no final da tarde, no mesmo dia, matou a tiros uma namorada em ataque de perversidade PESSOAL a qual, evidentemente, o jornalista lido como opinião a ser levada a sério e ensinada à juventude não bebeu com vinho do almoço.
Na mesma segunda carta de Jefferson sempre atentamente ocultada pelos jornalistas profissionais, Jefferson diz, com todas as letras, sobre experiência que se tem facilmente, sempre que se tome a providência sanitária de não ler (no que aqui nos interessa) os jornalões brasileiros:
“O homem que não lê jornais está mais bem informado que aquele que os lê, porque quem não leia jornais está mais próximo da verdade que aquele cujo espírito seja repleto de falsidades e erros”.[1]
O problema, de fato, não é só de os horrendos jornalões brasileiros – porque são jornais de má qualidade técnica, produzidos por profissionais tecnicamente insuficientes – serem sempre repletos de falsidades e erros. O problema maior é os jornalões brasileiros serem produzidos por profissionais viciosos, absolutamente incapazes de filtrar, do que escrevem, o que nunca passa de ou opinião ou desejo PESSOAL dos jornalistas e colunistas.
Pode-se dizer que erros e falsidades podem sempre ser corrigidos por melhor leitura-interpretação da realidade. Mas opiniões e desejos PESSOAIS de jornalistas e colunistas não podem ser ‘corrigidos’ (e nem essa palavra aplica-se completamente), sequer quando são opiniões e desejos ativamente desdemocratizatórios, que causam infinitos danos à própria democracia, e analfabetizam – muito mais do alfabetizam – a opinião pública para a vida política.
Aí, se não para corrigir, mas para compensar opiniões e desejos ativamente democratizatórios de jornalistas e colunistas fascistas e fascistizantes, o único remédio seria outro jornal (muitos! Vários!), o mais completamente diferentes entre si que fosse possível. Das muitas opiniões diferentes, a opinião pública construiria opiniões diferentes que se confrontariam numa discussão social ampla e de cuja discussão, aos poucos, brotaria a maior quantidade possível de verdade.
Se, por definição, não se pode esperar que jornais-empresas sejam essencial e fundamentalmente diferentes uns dos outros, porque jornais-empresas são empresas e empresas são essencial e fundamentalmente semelhantes em seus objetivos de lucro, poder-se-ia esperar, pelo menos, com boa fé democrática, que alguma boa técnica, ou algum cuidado atento para produzir melhor jornalismo desse conta, pelo menos, de compensar, com jornalismo de ativa democratização, os jornalismos de ativa desdemocratização da opinião pública que houvesse. De uma discussão social de melhor qualidade, brotada de jornalismo de melhor qualidade, nasceria melhor opinião pública. E de melhor opinião pública se poderia esperar melhor democracia.
Nada disso se vê no Brasil. A melhor democracia no Brasil se está contruindo CONTRA os jornais, os jornalistas e o jornalismo.
No Brasil, todos os grandes jornais são péssimos – de péssima qualidade, para começar, técnico-jornalística. Produz-se no Brasil um dos piores jornalismos do mundo. Prova disso é que, no Brasil, todos os grandes jornais são idênticos. Todos. Não escapa um. Todos são absolutamente idênticos. É ler e ver.
Diferente do que pensam os péssimos jornalistas e colunistas que operam no jornalismo brasileiro, a opinião monoliticamente idêntica e cansativamente repetida em todas as colunas e ‘opiniões’, por aqui, não produz melhor informação sobre o mundo.
A única coisa que se aprende, de ler os jornalões brasileiros, nada tem a ver com algum fato, com alguma informação, com alguma verdade pressuposta. A única coisa que se aprende, de ler os jornalões brasileiros, só tem a ver com a cabeça dos próprios jornalistas e colunistas: todos são profissional e academicamente mal formados, todos são autistamente convencidos da verdade de suas fés fundamentalistas arrogantes e fátuas.
Para piorar, nenhum jornalista brasileiro é jamais desafiado a trabalhar para ser melhor jornalista ou produzir melhor jornalismo: dado que todos só fazem repetir o que já exista em cada respectiva cabeça e todos repetem as mesmas fés fundamentalistas arrogantes e fascistizantes... todos se sentem satisfatoriamente recompensados e seguros para... continuar, todos, a escrever a mesma coisa, cada dia mais distantes do mundo e dos fatos.
De oferecer fatos e melhor jornalismo à opinião pública ninguém cogita – nem por impulso ético democratizatório pessoal, nem por impulso ético democratizatório profissional.
E os patrões-empregadores desses jornalistas fascistizantes autoindulgentes e vaidosíssimos dão-se por satisfeitos, eles também, com a unanimidade burra que iguala todos os jornalistas e colunistas do péssimo jornalismo brasileiro, porque a unanimidade burra de todos os jornalistas e colunistas do péssimo jornalismo brasileiro torna operacionais, como mão de obra abundante (e portanto barata), todos os jornalistas e colunistas incompetentes e fascistizantes que trabalham no jornalismo brasileiro.
Parte da tragédia do jornalismo brasileiro explica-se também pela fragilidade da crítica acadêmica, cujos vícios já se veem reproduzidos hoje também na crítica não acadêmica, popular, de rua, que se faz espontaneamente, aos péssimos jornais e ao péssimo jornalismo brasileiro.
Muita gente sabe ver e dizer que o jornalismo brasileiro é péssimo, que a televisão brasileira é chatíssima, que as revistas semanais brasileiras são ilegíveis, insuportáveis, que os programas de entrevistas pressupostas ‘inteligentes’, no Brasil, são burríssimos, que os ‘especialistas’ e ‘consultores’ e ‘embaixadores’ empregados de empresas e Fiesps' são incompetentes, mal informados, viciosos e repetitivos. Mas, desgraçadamente para todos, ninguém, nem os críticos, sejam acadêmicos sejam populares, sabem fazer melhor jornalismo.
Dessa coorte de desatinos resultam o ‘prestígio’, a ‘legitimidade’ e o poder tão absoluto quanto inadmissível de que se beneficiam ainda hoje alguns jornalistas e colunistas no Brasil.
Em boa democracia, nenhum jornalista, jornal ou jornalismo pode ter o poder de determinar, sequer de influenciar, resultados eleitorais.
É absolutamente inadmissível que dois ou três bandidos, autoproclamados jornalistas, reunidos numa sala de redação privada, possam, impunemente, escrever e publicar o que bem entendam, as mentiras que mais favoreçam seus pessoais interesses, as calúnias que lhes sejam encomendadas, o achincalhe que mais satisfaça as taras e ganas pessoais doentias de dois ou três jornalistas ou bandidos ou paranóicos ou perversos ou tudo isso ou, mais simples, apenas idiotas. É absoluta e completamente inadmissível. Mas é só o que se vê no péssimo jornalismo brasileiro.
É como se a liberdade liberal de empreender valesse, no Brasil, mais para a empresa jornalística do que para qualquer outro tipo de empresa.
Ninguém é livre para empreender a fabricação de salsichas envenenadas. Ninguém é livre para empreender o tráfico de drogas mortais. Mas qualquer bandido ou doido, ou pervertido, ou fascista sincero e que se leve muito a sério, ele mesmo, é livre para empreender a fabricação e promover a venda livre de jornalismo envenenado.
E a tal ponto vai esse desvario, por aqui, que serviços que são objeto de concessão pública são ‘concedidos’ – afinal... são concedidos POR QUÊ?! – e, imediatamente depois de ‘concedidos’, são postos ou põem-se acima de qualquer tipo de controle pela sociedade e acima de qualquer fiscalização. Fiscalização pela vigilância sanitária, que fosse, já pouparia o Brasil de ler as opiniões de dona Dora Kramer ou de dona Danuza Leão!
Se se controlam até a produção de alimentos e de remédios, ambos absolutamente indispensáveis à vida e, por isso mesmo, ambos, se não forem controlados, também passíveis de ser usados para matar, por que não há nenhum tipo de controle democrático sobre o jornalismo, no Brasil?
Assim como é absolutamente indispensável que se impeça que cheguem aos consumidores alimentos envenenados ou podres e remédios adulterados, assim também é absolutamente indispensável que se impeça que cheguem aos consumidores os produtos envenenados, mortíferos para a democracia, podres, oferecido por esse jornalismo obsceno que se vê pela bancas de jornais e revistas no Brasil.
“Na prestação de serviços de informação aos cidadãos, a concepção liberal de liberdade de expressão é maléfica à cidadania, porque institucionaliza e legitima o monopólio privado da crítica e da opinião, com base no poder discricionário de apenas alguns jornalistas colunistas ou jornalistas empresários ou empresários que empregam jornalistas, nenhum dos quais tem qualquer legitimidade política para representar a opinião dos cidadãos.”[2]
Quem, algum dia votou em D. Dora Kramer, no Sr. Clóvis Rossi, nos editores e redatores e apresentadores do “Jornal Nacional”, de “Canal Livre”, de “Roda Viva” ou nos proprietários e editores e jornalistas da revista (NÃO)Veja? Em William Waack? Em Merval Pereira? Em D. Danuza Leão?! Dona Danuza Leão?! Mas por que, diabos, interessaria a alguém alguma opinião de D. Danuza Leão?! Quem, diabos, se interessaria por alguma opinião de D. Danuza Leão, se esse cadáver não tivesse sido arrancado do formol e da dignidade de uma velhice burra, mas muda, pelo ‘jornalismo’ (haja aspas!) da Folha de S.Paulo?!
Nada, de fato, em boas democracias, justifica que esses indivíduos, esses profissionais, essas senhoras e senhores e essas empresas comerciais monopolizem a prerrogativa de definir a agenda pública, com a consequente escolha do enquadramento temático e ideológico para os debates públicos. Isso, para não falar outra vez no absoluto absurdo, no absurdo inadmissível, de haver indivíduos nos quais jamais alguém votou... e aos quais se dá o direito (inadmissível, fascistizante, desdemocratizatório) de pautar a opinião pública.
De fato, a pauta nascida das cabeças individuais desdemocratizatórias e ativamente fascistas e fascistizantes desses indivíduos e empresas nada tem de democraticamente pública. É pauta privada, pauta privatizada e, no fundo, pauta individualmente definida, aos sabores das idiossincrasias, das crenças, das opiniões dos desejos pessoais de indivíduos, colecionados em empresas comerciais, para as quais o fascismo militante desses jornalistas-pessoas é conveniente.
O Brasil vive dias terríveis. O voto democrático dos brasileiros está sob sítio de algumas empresas e empresários ‘jornalísticos’ – e de seus jornalistas empregados ou servis ou imbecis ou fascistas sinceros, convictos.
Não cremos que o golpe jornalístico em curso no Brasil chegará a alterar dramaticamente os resultados eleitorais. O Brasil cresceu e amadureceu nos anos dos governos do presidente Lula. Demos passos gigantescos, também, no campo do aprendizado político.
É verdade que o eleitor brasileiro se foi democratizando – porque casa, comida, emprego, esperança de vida melhor são fatores que fazem avançar a consciência democrática e esse avanço da consciência democrática é só mais um dos serviços que os dois governos Lula prestaram ao Brasil. E tudo isso se fez apesar e contra o jornalismo, os jornalistas e os jornalões brasileiros que, hoje, já são a vergonha do jornalismo universal.
E é verdade também que, em oposição declarada ao avanço democrático no Brasil, o jornalismo, os jornalistas e os jornais brasileiros, fascistizaram-se muito, muito rapidamente. Nunca antes na história desse país o jornalismo brasileiro foi mais miseravelmente rasta
Por tudo isso, nada leva a temer que o jornalismo brasileiro consiga derrotar o desejo eleitoral dos eleitores brasileiros.
Mesmo assim, é importante não deixar passar a hora de ver que, assim como o desejo eleitoral dos eleitores brasileiros derrotará mais uma vez a oposição burra e fascisitizante que por aqui se construiu e engordou, o nosso desejo eleitoral e os nossos votos democráticos derrotaremos, mais uma vez, também os jornais, jornalismos e jornalistas burros e fascistizantes que desgraçam o Brasil.
Viva o Brasil! Dilma é o terceiro mandato de um Brasil que, afinal, começou a amadurecer e a tomar vergonha.
É hora de boicotar todos os jornais, jornalistas e jornalismo que ainda trabalham para derrotar o Brasil. A hora é já!
[1] As duas citações estão em Venício Alves de Lima, “Anotações sobre Jefferson e a imprensa”, Observatório da Imprensa, 24/8/2004.
[2] Antonio Teixeira de Barros, resenha de TARGINO, Maria das Graças. “Jornalismo cidadão: informa ou deforma?”, Brasília: Unesco/ IBICT, 2009. 258 p. ISBN: 978-85-7013-065-5. In Revista Ciência da Informação, vol. 38, n.1, Brasília, jan.-abr. 2009.
comentário da Vila Vudu