12/5/2014, Dmitry MININ, Strategic Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Yulia Timoshenko Piotr Poroshenko |
Com a pseudo
eleição ucraniana já se aproximando, dia 25 de maio de 2014, mais um conflito
vem-se somar à confusão que reina no país.
Os dois
principais “candidatos” até agora sempre leais ao regime de Kiev e aos EUA,
acabam de saltar, um no pescoço do outro. O bilionário do chocolate, Peotr
Poroshenko, que “liderava” as “pesquisas” está fazendo oposição declarada à
ex-primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Timoshenko, que se declarou a única
política em toda a Ucrânia capaz de promover as reformas de que o país carece
desesperadamente. Falando numa conferência com jornalistas em Nikolayev,
Timoshenko disse sem meias palavras que:
Se o país eleger outro candidato que não seja
ela mesma, não haverá como evitar um terceiro turno revolucionário. Não quero
carregar por mais tempo a responsabilidade pelo fracasso da revolução – disse ela.
– Mas se o país eleger outro presidente,
e, de fato, só vejo um rival possível, hoje, acho que teremos de enfrentar um
terceiro round revolucionário.
Porque, se meu adversário for eleito, não haverá nenhuma chance de se fazer
mudança alguma. Conheço toda essa gente.
O “racha”
acontece entre (i) a oligarquia que
anseia por cimentar a vitória obtida pelos fascistas na Praça Maidan e (ii) o instrumento usado para chegar lá
– a fúria de grupos armados, auto-organizados por ideologia neonazista, que
caracteriza a instalação da oclocracia – o governo de multidões,
de levas de gente. Os magnatas que continuam a governar ainda precisam dessas
gangues armadas, sobretudo depois que a resistência popular organizou-se no
sudeste, mas querem manter controle mais firme sobre o próprio governo de Kiev.
Timoshenko,
especialista em manipulação de palanques e da televisão, preocupa os que se
acostumaram a viver como se pudessem mandar e desmandar completamente sempre;
ela fala de “guerra até a vitória final”. Como sempre fez, ela manipula os
instintos mais basais das massas que a televisão e a mídia arregimentam. O modo
como fala, as histórias sobre lançar fora as muletas e sair andando, ou as
repetidas ameaças de que usará bombas atômicas contra os russos, além dos olhos
extraordinariamente fixos e brilhantes, que ela mantém quase parados no
interlocutor ou nas câmeras enquanto fala – tudo isso tem levado especialistas
a cogitar, inclusive, a possibilidade de que ela consuma drogas, ou que padeça
de alguma anomalia psicológica. Assista vídeo de parte do primeiro discurso de Yulia Timoshenko na Praça Maidan a seguir:
Fato é que,
drogada, doente, ou doida, é Timoshenko quem manda, hoje, na política na
Ucrânia. Ela preside o partido ao qual pertencem os dois principais “líderes”:
o primeiro-ministro “interino”, “Yats” (como Victoria Nuland chama Yatsenyuk) e
o presidente também “interino”, Turchinov. Não surpreende que o país esteja
mergulhado na confusão total que hoje se vê.
Mas por que
essa Valquíria à ucraniana, que sabe encenar publicamente seus “poderes”, tem
tanto medo de ver Poroshenko na presidência do país? A Constituição limita o
poder do presidente; o “rei do chocolate” foi dos principais mantenedores e
financiadores do “movimento” da Praça Maidan e jamais se desviou das ideias do
nacionalismo ucraniano, sejam lá quais forem. A “denúncia” de Timoshenko, de
que não gosta de oligarcas por motivos de classe, essa, é absoluta e
completamente ridícula. Essa recém-emergida neo-Joana d’Arc, ex-morena e atual
loura “química” de longa trança ascética não é conhecida pelos hábitos de
ascetismo. Não há quem não saiba que ela embolsou muito, muito dinheiro que,
por direito, pertence ao povo ucraniano, e pouca diferença faz que o presidente
Yanukovich tenha conseguido prendê-la, julgá-la, condená-la e metê-la na
cadeia.
Viktor Yanukovich |
Na
Grã-Bretanha, recentemente, se descobriram 85 contas bancárias nas quais,
somados, encontraram-se depósitos de 85 milhões de libras. Timoshenko já
percebeu que os oligarcas afinal atacarão os líderes olocratas (que comandam
diferentes grupos armados, de simples ladrões, a neonazistas e neofascistas) e
que ela está à frente de uma legião de ladrões e será atacada sem dó.
Se a eleição
acontecer dia 25 de maio de 2014, o novo presidente terá uma arma poderosíssima
– o controle sobre as unidades judiciárias e de aplicação da lei que estão
investigando os massacres e as provocações que aconteceram durante as
manifestações na Praça Maidan; em Odessa; e, ontem, em Mariupol. Poroshenko
pode obter provas de autoria e de responsabilidade; não implica que divulgue o
que descobrir; o próprio dinheiro de Poroshenko também é dinheiro sujo de
sangue. Mas sabe-se, com razoável certeza, que ele não foi o responsável pela
ordem que levou aos massacres. Assim sendo, Poroshenko estará em posição que
lhe permitirá atacar muito furiosamente seus adversários e, provavelmente,
varrê-los do quadro político.
Para Timoshenko,
é essencialmente importante que as investigações que, hoje, sim, estão em
andamento, sejam esquecidas, “adiadas” por tempo suficiente para que as provas
desapareçam. Afinal de contas, foi o partido dela, o Batkivshchyna, quem gerou
o golpe encenado na Ucrânia – e absolutamente nada aconteceu sem a aprovação da
líder. De todos os políticos ucranianos, Yulia Timoshenko é a única capaz de
fazer o que, sim, ela fez – provavelmente com ajuda dos norte-americanos.
Conhecida na
Ucrânia como “a General Pinochet de saias”, ou “o Demônio da Trança”,
Timoshenko não tem desejo algum de voltar para trás das grades. E não admitirá
perder as rédeas; é mulher em quem a sede de poder é incontrolável. Ela fará o
que for preciso, irá até onde tiver de ir, para conseguir o que quer. Se
depender de lançar a Ucrânia num inferno de guerra civil, ela fará. Em todo o
país proliferam organizações armadas, e sabe-se que ela está constituindo um
exército seu – uma Frente de Salvação Nacional – com estrategistas e
profissionais treinados encarregados das posições de comando. Calcula-se que o
exército de Yulia está em cerca de 10 mil soldados, e a formação visa a estar
concluída para o tal “terceiro round da revolução” de que ela já falou.
Poroshenko e
Timoshenko têm, ambos, posições praticamente idênticas em relação à Rússia, mas
ela já “marcou” seu adversário como “traidor nacional”.
Dmitry Firtash |
Como ela
disse em programa transmitido pela TV “Svoboda Slova (Liberdade de Expressão),
não é possível qualquer tipo de coalizão com Poroshenko. Ela o acusou de estar
envolvido em negociatas com Dmitry Firtash, magnata do gás, acusado de contatos
com Moscou. Segundo o que ela disse naquele programa, ambos assinaram um pacto
em Viena, quando Firtash estava preso. Depois de muitas investigações, a Rússia
afinal levantou a proibição de embarque de produtos da empresa ucraniana
Roshen, que recebia privilégios do Serviço Federal Russo de Consumo e Proteção
de Direitos do Consumidor e do Bem-Estar. Essa empresa Roshen pertence a
Poroshenko e o fim da proibição gerou suspeitas em Timoshenko. O estaleiro de
Simferopol também pertence, pelo menos formalmente, ao “magnata do chocolate”,
embora, na prática, ele não tenha poder sobre a operação. A empresa acaba de
assinar um contrato para reparos de navios, com a Rússia, no valor de US$ 136
milhões. A líder do Partido Batkivschyna imediatamente viu, nesse negócio,
motivo para acusar Poroshenko de traição.
Os movimentos,
as tiradas e as jogadas de Timoshenko começam a assustar o ocidente. Ela já
chantageou a União Europeia e os EUA, ameaçando todos com uma “segunda Praça
Maidan”. Seu sonho dourado é converter-se em “preferida” do ocidente e fazer
uma oferta de ajuda militar à Ucrânia, para que consiga fazer guerra contra a
Rússia. Timoshenko não se deterá ante a possibilidade de provocar confronto
entre EUA e Rússia, se isso a empurrar na direção de cada vez mais poder. Em
comparação a essa “General Pinochet de saias”, o próprio Poroshenko e os
espiões-analistas da CIA parecem gente moderada.
Muitos
milhares de vidas humanas dependem do que essa mulher – muitos falam de seus
persistentes hábitos de consumo de drogas – diga ou faça. Dia 18 de abril de
2014, Timoshenko pediu ajuda ao Congresso dos EUA, para que lhe dessem sistemas
de defesa aérea e sistemas antiblindados, além de instrutores para treinamento
de soldados. Alguns senadores dos EUA já dizem que melhor será que ela abandone
a corrida eleitoral.
Jim Slattery |
Yulia está
investindo tudo em seus dotes “cênicos”, para convencer o governo dos EUA a
apoiá-la. Seus representantes já se reuniram, que se saiba, pelo menos três
vezes com senadores e deputados norte-americanos, antes da visita oficial
prevista para futuro próximo. Formalmente, o objetivo da visita é agradecer
pelo apoio dos EUA durante o tempo que Timoshenko permaneceu presa. Jim
Slattery, ex-Congressista e presidente de um grupo de militantes políticos
ativos em Washington, está trabalhando nos preparativos. Afinal, a visita,
agora, está suspensa. Pelo que se estima, Timoshenko já teria consumido mais de
1 bilhão de dólares para finalidades de lobbying nos EUA.
Os oligarcas
ucranianos da equipe de Poroshenko não estão perdendo tempo. Dia 6 de maio
passado (2014), houve outra tentativa de golpe no Parlamento da Ucrânia, que
não transpareceu para o público externo. O partido UDAR levantou-se com uma
iniciativa para eleger Poroshenko presidente do Parlamento, porta-voz e
presidente interino, em substituição a Turchinov. Sugeriu que Turchinov e Arsen
Avakov, ministro “interino” do Interior, fossem demitidos e que o diretor das Forças
Especiais SBU, Valentin Nalivaichenko fosse posto em seu lugar, como
homem do partido UDAR e da CIA.
Antes de se
construir qualquer consenso sobre a questão, manifestaram-se membros do Partido
das Regiões e suas duas facções, deputados independentes e alguns deputados de
Yulia. Os comunistas estavam dispostos a apoiar a ideia de demitir todo o
governo “interino”, mas recusaram-se a apoiar a nomeação do magnata Poroshenko
(apesar de os votos dos comunistas não serem decisivos). Formalmente, a razão
seria fazer fracassar a “operação antiterrorismo”. A eleição presidencial
deveria ser adiada até o outono, para que a “ordem constitucional” pudesse ser
restaurada.
Nesse ponto
da discussão, o governo da Ucrânia e a embaixada dos EUA recomendaram que todos
parassem de flertar com novos golpes – porque se entendia que Moscou sairia
vitoriosa, se oligarcas e olocratas entrassem em confronto direto.
Naquele
momento, evitou-se o confronto cara a cara, mas a disputa entre as duas forças,
com resultado imprevisível e saldo certamente negativo para o país continua à
espera, adiante, na mesma estrada. Comentando a situação, o deputado Spiridon
Kilinkarov observou que:
(...) olocracia implica que o poder das gangues
armadas leva inevitavelmente à ditadura. Nada pode ser mais horrível que isso.
Regra geral, quando os eventos tomam esse rumo, o país acaba tombando vítima de
garras de ferro.
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