12/8/2014, Cynara Menezes ‒ Blog Socialista Morena
Entrevista feita por Georges Simenon, Paris-Soir, dias 16 e 17 de junho de 1933 ‒ Edição revista e corrigida (fr.)
Enviado pelo pessoal da Vila Vudu
Leon Trotski em seu escritório em Prinkipo, Turquia, ao redor de 1930 Foto: David King Collection |
O fascismo não é provocado por uma psicose ou “histeria”, mas por uma crise econômica e social profunda que devora o corpo da Europa sem piedade. Pronunciadas em 1933, as palavras de Leon Trótski (1879-1940) soam mais atuais do que nunca diante do recrudescimento dos partidos neonazistas na Europa novamente em crise. O revolucionário russo estava em seu desterro de quatro anos na Turquia quando foi entrevistado pelo então jovem escritor belga Georges Simenon (1903-1989).
Simenon tinha acabado de criar seu mais célebre personagem, o inspetor Maigret, que marcaria presença em mais de 70 romances e 30 contos do escritor. Atuava como correspondente para o jornal Paris-Soir e corria o mundo escrevendo reportagens, uma hora na África, outra na União Soviética, ou nas ilhas Príncipe (Prinkipo), onde vai encontrar Trótski vivendo uma tranquila vida de aposentado que não duraria muito: em seguida partiria para a França e de lá para a Noruega, de onde seguiria para o México encontrar a morte, encomendada pelo rival Stalin.
As análises de Trótski, judeu, sobre raça, e a previsão, seis anos antes, de que a Alemanha de Hitler iria levar a Europa à guerra demonstram sua profunda visão estratégica e o desprezo dos comunistas pelos conceitos e “ideias” nazistas. O texto de Simenon, é claro, flui deliciosamente, como as águas azuis e tranquilas que cercam a ilha e que ele, amante do mar, faz questão de destacar. Quanto o jornalismo de hoje tem a aprender com o passado…
Eu [Socialista Morena] traduzi para vocês, da página Marxists.org. De bônus, um documentário (a seguir parte 1 de 6), feito na Turquia sobre a passagem de Trotski por lá, narrado pela atriz Vanessa Redgrave.
Espero que desfrutem.
Com Trotski: Entrevista feita por Georges Simenon, publicada no Paris-Soir, dias 16 e 17 de junho de 1933
Introdução:
Encontrei Hitler dez vezes no Kaiserhof quando, tenso e febril, já chanceler, fazia sua campanha eleitoral. Vi Mussolini contemplar incansavelmente um desfile de milhares de jovens. E uma tarde em Montparnasse reconheci Gandhi em uma silhueta branca que caminhava colada ao muro, seguido por jovenzinhas fanáticas.
Para entrevistar Trotski eu me vi na ponte que conecta a velha e a nova Constantinopla, Istambul e Gálata, uma ponte mais cheia de gente que a Pont-Neuf em Paris. Por que tenho a sensação de um bonito domingo no Sena perto de St. Cloud, Bougival ou Poissy? Não sei.
Todos os barcos ao redor dos piers emaranhados me lembram bateaux-mouches. São maiores? Certamente. Há inclusive um ar marinho, e as hélices batem contra a água salgada. Mas é uma questão de proporção. O cenário inteiro é mais vasto, o próprio céu é mais distante.
Aqui uma margem é chamada Europa e a outra, Ásia. No lugar dos rebocadores e barcaças do Sena, há muitos navios de carga e de passageiros com bandeiras de todos os países do mundo que saem para o Mar Negro ou navegam através do Dardanelos.
Qual a importância disso? Eu mantenho minha impressão de um domingo bonito, de subúrbios, de tabernas. Há amantes na ponte de embarque do navio, camponeses transportando galinhas e frangos em gaiolas, marinheiros de folga que sorriem adivinhando os prazeres que irão oferecer a si mesmos.
Trótski? Escrevi-lhe anteontem, para pedir uma entrevista. Ontem pela manhã já acordei com o timbre do telefone...
Leia a entrevista seguindo o “link”: Entrevista com Trotski
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