terça-feira, 5 de maio de 2015

ISIL/ISIS/Daesh está na Ucrânia: «Agentes do Caos» dos EUA soltos na Eurásia

3/5/2015, [*] Mahdi Darius NazemroayaStrategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


EUA/ISIS - Coalisão Terrorista
Estará o chamado Islamic State in Iraque and Syria, ISIS [Estado Islâmico no Iraque e na Síria]/Islamic State in Iraque and the Levant, ISIL [Estado Islâmico no Iraque e no Levante]/Estado Islâmico (EI)/Al-Dawlah Al-Islamiyah fe Al-Iraque wa Al-Sham (DAISH/DAESH) ativo na Ucrânia pós-Maidan? Não há resposta exata, vale dizer: a resposta é “sim” e “não”.

Mais uma vez, o que é esse ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH? É um bando não coeso nem homogêneo de várias milícias costuradas juntas, frouxamente, exatamente como a Al-Qaeda que o precedeu. Incluídos nessa rede há grupos do Cáucaso, que lutaram na Síria e no Iraque. Agora estão na Ucrânia, usando essa etapa como trampolim para a Europa.

Os Agentes do Caos e a Guerra pela Eurásia

Os conflitos na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen são, todos, diferentes frentes numa só guerra multidimensional que os EUA e seus aliados fazem contra toda aquela parte do mundo. Essa guerra multidimensional visa a cercar a Eurásia. China, Irã e Rússia são os principais alvos diretos.

Os EUA também mantêm uma sequência de operações mediante as quais planeja tomar esses países. O Irã é o primeiro, depois a Rússia, com a China como última parte desse conjunto eurasiano compreendido nessa Tripla Entente Eurasiana. Não é coincidência que os conflitos na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen aconteçam bem próximos das fronteiras de Irã e Rússia, porque Teerã e Moscou são os alvos de curto prazo de Washington.

Nessa mesma linha da natureza interconectada dos conflitos em Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia e Iêmen, há também uma conexão entre as forças violentas, racistas, xenofóbicas e sectárias que foram liberadas como “agentes do caos”. Não é coincidência que a revista Newsweek tenha publicado, dia 10/9/2014, a seguinte manchete: “Voluntários nacionalistas ucranianos cometem crimes de guerra de estilo-ISIS”.

Saibam disso ou não, essas forças desviantes – sejam as ultranacionalistas milícias do Setor Direita na Ucrânia, ou os degoladores da Frente Al-Nusra e o ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH na Síria e no Iraque, todos servem ao mesmo patrão. Esses agentes do caos estão disparando diferentes ondas de caos para impedir a integração da Eurásia e o crescimento de uma nova ordem mundial livre da ditadura dos EUA.

Agentes do Caos
Esse «caos construtivo» que está sendo disparado na Eurásia acabará por alcançar também a Índia. Se New Delhi pensa que será deixada em paz, está tolamente errada. Os mesmos agentes do caos lá chegarão, como praga. A Índia também está na alça de mira dos EUA, como China, Irã e Rússia.

Estranhas alianças: o ISIL/ DAESH e os ultranacionalistas na Ucrânia?

Não deve surpreender ninguém que os diferentes agentes do caos estejam alinhados. Servem ao mesmo patrão e têm os mesmos inimigos, um dos quais é a Federação Russa.

Nesse contexto é que Marcin Mamon escreveu sobre a conexão ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH na Ucrânia. Em sua reportagem, explica até que alguns dos combatentes vindos do Cáucaso sentem que têm uma dívida com ucranianos da extrema direita como Oleksandr Muzychko.

Mamon é cineasta documentarista polonês, que produziu vários documentários sobre a Chechênia, dentre eles The Smell of Paradise com Mariusz Pilis em 2005, para a BBC. É declaradamente simpático à causa dos chechenos separatistas contra a Rússia no Norte do Cáucaso.

As viagens de Mamon ao Afeganistão e sua interação com os combatentes chechenos resultaram em que o documentarista polonês também teve contatos com o ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH dentro da Síria e da Turquia. E esses contatos, sem que o documentarista esperasse, acabaram por levá-lo por nova trilha, até a Ucrânia.

Naquele momento, eu nem sabia com quem me encontraria. Só conhecia aquele Khalid, meu contato na Turquia com o Estado Islâmico [ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH], que me dissera que seus irmãos estavam na Ucrânia e que eu podia confiar nelesMamon escreve sobre seu encontro, (...) numa  rua esburacada em Kiev, a leste do Rio Dnieper, numa área conhecida como Margem Esquerda.

Marcin Mamon
Num artigo anterior, Mamon explica que esses ditos

(...) irmãos eram membros do ISIS e de outras organizações, que  estão em todos os continentes, e em praticamente todos os países, e agora estão também na Ucrânia.


Khalid, que usa pseudônimo, lidera o braço clandestino do Estado Islâmico em Istambul. Veio da Síria para ajudar a controlar o fluxo de voluntários que chegavam à Turquia, vindos de todo o mundo, querendo unir-se à jihad global. Naquele momento, ele queria pôr-me em contato com Ruslan, um irmão que lutava com os muçulmanos na Ucrânia.

Ultranacionalistas ucranianos como Muzychko também logo viraram irmãos e foram aceitos nessa rede. Mamon explica que os combatentes chechenos aceitaram Muzychko,

(...) apesar de ele jamais se ter convertido ao Islã  e que  Muzychko, com outros voluntários ucranianos, uniu-se aos combatentes chechenos e lutou na primeira guerra chechena contra a Rússia,  na qual  comandaram um grupo de voluntários ucranianos chamado “Viking”, que combateu sob o comando do famoso líder militante checheno Shamil Basayev.

Por que o ISIL prepara batalhões privados na Ucrânia?

O que significa que separatistas chechenos e a rede transnacional dos chamados irmãos ligados ao ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH estejam sendo recrutados ou usados nas fileiras de milícias privadas que estão sendo usadas por oligarcas ucranianos? É pergunta muito importante. E é onde se pode ver claramente como todos esses elementos são agentes do caos.

Isa Munayev
Marcin Mamon viajou à Ucrânia para encontrar o combatente checheno Isa Munayev. O currículo de Munayev é apresentado como segue:

Mesmo antes de chegar à Ucrânia, Munayev já era bem conhecido. Combateu contra forças russas nas duas guerras chechenas; na segunda, comandou a guerra em Grozny. Depois que a capital chechena foi tomada por forças russas, entre 1999 e 2000, Munayev e seus homens refugiaram-se nas montanhas. Combateram ali até 2005, quando Munayev for gravemente ferido e viajou para a Europa para ser tratado. Munayev viveu na Dinamarca até 2014. Então irrompeu a guerra na Ucrânia, e ele decidiu que era hora de voltar a combater outra vez contra os russos.

A passagem acima é importante, porque ilustra o modo como EUA e União Europeia (UE) apoiaram militantes em luta contra a Rússia. Nos EUA e na UE, o refúgio que a Dinamarca deu a Isa Munayev nunca foi contestado; mas o apoio que supostamente Moscou estaria dando aos soldados da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk é tratado como se fosse crime. Por que as duas medidas? Por que EUA, UE e OTAN apoiam movimentos independentistas e milícias armadas em outras partes do mundo, mas reprovam e proíbem que outros países façam o mesmo?

Um homem mais velho, numa jaqueta de couro, apresentou-me a Munayev. “Nosso bom irmão Khalid recomendou esse homem”, disse ele. Khalid é hoje um dos líderes mais importantes do Estado Islâmico. Khalid e Munayev conheciam-se dos anos em que lutaram juntos na Chechêniaexplica Marcin Mamon sobre as conexões entre os separatistas chechenos e ISIS/ ISIL/ EI/ DAISH/ DAESH.


(...) um dos que se desdobrariam em várias dúzias de batalhões privados que brotaram para lutar ao lado do governo ucraniano, operando separados dos militares.

A milícia de Munayev recebeu o nome de Batalhão Dzhokhar Dudayev, em homenagem ao presidente checheno separatista.
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[*] Mahdi Darius Nazemroaya é cientista social, escritor premiado, colunista e pesquisador. Suas obras são reconhecidas internacionalmente em uma ampla série de publicações e foram traduzidas para mais de vinte idiomas, incluindo alemão, árabe, italiano, russo, turco, espanhol, português, chinês, coreano, polonês, armênio, persa, holandês e romeno. Seu trabalho em ciências geopolíticas e estudos estratégicos tem sido usado por várias instituições acadêmicas e de defesa de teses em universidades e escolas preparatórias de oficiais militares. É convidado freqüente em redes internacionais de notícias como analista de geopolítica e especialista em Oriente Médio. 
Recentemente, em viagem pela América Central, contactou a Frente Sandinista de Libertação Nacional, em sua base em León, na Nicarágua. Como Observador Internacional esteve em El Salvador no primeiro turno das eleições. 

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