segunda-feira, 4 de maio de 2015

Resposta a um leitor que protesta contra viés antiamericano e pró-russo no que escrevo

1/5/2015, [*] F. William EngdahlNew Eastern Outlook – NEO
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu




Recebi recentemente reclamação forte de um leitor alemão, contra um suposto viés anti-norte-americanos e pró-russos que haveria no que escrevo. A reclamação dá boa ocasião para tratar de questões que andam por muitas cabeças ocidentais, atormentadas pela cobertura pervertida, fortemente enviesada pró-Washington e anti-Rússia, que a imprensa-empresa impinge à opinião pública, em tudo que tenha a ver com Ucrânia e Rússia – definidos como o novo demônio a ser combatido.

Aqui, a substância da reclamação, que traduzi do alemão:

Estou ficando cada dia mais furioso com o viés anti-norte-americano que há nos seus artigos que leio regularmente. Quer dizer então que supostamente os EUA são o bandido, e Putin, o eterno Guerreiro da Guerra Fria, é o herói dourado? Você não faz nem ideia de como estão hoje Rússia ou Ucrânia. Minha mulher chega de lá e diz que os russos são os agressores (...) Será que você jamais se perguntou a si mesmo, quando Putin anexou a Crimeia, por que não fez isso em 1999, quando foi presidente pela primeira vez? Ah, entendi! Não fez porque tinha de atacar a Chechênia para explodir esconderijos de extremistas (...)

Ou então, quem sabe, em 2000-2004 no seu primeiro mandado, por que não anexou a Crimeia? Ah, sei, sei... daquela vez tinha de meter Khodorkovsky (oligarca da Petróleo Yukos) na cadeia. Quanta merda! Admito que os norte-americanos também tem lá sua roupa suja, seja a Operation Condor no passado, ou a guerra no Iraque ou o apoio aos rebeldes na Síria, que é fracasso para todo o ocidente, que só conseguiu fortalecer os extremistas. Isso é indiscutível.

Ainda assim, acho os norte-americanos mil vezes preferíveis aos russos

[assina] Mr. Schneider

Primeiro, Sr. Schneider, permita-me dizer que sou norte-americano e com absoluta certeza não sou antiamericano. Amo meu país e meus concidadãos.

O que não amo é a claque dos muito ricos que – sobretudo ao longo das três últimas décadas, desde o tempo de Reagan e Bush Pai – subverteram passo a passo a Constituição dos EUA e as garantias que ela dava aos direitos dos cidadãos; destruíram a legislação prudente e aproveitável sobre saúde e segurança dos norte-americanos, afrouxando todas as regras de segurança da Agência de Proteção Ambiental só para beneficiar empresas como DuPont ou Monsanto à custa da saúde do povo dos EUA.

Não amo nem um pouco esses círculos de muito ricos à volta de David Rockefeller, George Soros, Bill Gates, Ted Turner, Warren Buffett, George Bush Pai & Filho 1, em breve talvez também Filho 2, Jeb, que usaram suas fortunas para comprar deputados e senadores que aprovam as leis contrárias ao bem-estar da maioria.

Não amo mesmo, nem um pouco, os bancos de Wall Street que sustentam deputados e senadores para que aprovem leis que afrouxam todas as regulações que há desde 1929, quando a bolsa veio abaixo e todos aprendemos que é indispensável controlar os abusos dos banqueiros.

Manifestação dos partidários de David Rockefeller, George Soros, Bill Gates, Ted Turner, Warren Buffett, George Bush, Barack Obama... et cataerva.
Não gosto nada-nada quanto o governo dos EUA – George W. Bush ou Barack Obama – usam centenas de bilhões do dinheiro dos contribuintes norte-americanos para resgatar grandes bancos corruptos e criminosos – Grandes Demais para Falir, como nos contaram. E, ao mesmo tempo que deixam os norte-americanos comuns a apodrecer no desemprego, sem teto, mandam os empregos deles para China, Romênia ou México, à caça de trabalho barato.

Consumi mais de 30 anos, como economista, como historiador da Economia, como jornalista, à procura do que deu errado com o meu país, os EUA. Se você está genuinamente interessado à procura da verdade, recomendo que leia meus livros (todos disponíveis a partir do meu  website).

Por tudo isso, é difícil para mim responder ao seu método retórico de formulação, de ou branco ou preto, no que você diz que escrevo que “os EUA são o bandido e Putin, o eterno Guerreiro da Guerra Fria, é o herói dourado”. Sempre acho importante e essencial para uma análise séria, ser muito objetivo e o mais preciso possível. Tomo então os seus exemplos sobre a Rússia.

Primeiro, se eu fosse Presidente da Rússia depois de 1999, acho que teria feito praticamente tudo como Vladimir Putin fez. Naquele ponto, Rússia e Ucrânia tinham um tratado assinado pelos dois governos em 1997 que dava à Rússia o direito de usar o porto de Sebastopol na Ucrânia por 20 anos, até 2017, para ali instalar a Frota da Rússia no Mar Negro, acordo de importância estratégica para a defesa russa. Em 1999 era inconcebível que Rússia e Ucrânia algum dia pudessem vir a estar em guerra. Tenho muitos amigos ucranianos que, se você pergunta a eles de onde vieram, eles automaticamente respondem “da Rússia”. A Ucrânia, desde a independência em 1991, sempre foi estado falhado, saqueado por oligarcas ucranianos imorais, perfeitos gângsteres como Leonid Kravchuk, criminosos como Leonid Kuchma, Viktor Yushchenko, Yulia Tymoschenko.

Mas em 1999 a segurança da Frota da Rússia no Mar Negro na Crimeia não era coisa que preocupasse Moscou. Importante, isso sim, para a segurança nacional do país, era a guerra que a CIA estava fazendo na Chechênia. A CIA ali estava usando Mujahidden importados, que a própria CIA treinara, ao tempo que treinava Osama bin Laden para a guerra dos soviéticos no Afeganistão, na década 1979-1989.

Já a CIA...
A política dos EUA no governo de George Bush Pai, e depois, de Clinton-Gore, era destruir a Rússia ao final da Guerra Fria, impedindo que permanecesse como nação funcional – o mesmo que Washington faz hoje, destruindo a Ucrânia. Washington & Bush Pai informaram ao G7 em 1990, que toda a reforma econômica na Rússia seria comandada pelo FMI (controlado pelo Tesouro dos EUA).

George Soros e os economistas da “terapia de choque” de Harvard, Jeffrey Sachs e Anders Aslund puseram-se a trabalhar com criminosos do quilate de Yegor Gaidar ou Anatoly Chubais para literalmente privatizar todas as empresas estatais russas consideradas “joias da coroa” – do alumínio, da indústria aeroespacial, do petróleo, dentre outros itens valiosos do patrimônio público russo. Tudo foi feito em nome da “eficiência do livre mercado”. No governo de Yeltsin-Chubais-Gaidar as aposentadorias não eram pagas, e um punhado de bandidos (que no futuro viriam a ser chamados de “oligarcas”) próximos da família do gângster Yeltsin, tornaram-se bilionários.

Aqui entra em cena Mikhail Khodorkovsky que em 2004 tornara-se o homem mais rico da Rússia, e estava em processo de comprar todo o Parlamento russo para conseguir mudar a lei que proibia a propriedade privada de minas de extração de minério, e trabalhava com o banqueiro londrino Jacob Lord Rothschild e Henry Kissinger, na sua Fundação Rússia Aberta (Open Russia Foundation), para comprar para Khodorkovsky a presidência da Rússia, com dinheiro da Petróleo Yukos, empresa que Khodorkovsky obtivera manipulando ilegalmente vários processos de privatização.

Nada disso é propaganda pró-Putin. Na revista Foreign Affairs, órgão do Conselho de New York para Relações Exteriores, Lee Wolosky, ex-funcionário de contraterrorismo no governo Clinton, detalhou o processo pelo qual a empresa Yukos “conseguiu arrancar cerca de US$ 800 milhões, no período de cerca de 36 semanas”, em 1999, graças aos preços de transferência de propriedade de empresas públicas. Wolosky também explica como Khodorkovsky conseguiu arrancar patrimônio de subsidiárias de sua empresa Yukos, depois da crise financeira de 1998. Khodorkovsky era – e ainda hoje, quando já vive muito provavelmente na Suíça como exilado rico, continua a ser – um gangster.

Sinto, Sr. Schneider, mas seus comentários e cronologia sobre Crimeia e Ucrânia são confusos, e não é possível responder-lhe diretamente sobre isso. Permita-me explicar, então, que, depois do golpe de estado orquestrado pelos EUA, dia 22/2/2014 em Kiev, que pôs no poder uma equipe cuidadosamente formada de criminosos literalmente neonazistas e realmente antissemitas, feito os Partidos Svoboda, Setor Direita (Pravy Sektor) e outros, qualquer um que tivesse olhos veria que, depois daquilo, o passo seguinte seria meterem a Ucrânia como membro da OTAN.

O novo regime em Kiev, não eleito, começou a preparar decretos com terminologia anti-Rússia, além de outros movimentos hostis contra russos étnicos – é o mesmo que dizer: contra as populações da Crimeia e do leste da Ucrânia.

Victoria Nuland
Washington desempenhou papel inacreditavelmente escancarado no golpe de fevereiro, especialmente o senador John McCain e a Secretária-Assistente de Estado Victoria “Foda-se a União Europeia” Nuland. Esse apoio escancarou-se, mesmo, um dia depois de o Ministro Steinmeier de Relações Exteriores e os Ministros de Relações Exteriores de Polônia e França terem obtido um compromisso de paz de todos os partidos em Kiev – que poderia ter evitado a guerra.

George Friedman, fundador de Stratfor, empresa de consultoria de inteligência que presta serviços à CIA, ao Pentágono e ao Departamento de Estado, declarou, em entrevista em dezembro de 2014 ao jornal russo Kommersant que Ucrânia-fev.-2014 foi “golpe de estado organizado pelos EUA. De fato, foi o golpe mais escancarado de toda a história”.

Tornou-se assim imediatamente claro em Moscou que a Crimeia seria convertida em base da OTAN, controlada pelo golpistas de Kiev controlados pelos EUA. Foi feito um referendo, e mais de 90% da população da Crimeia votou a favor de a Crimeia tornar-se independente de Kiev; e a favor de solicitar à Rússia a reintegração da Crimeia.

Nem Washington conseguiu negar que a maioria democrática preferira a Rússia, à bandidagem que os EUA haviam reunido e instalado em Kiev. Então, os EUA ignoraram o plebiscito, e Washington pôs-se a repetir que os crimeanos teriam votado sob mira de armas russas. Sei de gente que estava lá e viu tudo acontecer. Houve uma tentativa, sim, de um grupo de terroristas tártaros organizados pela CIA, com contatos com a inteligência turca, para iniciar movimento violento, ao estilo do ISIS, na Crimeia, contra a Rússia. Gorou.

Quanto a você achar os norte-americanos mil vezes preferíveis aos russos, é questão de gosto, direito seu. Eu tenho os meus gostos, direito meu.

Mais uma vez, obrigado por sua mensagem. Para encerrar: nos meus mais de 30 anos como jornalista profissional já vi, da corrupção da empresa-imprensa dominante nos EUA e Europa, coisas que você talvez nem consiga imaginar.

A imprensa-empresa alimenta os TROUXAS
Sempre que nos intimidamos e não expomos ideias diferentes da empresa-imprensa dominante, abrimos a porta para a manipulação do pensamento individual, seja por governo democrático, seja por oligarquias, concordemos ou não com isso.

Alegre-se, porque ainda conseguimos ler, online ou em outras mídias, pensamento diferente do pensamento único que os jornais publicam, ou as redes de TV “noticiam”.

Nunca peço a ninguém que concorde comigo. Se você encontrar erro no que escrevo, estou exposto para ser corrigido – e já aconteceu várias vezes.

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[*] Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos estratégicos. É graduado em política pela Princeton University; autor consagrado e especialista em questõesenergéticas e geopolítica da revista online New Eastern Outlook.
Nascido em Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos, é filho de F. William Engdahl e Ruth Aalund (nascida Rishoff). F.W. Engdahl cresceu no Texas, e depois de se formar em engenharia e jurisprudência naPrinceton University em 1966 (bacharelado), e pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm 1969-1970. Trabalhou como economista e jornalista free-lance em Nova York e na Europa. Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro choque do petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento LaRouche.
Seu primeiro livro foi A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order, onde discute os papéis de Zbigniew Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada do xá do Irã em 1979, que se destinava a manipular os preços do petróleo e impedir a expansão soviética. Engdahl afirma que Brzezinski e Ball usaram o modelo de balcanização do mundo islâmico proposto por Bernard Lewis.Em 2007, completou seu livro Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall Street and the Death of the American Century (2010).
Engdahl é autor frequente do sítio do Centre for Research on Globalization. É casado desde 1987 e vive há mais de duas décadas perto de Frankfurt am Main, na Alemanha.

4 comentários:

  1. Tá parecendo o que o PSDB/DEM/Globo/Direita/ .. etc estão fazendo aqui no Brasil para nos entregarem de bandeja aos bandidos/gangster/ladrões acima citado dos EUA.

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  2. Quanto à mim, comecei votando no Lula poe mudanças, intuitivamente comecei à ver as diferenças de ideais, mas meu despertar, não apenas meu tenho certeza, para toda essa corrupção no país foi depois do "mensalão" que chamam mensalão do PT, mais uma vez minha intuição apontava para esse lado que, eu não estava preparada para ver a gravidade! estou aprendendo muito com o Castor Filho, com suas postagens e depois de ler mais esses artigos, a certeza que EUA, não é o que fomos manipulados à achar e a semelhança com o que esta acontecendo aqui, não é mera coincidência, mas um prazer em imitar; na minha visão amadora, acho muito estranho os políticos não falarem em assuntos sérios como o BRICS para a população, parece que tem dois governos, o da presidente da república e o do PSDB, será que um é dos EUA e outro do BRICS?

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    1. A imprensa-empresa do Brasil (e Ocidental) é mantida pelo 1% mais rico da população do mundo. Por esta razão TUDO que sai na MÍDIA é MANIPULADO... É por esta razão que essa corja dos 1% NÃO quer a democratização da MÍDIA. Já a "crasse mérdia" paneleira é apenas MIDIOTA, i. é, IDIOTIZADA pelos jornais escritos/falados/televisados.

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