30/4/2014, [*] Paul Craig Roberts − Institute for Political Economy
Traduzido por mberublue
PARA VENDA - BOLHAS "Este é nosso mais popular modelo financeiro" |
A economia
dos Estados Unidos é castelo de cartas. É fraudulenta em todos os
seus aspectos, e a ilusão de recuperação é criada a partir de estatísticas
também fraudulentas.
O próprio
capitalismo americano é uma quimera. A manipulação prepondera em todos os
mercados financeiros. A imensa liquidez despejada nos mercados financeiros pela
política econômica denominada “Federal
Reserve’s Quantitative Easing” (emissão desenfreada de moeda sem lastro [Nrc]) aumenta o preço das ações, assim como o
valor das obrigações, e faz disparar as taxas de juros, o que, supostamente,
seria consequência do custo do capital extremamente baixo, perto de zero ou
mesmo negativo. Isso implica que o capital é tão abundante que se torna
extremamente barato e pode ser tomado praticamente de graça. Não se permite que
vá à bancarrota qualquer tipo de grande empresa, como mega bancos ou montadoras
de automóveis, mesmo que estejam a caminho da falência. Em vez disso, o aumento
da dívida pública e a impressão de moeda são usados para cobrir os fracassos
destas corporações privadas “grandes demais para falir”, que acabam por se
manter com o nariz fora da água à custa não dos próprios acionistas, mas do
povo comum que não possui ações dessas corporações.
Thomas Picketty |
O lucro
obtido pelo uso eficiente desses recursos pelo capitalismo não se constitui em
medida de bem estar social, quando auferidos pela soma dos recursos fáceis,
acrescidas da substituição da mão de obra local pela estrangeira mais barata,
pois essa prática acaba por corroer o poder de compra dos consumidores e
aumenta a renda das corporações, resultando em aumento da concentração desigual
da riqueza. No século 21, a
era do trabalho “offshoring” (deslocalizado, no sentido da procura das empresas por países onde a mão
de obra seja mais barata [NT]), os Estados
Unidos experimentaram uma explosão sem precedentes da renda e da desigualdade
na distribuição da riqueza. Tratei dessa clara evidência do fracasso do
capitalismo em promover o bem estar social, no sentido econômico tradicional,
em meu livro The failure of Laissez-Faire Capitalism (O fracasso do Capitalismo Laissez-Faire), e o recém
publicado livro de Thomas Picketty, Capital
in the 21st Century (O capital
no século 21) nos traz um quadro preocupante da realidade, em oposição à
maneira como é vista por economistas tranquilos como Paul Krugman. O que mais
preocupa Picketty é o quadro da desigualdade que ele descreve, mas eu concordo
com Michael
Hudson, para quem a situação é ainda mais preocupante do que a pinta Picketty.
Michael Hudson |
Os
poderosos interesses privados que mantêm sob controle os governos, os tribunais
e as agências regulatórias metamorfosearam o capitalismo em um mecanismo de
pilhagem. Nenhuma função positiva é executada por Wall Street. Wall Street
é apenas mais uma máquina de saquear, um peso morto prejudicial à sociedade.
Wall Street fabrica lucros, por meio de rápidas transações facilitadas por
ágeis computadores, vendendo instrumentos financeiros fraudulentos, como por
exemplo, o jogo predatório da utilização de títulos com boa classificação de
crédito, através da alavancagem do capital próprio até níveis sem precedentes,
resultando em apostas que não poderão ser honradas, e pela manipulação e
aparelhagem de todos os mercados de commodities.
A ajuda a
esse mecanismo gigantesco de pilhagem é fornecida pelo FED (Banco Central dos
Estados Unidos) e o Tesouro Nacional, por meio do “Plunge Protection Team” (literalmente, equipe que dá proteção a fundo, o PPT, composto do
presidente do FED, o Secretário do Tesouro e os chefes da SEC e da Associação
de Commodities do Mercado Futuro – “entidade não formal” criada em 1987 por
Ronald Reagan, pela Ordem Executiva n. 12.631 para – não há outras palavras –
manipular o mercado através de derivativos, utilizando-se para isso da fraude
dos preços da moeda, de ações e do ouro por meio de intervenções do Banco
Central americano e do Tesouro Nacional – [NT]) que dão
apoio ao mercado de ações com aquisições maciças no mercado de futuros e
protegem o dólar contra a extraordinária impressão de moeda nova com operações
a descoberto no mercado de futuro do ouro do Comex (comércio do Exterior).
A economia
dos Estados Unidos já não é baseada em educação, trabalho duro, preços de
mercado livre e a responsabilidade que o mercado livre real impõe. Em vez
disso, a economia dos Estados Unidos é baseada atualmente na manipulação dos
preços, controle especulativo das commodities, apoio ao dólar pelos
Estados-fantoches de Washington, estatísticas oficiais ou falsificadas ou
manipuladas, falsa propaganda pela mídia financeira e inércia de países como
Rússia e China, que são prejudicados de maneira direta, tanto econômica quanto
politicamente, pelo sistema de pagamento em dólares.
Edifício-sede da FED, Federal Reserve em New York City |
Como os
governos na maioria do resto do mundo são incompetentes, a incompetência de
Washington não aparece tanto, e isto é a salvação dos EUA, mas não a dos
americanos que vivem sob as regras impostas por Washington. Como todas as
estatísticas mostram com clareza, a parcela da riqueza gerada que cabe à
população dos Estados Unidos segue em constante declínio. Esse declínio
significa o fim do mercado consumidor interno que sempre foi o pilar de
sustentação da economia dos EUA. Agora que os mega ricos tem cada vez uma maior
parcela da renda e da riqueza, o que acontecerá com a economia dos EUA, baseada
na venda de importados e na produção externa de bens e serviços para um
consumidor doméstico com a renda em declínio? Como poderá a grande maioria dos
americanos comprar mais, se empobrecem continuamente há anos, o que os força a
pedir ainda mais empréstimos a bancos que não querem emprestar?
A América
na qual cresci era autossuficiente. O comércio exterior ainda era parte pequena
na economia. Quando fui Secretário Assistente do Tesouro, os Estados Unidos
ainda tinham excedente comercial com exceção do petróleo. A substituição dos
trabalhadores americanos por mão de obra mais barata no exterior ainda não
tinha começado e os lucros dos EUA com seus investimentos externos superavam o
lucro obtido nos Estados Unidos pelos investidores estrangeiros. Por
conseguinte, os lucros obtidos pelos EUA através de seus investimentos no
estrangeiro eram suficientes para cobrir o rombo de seu déficit energético na
balança comercial.
Wall Street, dias atuais (foto 2012) |
A ganância
desmesurada de Wall Street destruiu a
estabilidade econômica obtida durante a administração Reagan. Hoje, as empresas
são ameaçadas por aquisições por especuladores de Wall Street se não realizarem
altos lucros pela relocação de sua produção de bens e serviços em mercados
americanos no exterior. O preço baixo pago por empresas americanas pelo uso de
trabalhadores no exterior aumenta o lucro e o preço das ações e satisfaz ao
desejo de Wall Street por sempre mais
e mais lucros, mas significa o fim da melhora do estilo de vida dos Estados
Unidos, exceto para os mega ricos. A desregulamentação financeira encheu a
economia do risco de bolhas especulativas.
Os
americanos são povo incrivelmente otimista, mas enfrenta agora outro tipo de
pessoas que acabaram por queimar Wall
Street até os alicerces. Já os EUA estão preocupados apenas em lançar a
culpa de todos os seus problemas e em abusar de forma interminável de governos
estrangeiros como o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a China ou a Rússia.
O povo
americano, ao mesmo tempo passivo e esperançoso, é alvo ideal para saqueadores,
e sua economia, explorada até o osso, é um castelo de cartas.
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[*] Paul
Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um
economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como
secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como
um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street
Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou
perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política
econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch
e noInformation Clearing House, escrevendo extensamente sobre os efeitos
das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o
terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
americanos da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido
processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos,
opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as
políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do
Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com
pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton,
Oxford University.
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Nota da rede castorphoto
[1] O autor pode ter se referido a uma série de televisão
“A House of Cards”. Trailer a seguir:
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