3/12/2014, [*] Dmitry Orlov, Club Orlov
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
“Não há nazistas combatendo a favor da Ucrânia”.
(Se você leu e acreditou, troque de óculos e olhe outra vez)
São bandeiras nazistas e da OTAN, lado a lado.
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Parece que
ultimamente ando fazendo várias coisas hiperprodutivas: explicando ao pessoal
como matar as quatro bestas do Império; revolucionando o modo como se
alfabetizam falantes nativos e não nativos do inglês... Alguém acaba de
escrever por e-mail, que já me converti num daqueles “comentaristas
respeitáveis”. UAU! Se eu continuar assim, corro o risco de fazer “Contribuição
Significativa para a Sociedade” (CSS). O que seria erro, não só para mim, mas
para todos.
Passo cada
dia mais tempo apagando comentários imbecis mandados para o blog. É atividade
de bloguismo, correspondente a desgrudar moscas da tela da janela. (A proporção
é de 1% de comentários refletidos, de gente que lê o escrito, para 99% de trolls imbecis.) Falando sério. É
triste. Mas gostei de um, outro dia, de um ucraniano, que escreveu que o povo
dele afogará todos os russos no próprio sangue deles (ucranianos). Bonitinho,
mas deletei, mesmo assim, porque é discurso de ódio.
As Venkatesh
Rao explica tão bem seu [blog] Ribbonfarm, uma pessoa enfrenta dois riscos opostos
ao lidar com as vicissitudes da existência terrena: o risco de nada realizar e
o risco de realizar algo não previsto na estratégia. Permitam-me resumir seu
argumento.
Se você
simplesmente vaga sem rumo pela vida, respirando oxigênio e comendo e
excretando matéria orgânica, você mesmo assim chega a algum lugar.
Estatisticamente, um marinheiro cego de tão bêbado que caminha de bar em bar,
em média, enquanto vai tropeçando no seu vagar sem rumo para lugar algum, cobre
a distância de √n [raiz quadrada de n]
passos, para cada n passos que dê. É o que se conhece como caminhada
randômica ou movimento browniano – que dá conta de moléculas acima de OºK (zero
graus Kelvin), e talvez também de marinheiros bêbados. Mas a maioria de nós,
seres sensíveis, queremos que nossa vida tenha uma pitada de sentido. E se o
andar da nossa vida começa a parecer-se demais com uma caminhada randômica,
nesse caso tendemos a nos pôr a nos perguntar perguntas difíceis, tipo “Que
sentido tem isso?” e a beber demais. E isso torna nossos passos cada vez mais
perto de randômicos. E há aí grave risco, porque esse tipo de marcha em espiral
para o buraco acaba, inevitavelmente, com alguém a explicar-lhe “que sentido
tem isso” e tudo que você tem de fazer, supostamente para seu próprio bem, por
menos que jamais seja.
Há também o
perigo oposto. Se você mantém seus olhos fixos no seu objetivo e faz esforço
concertado para dar n passos progressivos naquela direção para todos os n
passos dados, você logo chega ante uma muralha, com um portão e um guarda junto
ao portão que pede que você mostre a autorização, o grau, o nível, a
qualificação ou o certificado, antes de permitir que você passe pelo portão. E
o processo para obter autorização, grau, nível, qualificação ou certificado
sempre terminará com alguém a dizer-lhe qual tem de ser seu objetivo.
O objetivo é,
universalmente, acumular: dólares, ou divisas no uniforme, ou artigos
publicados, ou vezes que você foi citado, ou pasta de maconha. Detalhes não
interessam, mas o que interessa é que essas coisas têm praticamente coisa
alguma, nécas, a ver com seu objetivo original. E por mais que muita gente
racionalize que essas coisas são necessidades, ou meios para algum fim, é
difícil convencer você que seria razoável consumir todas as suas energias na
busca incansável por pasta de maconha para repor-se de volta na trilha para a
meta inicial – qual era, mesmo?.
Aí estão,
pois, suas duas opções: marchar (digamos) sem sair do lugar; ou aceitar as
instruções de marcha que lhe são dadas por outro – e marchar sem parar, até o
fim da vida, só recolhendo pasta de maconha.
Mas
Venkatesh, esperto como ele só, nos oferece uma terceira opção. Você sabe, há
um limiar para a quantidade de progresso a ser alcançado em qualquer direção
possível, antes de você chegar a muralhas. Se marcha randômica resulta em √n
passos para cada n passos dados, você pode descobrir experimentalmente
um limiar δ [delta] tal que, para cada n passos, você obtenha o
equivalente em progresso a √n+δ passos em qualquer direção que você
escolha andar, sem cair no radar de seja quem for. Essas duas limitações
aparecem reunidas numa fórmula simples, que Venkatesh nos oferece:
√n < C ≤√n + δ
onde “C” é a
Contribuição para a Sociedade, que cada um faz. Os que se mantêm dentro dos
parâmetros expressos por essa fórmula praticam o que se define como “Menor Quociente
Viável de Sociopatia” (MQVS).
É conceito
tremendamente poderoso, porque mostra que você pode fazer, sim, praticamente
qualquer coisa que queira fazer. Basta que você faça número suficiente de
coisas diferentes, e que despreze e desqualifique suficientemente todas elas a
tal ponto que nenhuma delas corra o risco de fazer alguma Contribuição
Significativa para a Sociedade (CSS), de ser percebida e potencialmente
destruída pelos que protegem, ciumentamente, as próprias prerrogativas para
determinarem, só eles, quais as contribuições válidas e quais as não válidas.
Tudo que você
tem de fazer é fixar os olhos num ponto um pouco abaixo do que a média
esperaria de você, e você está seguro.
Na prática,
pelo menos para mim, isso significa que sempre que a coisa começar a parecer
que estou caminhando para obter determinada habilitação para determinado
trabalho, ou que começo a encaixar-me nas “qualificações exigidas” para um ou
outro “empregado procurado”, ou que começo a me meter em coisa que exige registro,
certificado, autorização ou licença, o que tenho de fazer é retroceder ou mudar
completamente de rumo por algum tempo, até que todos se desinteressem
completamente de mim. Ao fazê-lo, várias vezes aconteceu de eu ter desperdiçado
oportunidade de ganhar mais dinheiro. Mas esse é o preço da liberdade.
Por exemplo,
vocês com certeza esperam que, na sequência, nesse blog, aparecerei falando do
colapso dos EUA, ou sobre a Ucrânia, ou de como se deve ensinar língua inglesa,
ou que lhes oferecerei pílulas de filosofia, como hoje. Façam seus jogos. Eu
escreverei sobre outra coisa qualquer.
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[*] Dmitry Orlov é um engenheiro russo-americano e escritor sobre temas relacionados ao declínio econômico, ecológico e político dos Estados Unidos. Orlov acredita que o colapso será o resultado dos orçamentos militares, enormes déficits do governo e um sistema político que não responde e declínio da produção de petróleo. Orlov nasceu em Leningrado (agora São Petersburgo) e se mudou para os Estados Unidos com 12 anos. Tem bacharelado em Engenharia de Computação e Mestrado em Lingüística Aplicada. Foi testemunha ocular do colapso da União Soviética durante os ano 1980-90. Entre 2005 e 2006 escreveu uma série de artigos sobre o colapso da União Soviética publicada em Peak Oil. Em 2006 publicou o Manifesto Orlov on-line, “A Nova Era da Vela”. Em 2007, ele e sua esposa venderam seu apartamento em Boston e compraram um veleiro, equipado com painéis solares e seis meses de fornecimento de gás propano e capaz de armazenar grande quantidade de produtos alimentícios. Chamou “cápsula de sobrevivência”. Continua a escrever regularmente no seu blog “Clube Orlov” e no EnergyBulletin.Net
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