quarta-feira, 14 de maio de 2014

Nova guerra em Kiev: Timoshenko, a oclocrata, versus Poroshenko, o oligarca

12/5/2014, Dmitry MININ, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

      Yulia Timoshenko           Piotr Poroshenko
Com a pseudo eleição ucraniana já se aproximando, dia 25 de maio de 2014, mais um conflito vem-se somar à confusão que reina no país.

Os dois principais “candidatos” até agora sempre leais ao regime de Kiev e aos EUA, acabam de saltar, um no pescoço do outro. O bilionário do chocolate, Peotr Poroshenko, que “liderava” as “pesquisas” está fazendo oposição declarada à ex-primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Timoshenko, que se declarou a única política em toda a Ucrânia capaz de promover as reformas de que o país carece desesperadamente. Falando numa conferência com jornalistas em Nikolayev, Timoshenko disse sem meias palavras que: 

Se o país eleger outro candidato que não seja ela mesma, não haverá como evitar um terceiro turno revolucionário. Não quero carregar por mais tempo a responsabilidade pelo fracasso da revolução – disse ela. – Mas se o país eleger outro presidente, e, de fato, só vejo um rival possível, hoje, acho que teremos de enfrentar um terceiro round revolucionário. Porque, se meu adversário for eleito, não haverá nenhuma chance de se fazer mudança alguma. Conheço toda essa gente.

O “racha” acontece entre (i) a oligarquia que anseia por cimentar a vitória obtida pelos fascistas na Praça Maidan e (ii) o instrumento usado para chegar lá – a fúria de grupos armados, auto-organizados por ideologia neonazista, que caracteriza a instalação da oclocracia – o governo de multidões, de levas de gente. Os magnatas que continuam a governar ainda precisam dessas gangues armadas, sobretudo depois que a resistência popular organizou-se no sudeste, mas querem manter controle mais firme sobre o próprio governo de Kiev.

Timoshenko, especialista em manipulação de palanques e da televisão, preocupa os que se acostumaram a viver como se pudessem mandar e desmandar completamente sempre; ela fala de “guerra até a vitória final”. Como sempre fez, ela manipula os instintos mais basais das massas que a televisão e a mídia arregimentam. O modo como fala, as histórias sobre lançar fora as muletas e sair andando, ou as repetidas ameaças de que usará bombas atômicas contra os russos, além dos olhos extraordinariamente fixos e brilhantes, que ela mantém quase parados no interlocutor ou nas câmeras enquanto fala – tudo isso tem levado especialistas a cogitar, inclusive, a possibilidade de que ela consuma drogas, ou que padeça de alguma anomalia psicológica. Assista vídeo de parte do primeiro discurso de Yulia Timoshenko na Praça Maidan a seguir:


Fato é que, drogada, doente, ou doida, é Timoshenko quem manda, hoje, na política na Ucrânia. Ela preside o partido ao qual pertencem os dois principais “líderes”: o primeiro-ministro “interino”, “Yats” (como Victoria Nuland chama Yatsenyuk) e o presidente também “interino”, Turchinov. Não surpreende que o país esteja mergulhado na confusão total que hoje se vê.

Mas por que essa Valquíria à ucraniana, que sabe encenar publicamente seus “poderes”, tem tanto medo de ver Poroshenko na presidência do país? A Constituição limita o poder do presidente; o “rei do chocolate” foi dos principais mantenedores e financiadores do “movimento” da Praça Maidan e jamais se desviou das ideias do nacionalismo ucraniano, sejam lá quais forem. A “denúncia” de Timoshenko, de que não gosta de oligarcas por motivos de classe, essa, é absoluta e completamente ridícula. Essa recém-emergida neo-Joana d’Arc, ex-morena e atual loura “química” de longa trança ascética não é conhecida pelos hábitos de ascetismo. Não há quem não saiba que ela embolsou muito, muito dinheiro que, por direito, pertence ao povo ucraniano, e pouca diferença faz que o presidente Yanukovich tenha conseguido prendê-la, julgá-la, condená-la e metê-la na cadeia.

Viktor Yanukovich
Na Grã-Bretanha, recentemente, se descobriram 85 contas bancárias nas quais, somados, encontraram-se depósitos de 85 milhões de libras. Timoshenko já percebeu que os oligarcas afinal atacarão os líderes olocratas (que comandam diferentes grupos armados, de simples ladrões, a neonazistas e neofascistas) e que ela está à frente de uma legião de ladrões e será atacada sem dó.

Se a eleição acontecer dia 25 de maio de 2014, o novo presidente terá uma arma poderosíssima – o controle sobre as unidades judiciárias e de aplicação da lei que estão investigando os massacres e as provocações que aconteceram durante as manifestações na Praça Maidan; em Odessa; e, ontem, em Mariupol. Poroshenko pode obter provas de autoria e de responsabilidade; não implica que divulgue o que descobrir; o próprio dinheiro de Poroshenko também é dinheiro sujo de sangue. Mas sabe-se, com razoável certeza, que ele não foi o responsável pela ordem que levou aos massacres. Assim sendo, Poroshenko estará em posição que lhe permitirá atacar muito furiosamente seus adversários e, provavelmente, varrê-los do quadro político.

Para Timoshenko, é essencialmente importante que as investigações que, hoje, sim, estão em andamento, sejam esquecidas, “adiadas” por tempo suficiente para que as provas desapareçam. Afinal de contas, foi o partido dela, o Batkivshchyna, quem gerou o golpe encenado na Ucrânia – e absolutamente nada aconteceu sem a aprovação da líder. De todos os políticos ucranianos, Yulia Timoshenko é a única capaz de fazer o que, sim, ela fez – provavelmente com ajuda dos norte-americanos.

Conhecida na Ucrânia como “a General Pinochet de saias”, ou “o Demônio da Trança”, Timoshenko não tem desejo algum de voltar para trás das grades. E não admitirá perder as rédeas; é mulher em quem a sede de poder é incontrolável. Ela fará o que for preciso, irá até onde tiver de ir, para conseguir o que quer. Se depender de lançar a Ucrânia num inferno de guerra civil, ela fará. Em todo o país proliferam organizações armadas, e sabe-se que ela está constituindo um exército seu – uma Frente de Salvação Nacional – com estrategistas e profissionais treinados encarregados das posições de comando. Calcula-se que o exército de Yulia está em cerca de 10 mil soldados, e a formação visa a estar concluída para o tal “terceiro round da revolução” de que ela já falou.

Poroshenko e Timoshenko têm, ambos, posições praticamente idênticas em relação à Rússia, mas ela já “marcou” seu adversário como “traidor nacional”.

Dmitry Firtash
Como ela disse em programa transmitido pela TV “Svoboda Slova (Liberdade de Expressão), não é possível qualquer tipo de coalizão com Poroshenko. Ela o acusou de estar envolvido em negociatas com Dmitry Firtash, magnata do gás, acusado de contatos com Moscou. Segundo o que ela disse naquele programa, ambos assinaram um pacto em Viena, quando Firtash estava preso. Depois de muitas investigações, a Rússia afinal levantou a proibição de embarque de produtos da empresa ucraniana Roshen, que recebia privilégios do Serviço Federal Russo de Consumo e Proteção de Direitos do Consumidor e do Bem-Estar. Essa empresa Roshen pertence a Poroshenko e o fim da proibição gerou suspeitas em Timoshenko. O estaleiro de Simferopol também pertence, pelo menos formalmente, ao “magnata do chocolate”, embora, na prática, ele não tenha poder sobre a operação. A empresa acaba de assinar um contrato para reparos de navios, com a Rússia, no valor de US$ 136 milhões. A líder do Partido Batkivschyna imediatamente viu, nesse negócio, motivo para acusar Poroshenko de traição.

Os movimentos, as tiradas e as jogadas de Timoshenko começam a assustar o ocidente. Ela já chantageou a União Europeia e os EUA, ameaçando todos com uma “segunda Praça Maidan”. Seu sonho dourado é converter-se em “preferida” do ocidente e fazer uma oferta de ajuda militar à Ucrânia, para que consiga fazer guerra contra a Rússia. Timoshenko não se deterá ante a possibilidade de provocar confronto entre EUA e Rússia, se isso a empurrar na direção de cada vez mais poder. Em comparação a essa “General Pinochet de saias”, o próprio Poroshenko e os espiões-analistas da CIA parecem gente moderada.

Muitos milhares de vidas humanas dependem do que essa mulher – muitos falam de seus persistentes hábitos de consumo de drogas – diga ou faça. Dia 18 de abril de 2014, Timoshenko pediu ajuda ao Congresso dos EUA, para que lhe dessem sistemas de defesa aérea e sistemas antiblindados, além de instrutores para treinamento de soldados. Alguns senadores dos EUA já dizem que melhor será que ela abandone a corrida eleitoral.

Jim Slattery
Yulia está investindo tudo em seus dotes “cênicos”, para convencer o governo dos EUA a apoiá-la. Seus representantes já se reuniram, que se saiba, pelo menos três vezes com senadores e deputados norte-americanos, antes da visita oficial prevista para futuro próximo. Formalmente, o objetivo da visita é agradecer pelo apoio dos EUA durante o tempo que Timoshenko permaneceu presa. Jim Slattery, ex-Congressista e presidente de um grupo de militantes políticos ativos em Washington, está trabalhando nos preparativos. Afinal, a visita, agora, está suspensa. Pelo que se estima, Timoshenko já teria consumido mais de 1 bilhão de dólares para finalidades de lobbying nos EUA.

Os oligarcas ucranianos da equipe de Poroshenko não estão perdendo tempo. Dia 6 de maio passado (2014), houve outra tentativa de golpe no Parlamento da Ucrânia, que não transpareceu para o público externo. O partido UDAR levantou-se com uma iniciativa para eleger Poroshenko presidente do Parlamento, porta-voz e presidente interino, em substituição a Turchinov. Sugeriu que Turchinov e Arsen Avakov, ministro “interino” do Interior, fossem demitidos e que o diretor das Forças Especiais SBU, Valentin Nalivaichenko fosse posto em seu lugar, como homem do partido UDAR e da CIA.

Antes de se construir qualquer consenso sobre a questão, manifestaram-se membros do Partido das Regiões e suas duas facções, deputados independentes e alguns deputados de Yulia. Os comunistas estavam dispostos a apoiar a ideia de demitir todo o governo “interino”, mas recusaram-se a apoiar a nomeação do magnata Poroshenko (apesar de os votos dos comunistas não serem decisivos). Formalmente, a razão seria fazer fracassar a “operação antiterrorismo”. A eleição presidencial deveria ser adiada até o outono, para que a “ordem constitucional” pudesse ser restaurada.

Nesse ponto da discussão, o governo da Ucrânia e a embaixada dos EUA recomendaram que todos parassem de flertar com novos golpes – porque se entendia que Moscou sairia vitoriosa, se oligarcas e olocratas entrassem em confronto direto.

Naquele momento, evitou-se o confronto cara a cara, mas a disputa entre as duas forças, com resultado imprevisível e saldo certamente negativo para o país continua à espera, adiante, na mesma estrada. Comentando a situação, o deputado Spiridon Kilinkarov observou que:

(...) olocracia implica que o poder das gangues armadas leva inevitavelmente à ditadura. Nada pode ser mais horrível que isso. Regra geral, quando os eventos tomam esse rumo, o país acaba tombando vítima de garras de ferro.



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