Publicado
em 10/04/2012 por Rui
Martins
Estar
com poucos dias de diferença, em três continentes diferentes, do urbano ao
rural, da montanha e planalto ao litoral, da sociedade de ponta à cidade
distante do mundo, sem jornal, mas com lan house, do mundo materialista do
consumo ao núcleo irredutível de crentes em contos de fada, provoca, mesmo sem
querer, uma agitação dos neurônios.
Ainda
sinto dificuldade para me readaptar a este planeta onde vivo, frio, asséptico,
ordenado, distante alguns anos-luz da folia do planeta emergente, onde se vive
depressa, excitado pelo stress
permanente, numa aparente alegria e felicidade que queima e leva ao enfarte,
enquanto por aqui a tranquilidade gerada pela segurança nos faz
longevos.
Transplantado
de avião, em apenas algumas horas, desembarcava num formigueiro de gente
chamadoTimes
Square, para entrar no café Europa, uma busca inconsciente de algum
contato com a civilização deixada há nove horas de distância.
Nenhum
europeu naquele self-service de mesas
cheias, onde se disputa um espaço equilibrando-se uma bandeja com outros hábitos
de comer, como pancakes,
bagels, cheiro de frituras e, ainda bem, um coffee
and milk. Em lugar dos europeus, serventes mexicanos e mesmo peruano,
como o sorridente amigo que fiz naqueles dias, nem tanto pelo meu cabelo de
maluco mas por estar acompanhado de minha filha, estudante de dança, na 43ª. Street, curtindo seu ano sabático,
dádiva quase religiosa para os suíços.
Depois
do Metropolitan Museum of Art de Nova
Iorque, uma visita ao enorme Botanical
Gardens, no Bronx, em plena época de floração das orquídeas. Viagem da
natureza morta à natureza viva. E ter depois um jantar familiar ou no
restaurante Thai, na 9ª. Avenue, ou
perto do Hotel Carter, onde 80% são hóspedes brasileiros, num restaurante
italiano de pizzas cinco estrelas ou no barulhento Hard Rock.
No
meio desse lugar com mais gente na rua que no Viaduto do Chá, com seus outdoors
luminosos piscando noite a dentro, uma pausa para encontrar o editor-chefe do Brazilian Times (um ex-professor que fez
de tudo como imigrante nos States até
se tornar dono de jornal da comunidade brasileira de New Jersey), na Casa do Brasil , para levar
minha mensagem de rebelião contra a tutela do Itamaraty sobre os emigrantes que
irrita não os diplomatas do MRE, mas a maioria dos orgulhosos conselheiros do
CRBE (nunca uso esse título que acho horroroso, prefiro ser um discreto titular,
sem brasão da República no cartão de visita, mesmo porque não uso cartão de
visita).
De
volta ao aeroporto JFK (nós brasileiros temos também um JK, assassinado), minha
filha me ensinou a fazer economia tomando o Airtrain, tomando a linha E do metrô.
Minha próxima etapa era Santos, minha cidade de criação, do tempo em que torcia
para o SFC. Mas isso é papo para outra vez, mesmo porque ali naquele retorno à
origem, tinha um encontro com mais de uma centena de
universitários.
Rui
Martins – Berna:
jornalista,
escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura, é líder emigrante,
ex-membro eleito no primeiro conselho de emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os
movimentos Brasileirinhos Apátridas e Estado dos Emigrantes, vive em Berna, na
Suíça. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio do Brasil e agência
BrPress.
Enviado
pelo Direto da
Redação
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