quinta-feira, 13 de junho de 2013

Edward Snowden: O governo dos EUA “hackeia” Hong Kong e China há anos

13/6/2013, Lana Lam, South China Morning Post, Hong Kong   
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Edward  Snowden
Edward Snowden, vazador de enorme quantidade de informação secreta da Agência de Segurança Nacional dos EUA, reapareceu onde em Hong Kong e disse, em entrevista ao jornal South China Morning Post, que permanecerá na cidade, para enfrentar os prováveis esforços do governo dos EUA para extraditá-lo.

Lana Lam
Em entrevista exclusiva, concedida de local ignorado na cidade, o ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos EUA disse que o governo dos EUA há anos invade computadores em Hong Kong e na China. A pedido de Snowden, esse jornal não divulgará detalhes de onde e como realizou essa entrevista.

Uma semana depois de revelar que o governo dos EUA há anos recolhe informação secreta de telefonemas e mensagens de e-mail dos cidadãos norte-americanos, Snowden disse que permanecerá em Hong Kong “até que me mandem partir”, e acrescentou:

Tive várias ocasiões e oportunidades para fugir de Hong Kong, mas prefiro ficar e enfrentar o governo dos EUA nos tribunais, porque confio na lei de Hong Kong.

Em conversa franca, que durou uma hora, o norte-americano de 29 anos, que os EUA já acusaram formalmente por prática de crime grave, disse:

  • que não é nem herói nem traidor: “sou um norte-americano”;
  • que o controverso programa PRISM da Agência de Segurança Nacional estende-se a pessoas e instituições em Hong Kong e em território chinês;
  • que os EUA estão exercendo pressão diplomática abusiva [orig. bullying] sobre Hong Kong, para conseguir que ele seja extraditado;
  • que o Estado de Direito e a lei em Hong Kong o protegerão de qualquer ataque pelos norte-americanos;
  • que teme pela própria segurança e pela segurança de sua família.
Snowden está em Hong Kong desde 20 de maio, quando deixou sua casa no Havaí. O movimento foi criticado por muitos, para os quais a cidade não tem meios para garantir-lhe qualquer proteção.

Quem entende que cometi um erro ao escolher Hong Kong não compreende corretamente minhas intenções. Não estou aqui para esconder-me da justiça. Estou aqui para revelar inúmeros crimes que foram cometidos e continuam a ser cometidos – disse Snowden.

Snowden disse também que, segundo documentos que o Washington Post recebeu, a Agência de Segurança Nacional dos EUA vem invadindo computadores em Hong Kong e na China desde 2009.

Nenhum dos documentos revela qualquer tipo de informação sobre sistemas militares chineses – disse Snowden.

Entre os alvos da Agência de Segurança Nacional, segundo Snowden, sempre estiveram a Universidade chinesa, funcionários públicos, empresários e estudantes na cidade. Os documentos também mostram que a Agência de Segurança Nacional visou alvos também na China.

Snowden estima que a Agência de Segurança Nacional tenha conduzido mais de 61 mil operações de hacking em todo o mundo, com centenas de alvos em Hong Kong e na China.

“Hackeamos” os grandes roteadores da internet, basicamente. Assim, temos acesso às comunicações de centenas de milhares de computadores, sem precisar “hackeá-los” um a um – disse ele. – Até a semana passada, o governo dos EUA operou livremente, sem qualquer respeito à opinião dos governados, sem buscar o consentimento dos cidadãos. Agora, isso acabou. Todos os níveis da sociedade exigem que o governo lhes preste contas e satisfações do que faz, e exigem o direito de supervisionar as ações do governo.

Snowden disse que distribuía as informações para comprovar a

(...) hipocrisia do governo dos EUA, que diz que não espionaria a infraestrutura civil como seus adversários.

O atual governo não apenas espiona os cidadãos: também tem medo de que a sociedade saiba que espiona. Por isso usará todos os meios, inclusive a intimidação por via diplomática, para impedir que as informações tornem-se públicas.

Desde as revelações chocantes da semana passada, Snowden tem sido demonizado por uns e elogiado por apoiadores, como Julian Assange, de WikiLeaks.

Não sou nem traidor nem herói: sou norte-americano – disse, acrescentando que - se orgulha de ser norte-americano. Sempre acreditei e continuo a acreditar na liberdade de expressão. Agi de boa fé, mas é direito do público formar opinião própria.

Snowden disse que não fez qualquer contato com sua família, e que teme pela segurança deles, tanto quanto por sua própria segurança.

Nunca mais me sentirei seguro. As coisas são muito difíceis agora, em todos os sentidos, mas dizer a verdade ao poder nunca se faz sem riscos – disse. – Foi difícil, mas me alegra ver que o público global começa a manifestar-se contra esse tipo de violação sistemática de privacidade.

A única coisa que posso fazer é confiar que sei fazer o que fui treinado para fazer e esperar que os governos do mundo recusem-se a deixar-se abusar pelos EUA e que resistam a perseguir pessoas que buscam asilo político.

Perguntado se o governo russo lhe oferecera asilo, Snowden respondeu:

Só posso dizer que me alegra que ainda haja governos que se recusam a deixar-se intimidar pela força.

Dezenas de milhares de apoiadores de Snowden assinaram petição em que pedem que os EUA perdoem Snowden; e muitos têm doado dinheiro para constituir um fundo de ajuda.

Agradeço muito pelo apoio público – disse ele. – Mas peço que prestem atenção ao próprio interesse do próprio público: guardem dinheiro para escrever cartas contra governos que desrespeitam a lei e pretendem que teriam algum direito de agir como agem.

A verdade é que corri e corro grave risco pessoal para ajudar o público em todo o mundo, sejam norte-americanos, europeus ou asiáticos.


Tentamos contato com o consulado dos EUA em Hong Kong, mas ontem, feriado na cidade, ninguém atendeu o telefone.

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