9/5/2014, [*] Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O herói soviético, Abdulkhaim
Ismailov, hasteia a bandeira vermelha da URSS no alto do Reichstag em 2 de maio
de 1945 – Vitória sobre o nazi-fascismo do III° Reich − decretando o fim
da IIª Guerra Mundial na Europa. (Imagem e legenda levantadas por Maurício Porto)
|
As
celebrações do 69º aniversário da derrota do fascismo, na Rússia, na IIª Guerra
Mundial, aconteceram dias depois de os neofascistas ucranianos terem cometido
um horrendo massacre em Odessa. Para quem já conheça a genealogia, as imagens a
seguir falam por si mesmas.
E, na
sequência, um gambito geopolítico no jogo de xadrez em curso acrescentou
surpresa que ninguém conseguiu disfarçar, à hipocrisia que já é marca
registrada dos autoproclamados representantes da “civilização ocidental”.
O gambito foi
jogado por – e quem mais seria?! – Vladimir Putin, presidente da Rússia, que,
atualmente, mistura movimentos de xadrez, com ensinamentos de A Arte da
Guerra, de Sun Tzu, e do Tao Te Ching, de Lao Tzu. Não
surpreende que aquelas figuraças, os capi do “marketing político” e das
Relações Públicas & porta-vozes mortos-vivos do Departamento de Estado e
generais do OTANistão estejam perdidos no mato sem cachorro.
Diferente do
que prega a escola de diplomacia de delinquentes juvenis chefiada por Obama – que
quer-porque-quer-porque-quer “isolar” Putin e a Rússia – é possível negociar
uma trégua e algum acordo na tragédia em andamento na Ucrânia. E, sim, foram
negociados entre adultos capazes de falar e dizer coisa com coisa, Valdimir
Putin e a chanceler alemã Angela Merkel; a coisa foi discutida e, na sequência,
foi finalmente anunciada numa conferência de imprensa pelo presidente da
Organização para Segurança e Cooperação na Europa, Didier Burghalter.
O acordo será
vigente, desde que os mudadores de regime em Kiev – cujo nome completo é “Junta
Neofascista Neoliberal da OTAN” – abandonem a sua tal “operação antiterrorista”
e disponham-se a negociar
com os federalistas no Leste e no Sul da Ucrânia.
No gambito,
Putin sacrificou não um, mas dois peões; ele preferiria que os referendos
previstos para esse domingo no Leste da Ucrânia fossem adiados. Ao mesmo tempo,
ao mudar a posição do Kremlin, Putin disse que as eleições presidenciais do
próximo 25 de maio podem estar um passo mais perto, na direção correta.
Moscou sabe
que os referendos serão interpretados erroneamente pelo combo do OTANistão mal informado, como argumento para que o leste da
Ucrânia se autointegre à Rússia, como aconteceu na Crimeia. Podem, também, ser
usados como pretexto para mais sanções. E, sobretudo, Moscou tem todo o
interesse em evitar todos e quaisquer possíveis ataques-provocações
dissimulados sob falsa bandeira.
Soldados ucranianos com uniformes russos preparam-se para atacar Donetsk em 8/5/2014 |
Mas Moscou
não abandonou em momento algum sua posição, firme desde o primeiro momento:
antes de eleições presidenciais, têm de haver mudanças constitucionais na
direção da federalização, e as províncias têm de receber maiores poderes de
autonomia. E ainda não aconteceu, se é que algum dia acontecerá.
Com a
junta-da-OTAN-de-Kiev armando a maior confusão com o que chamam de “governar”;
o Fundo
Monetário Internacional já no comando de seu showde capitalismo de
desastre, a Rússia cortando
subsídios comerciais e à energia; e o movimento federalista crescendo mais a
cada minuto depois do massacre de Odessa, a Ucrânia virou questão tão tóxica
que Moscou, agora, tem todo o tempo do mundo a seu favor. A estratégia de Putin
é Tao Te Ching combinado à Arte da Guerra: observe o rio que flui
adiante, e dê corda, dê corda, dê corda, até seu inimigo enforcar-se bem
enforcado.
Estão conosco
ou estão contra nós
Putin ter
pedido ao povo da região do Donbass que adiasse o referendo – que acontecerá
mesmo assim – desencadeou debate feroz, no leste da Ucrânia e em toda a
Rússia, em torno de a Rússia poder estar traindo os falantes de russo na
Ucrânia.
Afinal, a
junta neofascista neoliberal da OTAN lançou uma “operação antiterroristas”
contra os cidadãos ucranianos, na qual até a terminologia é saída, diretamente
do regime à Dick Cheney, de “estão conosco ou estão contra nós”.
Imediatamente
e mais uma vez o desinformador-engambelador-em-Chefe é o Secretário de Estado
John Kerry, que se declarou:
(...) muito preocupado com os esforços dos
separatistas pró-Rússia em Donetsk, em Lugansk, para organizar um falso
referendo de independência dia 11 de maio. É o manual da Crimeia aplicado outra
vez, e nenhuma nação civilizada reconhecerá os resultados desse esforço
ridículo.
É
absolutamente inútil, porque Kerry não sabe nem jamais saberá do que fala, cada
vez que abre a boca, mas... vamos lá: o povo do Donbass NÃO É SEPARATISTA.
São ucranianos médios – metalúrgicos, mineiros, balconistas, sitiantes – todos
são pró-democracia, e contra a junta da OTAN e eles são – ah! Mas que crime! –
falantes de russo.
As cédulas para o referendum federalista na Ucrânia oriental já estão prontas |
E, por falar
nisso, ninguém precisa ser Thomas Piketty para
ver aí a luta de
classes clássica: operários e camponeses contra oligarcas – os
oligarcas atualmente alinhados com a Junta-da-OTAN, alguns já empregados como
governadores regionais e com planos de assim continuar mesmo depois das
eleições de 25 de maio.
O povo do
Donbass quer federalismo e forte autonomia em suas províncias. Não querem
separar-se da Ucrânia. Contra o massacre de “antiterrorismo” que os EUA
prescreveram e a Junta-da-OTAN aplicou, eles têm seus comitês de defesa
popular, associações locais e, sim, claro, milícias armadas para se autodefenderem.
E têm referendos, “ridículos”, como Kerry delira que sejam, para deixar claro,
bem claro, que não, de modo algum, nunca se submeterão a junta-nenhuma
centralizada e infestada de oligarcas.
Assim sendo,
os referendos prosseguirão – e serão devidamente ignorados pela
imprensa-empresa-gangue do OTANistão. As eleições presidenciais de 25 de maio de
2014 acontecerão como previstas – bem no meio de uma “operação antiterrorista”
contra metade da população – e serão reconhecidas como “legítimas” pela
imprensa-empresa-gangue do OTANistão.
O que poderia
ser pior que esse cosmicamente vergonhoso, escandaloso comportamento do “civilizado”
ocidente?
Nada fará
sumir o ódio profundo que a junta neofascista neoliberal da OTAN com seu
Banderastão neonazista sentem pelo Donbass do leste. Mas então, dentro de
alguns meses, todos os ucranianos estarão sentindo na própria pele o que o FMI
guardou para eles, morem onde morarem, porque há para todos os endereços. E
esperem só p’ra ver o que acontece, se o novo presidente – seja o bilionário do
chocolate Petro Porashenko, ou “Santa Yulia (Timoschenko) da Corrupção” – não
pagar em dia a conta de energia que a Gazprom lhe enviará: US$2,7 bilhões.
Vladimir Putin |
Mais uma vez:
Putin não precisa “invadir” coisa alguma. Putin sabe que essa não é a via para “resgatar”
o leste e o sul da Ucrânia. Sabe que o povo do Donbass fará da vida um inferno,
para a junta-da-OTAN e seus rebentes de 25 de maio de 2014. Sabe que Kiev
precisa de dinheiro vivo – não dos empréstimos-chantagem do FMI, cujo dinheiro
sempre volta aos mesmos bancos-bandos. –Quando chegar a hora, ninguém
aparecerá, vindo da União Europeia. Ninguém por ali tem interesse em estados
falidos. E Kiev, sim, sim, terá de pedir ajuda a Moscou – emprestadora de
primeiro e último recurso.
Lao Tzu Putin
não tem pressa: o xeque-mate vai demorar. Deve esperar – e esperará. O império
excepcional continuará a fazer o que mais faz – gerar caos, fazer ferver o caos
– mesmo que europeus um pouco sensíveis, Merkel, por exemplo, tentem algum
apaziguamento.
Mas... prêmio
de consolação, as rezas de Washington afinal foram ouvidas. Demorou um pouco,
mas, sim, finalmente acharam o neo-bicho-papão sem o qual os EUA não vivem:
Osama Bin Putin.
[*] Pepe Escobar (1954)
é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica
exclusivamente em inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como: Tom
Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é
correspondente/ articulista das redes Russia Today, The
Real News Network Televison e Al-Jazeera. Seus artigos podem
ser lidos, traduzidos para o português pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu
e João Aroldo, no blog
redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan:
How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red
Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama
Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
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