2/4/2012,
Xinhuanet, Pequim
Traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Analistas
sírios e observadores de várias filiações políticas criticaram duramente – como
movimento para legitimar o monopólio do poder – a decisão tomada no domingo,
pelo grupo internacional “Amigos da Síria”, de reconhecer o grupo da oposição
síria “Conselho Nacional Sírio”, CNS, [Syrian National Council (SNC)]
como único representante do povo sírio.
Para
vários analistas, o reconhecimento faz lembrar o princípio do governo
totalitário, oposto aos fundamentos da democracia pregada por países ocidentais.
Representantes
de mais de 80 países manifestaram apoio ao Conselho Nacional Sírio em reunião em
Istambul, Turquia, em esforço para aumentar a pressão internacional sobre o
governo do presidente sírio Bashar al-Assad, por fim à violência que se prolonga
há um ano e tentar uma transição política pacífica.
Na
reunião na Turquia decidiu-se reconhecer o CNS como representante legítimo de
todos os sírios e organização guarda-chuva para todos os grupos da oposição na
Síria.
“É
projeto autoritário, para monopolizar o poder”, disse Rajaa Naser, da oposição
síria.
Em
entrevista à rede Xinhua, Naser disse que:
“...o
CNS só representa ele mesmo, e absolutamente não representa o povo sírio”.
Disse
também que:
“... a
decisão não satisfaz o que o povo sírio esperava”.
Para
Naser, o único modo de por fim à crise é os dois lados suspenderem imediatamente
a violência, nos termos do projeto apresentado por Kofi Annan, enviado da ONU e
da Liga Árabe à Síria.
O
projeto de Annan exige que os dois lados suspendam a violência, com imediato
cessar-fogo como propõe o governo sírio, e um período diário de suspensão dos
confrontos para atendimento humanitário aos feridos, e conversações entre o
governo e a oposição.
A
Síria aprovou oficialmente o plano, mas recusa-se a retirar as tropas de cidades
onde ainda haja confrontos, até que a paz seja restaurada nessas regiões.
Ali
Haidar, outra figura da oposição, presidente do Partido Social Nacional Sírio,
definiu o reconhecimento oficial do CNS como:
“... promessa
dos que nada querem fazer, aos que nada sabem fazer”.
Disse
que os que se reuniram em Istambul não têm qualquer legitimidade nem qualquer
direito de se apresentarem como representantes dos sírios, porque só os sírios
podem escolher seus representantes.
“De
fato, é só mais um fracasso na busca de solução para a crise síria”.
Haidar,
que também é membro da Frente Popular para Liberdade e Mudança, também da
oposição, lembrou que o CNS é apenas um dos grupos da oposição síria.
“Por
que os demais grupos e partidos da oposição não foram ouvidos?” – perguntou.
Trata-se
de tentativa de fazer calar outros partidos da oposição síria, o que mostra que
nem toda a oposição síria interessa igualmente aos interesses ocidentais, Haidar
acrescentou.
Para
Hamdi Abdullah, analista que apoia o governo de Assad, o “reconhecimento” de um
grupo, sem ouvir os demais envolvidos, é golpe contra a democracia.
“É
inadmissível que países árabes e ocidentais reúnam-se fora da Síria para tomar
decisões sobre a Síria e, ainda mais, para “legitimar” representantes do povo
sírio” – disse Abdullah.
Sobre
possíveis efeitos do “reconhecimento”, Abdullah disse que:
“... é
movimento que ficará confinado aos países que se prestaram a essa encenação e
concordaram em “reconhecer” o Conselho Nacional Sírio. Não terá efeitos práticos
nem outras conotações políticas”.
Em
Istambul, o grupo reunido decidiu oferecer toda a assistência possível,
aconselhamento técnico e apoio direto a um processo a ser liderado pelo CNS, que
deverá ser pacífico, ordeiro e de estabilização. Também ficou decidido manter e
ampliar, pela urgente necessidade, a assistência geral, incluindo financiamento
e apoio financeiro, para socorrer o povo sírio.
Washington,
simultaneamente, anunciou envio de 12 milhões de dólares em ajuda humanitária à
população síria, além de equipamentos de comunicação, para auxiliar a
resistência das forças de oposição aos ataques do governo Assad.
Essa
ajuda financeira e técnica a um dos grupos da oposição síria sinaliza
envolvimento mais profundo de vários países ocidentais no conflito na Síria e
parece estar abrindo caminho para intervenção militar, mascarada sob o pretexto
da ajuda humanitária.
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