27/4/2012, Franklin
Lamb, Al-ManarTV, Beirute
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Franklin Lamb |
O
povo egípcio está lutando para recuperar a própria soberania. Segundo pesquisa
recentemente divulgada, os egípcios entendem que sua soberania foi cedida
parcialmente a Israel, por dois ditadores pós-Nasser: Anwar Sadat e Hosni
Mubarak, a serviço dos governos dos EUA, de Nixon a Obama.
Acabar
com três arranjos humilhantes para os egípcios – o esquema de fornecer gás
barato a Israel, os acordos de Camp David de 1979 e o reconhecimento de Israel,
a que os EUA obrigaram o Egito – é entendido como objetivo estratégico de
segurança nacional para a maioria dos 82 milhões de cidadãos egípcios.
Segundo
resultados de pesquisa de opinião realizada pela rede Press TV e divulgada dia
3/10/2011, 73% dos egípcios entrevistados opunham-se àqueles arranjos e acordos.
Hoje, se estima que essa porcentagem já alcance os 90%.
Nos
últimos oito anos, o arranjo do gás, de 2004, jamais teve o apoio da população
egípcia. Uma das acusações que pesam hoje contra Mubarak é que o presidente
deposto vendeu a preço vil o gás egípcio, como parte de um acordo ‘entre
amigos’, que envolveu familiares do ditador e autoridades israelenses.
Mohamed Shoeib, presidente da
empresa estatal de gás Egyptian Natural Gas Holding Company disse
em entrevista à
AFP , semana passada, que o acordo do gás foi “anulado com a
empresa israelense Israeli East Mediterranean Gas Co. (EMG), porque a empresa
não respeitou cláusulas contratuais”. [1]
Depois
que Mubarak foi derrubado, e as 14 agências de polícias secreta de seu governo
começaram a perder o poder de onipresença, o gasoduto que leva gás para Israel
foi atacado 14 vezes em 12 meses, numa série de explosões que já haviam reduzido
em 40% o fornecimento de gás que Israel usa para gerar
eletricidade.
Na
campanha eleitoral para as recentes eleições parlamentares, e atualmente, na
campanha eleitoral para as eleições presidenciais, os egípcios têm discutido as
relações com Israel, pela primeira vez publicamente. Mubarak sempre foi protetor
de Israel e, como outros líderes árabes que ainda se agarram ao poder, sempre
ignorou os desejos populares, para que o país apoiasse ativamente a luta pela
libertação dos palestinos e da Palestina ocupada.
No
final de janeiro de 2011, em visita que fiz à Universidade de Alexandria,
conversei com alunos egípcios, americanos e europeus, todos nós sentados nos
bancos à frente da magnífica Grande Biblioteca da cidade. Um daqueles alunos
explicou, relembrando as manifestações da Praça Tahrir, dia
25/1/2911:
“Nossos
slogans na Praça Tahrir eram pão, liberdade, dignidade e justiça social. Faz
quase exatamente um ano. Se Deus quiser, logo alcançaremos as demandas de nossa
revolução histórica, que incluíam o fim de Camp David e o cancelamento do
reconhecimento do regime sionista que continua a ocupar a Palestina. Cabe ao
Egito liderar a nação árabe, e cumprir a obrigação sagrada de libertar Jerusalém
e todos os palestinos, do rio até o mar.”
Uma
linda estudante, coberta com o hijab, também ofereceu sua
opinião:
“Os
EUA compraram nossos líderes com bilhões de dólares roubados de nosso povo, mas
que nunca foram usados para melhorar a nossa vida ou nos trouxeram qualquer
benefício. Camp David foi essencialmente um acordo privado assinado por Sadat e
depois por Mubarak. O povo não foi ouvido e jamais nos perguntaram se
concordávamos. Os que protestaram foram presos, e até muito pior. Agora, o povo
egípcio está ganhando poder, apesar do que parece ser um golpe da junta militar
do Conselho Superior das Forças Armadas, antes das eleições marcadas para
junho”.
Autoridades
israelenses, mancomunadas com o lobby sionista nos EUA, dizem que o
cancelamento do arranjo do gás seria “ameaça existencial”. Segundo pesquisador
do Serviço de Pesquisas do Congresso dos EUA, no edifício Madison em Capitol
Hill, cujo trabalho é historiar as reclamações oficiais de Israel, essa é a 29ª
“ameaça existencial” que a colônia sionista registra, em 64 anos de história.
As
tais “ameaças existenciais” vão desde o reconhecimento internacional do Direito
de Retorno para os palestinos expulsos no processo de limpeza étnica durante a,
e a partir da, Nakba de 1948, passando por inúmeros grupos palestinos, e
mais de duas dúzias de Resoluções da ONU, entre as quais as Resoluções n. 194 e
242, até o Hezbollah, evidentemente; incluem também todos os movimentos
internacionais de solidariedade aos palestinos; um ou dois intelectuais judeus
não sionistas; o Irã, também evidentemente; a expansão da internet; e
potencialmente todos os cristãos, árabes e muçulmanos do planeta, para nem falar
do proclamado crescimento de um antissionismo global, já desclassificado, pelo
lobby sionista nos EUA, como sempre, como mais uma modalidade de
antissemitismo.
Apesar
de todas essas ditas “ameaças existenciais” que, recentemente, passaram a
incluir também o chamado “Mapa do Caminho”, os líderes israelenses continuam a
boicotar qualquer possibilidade de negociação consequente que possa levar à
convivência pacífica de árabes e judeus na Palestina, num único estado
democrático e secular, onde cada cidadão valha um voto, e sem qualquer
privilégio ensandecido para algum autodeclarado “povo escolhido”.
Yuval
Steinitz, ministro das finanças de Israel disse que o Egito questionar suas
relações com Israel seria “um perigoso precedente que ameaça os acordos de paz
entre Israel e o Egito”.
Ampal,
a empresa israelense que compra o gás, declarou que considera o cancelamento do
contrato “ato ilegal e de má fé”; e exigiu que fosse imediatamente e plenamente
restaurado. A Ampal planeja usar os mecanismos de arbitragem internacional para
tentar a restauração do contrato; e já enviou delegação de empresários a
Washington para reunião com o AIPAC e funcionários do governo dos EUA,
para conseguir que imponham aos egípcios a anulação do ato que cancelou o
contrato e os forcem a continuar a fornecer gás a Israel a preços abaixo dos
preços de mercado. Funcionário do Congresso escreveu, em e-mail, com
ironia, que é mais fácil as empresas israelenses fazerem os congressistas
trabalharem a favor delas, que as empresas norte-americanas e, até, que os
eleitores que elegem os congressistas.
Semana
passada, Israel Hayom, analista político israelense
escreveu:
“A
triste conclusão do colapso do acordo do gás com o Egito é que estamos voltando
aos dias de antes do acordo de paz com o Egito, e o horizonte não parece, de
modo algum, rosado. Camp David corre risco mortal. A dolorosa conclusão, mais
uma vez, é que não temos amigos genuínos na região. Não, com certeza, com vistas
ao longo prazo”.
Abe
Foxman, da ADL, lamentou:
“Israel
deu muito ao Egito em troca do acordo de paz de Camp David, muito mais do que
deveria ter dado. Dentre outras coisas, uma área de livre comércio, na qual nós
praticamente forçamos a criação de oficinas de costura e de uma indústria têxtil
egípcia para que pudessem exportar facilmente algodão barato e outros bens para
os EUA e para Israel. Tornamos os egípcios um povo respeitável aos olhos do
público norte-americano. E eles retribuem assim o muito que nos
devem?”
O
AIPAC, que jamais demora a reagir nesses casos, já está fazendo circular
um projeto de resolução, essa semana, entre seus principais operadores no
Congresso, para fazer com que o Congresso dos EUA condene oficialmente o
cancelamento do contrato de fornecimento de gás, e exigindo a imediata
renovação, sob a ameaça de os EUA suspenderem qualquer ajuda ao Egito. O
lobby também já começou a pressionar o governo Obama, com ameaças de
corte nas doações de dinheiro dos judeus para a campanha eleitoral do
presidente, no caso de os EUA nada fazer para obrigar o Egito a “cair na
realidade”, nas palavras do ultra sionista Howard Berman, influente deputado
Democrata da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados.
A
realidade política é que diplomatas dos EUA, o AIPAC e autoridades israelenses,
muitas vezes difíceis de distinguir uns dos outros, vêm fazendo o possível para
encontrar um meio de reparar as relações entre Egito e Israel, desde as
manifestações da primavera passada na Praça Tahrir. Todos temem, por boas
razões, que os acordos de Camp David e a embaixada de Israel no Cairo sejam os
próximos a ter a cabeça no cepo, à medida que o povo egípcio vai-se tornando
senhor do próprio destino.
Sobre
o já esperado fechamento da embaixada de Israel no Cairo, segundo o jornal
Yedioth Ahronoth:
“O
que temos hoje é uma lenta deterioração de relações: israelenses já não podem
por o pé no Egito, e o consulado egípcio em Telavive não tem autorização para
emitir vistos de entrada. Quem insista em ir ao Egito , saindo de Israel,
mesmo que tenha passaporte estrangeiro, deve preparar-se para enfrentar
problemas. Pode ter seu nome incluído na lista de ‘espiões’ e de ‘agentes do
Mossad’. Não nos querem lá. É simples assim. E o Egito tornou-se muito perigoso,
hoje, para os israelenses”.
Segundo
o porta-voz de Netanyahu, Mark Regev,
“Ninguém
quer alugar um prédio para a embaixada de Israel no Cairo, para abrigar a
pequena equipe chefiada pelo embaixador Yaakov Amitai. Por questões de
segurança, já reduzimos muito a semana de trabalho lá. A equipe chega 2a-feira à
tarde e parte na 5a-feira pela manhã. A cada viagem, vão para endereço diferente
(alugado sempre a preços exorbitantes), negociado por agentes locais de
segurança. No que tenha a ver com os egípcios, os diplomatas israelenses melhor
fariam se ficassem em Jerusalém até a eleição do próximo presidente; depois,
veremos o que acontece”.
Nota
dos tradutores
[1]
22/4/2012, “Egito
cancela controverso acordo de fornecimento de gás a Israel”
Espero que os Acordos de Cam David tambem sejam cancelados e que Israel possa, sob as mais fortes pressões imagináveis, reconhecer os dieitos nacionais do povo palestino ao retorno e autodeerminação!
ResponderExcluirEmir Mourad