quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oliver Stone: “O Brasil tornou-se um país muito importante no mundo”

Oliver Stone: “O Brasil tornou-se um país muito importante no mundo”

by Marco Aurélio Weissheimer.



O cineasta Oliver Stone, que veio ao Brasil divulgar seu documentário “Ao sul da fronteira”, já está envolvido em um outro trabalho do mesmo gênero.


O novo documentário de Stone tratará da história secreta dos Estados Unidos. Logo após a visita que fez à pré-candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, o cineasta gravou um depoimento em vídeo onde, além de expressar apoio a Dilma, defendeu que o Brasil tornou-se uma espécie de terceira via do poder mundial e tem um papel muito importante a desempenhar no mundo, juntamente com outros países como a Turquia. “O que eles acabaram de fazer no Irã pode não ser muito popular para todos, mas é para mim. Eu adoro o que Lula e o Brasil estão fazendo”.

Oliver Stone está viajando pela América do Sul desde o dia 28 de maio para promover seu documentário. Na sexta-feira passada, a obra foi apresentada em Caracas, na Venezuela, e no domingo, em Quito, no Equador. Depois, o diretor passou pelo Brasil, seguindo daí para a Bolívia e depois para a Argentina. Na Bolívia, o documentário será exibido em um ginásio de esportes com capacidade para seis mil pessoas. Depois da exibição na Bolívia, Stone e sua equipe ainda encontrarão o presidente Fernando Lugo, em Assunção, no Paraguai.

O artigo original encontra-se em: RS URGENTE

No Vermelho

Apaixonado pela América Latina, Oliver Stone produziu e dirigiu seis documentários sobre a região, dos quais "Ao Sul da Fronteira" é o mais recente. Com data de estreia marcada para esta sexta (4), o filme fala sobre a mudança na geopolitica latino-americana a partir da ascensão ao poder do presidente venezuelano Hugo Chávez.


Personagem de maior destaque no documentário Chávez é colocado como o paradigma de liderança na América Latina. Depois dele, vários outros países elegeram líderes com a cara de seus países - Evo Morales na Bolívia, o casal Kirchner na Argentina, Fernando Lugo no Paraguai,
Rafael Correa no Equador e Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil. Todos são entrevistados por Stone, que como Michael Moore em seus filmes, também se faz presente.


Na entrevista a seguir, concedida ao UOL Cinema por telefone desde Buenos Aires, onde Stone foi lançar o filme, o cineasta responde a críticas e ataca pesadamente os meios de comunicação, que para ele são o principal instrumento de propaganda e dominação americana na região. "O filme é destinado aos 80% de pessoas que não são representados nesse tipo de filme, os 80% que foram beneficiados pelas políticas desses novos líderes", diz ele. A seguir, os principais trechos.


UOL Cinema - Por que decidiu fazer um filme sobre a geopolítica sul-americana? Quando teve essa ideia pela primeira vez

Oliver Stone - Eu sempre me interessei pela América Latina. Fiz "Salvador" (1986), sobre a Guerra na América Central, em El Salvador. Visitei muitos países [da região] ao longo desses anos. Fiz "Comandante"(2003), sobre Fidel [Castro], com uma hora e meia, deu muito trabalho. Depois, eu fiz "Looking for Fidel" e, agora, "Ao Sul da Fronteira". É uma série de seis documentários nos quais estou trabalhando. Tenho mais dois: um terceiro filme sobre Castro, agora na velhice, e também um grande projeto chamado "Secret History of United States", com dez horas de duração, para a televisão americana, que sai no início do próximo ano. Estou preocupado com o mundo e com a busca da verdade. O documentário é apenas uma parte da minha carreira. E a ficção, o drama com atores, é outra. Tento dividí-las porque essa é uma grande história, "Ao Sul da Fronteira". É uma história imensa, que os americanos não conhecem. Eles não sabem nada sobre isso. Eles ouvem uma versão completamente falsa sobre [o presidente venezuelano Hugo] Chávez nos meios de comunicação americanos. Eles não sabem nada sobre a Argentina, não sabem sobre a disputa de Nestor Kirchner contra o Fundo Monetário Internacional na América do Sul - [os argentinos] promoveram grandes mudanças no modo como fazem negócios. Não sabem que a Bolívia quer seus próprios recursos, sobre o Equador. Não sabem nada a respeito disso. Só sabem sobre a Colômbia e o México como [focos da] guerra contra as drogas.É tudo o que sabem. E é muito triste para mim que tenham essa imagem da América do Sul.


UOL Cinema - Uma das principais críticas em torno do filme aqui no Brasil é de que "Ao Sul da Fronteira" traz uma visão pronta, quase uma tese.

Oliver Stone - É claro que vão dizer isso. O filme vai ser politicamente criticado. São meios de comunicação muito fortes e poderosos. Se ficar estabelecido que eles não gostam de Chávez ou de Lula, certamente perseguirão o filme, é inevitável. Não posso me importar com isso. O filme é destinado aos 80% de pessoas que não são representados nesse tipo de filme, os 80% que foram beneficiados pelas políticas desses novos líderes. E por falar nisso tivemos uma tremenda exibição do filme em Cochabamba, na Bolívia, com seis mil pessoas. Nunca na minha vida estive numa sala com seis mil pessoas vibrando e aplaudindo. E também na Venezuela, com três mil pessoas. É algo para ser visto. É preciso entender que os filmes existem para as pessoas. E elas meio que ficam enterradas, escondidas. Especialmente os pobres, que não são ouvidos. E esses líderes representam uma mudança.


UOL Cinema - Os críticos acusam o filme de não ouvir o outro lado. Mas existe também uma confusão em torno do que é documentário e o que é tele-jornalismo.

Oliver Stone - Tive esse problema durante anos. Fiz o retrato de [Fidel] Castro, que nunca niguém entrevistou do jeito que o entrevistei. Nunca ninguém viu o lado íntimo, o lado mais próximo, de Castro da maneira como mostramos. E fui criticado por não ter [produzido] um documentário político mostrando suas falhas. Eu nunca teria contado essa história se não tivesse chegado até lá e ganhado sua confiança. Você está certo, eles querem jornalismo, mas também acho o jornalismo falso, por que nos dá uma falsa dualidade. Por exemplo, a BBC vai até a Venezuela para fazer um documentário sobre Chávez. E só pergunta sobre coisas ruins, nunca nem uma vez nada positivo. [Risos]. A verdade é que a economia da Venezuela estourou depois da tomada da companhia de petróleo, até a recessão de 2009, subiu em níveis de mais de 60%. A mesma coisa com a Argentina, que fez tudo errado. Eles foram contra o Fundo Monetário Internacional e, ainda assim, a economia deles ficou louca. Foi muito bem. Essas coisas, muito americanos e, menos ainda, muitos sul-americanos não sabem, não reconhecem e não querem [reconhecer]. É muito rígido aqui, um sistema muito estranho. Porque os meios de comunicação na Venezuela são tão eloquentes e todos os veículos são privados. No Brasil, na Venezuela, na Argentina. Grandes cadeias, grandes famílias, eles são como os oligarcas. Eles são donos dos meios de comunicação, das emissoras de televisão. E eles os usam para interesse o próprio. E eles mentem. E o Departamento de Estado americano concorda com eles porque querem controlar a região e o fazem. Eles fazem isso há 150 anos. O Departamento de Estado fornece o material e os meios de comunicação americanos, as emissoras e as agências publicam as histórias sobre todas essas pessoas. Até mesmo Lula, que era [visto como] a "boa esquerda" sul-americana, agora é visto como a "má esquerda" por causa de sua posição a respeito do Irã, o que mostra quão louca é essa situação. Novamente, falando sobre sanções contra o Irã, o mundo nunca vai chegar a um estado de paz enquanto tivermos essas posturas ideológicas rígidas dos meios de comunicação. Eles estão matando a possibilidade de negociação e consenso.


UOL Cinema - Algo mudou em sua visão sobre esses líderes depois que os encontrou? Falo especificamente de Hugo Chávez e o presidente Lula.

Oliver Stone - Não. Não fiz isso baseado em ideias pré-concebidas. Não acredito mais nos meios comunicação americanos. Tive minhas próprias experiências com eles. E acho que eles foram tão negativos em relação a Chávez que nem mencionaram os outros países. Você vai e volta e quando fui a Venezuela vi um outro país. Aliás, além disso, o filme não é sobre Chávez. Falei de outros países até para ter outras pessoas falando. O filme tem que falar por si só. Fico impressionado com o fato de que as pessoas dizem que não há críticas no filme. Francamente, há um bocado de críticas a eles [os presidentes] no filme, se olhar mais atentamente. Mas essas pessoas nunca parecem satisfeitas. Há muita crítica ao governo de Chávez no filme, tanto por parte dos americanos quanto dos colaboradores dos americanos na Venezuela.

Enviado por André Lux (Tudo em cima)


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.