26/6/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online - The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
A imprensa-empresa está curvada em
reverência ante o Emir do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani, 61, que
magnanimamente escolheu
se autodepor, em favor de seu filho, ex-príncipe
coroado Tamim bin Hamad al-Thani, 33.
Em
discurso de talhe positivamente kennedyesco pela televisão nacional, o
emir que parte disse que “é chegado o tempo de virar uma nova página”, para que
“uma nova geração avance para assumir a responsabilidade”.
Desnecessário
dizer que não ocorre a esses equivalentes ocidentais de velhos líderes tribais
de toga branca que se reuniram para jurar fidelidade e beijar a mão do novo
patrão, que tanto se curvar ante esse estilo Golfo Persa de “passar o bastão” de
emir não eleito para emir não eleito é o mesmo que beijar o bastão que Hafez
Assad passou ao filho Bashar al-Assad.
Tamim bin Hamad al-Thani (E) e Hamad bin Khalifa al-Thani (D) |
Por
falar nisso, a gangue de oportunistas pagos por Doha, conhecido como Conselho
Nacional Sírio uniu-se devidamente à torcida uniformizada, declarando que a
passada de bastão foi “pioneira e sem precedentes”. E continuem a comprar e
despachar para cá armamento prá lá de pesado, por favor, além daqueles outros
representantes dos Amigos da Destruição da Síria.
Na
fase atual da globalização Mad Max do
pós-capitalismo, “Relações Públicas” é tudo, e a Casa de Thani é campeã em
“Relações Públicas”, sempre devidamente distribuídas em inglês. Escondido
debaixo do tapete (persa) está o fato de que o Qatar é petromonarquia wahhabista
que nada tem de “moderada”, governada como colônia feudal reluzente, onde só 200
mil são qataris, na população de 1,9 milhões de almas.
Esqueçam
os trabalhadores braçais da Somália ao Paquistão e do Nepal a Bangladesh que já
têm cidadania qatari, além do direito de não poderem deixar o emprego sem uma
“autorização de saída” emitida pelo empregador. Esqueçam qualquer coisa
assemelhada a benefícios de seguridade social. Aqui, o meu preito de gratidão:
todos os acima citados são meus informantes sobre a vida real, cada vez que
visito Doha. E ainda nem falei da Anistia Internacional que denuncia tudo aquilo
como estado policial – sobretudo contra estrangeiros – que pune o consumo de
bebidas alcoólicas e “relações sexuais ilícitas”.
O
que pega é que o novo emir – rapaz que fala inglês impecável e já tem duas
esposas “consumadas” – está sendo apresentado como “um pragmático”. E, claro, é
“dos nossos”, porque foi educado na Academia Militar Sandhurst na Grã-Bretanha
(num daqueles falsos cursos de formação que se oferecem lá, para árabes ricos).
O
“pragmático” será julgado por uma “potência ocidental” real e várias menores,
agora que se apresenta ao Ocidente. Abrir caminho para que a Organização do
Tratado do Atlântico Norte, OTAN, bombardeie a Líbia até convertê-la em estado
falido: bom. Armar “rebeldes sírios”: muito bom. Rios de dinheiro e apoio para a
Fraternidade Muçulmana por todos os lados: perigoso. Apoiar o Hamás em Gaza:
fora de cogitação. Escritório de representação para os Talibã afegãos em Doha:
arriscado, sobretudo se os Talibã usarem o escritório para expandir sua rede de
doadores ali no Golfo.
Base aérea de Al-Udeid (Qatar) Clique na imagem para aumentar |
Resgatar
alguns dos maiores bancos do ocidente: excelente. Vender comboios de petroleiros
cheios de gás natural liquefeito: esplêndido. Hospedar o Centcom na base aérea
de al-Udeid: imperativo estratégico. Pôr-se na primeira linha contra “a ameaça
nuclear iraniana”: um must. Hospedar a Copa do Mundo de 2022, sob calor
desumano: meta ar condicionado em todas aquelas “arenas”.
Construir
o Shard em Londres (o mais alto
arranha-céu da Europa) e comprar a Harrods, Valentino, 26% da Sainsbury, 12,8% da Tiffany, 20% do empresa proprietária do
aeroporto de Heathrow, ações da Barclays e a Bolsa de Londres, o clube
Paris Saint-Germain de futebol, acres
de terra urbana de primeira em Londres e Paris : não nos
importa.
Em
resumo: britânicos e franceses, particularmente, continuarão abraçados ao novo
emir, porque, afinal de contas, o Qatar, inquestionavelmente, é grana só.
Mamãe
é que sabe
Sheikha Moza |
E
há mamãe – Sheikha Moza, maior que a vida, devidamente louvada pelo ocidente
como “defensora de direitos das mulheres”, pelo menos do direito de comprar até
cair, como presidenta não só da Fundação Qatar – empenhada na “emancipação e
educação da mulher árabe” – mas também do fundo de investimentos Qatar Luxury Group. É o tal de poder por
trás do trono.
Sheikh
Tamim, herdeiro presuntivo há mais de uma década, manifesta fascinante
contradição. É visto em Doha como o principal piloto para posicionar o Qatar
como portal global. Ao mesmo tempo, é o engenheiro da estratégia da política
externa oficial do Qatar – de alinhar-se, seja onde for, com a Fraternidade
Muçulmana. Não surpreende que seja simplesmente detestado pela Casa de Saud.
Observadores devem comprar bilhetes para a fila do gargarejo para assistir ao
arranca-rabo entre o novo emir e a Casa de Saud comandada pelo caquético,
semianalfabeto, 88 anos, rei Abdullah. Assento privilegiado é na Síria – onde as
facções lutarão com armas cada vez mais letais.
Hamad bin Jassim |
Outro
subenredo a ser saboreado é o futuro do primeiro-ministro e ministro das
Relações Exteriores, o anglófilo Sheikh Hamad bin Jassim, também conhecido como
HBJ. Esse é alta roda, alta mesmo.
Todos
em Doha saben que HBJ está de mudança para Londres, para viver numa
penthouse Mil e Uma Noites (estilo Vegas) em One Hyde
Park , o prédio residencial mais caro do planeta. HBJ está
administrando o multibilionário fundo soberano do Qatar, o Qatar Investment
Authority (QIA). De fato, nunca deixou o posto: sempre foi o principal
executivo do QIA, o qual, até essa semana era presidido por Tamim. O
QIA não distribui informação financeira. E os critérios “diversificados”
de investimentos – que abrangem Europa, Ásia e os mercados emergentes – não são
transparentes.
Quem
liga? E quem liga que seja feudo absoluto da família al-Thani desde meados do
século 19? Todos querem ir para o Qatar. Em seis anos, a população dobrou – hoje
são 1,9 milhão, e aumentando. A expectativa de vida é de 78 anos – equivalente à
dos EUA. Tem o maior PIB per capita do mundo, de mais de US$102 mil
(número de 2012, e aumentando); bom para você, se você não for asiático do sul
ou sudeste da Ásia, vivendo de trabalho escravo. Imposto sobre a Renda não
existe. À prova de Primavera Árabe. À prova, até, de protestos à moda Turquia e
Brasil. Democracia? Nada. É o fim da história 2.0. Ah, se todo o planeta fosse
um imenso Qatar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.