27/11/2012, Spengler, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da
Vila Vudu
David P. Goldman (Spengler) |
É
sintomático, da condição nacional em que estão os EUA, que a maior humilhação
jamais sofrida pelo país como nação, e por um presidente dos EUA pessoalmente,
tenha passado praticamente sem qualquer comentário, semana passada. Refiro-me ao
anúncio, dia 20 de novembro, em reunião que acontecia em Phnom Penh, de que
14 nações asiáticas, nas quais vive
metade da população do planeta, estão formando uma Parceria Econômica Regional
Ampla [orig. Regional Comprehensive
Economic Partnership], que exclui os EUA.
O
presidente Barack Obama participou da reunião para vender uma Parceria
Trans-Pacífico com base nos EUA que excluiria a China. Não vendeu. A parceria
liderada pelos americanos virou festa para a qual nenhum convidado apareceu.
Regional Comprehensive Economic Partnership (Geografia) |
Diferente
disso, a Associação de Nações do Sudeste Asiático [orig. Association of
Southeast Asian Nations] “mais” China, Índia, Japão, Coreia do Sul,
Austrália e Nova Zelândia, formará um clube que deixa de fora os EUA. Com 3
bilhões de asiáticos cada dia mais prósperos, desvanece-se o interesse pela
contribuição possível de 300 milhões de norte-americanos – especialmente quando
os americanos cada vez menos assumem os riscos de novas tecnologias. Da grande
força econômica dos EUA, a saber, de sua capacidade para inovar, existe
principalmente a lembrança, com a crise econômica já entrando no quarto ano,
desde 2008.
Regional Comprehensive Economic Partnership (países membros) |
Questão deixada de
lado na campanha eleitoral, a iniciativa da Parceria Trans-Pacífico foi objeto
de muita agitação no circuito político. Salon.com exaltava, dia
23/10:
Esse acordo é parte
nuclear do movimento de “pivô” na direção da Ásia e ocupou inúmeros think tanks e
políticos em Washington, mas permaneceu encoberto pelo alarido e alvoroço da
eleição. Mas mais que qualquer outra política, as tendências que a Parceria
Trans-Pacífico representa podem reestruturar as relações exteriores dos EUA e,
potencialmente, a própria economia.
De
fato, essa visão grandiosa, de mudança de jogo, só mobilizou aquela gente
triste, estranha, que agita a política nos intestinos do governo Obama. A
importância relativa dos EUA está sumindo.
Para
pôr esses temas em contexto: as exportações dos países asiáticos cresceram mais
de 20% a partir do pico de antes da crise econômica de 2008; enquanto as
exportações europeias caíram mais de 20%. As exportações norte-americanas
cresceram só marginalmente (cerca de 4%) a partir do pico pré-2008.
Prova
1: Exportações da Ásia, Europa e EUA
As
exportações da China para a Ásia, por sua vez, cresceram 50% a partir do pico
pré-crise; as exportações para os EUA cresceram cerca de 15%. Em US$90 bilhões,
as exportações da China para a Ásia são três vezes o que o país exporta para os
EUA.
Depois
de meses e ousadas (além de completamente erradas) previsões de que a economia
chinesa teria pouso turbulento, é hoje evidente que a China não terá pouso
algum, nem turbulento, nem não turbulento. O consumo doméstico, como as
exportações para a Ásia estão ambos próximos de 20% acima dos níveis do ano
passado, compensando a fragilidade de alguns mercados de exportação e do setor
de construção. Estagnadas estão, isso sim, as exportações para a moribunda
economia dos EUA.
Prova
2: Exportações da China para a Ásia vs EUA
Source:
Bloomberg
Em
2002,
a China importou cinco vezes mais da Ásia do que dos EUA.
Hoje, importa 10 vezes mais da Ásia, que dos EUA.
Prova 3:
Importações chinesas dos EUA e da Ásia
Source:
Bloomberg
Seguindo padrões
comerciais, as moedas asiáticas começaram a ser negociadas em termos mais
próximos do renminbi chinês, que do dólar norte-americano. Arvind Subramanian e
Martin Kessler escreveram, em outubro de 2012, em estudo para o Peterson Institute:
O
crescimento de um país para a dominância econômica tende a ser acompanhado por
sua moeda tornar-se um ponto de referência, com outras moedas acompanhando-a,
implícita ou explicitamente. Para uma amostra de economias de mercado
emergentes, mostramos que, nos últimos dois anos, o renminbi (RMB/yuan)
tornou-se crescentemente moeda de referência, o que definimos como aquela que
mostra alto grau de comovimento com outras moedas.
No
Leste da Ásia já há um bloco renminbi, porque o renminbi tornou-se moeda
dominante de referência, eclipsando o dólar, o que é desenvolvimento histórico.
Nessa região, sete moedas, dentre 10, comovimentam-se mais próximas do renminbi
do que do dólar, com o valor médio do comovimento com o renminbi sendo 40% maior
do que com o dólar. Descobrimos que comovimentos com uma moeda de referência,
especialmente para o renmimbi, estão associados com integração comercial.
Extraímos algumas
lições das prospectivas para o bloco do renminbi de mover-se além da Ásia,
baseadas numa comparação entre a situação de hoje do bloco renminbi e a do yen
japonês no início dos anos 1990s. Se o comércio fosse a única força, um bloco
renminbi mais global pode emergir em meados dos anos 2030s, mas reformas
complementares do setor financeiro e externo podem acelerar consideravelmente o
processo.
Tudo
isso é bem conhecido e está exaustivamente discutido. A questão é o quê os EUA
farão sobre isso, se é que farão alguma coisa.
Onde
os EUA têm uma vantagem competitiva? Além da aviação comercial, equipamento de
geração de energia e da agricultura, há algumas poucas áreas de real destaque
industrial. O gás natural barato ajuda algumas indústrias de baixo valor
agregado, como a de fertilizantes, mas os EUA estão ficando para trás no espaço
industrial.
Há
quatro anos, quando Francesco Sisci e eu propusemos um acordo monetário
sino-americano, como âncora para a integração comercial, os EUA ainda dominavam
a indústria de usinas nucleares. Com a venda do braço de energia nuclear da
Westinghouse à Toshiba, e das joint-ventures da Toshiba com a China para
construir usinas nucleares locais, aquela vantagem evaporou.
O
problema é que os americanos pararam de investir em indústrias de alta
tecnologia e alto valor agregado que produzem manufaturas de que a Ásia carece.
Os pedidos de bens de capital de manufaturas estão 38% abaixo do pico de 1999,
descontada a inflação. E as alocações de capital de risco em manufatura high
tech secaram.
Prova 4: Colapso
das alocações de capital de risco para indústrias relacionadas às exportações
(Março 2003=100)
Source: National
Venture Capital Association
Prova 5: Pedidos de
bens de capital norte-americanos quase 40% abaixo do pico de 1999 em termos
reais
Source: Bureau of
Economic Analysis
Sem
inovação e investimento, todos os acordos comerciais que o circuito político em
Washington conceba pouco ou nada ajudarão. Nem ajudará, deve-se acrescentar,
algum ajuste nas taxas de câmbio.
Difícil
imaginar o que o presidente Obama teria em mente ao chegar à Ásia com proposta
de uma Parceria Trans-Pacífico desenhada para manter a China ao largo. O que os
EUA têm a oferecer aos asiáticos?
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Estão tomando emprestados $600 bilhões por ano, do resto do mundo, para financiar uma dívida estatal de $1,2 trilhões, principalmente do Japão (a China foi vendedora líquida de seguros do Tesouro durante o ano passado).
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São tomadores de capital, não provedores de capital.
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São grande mercado importador, mas o mercado está diminuindo rapidamente, em importância relativa, enquanto o comércio intra-asiático cresce mais rapidamente que o comércio com os EUA.
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E a força dos EUA como inovadores e incubadores de empreendedores diminuiu drasticamente desde a crise de 2008, sem agradecimentos ao governo Obama, que impôs dura tarefa aos que pensem em iniciar um negócio, sob a forma de seu programa de assistência à Saúde.
Países participantes da reunião de Phnon Penh (note local da bandeira dos EUA) |
Washington
pode querer muito “pivotear-se” na direção da Ásia. Em Phnom Penh, contudo,
líderes asiáticos, de fato, convidaram Obama a fazer um pivô de 360 graus e
voltar para casa.
Noto que a história, de uma forma ou de outra, se repete. Notei também que depois de uma superprodução de bens, onde todos os ricos se refestelaram, tem que haver uma grande destruição de bens através de algum grande conflito militar. Em seguida têm-se o dever de reconstruir o que foi destruído. É onde entram os "reformadores" fazendo girar novamente a roda da economia.
ResponderExcluirA(s) guerra(s)já está(ão) aí. Iraque, Af-Pak, Somália, Síria, etc.. Além dessas temos a "ciberguerra" tão ausente do noticiário e tão presente no nosso cotidiano.
ExcluirAbraço
Castor Filho