8/5/2015, [*] Pepe Escobar, Asia Times Online
Traduzido pelo
pessoal da Vila Vudu
Rei Salman Bin AbdelAziz da Arábia Saudita |
É fascinante
assistir ao vasto, bem remunerado exército ocidental de lobbyistas/ estenógrafos
dos sauditas a cantar loas a uma “instituição tradicional e conservadora”,
também conhecida como Casa de Saud, e que agora embarca em nova “assertiva
política externa”.
No que tenha
a ver com a matriz ideológica de todas as variações salafistas-jihadistas na
tresloucada galáxia do extremismo wahhabista, eu diria que se trata de um update
na chefia da gangue. Nada sequer próximo, em termos de entretenimento, da saga
“O Chefão” de Coppola, e com certeza mais sinistra.
Imaginem o
escândalo, que seria “repercutido” pela “mídia” até as mais distantes galáxias,
se a mesma coisa estivesse acontecendo entre os oponentes certificados do
Império do Caos, como Irã, Venezuela, Equador, Rússia ou China. Mas como os
membros da Casa de Saud são “nossos felásdaputa”, completados por um ministro,
Ali al-Naimi, capaz de dizer que deveria ser Alá a determinar os preços do
petróleo, o pessoal lá se safa sempre, façam, literalmente, qualquer coisa.
O novo capo di tutti i capi da Nova Casa de Saud, rei Salman,
o Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, deve ter dado uma escovada no Al Pacino
que vive nele, para aprender a cortar rápido como adaga. Aprendeu bem: só com
um movimento, conseguiu tudo que segue:
Livrou-se de
seu meio irmão e príncipe coroado, Muqrin. Muqrin jurou fidelidade ao novo
patrão.
Promoveu seu
sobrinho, príncipe Mohammed bin Nayef, de nº3 para nº2 na linha de sucessão na
Casa de Saud.
Promoveu o
próprio filho, príncipe Mohammed bin Salman, a nº3.
Livrou-se do
ex, eterno, Ministro de Relações Exteriores, príncipe Saud Al-Faisal, e pôs no
posto um favorito de Washington, o não real Adel al-Jubeir, que foi embaixador
nos EUA e tem sido a voz em inglês, não perdida na tradução, da guerra saudita
(ilegal) contra o Iêmen.
Distribuiu a
todas as forças militares e de segurança um bônus equivalente a um mês de
salário.
Mohammed bin Nayef, novo nº 2 na linha de sucessão no reino da Arábia Saudita |
Separou o Ministro
saudita do petróleo, da ARAMCO, a estatal do petróleo saudita. Precisa tentar
equilibrar os livros – especialmente com a guerra dos preços de petróleo
instigada pelos sauditas dando, já, em nada; a ridiculamente cara guerra contra
o Iêmen; e todos esses bônus gigantescos para contentar os bonificados; afinal,
virtualmente todos na hacienda do petróleo trabalham para a Casa de Saud.
Quem apareceu com o esquema Ministério do Petróleo/ARAMCO foi o filho de
Salman, Mohammed bin Salman.
De caso com a Máfia, remix [1]
Eis o que o
mundo precisa saber sobre o update na chefia da gangue.
Comecemos
pelo “jovem” príncipe Mohammed bin Salman (O que haveria de errado? Hagiógrafos
ocidentais bajuladores especulam alegremente sobre a idade do homem como se
fosse uma donzela em perigo, não homem feito de barba negra. Vale tudo, desde
que não passe de 35 anos).
O Jovem Real
“enfeixa enorme poder” e como Ministro da Defesa deu andamento ao bombardeio/ guerra/
“operação cinética” no Iêmen. O próprio rei elogiou suas “massivas
capacidades”. Fontes sauditas dizem-me que é resultado, em matéria de incompetência,
de cruza do Dr. Evil com Mini-Me, sem Austin Powers para salvar o dia dele. Embora seja um pop
star e celebridade televisiva dentro da hacienda mafiosa, não
convenceu ninguém – ninguém, do Egito ao Paquistão! – a enviar tropas para a
guerra “dele”.
Para seu novo
n. 3, segundo os especialistas oficiais, obteve “apoio da vasta maioria do
Conselho de Fidelidade”. A palavra operativa aí é “vasta maioria”. Implica que
o pessoal de Muqrin andava ligeiramente inconfortável. O Conselho de Fidelidade
é um grupo de 35 descendentes do fundador da Máfia, rei Abdul Aziz bin Saud.
O Jovem Real,
segundo a biografia oficial, teve obscura “carreira profissional de dez anos”
quando então – miraculosamente – tornou-se conselheiro especial do pai, então governador
de Riad. Foi nomeado Ministro da Defesa e Chefe da Corte Real no mesmo dia, 23
de janeiro de 2015, quando Salman tornou-se rei, depois da morte do ex-rei
Abdullah, cuja família inteira foi completamente apagada politicamente.
Mohammed bin Salman al Saud, atual nº 3 na linha de sucessão ao trono da Arábia Saudita |
Mohammed bin
Nayef, 55, o novo príncipe coroado, é muito bem amado no Departamento de Defesa
dos EUA, como uma espécie de policial saudita top e casca grossa do
contraterrorismo. Consta que derrotou a al-Qaeda dentro da Arábia Saudita, só
para que ela se reagrupasse no Iêmen onde agora, para todas as finalidades
práticas, a mesma al-Qaeda recebe ajuda direta da Máfia, o que acrescenta novo
significado à ideia de “ter-um-caso-com-a-Máfia”. O pai dele, o ultra
direitista falecido príncipe coroado Nayef, era coloridamente conhecido como
“Príncipe Negro”.
Como novo nº2,
Nayef terá muito trabalho – continua Presidente do Conselho Econômico e de Desenvolvimento,
e também foi nomeado Vice-Primeiro-Ministro. Para todas as finalidade práticas
é o novo sujeito-com-quem-se-tem-de-falar na Máfia.
Quanto a
al-Jubeir, está sendo elogiado pelos suspeitos de sempre por sua “expertise” em
política norte-americana. Nonsense. Al-Jubeir foi nomeado diretamente por Washington.
Dentro desse
balé, é o silêncio de Muqrin que se ouve mais eloquentemente. É filho de uma
escrava iemenita; foi protegido chave do falecido rei Abdullah; não é
exatamente íntimo do ramo de Salman, da Máfia, os sudairis. Já há apostas sobre
quando – se algum dia acontecer – ele finalmente contará a verdade sobre a
coisa que fala e anda como golpe palaciano.
Qual a estratégia hoje?
Seja qual for
o objetivo da sacudida, a “nova” Casa de Saud – com o governo Obama “liderando
pela retaguarda” – continuará a vender a ficção de que está libertando o Iêmen
de um bando de terroristas, quando, de fato, está é realmente empoderando a
al-Qaeda na Península Arábica (AQPA). São os mais ferozes inimigos da AQPA – os
houthis – que estão sendo bombardeados por ordens do Jovem Real.
Para nem
dizer que a Máfia reciclada – com pequena ajuda dos amigos qataris e turcos –
está cuidando para que a Frente Nusra (ramo sírio da al-Qaeda) e o ISIS/
ISIL/ Daesh (que é facção que se separou da al-Qaeda) continue
avançando em todas as frentes por todo o “Siraque” [orig. Syraq].
Barack Obama e o novo Rei da Arábia Saudita em 27/1/2015
E além do
objetivo da sacudida, como espertos israelenses já identificaram, o
autodescrito governo “Não faça merda coisa estúpida” de Obama continuará
a seguir todos os sinuosos mantras da Máfia. Mais ou menos. Se houver alguma
coerência em apoiar jihadistas linha-dura na Síria, mas bombardear jihadistas
linha-dura no Iraque; apoiar jihadistas linha-dura no Iêmen, mas apoiar
jihadistas linha-dura na Líbia e, depois, reprimir jihadistas linha dura na Líbia
e por aí vai.
O que torna tudo
ainda mais absurdo é que a “nova” Casa de Saud absolutamente detesta a “estratégia”
de Washington no Iraque e não acredita nem por um segundo que haja alguma “estratégia”
para a Síria. Quanto à própria sinuosa guerra deles mesmos contra o Iêmen, é
muito menos sobre wahhabistas que odeiam xiitas “apóstatas”, que sobre
wahhabistas impermeáveis a qualquer sopro de Primavera Árabe perto das
fronteiras deles.
A Máfia reina,
de fato, desde 1902, mantida ou pelo fundador Ibn Saud Abdul-Aziz, ou por seus
filhos. O rei Salman será o último de seus filhos a chegar ao poder. O Jovem
Real já está afiando as adagas. Agora, é só esperar que a mídia-empresa
ocidental o torne mais popular que Justin Bieber.
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Nota dos tradutores:
[1] De Caso com a Máfia, comédia – trailer a seguir:
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[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today, The Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
– Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Adquira seu novo livro Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.
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