segunda-feira, 11 de maio de 2015

Hoje aconteceu algo realmente extraordinário

9/5/2015, The SakerThe Vineyard of the Saker 
Something truly amazing happened today
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
 


The Saker

Entreouvido na Gafieira da Pinguela na Vila Vudu: A maior felicidade do blogueiro independente é escrever e publicar exatamente TUDO que nenhum jornalista liberal JAMAIS escreveria. É nóis. Vamquevamo. Mas, verdade seja dita: o pessoal aqui da Vila Vudu não viu o ministro fazendo o sinal da Cruz. O que toooodo mundo aqui viu, isso sim, foi a bandeira do Exército Vermelho, que Trotski e Lênin construíram e comandaram, ali, na rua, desfilando ANTES, à frente, das bandeiras da Federação Russa. Venceremos!.


O dia de hoje passará à memória da Rússia como celebração realmente histórica da vitória sobre a Alemanha nazista. O desfile – o mais bonito que já vi (infelizmente, só por vídeo, não pessoalmente) – foi soberbo e pela primeira vez incluiu o Exército Chinês de Libertação Popular. Não há dúvida de que vimos ali a história, enquanto se ia escrevendo. Mas aconteceu outra coisa hoje, também absolutamente extraordinária: o Ministro da Defesa da Rússia, Sergey Shoigu, fez o sinal da Cruz (foto abaixo), antes do início das celebrações
 
Sergey Shoigu, Ministro da Defesa da Rússia, faz o sinal da Cruz
É momento que a Rússia não esquecerá. Nunca, em toda a história passada, algum ministro russo da Defesa teve gesto nem parecido. É verdade que há uma antiga tradição de fazer o sinal da Cruz quando se passa por baixo da Savior Tower do Kremlin, se por mais não for porque há uma imagem de Cristo Salvador bem acima da entrada. Mas todos, na Rússia, compreenderam que havia muito mais no gesto do ministro, que simples repetição de tradição antiga. 
O jornalista russo Victor Baranets escreveu, muito bem, que 
 

Naquele momento senti que, com aquele simples gesto, Shoigu pôs a seus pés a Rússia inteira. Tanta gentileza, tanta esperança, tanto do nosso senso russo de reverência ao sagrado [no gesto dele].

Baranets está absolutamente certo. O Ministro Shoigu é tuvano, nascido na República de Tuva, e é budista. Vê-lo fazer o sinal da Cruz à maneira dos cristãos ortodoxos disparou uma onda de eletricidade por toda a blogosfera russa: todos sentiram que algo extraordinário havia acontecido


A bandeira do Exército da URSS desfila à frente de todas as bandeiras da Federação Russa
Para começar, ninguém, em seu juízo perfeito suspeitaria que Shoigu algum dia fizesse “pelo show”, o que fez ali. O homem é imensamente popular e goza da máxima credibilidade na Rússia e não precisa de gesto desse tipo de hipocrisia política. Além disso, quem viu a cena viu que Shoigu estava muito concentrado, muito solene, naquele momento. Pessoalmente acredito que Shoigu bem literalmente pediu que Deus o ajude, nesse momento, o mais perigoso da história da Rússia, quando ele, Ministro de Defesa da Rússia, pode ser chamado a tomar decisões gravíssimas, das quais pode depender o futuro do planeta. 
Há séculos os soldados russos ajoelham e pedem que Deus os abençoe antes da batalha e acho que Shoigu fez precisamente isso, hoje. Ele sabe que 2015 será o ano da grande guerra entre a Rússia e o Império (mesmo que, porque os dois lados estão armados com bombas atômicas, essa guerra continuará a ser 80% informacional, 15% econômica e 5% militar). 
 
Significa que Shoigu converteu-se à religião ortodoxa russa? Não necessariamente. O budismo é muito aberto a todas as outras religiões e não vejo contradição alguma no gesto do ministro. 
 
O fato de o primeiro alto membro do governo russo a iniciar o desfile do Dia da Vitória fazendo o sinal da Cruz e pedindo a ajuda de Deus ser budista é, em si mesmo, evento extraordinário (e cobre de vergonha os seus predecessores declarados oficialmente “ortodoxos”, que nunca fizeram coisa semelhante). 
 
Só imagino o horror, o escândalo, o desespero que o gesto de Shoigu está provocando na “inteligência” liberal russa pró-EUA e nas capitais ocidentais. Ao pôr-se, pessoalmente e toda a Rússia, nas mãos de Deus, Shoigu declarou guerra espiritual, cultural e civilizacional contra o Império. Só por isso, já entrou para a história como um dos maiores homens da Rússia.

The Saker

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